terça-feira, 24 de setembro de 2024

A Argélia e a cimeira dos BRICS em Joanesburgo 1/2

 


 24 de Setembro de 2024  René Naba 

RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.

A recusa dos BRICS em admitir a Argélia como membro parece ser um choque salutar para as autoridades argelinas, levando-as a intensificar os seus esforços para diversificar e sanear a sua economia e erradicar a corrupção endémica que aflige o país.

Mas, apesar deste revés, que é lamentável para a sua imagem, a Argélia demonstrou claramente a sua ligação ao Leste, após a dupla visita do Presidente Abdelmajid Tebboune à Rússia e à China, os dois grandes aliados de Argel na guerra de independência nacional dos anos 60, sendo a primeira o seu principal fornecedor de armas e a segunda o seu principal parceiro económico no flanco sul da NATO, ao mesmo tempo que ignorava a França, que tinha programado a sua visita oficial.

A mensagem do Presidente Emmanuel Macron ao Rei Mohamad VI de Marrocos, a 30 de Julho de 2024, aniversário da sua subida ao trono cherifiano, afirmando que o plano de autonomia marroquino é a “única base” para a resolução do conflito do Sahara Ocidental, poderá encrispar ainda mais as relações entre Paris e Argel, para além da restituição pela França daquilo que a Argélia considera fazer parte do seu património histórico, nomeadamente a espada do Emir Abdel Kader. Sem demora, Argel anunciou no mesmo dia a “retirada imediata” do seu embaixador em França, argumentando que o governo francês tinha finalmente dado o seu apoio franco e categórico ao facto colonial imposto ao Sahara Ocidental.

A primeira cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) no continente africano, em Joanesburgo, no Verão de 2023, foi marcada pela adesão de seis novos membros - Arábia Saudita, Irão, Emirados Árabes Unidos, Egipto, Etiópia e Argentina -, marcando simbolicamente o fim do unilateralismo ocidental, tal como se tem manifestado desde a implosão da União Soviética em 1989, e o correspondente novo equilíbrio de poder na cena mundial.

1 – O veto da Índia e do Brasil à admissão da Argélia nos BRICS

Com a adição de seis novos membros, passando o total de cinco para onze, os BRICS representarão 46% da população mundial e pouco mais de um terço do produto interno bruto mundial. O grupo será enriquecido com a inclusão de países do Médio Oriente e produtores de petróleo, reforçará significativamente o seu pólo africano e incluirá os dois maiores países da América Latina. Para um grupo que já conta com os dois países asiáticos mais populosos do mundo, isto representa uma mudança de escala considerável.

A inclusão de dois países africanos - o Egipto e a Etiópia, que, no entanto, estão em disputa sobre a atribuição das águas do Nilo, para além da África do Sul - nos BRICS reflecte o desejo das principais potências do grupo, a Rússia, a China e a Índia, de impulsionar a criação de um mundo multipolar. Os membros fundadores dos BRICS querem criar um pólo africano empenhado na sua causa - Pretória, Cairo, Adis Abeba - com o objectivo de criar um peso pesado para o desenvolvimento económico integrado.

2- Um polo latino na extensão do polo africano

O pólo africano será alargado por um pólo latino-americano com a criação, em torno da dupla Brasil-Argentina, de um núcleo que agrupa as economias mais fortes do Cone Sul da América. O Brasil e a Argentina decidiram igualmente estabelecer as suas trocas comerciais não em dólares, mas na moeda local.

Na véspera da cimeira dos BRICS na África do Sul, o Presidente russo Vladimir Putin anunciou, na cimeira Rússia-África, em São Petersburgo, a 28 de Julho de 2023, a anulação de 23 mil milhões de dívidas dos países africanos e apoiou a ideia de uma maior presença de África no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

3- As razões económicas do veto da Índia e do Brasil à admissão da Argélia

A candidatura da Argélia não foi aceite na primeira cimeira dos BRICS a realizar no continente africano, devido ao duplo veto da Índia e do Brasil, que justificaram a sua oposição com o fraco desempenho económico da Argélia.

A Índia e o Brasil consideraram que o PIB da Argélia era insuficiente. Com 3 500 dólares per capita, indexados apenas às receitas dos hidrocarbonetos, fica muito aquém de países como a Argentina, que tem um PIB per capita superior a 10 000 dólares.

Os BRICS constataram igualmente um certo número de lacunas na política económica da Argélia: falta de industrialização, ausência de um plano de desenvolvimento para este sector e falta de diversificação económica.

