terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Iraque/Israel/Mísseis — Saddam Hussein, pioneiro da balística anti-israelita

 


 25 de Janeiro de 2022  René  

RENÉ — Este texto é publicado em parceria com www.madaniya.info..

Este artigo é publicado no 31º aniversário da Operação Tempestade do Deserto, a primeira invasão dos EUA do Iraque, em 17 de Janeiro de 1990.


Saddam Hussein, pioneiro da balística anti-israelita

39 mísseis em Tel Aviv, Haifa e Bi'r As Sabeh (Beersheba): 79 israelitas mortos, 230 feridos, 7.440 casas destruídas. 30 anos depois, o segredo é finalmente levantado. Na altura, a imprensa ocidental era irónica sobre os "mísseis de Saddam", a sua imprecisão, a imperícia dos artilheiros iraquianos e a sua formidável ineficiência.

Isto sem contar com a nascente guerra psicológica e o seu principal axioma: ridicularizar o adversário para torná-lo um motivo de riso universal; Cubra-o com vergonha para despertar a desconfiança dos seus colaboradores e desmoralizar o seu povo.

Trinta anos depois, a realidade acaba por ser bem diferente: Saddam Hussein foi, de facto, um pioneiro da balística anti-israelita: "Os mísseis de Saddam causaram estragos em Israel, a julgar pelo preço pago por Israel: 79 israelitas mortos, 230 feridos, 7.440 casas destruídas por 39 mísseis em Tel Aviv, Haifa e Bi'r Ash (Beersheva).

O site online "Ar Rai Al Yom" do influente jornalista Abdel Bari Atwane fez a revelação em 7 de Janeiro de 2020, assumindo os números dos arquivos israelitas.

"Saddam Hussein fez uso das SSDUs russas, modificadas pela engenharia militar iraquiana para aumentar o seu alcance e derrotar o sistema anti-balístico israelita constituído por mísseis Patriot Americanos", disse, acrescentando que os mísseis iraquianos foram disparados contra Israel "a partir de bases no oeste do Iraque".

"A propaganda israelita, transmitida pelos meios de comunicação petro-monárquicos do Golfo, minimizou na altura o impacto dos mísseis iraquianos e ridicularizou a precisão dos tiros.

"Israel e os Estados Unidos temiam que os mísseis um dia carregassem cargas químicas ou bacteriológicas. Tomaram então a decisão conjunta de desarmar o Iraque destas armas de destruição maciça, colocando-o sob o controlo dos Estados Unidos para explorar o seu petróleo para compensar as despesas geradas pela invasão americana do Iraque em 2003, conclui.

§  Para o leitor árabe, consulte este link.

Fundo

O Iraque travou uma dupla guerra na década de 1980-1990, primeiro os seus vizinhos, o Irão (1979-1989), depois na sequência do Kuwait (2-4 de Agosto de 1990).

Se a guerra contra o Irão gozou do apoio ocidental ao ponto de a França ter subido ao posto de "cobeligerante" neste conflito, é porque Saddam Hussein, o secularista, que dizia ser revolucionário, travou uma guerra de substituição pelas petro-monarquias do Golfo em nome do primaz sunita sobre o Islão, a fim de fixar no terreno uma revolução xiita numa petro-monarquia.

Como resultado, o cobeligerante França na guerra Iraque-Irão desencadeou a partir de Beirute uma espiral de reféns e ataques sangrentos contra o quartel-general americano e o PC Drakkar francês provocando o transporte de cerca de 400 soldados franceses e americanos.

§  Para ir mais longe nesta sequência, consulte esta ligação: https://www.renenaba.com/la-spirale-des-otages/

Não foi o caso do Kuwait, uma petro-monarquia que preserva o cartel dos países ocidentais.

Esta invasão, que durou 7 meses, foi o gatilho para a "Guerra do Golfo", uma coligação internacional de 500.000 soldados sob o comando dos EUA, culminando na primeira invasão militar dos EUA ao Iraque em Janeiro de 1991.

Pelo seu duplo ataque ao Irão e ao Kuwait, Saddam Hussein apareceu como um belicista impenitente. Imprudente, mesmo desconhecendo os perigos que enfrentaria ao lançar-se na invasão do Kuwait, negligenciando as convulsões estratégicas no palco mundial naquele ano.

