28 de Setembro de
2024 Robert Bibeau
Por Olga SAMOFALOVA
SE LHE DISSEREM.
A guerra pretendida pelo Ocidente na tentativa de manter a sua posição
hegemónica não se limita às operações militares numa economia mundializada, afecta
todo o comércio e tem consequências tanto em termos de perda de quota de
mercado como de efeitos inflaccionistas. Mede-se em termos energéticos, mas as
implicações podem chegar a outros recursos necessários e não há dúvida de que a
consulta dos BRICS terá em conta esse contexto, enquanto os cidadãos não são
simplesmente convidados a sofrer os efeitos em termos de emprego, padrões de
vida e serviços públicos sacrificados. (nota de Danielle Bleitrach, tradução de
Marianne Dunlop)
O presidente Vladimir Putin sugeriu considerar "certas restricções"
ao fornecimento de níquel, urânio e titânio a países hostis. No entanto, disse
que "não devemos fazê-lo em nosso próprio prejuízo".
O porta-voz presidencial Dmitry Peskov também anunciou uma abordagem
cautelosa à introdução de sanções retaliatórias por parte da Rússia. "O
mercado é muito competitivo e implacável. Uma vez que perde a sua posição, leva
décadas para recuperá-la de alguma forma. Nenhum assento permanece vazio. E o
lugar dos nossos diamantes, se partirmos, será tomado por outros, e o lugar do
nosso petróleo será tomado por outro petróleo, e assim por diante",
explicou.
Não é por acaso que as restricções ao urânio, titânio e níquel foram
referidas como sanções retaliatórias da Rússia. Nestas áreas, a Rússia tem um
enorme peso na cena mundial, e o principal continua a ser a dependência dos
países hostis em relação aos nossos recursos.
"Cerca de uma em cada seis centrais nucleares no mundo é alimentada
pela Rússia. No que diz respeito ao níquel, a Rússia representa cerca de 19%
das exportações mundiais e cerca de 9% da sua produção. Para o titânio, até
2022, cerca de um quarto do fornecimento mundial veio da empresa russa
VSMPO-AVISMA. E a Rússia continua a fornecer esses recursos a países hostis de
uma forma ou de outra, embora em menor grau", diz Ksenia Bondarenko,
especialista do Centro de Estudos Europeus e Internacionais Complexos (CCESI),
Faculdade de Economia Mundial e Política Global da Escola Superior de Economia
da Universidade Nacional de Pesquisa.
Que empresas ocidentais precisam do nosso níquel? E o que acontecerá se a
própria Rússia proibir as entregas de níquel a países hostis, especialmente à
União Europeia?
"O níquel é tradicionalmente exportado para a União Europeia e China,
onde é utilizado na produção de aço inoxidável e baterias. A indústria
siderúrgica usa activamente níquel para criar ligas de aço resistentes à
corrosão. Além disso, o níquel desempenha um papel fundamental na produção de
baterias para veículos eléctricos e electrónicos. Por exemplo, em 2023, a
produção mundial de níquel totalizou cerca de 2,7 milhões de toneladas, grande
parte das quais veio da China, que é o maior consumidor do metal", diz
Yaroslav Kabakov, director de estratégia da Finam Investment Company.
Os Estados Unidos e o Reino Unido proibiram a compra de níquel russo na Primavera
passada. No entanto, até agora, a União Europeia tem recusado tais sanções.
"A Rússia continua entre os líderes na mineração de níquel e ocupa o
quarto lugar na produção de níquel: o volume de produção na Rússia em 2022 foi
de 220 mil toneladas, em 2023 – 218,9 mil toneladas. Os principais destinos dos
produtos russos de níquel foram a China e a Holanda, onde está localizado o
armazém da London Metal Exchange (LME). É de onde veio a maioria dos produtos
russos de níquel antes das restricções de Abril de 2024", diz Hasan
Ramazanov, especialista do Centro Rússia-OCDE da Academia Presidencial.