As exportações estão paradas e o número de empregos criados é irrisório. Uma presença quase inexistente na cena financeira internacional, um sistema bancário obsoleto e um sistema fiscal arcaico.

Os BRICS criticam igualmente a Argélia por não ter empreendido as reformas económicas e estratégicas necessárias para responder aos desafios do século XXI em matéria de desenvolvimento sustentável e diversificado. A Argélia é considerada demasiado dependente dos combustíveis fósseis e insuficientemente empenhada na transição energética. A ausência de uma verdadeira política de diversificação coloca-a numa posição frágil.

Com um PIB de apenas 163 mil milhões de dólares indexado às receitas do petróleo e do gás, o país está à mercê de um eventual colapso do preço dos combustíveis fósseis, que levaria automaticamente ao colapso de toda a sua economia. A corrupção, que afecta não só a elite, mas todos os estratos da sociedade, é um problema endémico na Argélia, prejudicando gravemente a sua economia.

A Argélia é apenas a quarta potência económica de África, atrás da Nigéria, do Egipto e da África do Sul. A Argélia não tem sido capaz de “semear o petróleo”.

Os consideráveis recursos disponíveis foram utilizados principalmente para financiar grandes projectos de infra-estruturas, sobretudo em benefício da população, e para incentivar diversas formas de consumo improdutivo.

Na ausência de uma diversificação significativa da economia ao longo das últimas décadas, o “síndroma argelino” pode ser visto como um verdadeiro caso de estudo: o de uma economia que foi largamente regada, durante mais de meio século, por abundantes receitas petrolíferas e que corre agora o risco de se encontrar num deserto económico, uma vez esgotada a renda. De facto, a Argélia é o primeiro país produtor de petróleo da região MENA em crise financeira estrutural.

No entanto, o papel de liderança que desempenhou na expulsão de Israel da União Africana confere a este país - o maior em superfície do mundo árabe e de África - um peso diplomático que não tem qualquer relação com o seu desempenho económico.

O duplo veto da Índia e do Brasil teve um efeito salutar sobre os dirigentes argelinos, levando-os a intensificar os seus esforços para melhorar a situação económica do país.

Este agrupamento tem por objectivo criar um mundo multipolar e pôr fim a seis séculos de hegemonia absoluta do Ocidente sobre o resto do planeta. Note-se que, na primeira guerra inter-europeia do século XXI, a Ucrânia, a África não se considerou envolvida, ao contrário das duas guerras mundiais do século XX, quando a sua população serviu de abundante “carne para canhão” para os seus colonizadores.

Longe vão os tempos em que o Ocidente escarnecia dos BRICS como uma borboleta ineficaz que batia as asas no vazio de uma ordem mundial dominada pelo G7. Mas o “efeito borboleta” está agora a fazer-se sentir na reformulação da ordem mundial. A cimeira de Joanesburgo, a primeira cimeira dos BRICS no continente africano, é disso testemunho.

4- Sahel: A saída de três países membros do G5 confirma a Argélia a posteriori.

A Argélia parece ter aprendido as lições da sequência da chamada “Primavera Árabe”, na década de 2010, deixando clara a sua oposição a qualquer intervenção militar no Níger - na sequência do golpe de Estado que expulsou do poder o Presidente Mohamad Bazoum, um protegido francês - para se libertar, por antecipação, do nó em que o seu rival marroquino a tenta apertar, através da sua parceria privilegiada com a Espanha, por um lado, e da sua aliança estratégica com Israel, por outro.

Em 2010, a intervenção da NATO na Líbia levou à instalação de dois regimes islamistas nos flancos da Argélia, com a entronização do líder dos grupos afegãos líbios, Abdel Hakim Belhadj, em Tripoli, e do partido An Nahda, de Rached Ghannouchi, em Tunes.

A Argélia partilha quase mil fronteiras com o Níger. A Argélia temia que este conflito interno pudesse tornar-se o palco de uma guerra por procuração entre potências estrangeiras.

A retirada de três países da África Ocidental do G5 Sahel enfraqueceu consideravelmente a posição estratégica da França na região e, em retrospectiva, justificou a opinião da Argélia de que o agrupamento era a “força auxiliar” da França no seu flanco sul. A 16 de Setembro de 2023, os governos de transição do Mali, do Burkina Faso e do Níger assinaram uma carta que estabelece uma aliança defensiva, a “Aliança dos Estados do Sahel” (AES), prelúdio do que poderá ser uma “Frente de Refúgio” anti-ocidental na África francófona. Os três países propõem mesmo a criação de uma “confederação”, antídoto para a balcanização do continente africano.

