23 de setembro de
2024 Robert Bibeau
Por Robert Bibeau.
No início da entrevista
(https://les7duquebec.net/archives/294330), o
intelectual Emmanuel
Todd afirma algumas verdades que é o único a proclamar entre a
intelligentsia da França. É verdade, porém, que o pequeno-burguês parisiense
mistura géneros e confunde "fascismo eleitoralista" (como o que está actualmente a ser implantado
em França, Ucrânia, Israel e Estados Unidos) e "democracia liberal" como a que
vigorava no século XX no Ocidente. Devemos, no entanto, reconhecer a coragem
deste intelectual, produto da tradicional esquerda nacionalista e chauvinista
francesa, que não compreende que o desenvolvimento normal do capitalismo de
hoje exige a mundialização do capital. O capital americano exigiu o dólar
expansionista. O capital europeu exige que o euro expansionista – a moeda comum
– seja o vector e o indicador da integração continental europeia. Para resolver
a questão do Euro e da União Europeia, é preciso destruir o modo de produção
capitalista.
Nesta entrevista (https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/09/emmanuel-todd-as-democracias-tem-o.html
), Todd criticou o argumento de que Estados pseudo-"democráticos",
mas verdadeiramente capitalistas, podem, assim, legitimar as suas agressões
militares genocidas. Citando o exemplo da entidade israelita no contexto do
genocídio em Gaza: "Bem,
ok, mais de 43.000 mortes em Gaza e na Cisjordânia ocupada, mas ainda assim, o
Estado teocrático israelita é uma democracia liberal", ironiza o
pequeno-burguês, denunciando uma retórica hipócrita baseada numa visão racista
da "democracia" israelita, onde o casamento civil não existe...
Este argumento faz
parte de uma crítica mais ampla às potências capitalistas ocidentais, onde Todd
vê uma deriva dos "valores
democráticos burgueses", onde o facto de ser uma democracia
se torna uma justificativa para a violência, em vez de uma garantia de paz,
murmura o intelectual francês (sic). O pesquisador sonhador impõe pesadas
contorções mentais a si mesmo, para não dizer simplesmente que a chamada "democracia liberal", da qual se
vangloria o hegemon americano e seu vassalo israelita ou ucraniano, é a máscara
sexual da ditadura dos ricos sobre as massas proletárias tanto no Ocidente
quanto no Oriente. A
democracia burguesa é uma "licença
para matar" para os poderes que têm os meios económicos, industriais e militares
para o fazer. "Democracia
007", como lhe chama Todd; O "fascismo eleitoral", como lhe chamamos, é uma invenção do capital
para escravizar o trabalho.
Quando Emmanuel Todd nos diz que as elites foram enganadas pelos jornais
(sic), esquece-se que os jornais são financiados por multibilionários e que
eles dizem o que lhes mandam contar. Emmanuel Todd diz, em particular, que
foi o Le Monde que disse qualquer coisa sobre a Ucrânia – o Estado
desonesto – esquecendo totalmente que este jornal está nas mãos do capital. É o
caso de TODA a grande media, de propriedade dos ricos.
No entanto, Emmanuel Todd apresenta um ponto de vista
muito interessante sobre Israel e a guerra no Médio Oriente. Afirma que o
Estado israelita, os judeus, os árabes, os palestinianos, a OLP, o Hamas e as
outras organizações da Resistência formam um todo único – totalmente integrado
e interdependente do ponto de vista económico, industrial, financeiro, político
e ideológico. Israelitas e palestinianos formam os dois polos da mesma matriz e
o fim desta matriz só pode ocorrer quando um dos dois polos desaparece, levando
ipso facto ao desaparecimento do segundo polo antagónico. É a primeira vez que
encontramos uma descrição materialista tão dialéctica do conflito neo-colonialista
israelo-palestiniano e dos seus protagonistas (o povo palestiniano colonizado, versus o povo israelita colonizador) totalmente interligados. Não mencionamos a questão
religiosa (muçulmana e judaica), uma vez que esta variável está incluída na
questão nacional de cada um dos beligerantes político-económicos.
Para ver o vídeo clique neste link:
mai68.org/spip3/IMG/mp4/Emmanuel-Todd_19sept2024_QG.mp4
23 de Setembro de 2024
Com deferência para com o excelente comentário proletário de Robert, gostaria de salientar que quando Todd, como todos os filósofos capitalistas, se propõe interpretar o mundo afirmando a unidade dialéctica capitalista entre a tese, a burguesia palestiniana, e a sua antítese, a burguesia israelita, como parte da mesma realidade histórica capitalista, (Todd) recusa-se a transformá-la escondendo que se trata de uma realidade específica do capitalismo e, mais importante ainda, do próprio capitalismo, a burguesia israelita, como parte da mesma realidade histórica capitalista, ( Todd) recusa-se a transformá-la ocultando o facto de que se trata de uma realidade específica do capitalismo e que, acima de tudo, a síntese desta dualidade tem necessariamente de ser a revolução proletária.
Esta realidade da unidade dialéctica dos capitalistas está também em jogo no conflito entre a burguesia ocidental e a burguesia oriental, ambas aparentemente em conflito uma com a outra, quando afinal são uma e a mesma e perseguem o mesmo objectivo: reproduzir o seu capital, fazendo-o frutificar através da militarização da sua economia à custa de programas sociais e intensificando o empobrecimento das classes trabalhadoras e, em particular, do proletariado.
O mundo capitalista está a desmoronar-se sob uma crise de sobreprodução mundial de proletários, como o demonstram as taxas de desemprego, o número escandaloso e revoltante de pessoas deixadas para trás pelo sistema capitalista - os sem-abrigo, os imigrantes, os indigentes - em suma, as vítimas da organização anárquica do trabalho, da acumulação gigantesca de riqueza num pólo e da pobreza endémica e sistémica no outro. Para além desta crise de sobreprodução humana, há uma crise material: o material de guerra obsoleto tem de ser destruído para ser renovado a grande custo.
Todd, como intelectual burguês, percebe que a sua sociedade capitalista está à beira da única solução que conhece para resolver as suas crises de sobreprodução: A GUERRA, por vezes local, regional, nacional nas suas formas embrionárias, por vezes mundial na sua forma final.
Jacques Bau, tal como Sylvain Ferrera e Hervé Caresse, parecem ser todos a favor de guerras locais ou mesmo nacionais.
Estes renegados dos grandes meios de comunicação social formam apenas as teses e as antíteses da mesma dualidade e apelam a uma guerra mundial para aterrorizar os seus leitores e convencê-los a apoiar os seus patrões, os comerciantes de armas, nas suas despesas militares faraónicas, a retirar dos restos dos programas sociais, que são como que os ossos nus dos orçamentos de Estado.
O proletariado não precisa de temer nenhuma guerra mundial se tiver a coragem e a determinação de aproveitar a oportunidade oferecida pela burguesia para utilizar estas armas para a sua emancipação através da revolução proletária e da eliminação dos seus exploradores e opressores: os capitalistas.
Fonte: Os 7 de Quebec (les7duquebec.net)
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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