RENÉ — Este texto é publicado em parceria com www.madaniya.info.
Uma década dupla calamitosa termina com a destruição das duas antigas capitais da conquista árabe, Bagdad, capital do antigo império abássida, em 2003, Damasco, antiga capital do Império Umayyad, em 2013. Por causa da aliança das petro-monarquias do Golfo com o bloco atlântico, uma aliança não natural de alguns dos regimes mais retrógrados do mundo com as "grandes democracias ocidentais", uma aliança islamita-atlântica.
Sem o menor benefício, nem para os
árabes nem para os muçulmanos, para o benefício exclusivo da sobrevivência de
tronos e dinastias declamados. Com a Rússia, no epicentro da zona de conflito
do Médio Oriente e o Irão, agora promovido ao posto de maior potência regional,
enfrentando um mundo árabe deslocado para um campo em ruínas, numa geo-deslocalização
generalizada do conjunto árabe..
1- O recorde da década dupla
O registro fala por si só: As seis "guerras sujas" da era contemporânea estão localizadas no âmbito da Organização da Conferência Islâmica (Síria, Iraque, Afeganistão, Somália, Iémen e Líbia) gerando 600 milhões de crianças muçulmanas que sofrem de pobreza, doença, privação e falta de educação, enquanto 12 países muçulmanos têm a maior taxa de mortalidade infantil e 60% das crianças não frequentam a escola em 17 países muçulmanos. (Veja Haytham Manna, Presidente do Instituto Escandinavo de Direitos Humanos no seu livro "Resistência Civil, Contribuição para a Auto-Imunização das Sociedades" - SIHR 2 me edição 2015).
O relatório das Nações Unidas, divulgado
em 2 de Dezembro de 2020, por Ali Al Zaatari, Coordenador das Nações Unidas
para a Ajuda Humanitária Internacional à Síria, dá os seguintes números:
"Em 2020, dez países árabes estão a sofrer sérias crises humanitárias
(Iraque, Jordânia, Líbano, Líbia, Palestina, Somália, Sudão, Síria, Iémen e Tunísia).
Em 1948, o mundo árabe foi povoado por
refugiados de uma única nacionalidade. 72 anos depois, os refugiados são da
maioria das nacionalidades árabes (palestinos, sírios, iraquianos, somalis,
sudaneses, iemenitas, líbios, etc.).
Sessenta milhões (60) dependem de ajuda
internacional, estimada em US$ 11 biliões, metade das quais foram realmente
pagas. Até 2021, o número de pessoas dependentes de ajuda internacional
aumentará para 64,5 milhões, um aumento de 4,5 milhões num ano.
O número de refugiados sírios enviados
para países vizinhos (Líbano, Jordânia, Iraque e Turquia) é estimado em 10
milhões de pessoas, exigindo um orçamento de 6 biliões de dólares, dos quais 2
biliões foram pagos.
E quase 31% (mais precisamente 30,9%) A
população urbana árabe vive em favelas ou bairros anárquicos, de acordo com
Arfane Ali, directora regional do Programa de Assentamentos Humanos da ONU para
a região mena.
Em relação à proliferação da construção
anárquica na região árabe, Arfane Ali considerou que o aumento dos preços das
terras, os altos custos de construcção de novas casas estão entre as principais
causas desse fenómeno.
O funcionário da ONU acrescentou que 70% da população árabe residirá em áreas
urbanas até 2050, observando que o número de moradores urbanos mais do que duplicará
entre 2010 e 2050 na região..
2 - Gastos com armamentos
Por outro lado, os gastos com armamentos dos países árabes somaram US$ 165 biliões, disse Zaatari, com base num relatório "GlobalFire power.com" e de acordo com o seguinte ranking:
A Arábia Saudita, terceiro 13º cliente
mundial de armamento, US$ 67,5 biliões; Emirados Árabes Unidos (22,7); Argélia
(13); Egipto (11,2); Marrocos (10); Sultanato de Omã (8,6); Kuwait (6,8); Qatar
(6); Líbia (3); Líbano (2,5); Sudão (2,4); Síria (1,8); Iraque (1,7); Bahrein
(1,4); aos quais convém adicionar Tunísia, Somália e Mauritânia.
Para o locutor árabe,
os detalhes podem encontram-se neste link.
O panorama dispensa comentários: A precariedade económica com a sua procissão de marginalização, prisão social, contravenção, delinquência, recuperação religiosa, no contexto de uma dinâmica de grupo sobre seres enfraquecidos num mundo prisional são todos factores de tropeço ou até mesmo tombamento.