Em 2012, o exército francês desembarcou no Mali para combater o terrorismo que tinha tomado conta do Norte do Mali, nomeadamente das regiões de Kidal, Gao e Tombuctu, na sequência da subversão iniciada pelo Ansar Eddine, os pupilos do Qatar, na altura o grande aliado do Presidente Nicolas Sarkozy pós-gaullista, desejoso de desempenhar um papel de pacificador na África Ocidental após os seus reveses na Líbia, que estavam na origem da desestabilização do Mali, para além do Sahel.

Inicialmente, a França foi o único interveniente na Operação Serval, que mais tarde se tornou na Operação Barkhane. Simultaneamente, a ONU enviou forças do Conselho de Segurança para o território do Mali, conhecidas como Minusma (Missão das Nações Unidas para o Mali). O G5 sofreu de uma grande desvantagem: a ausência da Argélia, uma grande potência militar na região, que também se encontra numa posição central devido à sua localização na fronteira com o Mali, o principal campo de batalha.

Na ausência de cooperação com Argel, a eficácia do G5 parecia ainda mais incerta, tendo em conta a sólida experiência argelina na luta contra os terroristas, adquirida durante a “década negra” (1990-2000), e o facto de os primeiros combatentes jihadistas no Sahel terem vindo da Argélia.

Do mesmo modo, a conquista da cidade de Kidal, no norte do Mali, pelo exército maliano e pelos paramilitares russos da Wagner, no Outono de 2023, constituiu o golpe de misericórdia para a França no Mali, uma vez que a Rússia é aliada da Argélia desde a guerra de independência do país, nas décadas de 1950 e 1960.

5 – A precipitação da monarquia marroquina.

A indicação diplomática da Argélia coincidiu com o novo posicionamento estratégico de Marrocos. Ao oficializar as relações israelo-marroquinas iniciadas clandestinamente pelo seu pai Hassan II, o rei Mohammad VI levou esta normalização mais longe do que qualquer outro país árabe. Por isso, parece estar empenhado no que parece ser uma corrida precipitada, tendo como pano de fundo a guerra de sucessão entre o seu filho, o príncipe herdeiro Hassan, e o seu irmão, o príncipe Rachid, numa elite alheia às realidades do terreno.

Sobre a relação clandestina israelo-marroquina, ver este link

§  https://www.madaniya.info/2018/11/17/maroc-israel-hassan-ll-la-grande-imposture/

Doente e muitas vezes ausente do país, Mohamad VI parece empenhado em consolidar a defesa do seu reino através de uma aliança estratégica com Israel, a maior potência militar da região. Mas será que o reconhecimento por Israel da soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental justifica uma tal prostração perante um governo supremacista xenófobo que representa a franja mais radical da direita?

Apesar do grave conflito argelino-marroquino, Argel ultrapassou as suas recriminações em relação ao seu vizinho, oferecendo-se para ajudar durante o terramoto que atingiu o Reino em Setembro de 2023. O trono recusou esta oferta, tal como a da França, preferindo a ajuda israelita, uma vez que a relação israelo-marroquina não deriva de uma relação interestatal tradicional, mas comporta a sua própria zona cinzenta.

Para além do escândalo Pegasus - o sistema de espionagem realizado por Marrocos com software israelita, nomeadamente contra o Presidente francês Emmanuel Macron -, Marrocos é considerado um paraíso para a máfia israelita. Segundo o diário israelita Haaretz de sexta-feira, 14 de Setembro de 2012, o reino alberga vários antigos membros da máfia israelita.

Gabriel Ben-Harush e Shalom Domrani, duas figuras poderosas da máfia israelita, procuradas há anos pela Interpol, são alguns dos nomes citados pelo jornal.

Para ir mais longe:

§  http://www.yabiladi.com/articles/details/12903/maroc-refuge-pour-mafia-israelienne.html

É certo que o antigo parceiro da NATO no Safari Club e, da mesma forma, o antigo líder da contra-revolução na cena africana com o eixo Rabat-Abidjan-Kinshasa, face ao eixo Argélia-Gana-Guiné-Mali, pode contar com o apoio dos seus aliados ocidentais tradicionais.

