20 de Março de 2025 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub .
Há apenas cinco anos, em Março de 2020, no
momento da fabricação estatal da “plan-demia” do Covid, Macron martelava sobre
esta doença da gripe sazonal: “Estamos em guerra”. No entanto, na altura, todos
os especialistas de saúde honestos reconheciam o carácter benigno desta gripe
sazonal, a inocuidade do vírus na ausência de patologia pré-existente. A título
de resposta médica para proteger o país desta gripe sazonal, rebaptizada de
Covid-19 em nome da causa, Macron decretou paradoxalmente o confinamento de
todos os cidadãos franceses, introduziu um recolher obrigatório e restringiu
drasticamente as liberdades individuais.
Com uma retórica bélica destinada a inflamar a fibra patriótica, esperávamos pelo menos uma declaração de mobilização geral para combater o invasor viral. Mas, em vez de formar um exército (sanitário) para proteger a população francesa contra o inimigo (viral), ou de apelar a todos os cidadãos para se armarem (medicamente) para enfrentar o invasor contagioso, o Presidente Macron convidou-os maquiavelicamente a aconchegarem-se em casa, a confinarem-se, como na Idade Média, na ausência dos serviços de saúde dizimados nas últimas décadas por este mesmo Presidente, em nome do rigor orçamental instituído para reunir ainda mais a força do capital.
Assim, na ausência dos meios sanitários e médicos necessários para travar a propagação da gripe sazonal apelidada de Covid, o governo Macron colocou estrategicamente a resposta em terreno (de propaganda) militar, como se se tratasse de uma guerra a travar.
Fundamentalmente, a luta contra um vírus é travada com inteligência (ciência), equipamento (sanitário e médico) e previsão (stocks de materiais), e não com uma retórica belicosa incantatória destinada a suscitar psicose em vez de tranquilidade. Precisamos de protecção médica profiláctica cientificamente validada ou de vacinas, que são essenciais para a nossa saúde mental individual e para a nossa resiliência colectiva, e não de políticas de contenção debilitantes e de uma retórica alarmista e militarista destinada a incitar à psicose e ao medo obsessivo.
Apesar da hecatombe apocalíptica anunciada por Macron, o número de mortes ligadas ao Covid terá sido relativamente comparável ao causado pelos anteriores surtos anuais de gripe sazonal. A maioria dos doentes morreu por falta de cuidados médicos, forçados a permanecer confinados às suas casas e proibidos de ir ao hospital ou consultar o seu médico de família. Esta situação verificou-se sobretudo entre os idosos internados em lares de terceira idade.
Na época, os meios de comunicação social contribuíram para criar este clima de medo covarde, alimentando as chamas da psicose colectiva e da febre obsidional.
De um modo geral, é o tratamento político e sobretudo mediático que dá uma dimensão racional ou emocional a um acontecimento social que é trazido ao conhecimento do público. E, consoante o tratamento que lhe é dado, a forma como a informação é recebida e, correlativamente, a reacção colectiva, varia entre o discernimento filosófico e o medo histérico.
Qualquer outro acontecimento tratado da mesma forma apocalíptica teria suscitado a mesma reacção colectiva histérica, alucinatória e de pânico (terrorismo, poluição atmosférica, explosão de cancros ou de outras doenças mortais, etc.) e, em particular, como hoje, a “ameaça de invasão russa”, ainda que imaginária, levantada por Macron.
É o tratamento diferenciado da informação que provoca o choque dos males e dá origem ao peso da aflição. E, consequentemente, o apoio público às políticas de segurança e às intervenções militares.
O reino do
medo é a arma dos poderosos
Agora, na sequência da guerra na Ucrânia, Macron volta
a fazê-lo. No momento em que as duas potências, os Estados Unidos e a Rússia,
se preparam para assinar um tratado de paz para pôr fim à guerra na Ucrânia,
Macron proclama que Moscovo, este novo “bendito Covid geopolítico”, ameaça a
França. E, perante esta ameaça russa fantasiada, Macron continua a martelar,
uma vez mais, o seu leitmotiv militarista, a sua frase fetiche: “Estamos em
guerra”. Em tom eclesiástico e com uma desenvoltura hercúlea, Macron proclama
que a hora militar não é séria, mas grave.
Assim, com uma aplicação perversa e sádica de dramatização extrema da situação, Macron reactiva a arma do medo, da psicose e da insegurança. Um clima apocalítico complacentemente mantido pelos meios de comunicação social dependentes, em particular os canais noticiosos de 24 horas, colonizados por generais da televisão, generais franceses que só conhecem a guerra através dos noticiários televisivos ou, na melhor das hipóteses, através de proxys militares.
Assim, sob o efeito da intoxicação mediática, o medo apoderou-se irracionalmente dos franceses. Um medo obsessivo.
O reino do medo é a arma dos poderosos. Em todo o caso, permite-lhes apresentarem-se como salvadores supremos, como protectores taumatúrgicos. Por seu lado, Macron não hesita em assumir o papel de homem providencial, o único capaz, na sua opinião, de afastar a ameaça existencial da Rússia.
Como escreveu o crítico americano Henry Louis Mencken, no século passado, “o objectivo da política é manter a população ansiosa e, por conseguinte, em busca de segurança”. A política do medo procura, portanto, criar um clima de psicose na população para justificar a adopção de leis de segurança, medidas anti-sociais e políticas de intervenção militar. O estabelecimento de uma economia de guerra. E com uma economia de guerra vem uma economia de fome.
A retórica alarmista e ansiogénica sempre fez parte da política de segurança seguida pelas classes dominantes, ilustrada nomeadamente pela designação de inimigos internos ou externos a combater. A instrumentalização do medo real ou irracional pelos governos para efeitos de condicionamento ideológico e de arregimentação militar é uma arma utilizada desde os primórdios da sociedade de classes. Mas a manipulação do medo para fins de contenção política (a coberto da ameaça de uma gripe sazonal: o Covid), de pôr em causa as conquistas sociais num contexto de relegação do protesto social (a coberto da imaginária ameaça russa), é a última invenção da burguesia francesa decadente. Uma burguesia que governa apenas pelo engano e pelo terror.
O pânico dos dominados faz a felicidade dos poderosos. Quando o pânico se espalhar em França, ou seja, quando o medo obsessivo se apoderar dos franceses, podemos ter a certeza de que estes já não serão capazes de mostrar qualquer resistência para se oporem às políticas anti-sociais e liberticidas da burguesia francesa.
Para a classe dominante francesa, a propagação da febre obsidiana é o melhor antídoto para afastar as tensões sociais.
Tal como no tempo da “plan-demia” de Covid, em que os franceses eram submetidos à resignação e resignados à submissão, confinados na sua servidão voluntária e voluntariamente escravizados ao confinamento, a época actual dos planos de guerra contra a Rússia parece estar a arrastar os franceses pela mesma ladeira de resignação e submissão. A menos que haja uma salutar explosão de resistência popular.
Khider MESLOUB
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/298690?jetpack_skip_subscription_popup
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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