quarta-feira, 14 de abril de 2021

Medina a propósito de Sócrates - é preciso ter lata!

À mulher de César não basta ser séria ... tem de o parecer! Já o diz um velho ditado popular.

É preciso um total descaramento e falta de vergonha para Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, vir hoje declarar-se “indignado” contra a corrupção praticada por um antigo correlegionário seu – JosÉ sócrates – e acolher o “espanto” e “repúdio” pelas conclusões a que o juiz Ivo Rosa chegou no término do Processo de Instrucção Criminal que o Ticão dirigia contra o ex-primeiro-ministro.

A corrupção é uma condição do modo de produção capitalista. Deriva do facto de, durante o processo de acumulação do capital, os capitalistas terem necessidade – para que ela se produza a contento dos seus interesses -, corromper quem, depois de ter ajudado a alcandorar no poder, lhe possa “facilitar” a vida e esse desiderato.

Do acto de corrupção pode, no entanto, resultar um benefício material para o corrompido ... ou não! O benefício pode – e é o que acontece em grande número de casos – resultar em mais poder e influência para satisfazer uma agenda política gananciosa.

Medina, tal como a mulher de César, quer apresentar-se como pessoa séria. Mas, tal como ela, teria de, também, parecer sério. Ora, a história revela-nos que existem fortes indicadores de que nenhum dos parâmetros da seriedade que exige para os outros tenha respaldo na sua própria conduta. Senão, vejamos:

·         O que é feito do Projecto de uma nova Feira Popular de Lisboa, um Parque dos Recreios para os lisboetas e não só?

·          e, já agora, como foi possível alterar o Plano para a reabilitação dos terrenos que aquela feira ocupava?

·         Para quando o romper do secretismo quanto aos “negócios” do Parque Mayer?

·         Como foi possível licenciar as Torres das Picoas, em Lisboa, expropriando terrenos públicos para integrar num projecto privado?

·         Para quando uma completa clarificação dos negócios da Câmara Municipal de Lisboa com os clubes de futebol da capital, nomeadamente com o Benfica?

·         Para quando um cabal esclarecimento do negócio com os terrenos que a CML detinha na zona do Aeroporto da Portela?

·         Como pode continuar obscura a história – muito mal contada – do negócio com os terrenos onde está instalado o edifício sede do Quartel do  Regimento de Sapadores de Lisboa, construído em 2014, para supostamente libertar os terrenos para que o Grupo Luz pudesse ampliar as suas instalações hospitalares naquela zona de Lisboa, vizinha do Centro Comercial Colombo?

·         Como é possível que pontifique na vereação da CML uma figura tão sinistra como a de Manuel Salgado, alegadamente responsável pelos mais obscuros negócios em que a CML se tem envolvido?

·         Para quando um esclarecimento cabal sobre o negócio que permitiu ao ex-vereador Ricardo Robles – eleito pelas listas desse “campeão” da anti-corrupção que é o Bloco de “Esquerda”, e que se apresentava como grande crítico do “carrossel da especulação” – comprar um edifício em Alfama por 347 mil euros para, no curto prazo de 4 anos, o estar a vender por 5,7 milhões de euros, isto é, com uma mais valia de cerca de 4 milhões!!!

Acredito, ainda assim, que os leitores ficarão perplexos quanto à curta dimensão da lista que aqui evoco. Também eu sei que existem muitas mais dezenas de situações que, pelo menos, serão alegadamente passíveis de classificação como actos de corrupção.

Pois, é! Sobre o ímpeto da luta contra a corrupção e a natureza da perplexidade de Medina quanto ao desfecho do caso Sócrates no âmbito do Processo Marquês – que ainda irá fazer correr muita tinta – estamos conversados!

Serei sempre a favor do julgamento de corruptos – corrompidos e corruptores em igual medida . Mas, não à custa do atropelo sistemático de leis que visam garantir um julgamento justo. Um julgamento que se produza em Tribunal e não na praça pública, com constantes e recorrentes violações ao segredo judicial, assassinatos de carácter e condenações extra-judiciais.

Claro que, enquanto o edifício jurídico e judicial actualmente existente em Portugal for, no essencial, o mesmo que existia antes do 25 de Abril, para dar resposta às necessidades de um regime fascista, autoritário, castrador das liberdades, prepotente, pouca ou nenhuma esperança deposito no aparelho jurídico nacional.

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