Em retrospectiva, na verdade, a Operação Tempestade do Deserto, lançada na madrugada de 17 de Janeiro de 1990, abriu a sequência de guerras pós-Guerra Fria. Lançada pelos Estados Unidos após a queda do Muro de Berlim e a dissolução correlativa tanto do Pacto de Varsóvia como da própria União Soviética, o grande aliado do Iraque Baathist, inaugurou uma dupla década de unilateralismo americano que terminou com a queda da bolsa de 2008 e a crise do subprime, o advento da China como a principal potência mundial.

Inconsciente contra o Kuwait, Saddam Hussein mostrará uma aventureira imprudência contra Israel ao tornar-se o arquitecto dos primeiros lançamentos balísticos árabes contra o Estado judaico.

Querendo libertar-se do impasse em que se tinha enredado, Saddam Hussein ordenará o bombardeamento de Israel desde o início do bombardeamento americano de Bagdade, com um duplo propósito:

§  Vingar a destruição da central nuclear iraquiana de Tammuz, destruída pelos israelitas em 7 de Junho de 1981.

§  Ligando a resolução da crise iraquiana à resolução do conflito israelo-palestiniano. Uma saída por cima em suma para aumentar o seu prestígio, apresentando-o como o arauto da causa palestiniana.

Para além dos falsos pretextos sobre a posse do Iraque de armas de destruição maciça, uma ligação do regime baathist iraquiano, secular, com a Al-Qaeda, um movimento islâmico de inspiração wahhabi, ou mesmo uma rede nuclear com o Níger, os lançamentos balísticos iraquianos contra Israel foram a principal razão para a 2ª invasão americana do Iraque, na medida em que visava punir Saddam Hussein por ter quebrado um tabu absoluto: o ataque a Israel, não por um país no campo de batalha, mas por um país na rectaguarda.

Desde então, o Iraque foi destruído, gerando um crescimento da Al-Qaeda no Iraque com a sequência de Abu Musa'ab Al Zarqawi, a retirada americana do Iraque, sob os golpes da resistência xiita, um país ferido, decapitado pela sua elite científica, afligido por dois milhões de viúvas, atormentado por movimentos centrífugos com a ascensão do irredentismo curdo, o surgimento do Daesh, levando ao regresso dos americanos.

Um recorde desastroso em todos os aspectos para o Iraque. Com certeza. Mas o fogo balístico iraquiano contra Israel abriu caminho a outros protagonistas do conflito.

Desde então, a cúpula de aço de Israel tem sido repetidamente violada, quer pelo Hamas, quer por mísseis ou balões carregados de cargas explosivas, quer pelo temível Hezbollah, incluindo durante o confronto de 2006.

Curioso destino do Iraque: Ponta de lança sunita da guerra de substituição das petro-monarquias contra o Irão revolucionário xiita, em 1980, será 23 anos depois, alvo de retaliação por parte dos Estados Unidos, em substituição da Arábia Saudita, em resposta ao ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001 cometido por quinze sequestradores sauditas dos 19 que integravam o grupo terrorista.

Como resultado das desorientações israelo-americanas, o Irão, a bête noire comum dos Estados Unidos, Israel e Saddam Hussein, tornou-se a potência preponderante no Iraque... "pelo efeito inesperado dos falhanços americanos".

PARA IR MAIS LONGE SOBRE O IRAQUE

1- Iraque-Irão: A guerra Total

§  https://www.renenaba.com/iran-irak-la-guerre-a-outrance/

2 - Iraque-Irão: Golfo, cemitério marinho, armadilha militar, puzzle diplomático

§  https://www.renenaba.com/le-golfe-arabo-persique-piege-militaire/

3- O massacre dos "decisores da guerra" no Iraque

§  https://www.renenaba.com/l-hecatombe-des-faiseurs-de-guerre/

4 - O martírológico científico iraquiano

§  https://www.madaniya.info/2018/09/21/le-martyrologe-scientifique-irakien/

5- Arquivos Secretos

§  https://www.madaniya.info/2019/01/04/quand-saddam-hussein-devait-connaitre-le-sort-danouar-el-sadate/

§  https://www.madaniya.info/2019/01/10/irak-archives-secretes-2-3-l-ahurissante-offre-de-saddam-hussein-aux-dirigeants-iraniens/

§  https://www.madaniya.info/2019/01/17/irak-archives-secretes-3-3-le-double-jeu-des-etats-unis-contre-l-irak-et-contre-l-iran/

 

Fonte: Irak/Israël/Missiles — Saddam Hussein, pionnier de la balistique anti-israélienne – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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