Em sobreposição à infantilização
religiosa, num contexto de demagogia e da instrumentalização do Islão como arma
de combate contra o ateísmo soviético (Afeganistão 1980-1989), depois contra
países árabes seculares (Líbia, Síria), com a cumplicidade dos países
ocidentais (2011-2014) esses factores acabaram por gerar, após uma sequência
tempestuosa de um quarto de século, um ser híbrido, perdido no Islão e perdido
na República , um jihadista por meio da delinquência, um louco de Deus, um zombie
criminogénico..
3 - O registro do terrorismo
Em 2010, o número de vítimas de terrorismo estava circunscrito a 10 países. Cinco anos depois, o número de mortos espalhou-se por 151 países.
1.812 organizações estão na lista de países para organizações terroristas, que
conseguiram recrutar 13 milhões de pessoas sob as suas bandeiras, enquanto, ao
mesmo tempo, 80 milhões de pessoas parecem sensíveis à sua influência.
§
23% da juventude mundial, o coração
emocionante da humanidade, é susceptível de se envolver em acções terroristas,
resultantes da depressão, pobreza ou mais simplesmente em busca de substância
material
§
33% dos jovens do mundo estão expostos a
reacções violentas relacionadas com o terrorismo devido a considerações
raciais, religiosas, étnicas, nacionais ou mais simples de autodefesa.
Desde o início do século XXI, as perdas
económicas resultantes do terrorismo somaram US$ 5 triliões. (Um trilião equivale
a um mil biliões de dólares). Esse número, por si só, é suficiente de resolver até
65% dos casos do problema do desemprego em todos os países. O custo económico
da guerra contra o terror: US$ 22 triliões para o período 2011-2014.
Para ir mais longe, o
terrorismo une-se em
https://www.madaniya.info/2015/05/18/le-terrorisme-en-chiffres/
No final desta sequência, a história
lembrará que os condutores de camelos do Golfo, os antigos flibusteiros
(piratas – NdT) da Costa dos Piratas, infligiram uma regressão duradoura do Mundo
Árabe para a sobrevivência do seu trono; enquanto a liderança muçulmana sunita
(Egipto, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Sudão com a cumplicidade subterrânea
do Marrocos e da Arábia Saudita) procedeu à venda ao desbarato da Palestina, subscrevendo
toda e qualquer indignidade do império israelita; que as "grandes
democracias ocidentais" (Estados Unidos, França e Reino Unido)
patrocinaram, desafiando os seus princípios declarados, as incubadoras
absolutas do terrorismo islâmico, provocando, por sua vez, uma resposta mortal
no seu território nacional, gerando islamofobia generalizada em todo o mundo.
A função de um bi nacional não é ser o
porta-voz do seu país anfitrião, nem o seu porta-toalhas, mas assumir com vigor
a função de interface exigente e crítica. Uma salvaguarda para os
transbordamentos prejudiciais do país de origem e do país anfitrião. No
interesse bem compreendido de ambos os lados, a parceria binacional deve ser
feita, em pé de igualdade e não numa relação de subordinação do ex-colonizado,
fazendo com que apareça como substituto do seu antigo colonizador.
Da mesma forma, o dever de um intelectual progressista é combinar o Islão e o progressismo e não provocar a abdicação intelectual dos progressistas diante de um islamismo básico, invariavelmente colocado sob a forquilha israelita-americana.
A psiquiatria árabe terá um dia de se concentrar na interpretação dessa predisposição singular dos binacionais franco-sírios para se dedicar a uma função adicional de dois países (França-Turquia) que causou o desmembramento do seu lugar de origem, Alexandrette (Síria).
Os árabes não têm vocação para ser eternos harkis, nem para configurar o seu
pensamento de acordo com as necessidades estratégicas dos seus projectistas
ocidentais. Nunca na história tal degeneração mental foi observada numa grande
questão da estratégia contemporânea, da qual o conjunto árabe muçulmano pagará
o preço por um longo tempo.
Esta crónica de uma década da Guerra na
Síria apresenta-se como testemunha do deslocamento da classe política francesa,
das mentiras mediáticas da sua casta universitária, dos excessos da França e do
seu rebaixamento de uma área que era a sua âncora tradicional, e finalmente da
explosão mental dos chefes de fila da oposição offshore síria petro-monárquica.
Uma leitura em contramão com uma visão
europeia-centrista. Tal como está no texto. Sem retoques ou reescrita após à
posteriori.
Para ir mais longe
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