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Este artigo é publicado no 31º aniversário da Operação Tempestade do Deserto, a primeira invasão dos EUA do Iraque, em 17 de Janeiro de 1990.
Saddam Hussein, pioneiro da balística anti-israelita
39 mísseis em Tel Aviv, Haifa e Bi'r As Sabeh (Beersheba): 79 israelitas
mortos, 230 feridos, 7.440 casas destruídas. 30 anos depois, o segredo é
finalmente levantado. Na altura, a imprensa ocidental era irónica sobre os
"mísseis de Saddam", a sua imprecisão, a imperícia dos artilheiros
iraquianos e a sua formidável ineficiência.
Isto sem contar com a nascente guerra psicológica e o seu principal axioma:
ridicularizar o adversário para torná-lo um motivo de riso universal; Cubra-o
com vergonha para despertar a desconfiança dos seus colaboradores e
desmoralizar o seu povo.
Trinta anos depois, a realidade acaba por ser bem diferente: Saddam Hussein
foi, de facto, um pioneiro da balística anti-israelita: "Os mísseis de
Saddam causaram estragos em Israel, a julgar pelo preço pago por Israel: 79
israelitas mortos, 230 feridos, 7.440 casas destruídas por 39 mísseis em Tel
Aviv, Haifa e Bi'r Ash (Beersheva).
O site online "Ar Rai Al Yom" do influente jornalista Abdel Bari Atwane
fez a revelação em 7 de Janeiro de 2020, assumindo os números dos arquivos
israelitas.
"Saddam Hussein fez uso das SSDUs russas, modificadas pela engenharia
militar iraquiana para aumentar o seu alcance e derrotar o sistema
anti-balístico israelita constituído por mísseis Patriot Americanos",
disse, acrescentando que os mísseis iraquianos foram disparados contra Israel
"a partir de bases no oeste do Iraque".
"A propaganda israelita, transmitida pelos meios de comunicação
petro-monárquicos do Golfo, minimizou na altura o impacto dos mísseis
iraquianos e ridicularizou a precisão dos tiros.
"Israel e os Estados Unidos temiam que os mísseis um dia carregassem
cargas químicas ou bacteriológicas. Tomaram então a decisão conjunta de
desarmar o Iraque destas armas de destruição maciça, colocando-o sob o controlo
dos Estados Unidos para explorar o seu petróleo para compensar as despesas
geradas pela invasão americana do Iraque em 2003, conclui.
§ Para o leitor árabe, consulte este link.
Fundo
O Iraque travou uma dupla guerra na década de 1980-1990, primeiro os seus
vizinhos, o Irão (1979-1989), depois na sequência do Kuwait (2-4 de Agosto de
1990).
Se a guerra contra o Irão gozou do apoio ocidental ao ponto de a França ter
subido ao posto de "cobeligerante" neste conflito, é porque Saddam
Hussein, o secularista, que dizia ser revolucionário, travou uma guerra de
substituição pelas petro-monarquias do Golfo em nome do primaz sunita sobre o
Islão, a fim de fixar no terreno uma revolução xiita numa petro-monarquia.
Como resultado, o cobeligerante França na guerra Iraque-Irão desencadeou a
partir de Beirute uma espiral de reféns e ataques sangrentos contra o quartel-general
americano e o PC Drakkar francês provocando o transporte de cerca de 400
soldados franceses e americanos.
§ Para ir mais longe nesta sequência, consulte esta
ligação: https://www.renenaba.com/la-spirale-des-otages/
Não foi o caso do Kuwait, uma petro-monarquia que preserva o cartel dos
países ocidentais.
Esta invasão, que durou 7 meses, foi o gatilho para a "Guerra do
Golfo", uma coligação internacional de 500.000 soldados sob o comando dos
EUA, culminando na primeira invasão militar dos EUA ao Iraque em Janeiro de
1991.
Pelo seu duplo ataque ao Irão e ao Kuwait, Saddam Hussein apareceu como um belicista
impenitente. Imprudente, mesmo desconhecendo os perigos que enfrentaria ao
lançar-se na invasão do Kuwait, negligenciando as convulsões estratégicas no
palco mundial naquele ano.