Mas esta parceria surge num momento em que o equilíbrio de poderes na região está a mudar, num momento em que Israel, governado por uma franja supremacista que pratica um sociocídio sistemático do povo palestiniano, está a braços com uma guerra interna e a superpotência americana, absorvida na sua guerra contra a Rússia através da Ucrânia, já não parece assim tão omnipotente, ou mesmo em fase de refluxo no mundo árabe e em África.

O “Dilúvio Al Aqsa”, a ofensiva combinada dos grupos combatentes palestinianos contra Israel, em 7 de Outubro de 2024, liderada pelo Hamas, elevando o movimento islamista palestiniano à categoria de representante efectivo do povo palestiniano e defensor da mesquita de Al Aqsa, foi uma grande bofetada na cara do rei de Marrocos, na sua qualidade de “presidente do Comité Al Quds”.

O seu silêncio estrondoso durante os 55 dias de combates na batalha de Gaza, em contraste com as manifestações de solidariedade do povo marroquino com a Palestina, foi um sinal de grande embaraço.

Mohamad VI só quebrou o seu silêncio a 29 de Novembro de 2023, por ocasião do dia internacional de solidariedade com o povo palestiniano - coincidindo com a resolução que proclama o projecto de divisão da Palestina em dois Estados, a 29 de Novembro de 1947, quando foi declarada uma trégua em Gaza. O Rei deplorou as violações do direito internacional humanitário, convidando a comunidade internacional a ultrapassar as suas divisões para encontrar uma solução duradoura através da criação de um Estado palestiniano. Em nenhum momento o Rei acusou Israel pelo nome.

Neste contexto, a cooperação securitária e militar entre Israel e Marrocos constitui, sem dúvida, um bónus para o belicismo israelita e um bónus para a repressão da população palestiniana, negando o papel tradicionalmente assumido por Marrocos em relação à Palestina... desde a reabilitação da Mesquita de Al Aqsa, depois de ter sido incendiada por um israelita, até à presidência do Comité Al Quds.

O mais antigo aliado árabe de Israel, selado na cimeira árabe de Casablanca em 1964 e com a cumplicidade israelita no rapto e desaparecimento do carismático líder da oposição marroquina Mehdi Ben Barka, muito antes do tratado de paz egípcio-israelita de 1979, contentou-se com um mínimo de serviços, quando, dadas as suas excelentes relações com Israel e com o seu protector comum, os Estados Unidos, o soberano poderia ter feito mais para travar a fúria destruidora de Israel.

§  https://www.renenaba.com/la-jordanie-et-le-maroc-deux-voltigeurs-de-pointe-de-la-diplomatie-occidentale/

A aposta de Mohamad VI parece audaciosa. Se for bem sucedido, passará à história como um génio político de primeiro plano que assegurou também a sobrevivência do seu reino e da sua dinastia. Esta aposta é tanto mais incerta quanto a nova orientação da diplomacia marroquina se depara com uma forte oposição interna de uma população predominantemente nacionalista e pró-palestiniana, hostil a qualquer normalização com o Estado hebreu.

O desencanto com o partido islamista marroquino “Partido da Justiça e do Desenvolvimento”, cujo líder presidiu ao Conselho de Ministros que assinou os acordos de normalização israelo-marroquinos, e as grandes manifestações de apoio ao povo palestiniano que tiveram lugar nas principais cidades marroquinas durante a operação de destruição de Gaza no Outono de 2023, são disso testemunho.

Com uma população estimada em 3.000 pessoas, a comunidade judaica marroquina continua a ser a maior comunidade judaica do Norte de África, enquanto cerca de 700.000 israelitas são de ascendência marroquina e mantiveram fortes laços com o seu país de origem.

Os investidores e turistas israelitas que chegaram após a normalização das relações entre Marrocos e Israel desapareceram, enquanto as manifestações pró-palestinianas ganharam força e o gabinete de ligação israelita em Rabat foi evacuado.

Para mais informações sobre o judaísmo marroquino, ver este link

§  https://www.renenaba.com/hommage-a-edmond-amran-el-maleh-et-abraham-sarfati-lhonneur-du-judaisme-marocain/

Além disso, a evolução desfavorável dos acontecimentos desde 2020 na pátria africana da França (Mali, Burkina Faso, Guiné e Níger) poderia complicar consideravelmente o jogo de Marrocos, apesar da cooperação de segurança israelo-marroquina e do estabelecimento de uma base israelita no seu território.

