RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com www.madaniya.info.
Nadine Sayegh, uma académica franco-síria, é colunista do site https://www.5njoum.com/, liderado pelo jornalista libanês Sami Kleib, ex-chefe do serviço árabe da RFI e dissidente do canal transfronteiriço do Catar Al Jazeera. Professora de poliglota (inglês, espanhol), ela é a anfitriã da instituição de caridade "Al Sakhra" (Roc) para ajudar os sírios afectados pela guerra.
O Bistrô (pequeno restaurante – NdT) e o "A la bonne franquette" (ambiente informal, familiar – NdT), duas instituições francesas firmemente enraizadas na língua francesa e no convívio, sofreram particularmente com a pandemia coronavírus e o confinamento que se seguiu em França em 2020.
Um olhar para trás para essas duas
instituições francesas com as explicações de Nadine Sayegh sobre as suas
origens, no primeiro aniversário da introdução do primeiro confinamento devido
à pandemia.
O Bistrô
Tão parisiense quanto a Torre Eiffel e o Museu do Louvre, o bistrô continua a ser um lugar obrigatório para todos os franceses. Meio-café meio restaurante, com toalhas de mesa tradicionais com pequenos azulejos vermelhos e brancos, deve a sua reputação ao seu serviço rápido, a preços razoáveis e ambiente familiar. Mas de onde é que isso vem?
Várias interpretações surgiram. Mas
desde que a placa etimológica foi descoberta na fachada do restaurante Madre
Catarina, na 6 Place du Tertre em Montmartre, as outras versões desapareceram.
De facto, em 1814, após a derrota de
Napoleão I, os soldados do exército russo do czar Alexandre I estabeleceram-se
em Paris, e, durante o seu serviço, eles iam recarregar algumas bebidas,
silenciosamente, nas tavernas ao lado.
Mas, para não serem apanhados pelos seus
superiores, ordenaram que fossem atendidos rapidamente, e gritavam
"bistrô", o que significa em russo "rápido, rápido". E desde
então, esta palavra tem sido adoptada pelos franceses.
Hoje, mesmo que tomem formas
ligeiramente variadas, bistrôs parisienses conseguiram manter a sua aparência
antiquada, uma grande barra de zinco precedida por algumas mesas de madeira,
para servir os seus clientes com esses pequenos pratos tradicionais, que vão
desde a terrine (uma espécie de terrina de sopa – NdT), até à blanquette de
veau (prato de carne de vitela migada, cenouras e manteiga), em pote levado ao
lume, até ao ensopado de carne (bœuf bourguignon ) e as incondicionais
batatas fritas!
Tudo isso acompanhado de uma taça de
vinho francês. Talvez não seja de uma grande safra, mas que não deixa de ser muito
agradável, para não mudar os hábitos!
Para o informal e familiar
O tempo passa, as gerações sucedem-se e
as sociedades mudam, daí a influência desta última na linguagem e nos códigos
sociais.
Não há nenhuma expressão que tenha retirado
o seu significado da Corte Real antes de se familiarizar com as pessoas comuns,
antes de se familiarizar com as pessoas
comuns , outrora estranhas aos bons modos. Vejamos o que é o nosso “informal e
familiar”?
Esta expressão popular, que nos convida
a comer sem complicações e protocolo, em frente ao televisor, com amigos ou em
torno de uma pizza, não é de forma alguma desconhecida para nós.
Ela tem a capacidade de colocar os
hóspedes à vontade e de fazer os nossos hóspedes sentirem-se em casa como se fossem luvas do
século XVII.
Naquela época, os preciosos eram reis e
a mundanidade (socialites) eram rainhas.
Ambos se distinguiamm pelo seu comportamento refinado e pensamento subtil.
Através da arte da lisonja e da afectação (afféterie),
que abundam em salões e mansões até à grandiloquência. Uma situação muito explícita
para os leitores de "Précieuses ridicules", de Molière.
Assim, para acentuar essa difracção,
Claude Duneton, esse historiador da língua, lembra que "teria sido costume
opor duas expressões: 'à la française' (à francesa – NdT) que significava com
grande gentileza e compreensão, e a pequena expressão 'à la franquette' (informal,
familiar – NdY) para dizer 'francamente, muito simples'.
Somente dois séculos depois, no século
XIX, a expressão com o "bom" agregado, assumiria um significado mais
alargado para se dizer "de uma maneira franca e simples".
E finalmente é no século XX, quando
Marcel Proust o apresenta em "Em Busca do Tempo Perdido": "Não
faça chá para nós, vamos falar baixinho, somos pessoas simples, com a
informalidade (franquete) certa" que essa fórmula se tornará de uso
generalizado.
Fonte: L’art de vivre à la Française victime collatérale du confinement – les 7 du quebec
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