25 de Setembro de 2024 Robert Bibeau
18 de Junho de 2022 Artigos, Slider, sobre o Líbano entre a resistência e a capitulação
(chroniquepalestine.com)
Hassan Nasrallah, secretário-geral do movimento
Hezbollah – Foto: Arquivo
Por Abdel Bari Atwan
Beirute não deve ser intimidada a
renunciar aos seus direitos de exploração marítima, escreve Abdel Bari Atwan.
No domingo passado, o chefe do Estado-Maior das FDI, Aviv Kochavi, ameaçou
atacar milhares de locais visados no sul do Líbano - alegando que abrigam
mísseis do Hezbollah, drones ou equipamento militar - e alertou os moradores da
área afectada para evacuarem as suas casas.
As ameaças foram feitas um dia antes da
chegada ao Líbano do enviado dos EUA para a energia, Amos Hochstein.
Foram também uma
resposta ao aviso do secretário-geral Hassan Nasrallah de que o Hezbollah não ficaria de
braços cruzados enquanto Israel saqueia petróleo e gás offshore do Líbano e o
impede de extrair gás do campo de Karish.
O General Kochavi sabe perfeitamente que
não pode assustar o Hezbollah. O seu objectivo era fornecer munição política
aos seus opositores libaneses que se curvaram ao estratagema israelo-americano
no país.
Isso explica as fugas de informação que saíram das reuniões de Hochstein
com vários políticos libaneses no poder, indicando que eles lhe ofereceram
concessões "tangíveis" que ele descreveu como úteis para negociações
indirectas para resolver a disputa.
As autoridades libanesas mostraram que são o lado mais fraco na disputa,
implorando ao enviado dos EUA que retome rapidamente a mediação e oferecendo-se
para reconsiderar os direitos marítimos legais do Líbano.
Isto encorajará certamente Israel a comportar-se de uma forma ainda mais
autoritária e, utilizando os seus vastos poderes de extorsão, a cumprir as suas
exigências e a não fazer concessões. Trinta anos de negociações
israelo-palestinianas são disso um bom exemplo.
Os libaneses, independentemente do seu campo político ou comunitário, têm
duas opções.
Primeiro: entrar numa
negociação de longo prazo ao estilo palestiniano – em que oferecem uma
concessão atrás da outra e não recebem nada em troca, excepto mais extorsão e
exigências de concessões adicionais – e tornam-se os servos indirectos da
ocupação israelita
Segundo: a opção do
uso da força, que derrotou Israel duas vezes no passado: em 2000, quando já não
conseguia absorver as perdas impostas pela resistência e se retirou unilateralmente
do Líbano; e depois a Faixa de Gaza, em 2005.
Os três líderes do Líbano – o presidente, o primeiro-ministro e o
presidente do Parlamento – preferem a opção das negociações para evitar a
guerra, na esperança de permitir que o Líbano obtenha uma parte da sua parte do
petróleo e gás, como se fosse um favor dos Estados Unidos.
Trata-se de um grave erro que reflecte a miopia e a incapacidade de
compreender os desenvolvimentos políticos na região – especialmente a iminente
formação de uma aliança israelo-árabe sunita para confrontar militarmente o
Irão sob a liderança dos Estados Unidos.
Estas esperanças são, portanto, completamente em vão, porque a principal
prioridade desta aliança é decapitar o Hezbollah.
A extracção de gás libanês, sírio ou palestiniano (da Faixa de Gaza) está
condicionada à rendição e ao desarmamento da resistência, sem qualquer garantia
de obter nada em troca. A amarga experiência da Autoridade Palestiniana (AP) na
Pax Americana/Israel é disso exemplo.
O Estado de ocupação
israelita não permitirá que o Líbano extraia o seu petróleo e gás enquanto um
único míssil do Hezbollah permanecer no sul do Líbano. O objectivo é pôr o povo
libanês de joelhos e submetê-lo à fome, como foi o caso dos iraquianos depois das
suas forças terem invadido o Kuwait.
A fome é, de facto, mais ruinosa para um país do que a guerra civil.
Saddam Hussein acreditou nos mediadores e permitiu que os inspectores/espiões
revistassem os seus palácios e erradicassem as suas [alegadas] armas biológicas
e químicas. A sua recompensa por essas concessões não foi apenas ser derrubado,
preso e executado, mas que o Iraque fosse ocupado, os seus recursos saqueados e
o país reduzido ao estado miserável em que se encontra hoje.
Nasrallah disse no seu último discurso que o tempo não está do lado do
Líbano e que o objectivo imediato da resistência é impedir Israel de explorar o
campo de Karish e poder usar os seus 600 mil milhões de dólares em petróleo e
gás para aliviar a crise económica do Líbano e beneficiar todos os seus
cidadãos.
No ano passado, os três
líderes do Líbano cumpriram plenamente as exigências dos Estados do Golfo,
renunciando à soberania e ao respeito próprio do país, e não receberam retorno.
Hoje, preparam-se para cometer o mesmo pecado sob o pretexto do agravamento
das crises do país, sem reconhecer que essas crises foram em grande parte
criadas pelos Estados Unidos e Israel.
Estes últimos destruíram a economia do Líbano, empobreceram o seu povo e
submeteram-no a um cerco, explorando as divisões internas libanesas e a
existência de um campo que conta com a miragem do apoio e da salvação dos
Estados Unidos e de Israel.
Será que Hochstein – o enviado americano nascido na Palestina ocupada que
serviu durante três anos no exército israelita – estará cheio de compaixão
pelos libaneses? Será que ele vai tratar os seus direitos de forma justa e ser
um mediador honesto?
Deixaremos a resposta para aqueles que lhe estenderem tapetes vermelhos,
confiarem na sua integridade e capitularem perante ele.
Autor: Abdel
Bari Atwan
* Abdel Bari Atwan é editor-chefe do jornal digital
Fonte: Le Liban entre résistance et capitulation : le gaz de la Méditerranée – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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