segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Clemenceau, o primeiro jornalista

 


 24 de Janeiro de 2022  Olivier Cabanel 

Quem realmente conhece Georges Clemenceau, a quem o nosso presidente prestou homenagem quando assumiu o cargo?

Zola, como todos sabem, defendeu Dreyfuss no jornal L'Aurore, e até foi preso por isso, mas sabia que o director deste jornal se chamava Georges Clemenceau?

Foi ele quem deu o título J'accuse à carta aberta a Felix Faure, Presidente da República na época.

A sua carreira jornalística começou muito cedo: em 1861, aos 20 anos, fundou o jornal Le Travail enquanto era estudante de medicina.

Escreveu artigos hostis ao regime de "Napoleão, o Pequeno", o que o levou a passar 73 dias na prisão. É considerado por muitos intelectuais como "o anti-Napoleão".

Antes de embarcar numa carreira médica e política, foi jornalista de alma e coração.

Depois, ao tornar-se médico, foi para os Estados Unidos para, diz, "ver a democracia funcionar", mas também foi correspondente de imprensa do jornal Le Temps.

Escreve até dez artigos por semana (665 no total). Depois fundou com Camille Pelletan La Justice, e finalmente tornou-se director do L'Aurore.

Contratou Georges Mandel, a quem deu este conselho para escrever um artigo:

"Um sujeito, um verbo, um complemento, e se precisar de um complemento indirecto, virá ter comigo."

Desde o início do conflito de 14 a 18, Clémenceau assumiu a pluma quotidianamente. No seu jornal L'Homme libre, que renomeou L'Homme enchaîné por causa da censura, nunca deixou de criticar as hesitações do governo e as desordens da administração civil e militar.

Léon Blum disse dele: "Seguimos em La Justice os primeiros artigos de M. Clemenceau... Tem o dom de um escritor, encontra a palavra certa, a palavra marcante, a sua frase seca permanece sempre sólida e pesada."

É, de facto, considerado como um grande jornalista, autor de golpes ferozes da caneta.

Na morte de Felix Faure, escreveu: "Isso não representa senão um homem a menos em França."

Sobre Raymond Poincarré, fala deste antigo advogado que se tornou Presidente da República: "Ele não quer saber, não sabe como querer".

Por falar em Napoleão, disse: "Este homem que foi para Moscovo esquecendo-se que podia nevar lá no inverno... Este homem que pede um Camareiro quando está em Santa Helena, quando podia ter provado as alegrias da vida simples ao ar livre."

Podemos perguntar-nos sobre o significado da homenagem que o nosso presidente lhe quis prestar no dia em que assumiu o cargo, indo ao pé da sua estátua, na rotunda dos Champs-Elysées.

Porque com quem é que o Nicolas Sarkosy tem mais convergências? Com Clemenceau ou com Napoleão?

Para formar uma opinião, vamos reler o texto escrito em 1931 por Jacques Bainville, sobre Napoleão:

"Ele enfrentou naturalmente os desejos das massas, encontrou o ponto da conciliação sem procurar construir para a eternidade. Foi uma obra de interesse actual. Pôs fim à anarquia material mais visível... Sistema muito simples e até resumido, um murro, ordem na rua, o direito à herança, a propriedade intangível, funções abertas a todos, permissão para ir à missa para quem quiser, nenhum governo de nobres ou párocos. Em suma, na verdade, contra-revolução, o mínimo, uma falsificação da monarquia cabotiana, um simples jacobinismo branco que se tornará mais conservador mais tarde."

Não é aquilo a que chamamos de populismo?

 

Fonte: Clemenceau, le premier journaliste – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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