9 de Setembro de
2024 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — Tudo foi dito sobre Vincent Van Gogh, excepto talvez a
verdade: ele não era pobre, nem louco, nem desconhecido.
Tudo começou com dois filmes, dirigidos por Fanny Walz sob a direcção artística de Peter Knapp.
Peter Knapp, um virtuoso da fotografia, primeiro director artístico do
jornal "Elle", depois viajando pelo mundo em busca de reportagens, é
agora professor na ESAG, tendo recebido inúmeros prémios, incluindo 17 medalhas
do ADCI (Arts Diretor Club International). link
Um historiador de arte, Wouter Van der Veen, acaba de escrever um livro
surpreendente, publicado pela Acte Sud: "Van Gogh last days in Auvers".
Ele já havia participado nos filmes de Walz e Knapp.
Um desses filmes está actualmente a ser exibido no Imax do Géode em Paris
Mas um dia Peter Knapp disse a Wouter "as imagens estão a ir-se
embora... »
Foi aí que Wouter teve a ideia de escrever este livro.
Esta é uma verdadeira pedra na lagoa das nossas certezas.
De facto, se olharmos para as obras dedicadas a Van Gogh, mencionamos
frequentemente o correio que partilhou com o seu irmão Theo (700 cartas
publicadas em 1911 e traduzidas para francês 50 anos depois). link
Mas nada, ou quase nada, sobre a relação que Vicente tinha estabelecido com
a cunhada, Johanna.
Então Van Gogh não é quem pensamos que ele é?
Isso pode surpreender mais de um, pois somos assombrados por esta imagem do
pintor com a orelha cortada, e vivendo na maior miséria.
Já havia dúvidas sobre a "orelha decepada", e muitos
historiadores de arte afirmam que Gauguin foi responsável por esta mutilação. link
Parece que a fábula de Van Gogh de mutilar a orelha com uma navalha
fracassou.
Segundo dois académicos alemães, Hans Kaufmann e Rita Wildegans, foi Gauguin quem
golpeou o amigo no ouvido com uma espada.
Van Gogh não teria dito nada para o proteger, mas isso poderia muito bem
explicar a partida apressada de Gauguin para Paris, após uma breve audiência
perante a polícia. link
Mas voltemos ao livro de Van der Veen.
Se Wouter van der Veen conseguiu chegar a estas conclusões, foi
precisamente graças à correspondência trocada entre Vincent e Johanna Bonger,
que era sua cunhada.
Por trás de cada grande homem há muitas vezes uma mulher e, segundo Van der
Veen, Johanna teve uma acção decisiva e essencial para garantir o
reconhecimento e a notoriedade do cunhado.
É o que aparece na correspondência que Vicente e Joana trocaram.
Diz-se que Van Gogh criou deliberadamente o mito em que aparecia como
"incompreendido, louco e pobre".
Pelo contrário, tinha uma força de trabalho fenomenal, e um dos únicos
sofrimentos que conhecia era o da solidão.
Imagine-o a viajar quilómetros pela zona rural de Auvers-sur-Oise, com 20
quilos de equipamento de pintura nas costas.
Durante 70 dias, entre 20 de Maio de 1890 e 27 de Julho de 1890, quando se
matou com um revólver, e desapareceu dois dias depois, pintou 80 obras que
estão entre as mais belas criações do artista.
Para chegar a estas conclusões, Wouter van der Veen, conselheiro científico
do Museu Van Gogh em Amesterdão e vice-director do Instituto Van Gogh, passou
os últimos dez anos da sua vida a estudar Van Gogh e esta correspondência entre
ele e a sua cunhada. link
Decididamente, a história deve ser sempre encarada com cautela, pois aquela
em que fomos levados a acreditar pode, por vezes, estar muito longe da
realidade.
Porque como disse um velho amigo africano:
"Para saber o que os outros dizem
sobre si na sua ausência, ouça o que eles dizem na sua presença."
Fonte: Vincent Van Gogh, la fin d’un mythe? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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