As entregas de níquel à UE continuam, embora diminuam principalmente devido
aos preços mais elevados. No primeiro semestre de 2024, a Finlândia e a Estónia
compraram mais níquel aos países europeus, de acordo com a plataforma Comtrade
da ONU. A participação do níquel russo no níquel finlandês foi de mais de 88%,
ou 336 milhões de dólares, enquanto nas importações da Estônia foi de 44%, ou 1,5
milhões de dólares. A República Checa, a Alemanha e a Bulgária também assumiram
uma parte significativa nas compras deste metal.
"Para vários países da UE, a Rússia continua a ser o principal
fornecedor de níquel. Ao mesmo tempo, a Finlândia caracteriza-se pela
reexportação de níquel, incluindo para outros países da UE. A Finlândia exporta
mais níquel da Rússia, uma vez que os depósitos de cobre e níquel estão
localizados perto da fronteira entre os dois países. As importações totais de
níquel e produtos de níquel da Finlândia ascendem a 1,9 mil milhões de dólares,
enquanto as suas exportações ascendem a mais de 1 mil milhões de dólares.
Curiosamente, a Finlândia exporta níquel para a China, mas também para a
Noruega, França, Japão e Canadá. Lá, as empresas o utilizam para a finalidade a
que se destina: tornar o aço mais resistente à corrosão, usá-lo na fabricação
de equipamentos e outras coisas", diz Bondarenko.
Se a Rússia proibir o fornecimento do seu níquel à UE, isso conduzirá
certamente a um aumento dos preços mundiais do metal. "Isso poderia levar
a um aumento significativo nos preços do níquel, especialmente no caso do
níquel russo sendo reabastecido por países terceiros", disse Ramazanov.
Tais sanções representariam, obviamente, mais um golpe para a indústria
europeia, que já não conseguiu lidar com a rejeição forçada da UE à energia
barata proveniente da Rússia.
No caso da Nornickel, os preços mais elevados poderiam, em certa medida,
compensar a redução dos volumes de exportação. Ao mesmo tempo, a Rússia poderá
reorientar algumas das suas exportações para os mercados asiáticos.
De um modo geral, a proibição das exportações de níquel poderia mesmo ter
um efeito positivo na Rússia. "Internamente, o níquel pode contribuir para
o desenvolvimento das indústrias de baterias e aço inoxidável da Rússia. Tal
reduzirá a dependência de materiais e tecnologias importados, o que
impulsionará o crescimento económico e a criação de emprego», afirma Yaroslav
Kabakov.
Quando se trata de titânio, as empresas de aviação ocidentais eram
fortemente dependentes do fabricante russo VSMPO-AVISMA antes do início do SVO.
Segundo a própria empresa, cobriu 65% das necessidades de titânio da Airbus,
até 35% da Boeing e 100% da brasileira Embraer. A isso acrescem 20% das
necessidades do fabricante britânico de motores de aeronaves Rolls-Royce e 50%
das necessidades da francesa Safran.
É claro que, em 2022, todos eles anunciaram a sua intenção de abandonar o
titânio russo. Mas, na prática, isso revelou-se irrealista.
"Se a Boeing americana recusasse formalmente o titânio russo, a Airbus
europeia não poderia fazê-lo. A empresa europeia está tão dependente das
importações russas de titânio que a França está a beneficiar de um alívio das
sanções do Canadá contra a VSMPO-AVISMA, embora a oferta tenha diminuído",
observa Ksenia Bondarenko.
Os embarques russos de titânio para a União Europeia (UE) em 2023
diminuíram 20% em comparação com 2022, para 6.410 toneladas (dados do
Eurostat).
"No entanto, as maiores empresas aeroespaciais da Europa, Airbus,
Safran e Rolls-Royce, continuam a importar titânio russo. Alguns deles até
aumentaram as suas importações, apesar das declarações públicas sobre a redução
dos laços", diz Ramazanov.
Por exemplo, a França, onde está localizada a principal unidade de produção
da Airbus, aumentou os embarques da Rússia em 72%, para 1.929 toneladas, e da
Estónia em 5%, para 369 toneladas.
"Os dados alfandegários russos mostram que os principais compradores
são França, China e Alemanha, mas os Estados Unidos também continuam a comprar
titânio russo", acrescentou Ramazanov.