Em retrospectiva, na verdade, a Operação Tempestade do Deserto, lançada na
madrugada de 17 de Janeiro de 1990, abriu a sequência de guerras pós-Guerra
Fria. Lançada pelos Estados Unidos após a queda do Muro de Berlim e a
dissolução correlativa tanto do Pacto de Varsóvia como da própria União
Soviética, o grande aliado do Iraque Baathist, inaugurou uma dupla década de unilateralismo
americano que terminou com a queda da bolsa de 2008 e a crise do subprime, o
advento da China como a principal potência mundial.
Inconsciente contra o Kuwait, Saddam Hussein mostrará uma aventureira
imprudência contra Israel ao tornar-se o arquitecto dos primeiros lançamentos
balísticos árabes contra o Estado judaico.
Querendo libertar-se do impasse em que se tinha enredado, Saddam Hussein
ordenará o bombardeamento de Israel desde o início do bombardeamento americano
de Bagdade, com um duplo propósito:
§ Vingar a destruição da central nuclear iraquiana de
Tammuz, destruída pelos israelitas em 7 de Junho de 1981.
§ Ligando a resolução da crise iraquiana à resolução do
conflito israelo-palestiniano. Uma saída por cima em suma para aumentar o seu
prestígio, apresentando-o como o arauto da causa palestiniana.
Para além dos falsos pretextos sobre a posse do Iraque de armas de
destruição maciça, uma ligação do regime baathist iraquiano, secular, com a
Al-Qaeda, um movimento islâmico de inspiração wahhabi, ou mesmo uma rede
nuclear com o Níger, os lançamentos balísticos iraquianos contra Israel foram a
principal razão para a 2ª invasão americana do Iraque, na medida em que visava
punir Saddam Hussein por ter quebrado um tabu absoluto: o ataque a Israel, não
por um país no campo de batalha, mas por um país na rectaguarda.
Desde então, o Iraque foi destruído, gerando um crescimento da Al-Qaeda no
Iraque com a sequência de Abu Musa'ab Al Zarqawi, a retirada americana do
Iraque, sob os golpes da resistência xiita, um país ferido, decapitado pela sua
elite científica, afligido por dois milhões de viúvas, atormentado por
movimentos centrífugos com a ascensão do irredentismo curdo, o surgimento do
Daesh, levando ao regresso dos americanos.
Um recorde desastroso em todos os aspectos para o Iraque. Com certeza. Mas
o fogo balístico iraquiano contra Israel abriu caminho a outros protagonistas
do conflito.
Desde então, a cúpula de aço de Israel tem sido repetidamente violada, quer
pelo Hamas, quer por mísseis ou balões carregados de cargas explosivas, quer
pelo temível Hezbollah, incluindo durante o confronto de 2006.
Curioso destino do Iraque: Ponta de lança sunita da guerra de substituição
das petro-monarquias contra o Irão revolucionário xiita, em 1980, será 23 anos
depois, alvo de retaliação por parte dos Estados Unidos, em substituição da
Arábia Saudita, em resposta ao ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001
cometido por quinze sequestradores sauditas dos 19 que integravam o grupo
terrorista.
Como resultado das desorientações israelo-americanas, o Irão, a bête noire comum dos Estados Unidos, Israel e Saddam Hussein, tornou-se a potência preponderante no Iraque... "pelo efeito inesperado dos falhanços americanos".
PARA IR MAIS LONGE SOBRE O IRAQUE
1- Iraque-Irão: A guerra Total
§ https://www.renenaba.com/iran-irak-la-guerre-a-outrance/
2 - Iraque-Irão: Golfo, cemitério marinho, armadilha militar, puzzle
diplomático
§ https://www.renenaba.com/le-golfe-arabo-persique-piege-militaire/
3- O massacre dos "decisores da guerra" no Iraque
§ https://www.renenaba.com/l-hecatombe-des-faiseurs-de-guerre/
4 - O martírológico científico iraquiano
§ https://www.madaniya.info/2018/09/21/le-martyrologe-scientifique-irakien/
5- Arquivos Secretos
Fonte: Irak/Israël/Missiles — Saddam Hussein, pionnier de la balistique anti-israélienne – les 7 du quebec
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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