O Sara Ocidental e os dois enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla são os dois pontos fixos e imutáveis - uma fixação? - do Rei, o seu horizonte inabalável que deve recuperar, mesmo à custa de graves desmentidos, de que o escândalo Pegasus, a espionagem em grande escala dos grandes e bons do mundo, foi a deriva patológica.

Marrocos, que acolheu a primeira cimeira islâmica dos tempos modernos, em 1969, na sequência do incêndio da mesquita de Al AQSA, bem como duas cimeiras árabes - a de Casablanca, em 1964, e a de Rabat, em 1974 - que conferiram à OLP o estatuto de representante exclusiva após a guerra de Outubro, o estatuto de representante exclusivo do povo palestiniano na Organização de Libertação da Palestina (OLP), parece agora estar em retirada da vida diplomática árabe e africana, prelúdio de um eclipse duradouro comparável ao que atingiu o Egipto, outrora líder do mundo árabe, mas agora uma pálida sombra após o seu tratado de paz com Israel.

Hassan II, um diplomata astuto, nunca se teria entregado a uma tal operação. O seu sucessor, Mohamad VI, não parece ter a mesma capacidade de manobra.

6- "Dilúvio de Al Aqsa" transformou Marrocos numa "múmia diplomática".

O ataque palestiniano contra Israel, em 7 de Outubro de 2023, colocou em maus lençóis os países árabes que tinham formalizado as suas relações, até então clandestinas, com Israel, nomeadamente Marrocos, na medida em que a operação dos combatentes islamistas palestinianos tinha o nome de código “Dilúvio de Al Aqsa”, em referência à mesquita de Al Aqsa em Jerusalém, entronizando assim o Hamas como o verdadeiro representante do povo palestiniano e defensor deste terceiro local mais sagrado do Islão, em referência à mesquita de Al Aqsa em Jerusalém, entronizando assim o Hamas como o verdadeiro representante do povo palestiniano e defensor deste terceiro local mais sagrado do Islão, renegando assim o soberano cherifiano na sua qualidade de “Presidente do Comité Al Quds”.

Mudo ao longo de toda esta sequência, Mohammad VI pareceu agir como uma múmia diplomática, sem a mínima iniciativa para além da irrisória interrupção das ligações aéreas comerciais entre Rabat e Telavive.

Colocar-se sob a protecção de Israel, que não foi capaz de proteger o seu próprio espaço nacional, pode revelar-se uma escolha arriscada, ou mesmo contra-producente a longo prazo, tanto mais que a segunda consequência do “Dilúvio Al Aqsa” pode ser a de pôr em causa a política de fragmentação da questão palestiniana.

Esta fragmentação foi materializada pelos Acordos de Abraão, a formalização das relações entre o Estado hebreu e os países árabes periféricos, as petro-monarquias (Bahrein, Emirados Árabes Unidos), bem como Marrocos e o Sudão. Estes “normalizadores” estão agora em apuros junto da opinião pública.

§  https://www.madaniya.info/2023/11/27/bilan-de-loperation-deluge-dal-aqsa/

7- O juízo comparativo de Gilles Perrault, autor do livro "Nosso Amigo, o Rei" sobre os dois últimos soberanos de Marrocos:

"Hassan II era uma personalidade complexa. De Gaulle disse dele: "Ele é desnecessariamente cruel". É uma fórmula de estadista porque significa que se pode ser desnecessariamente cruel. E é verdade que sim. Mas ele era um verdadeiro chefe de Estado. Ele amava o poder. Ele também amava dinheiro; mas amava o poder acima de tudo. Mohammad VI, por outro lado, ama o dinheiro primeiro. Ele gosta de poder porque torna o seu negócio mais fácil, mas é secundário para ele. Não é um estadista. Ele não encheu o traje de rei de Marrocos. Sob Hassan II, os jornalistas desapareceram. Com Mohammad VI, são os jornais.

§  https://orientxxi.info/magazine/maroc-france-notre-ami-le-roi-un-tremblement-de-terre,4136?fbclid=IwAR2eFV-qOtKXV-WdboCSuIonOW61KLks2FXo-lQf1lLISKb8d4mfxwm0ufA

O fracasso da aposta real poderia comprometer não só a sobrevivência política do rei, mas também a sustentabilidade da dinastia alauita e, presumivelmente, do Reino como um sistema de governo de Marrocos.

 

Fonte: L’Algérie et le sommet du BRICS de Johannesburg 1/2 – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




Sem comentários:

Enviar um comentário