"O titânio é necessário para a indústria aeroespacial e de defesa, bem
como para a medicina para a fabricação de próteses. Devido à sua resistência e
leveza, o titânio encontrou ampla aplicação na produção de equipamentos
desportivos e equipamentos de alta qualidade. Em 2022, o mercado mundial de
titânio foi estimado em 4,5 mil milhões de dólares e continua a crescer. As
principais exportações de titânio são para os Estados Unidos, Japão e países da
União Europeia", diz Kabakov.
A proibição das entregas russas de titânio à UE afectará a indústria
aeronáutica europeia. No mínimo, tornará o metal mais caro e mais difícil de
obter. O custo do titânio já é considerável. Uma vez que os fabricantes de
aeronaves ocidentais não têm qualquer interacção com a Rússia, estas contra-sanções
não afectarão muito a nossa economia.
E se tivermos em conta o facto de que a Rússia tem grandes planos para
construir os seus próprios aviões para substituir completamente a Boeing e a
Airbus, nós próprios precisaremos de titânio, e em quantidades muito maiores do
que hoje. Até 2030, a Rússia planeia produzir mais de 1.000 aeronaves
domésticas. O consumo interno de titânio pela Rússia já está a aumentar.
"Na Rússia, o titânio pode ajudar a fortalecer a indústria de defesa e
o sector aeroespacial. Também expandirá a produção de equipamentos médicos,
incluindo próteses e implantes, o que melhorará a qualidade dos serviços
médicos e impulsionará a pesquisa científica no campo dos biomateriais",
diz Kabakov.
A situação também é interessante no que diz respeito ao urânio. Em Maio de
2024, os Estados Unidos impuseram uma proibição às importações de urânio pouco
enriquecido da Rússia até 2040. Mas, na verdade, os americanos abriram uma excepção
até 2028.
Na prática, os EUA simplesmente não estão em posição de desistir das
matérias-primas russas neste momento. De acordo com o Departamento de Energia
dos EUA, a Rosatom fornece urânio enriquecido, usado como matéria-prima para
combustível nuclear, para mais de 90 reactores comerciais nos Estados Unidos,
tornando-se o maior fornecedor estrangeiro para os Estados Unidos.
Houve um tempo em que os Estados Unidos, juntamente com a URSS, estavam
entre os líderes mundiais na produção de urânio. Ao contrário da Rússia, que se
tornou líder mundial na indústria nuclear, os Estados Unidos já nem sequer
estão entre os 15 maiores produtores de urânio e toda a matéria-prima é
importada.
"Quando falamos em reduzir a oferta de urânio, estamos a referir-nos a
uma redução dos serviços de enriquecimento. O nosso país é responsável por mais
de metade da capacidade mundial de enriquecimento de urânio, sendo a Rússia o
principal fornecedor destes serviços. Deve-se notar que, de acordo com o
Enrichment Market Outlook, até 2035, a Rússia fornecerá até 30% do urânio
enriquecido do mundo", disse Ramazanov.
"A Rússia é um dos três maiores importadores de urânio no mercado dos
EUA. Os preços do próprio combustível e do seu processamento já subiram mais de
40% desde o início do ano devido às sanções contra a Rússia. Se a Rússia
impuser uma proibição às exportações de urânio e outros metais de terras raras,
isso primeiro abalará os mercados e empurrará a inflação para um nível mais
alto", diz Tatiana Skryl, professora associada de teoria económica da
Universidade Econômica Russa Plekhanov. Ela acrescentou que os parceiros da
Rússia nos BRICS não devem ser esquecidos, pois poderiam apoiar a iniciativa da
Rússia de impor medidas restrictivas sobre o fornecimento de recursos escassos.
Neste caso, uma proibição conjunta poderia criar um défice mundial nos mercados
de terras raras.
https://vz.ru/economy/2024/9/17/1287482.html
»» https://histoireetsociete.com/2024/...
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https://www.legrandsoir.info/la-russie-prepare-un-severe-choc-economique-contre-l-occident.html
Fonte: La Russie prépare un sévère «choc économique» aux pays de l’OTAN – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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