sábado, 3 de abril de 2021

Piedade ou Revolução?!

 
Do ponto de vista da análise marxista, o sistema capitalista caracteriza-se, por um lado, pela extracção de mais-valia da mão-de-obra operária mas, também, por um modo de produção anárquico e auto-destrutivo, que assenta no egoísmo que a miragem da acumulação contínua e “perene” do capital alimenta.

No modo de produção capitalista, as crises cíclicas e sistémicas que o assaltam, resultam, por um lado, da ausência de planeamento da produção em função da identificação das necessidades colectivas, para, por outro, dar lugar à satisfação efémera de lucro para quem detém os meios de produção e, por isso, domina a infraestrutura económica da sociedade e, consequentemente, a superestrutura ideológica, política, cultural e social.

A presente crise pandémica – que veio exponenciar a crise económica sistémica do capitalismo – está-se a constituir como meio que a grande burguesia capitalista e imperialista mundial encontrou para “reinicializar” o seu modo de produção capitalista e imperialista, numa tentativa desesperada e inútil de lhe devolver o ritmo, a intensidade e a extensão da acumulação de capital pela qual anseia.

No presente, assiste-se ao clima “piedoso” com que largos sectores da burguesia e, sobretudo, da pequena-burguesia, se manifestam quanto às consequência da crise – económica e pandémica. Ele é um corropio de “almas” e “acções” caridosas e caritativas para, perante a destruição maciça dos meios de produção, atender à situação aflitiva de operários e restantes trabalhadores assalariados. Veja-se o exemplo dos famigerados “bancos alimentares” pelos quais os grandes capitalistas anseiam para poderem vender mercadoria adicional e exponenciar lucros e o Estado para arrecadar para os seus cofres, centenas de milhar de euros.

O que é mais confrangedor é verificar que muitos daqueles que se reclamam do campo revolucionário – entre os quais se encontram os marxistas – estão a cair no logro do idealismo pequeno-burguês que Marx tanto criticava, do “direito ao trabalho” e, consequentemente, a eleger como sua principal preocupação programática a exigência de que o Estado – que, segundo eles, não possui uma natureza de classe burguesa e imperialista – crie as condições para se substituir aos capitalistas que, devido à própria natureza do modo de produção capitalista, se encontram na falência.

Essa falsa esquerda, esses revisionistas do marxismo, escamoteiam aos operário e restantes assalariados, o facto de que esse é já – e foi sempre - o papel de um Estado que defende os interesses da burguesia. Mesmo em períodos de relativa “acalmia”, o papel de redistribuição pelas classes cujos interesses representa ocorre com o recurso a parte da mais-valia que, ele próprio – seja através dos impostos, seja por actividades produtivas que gere – rouba aos operários e demais assalariados.

Se é correcto, do ponto de vista do programa mínimo, que os marxistas – seja através do seu Partido da classe operária, seja através dos sindicatos de classe – reclamem salários e tempos de trabalho justos, se batam contra os despedimentos e organizem a solidariedade operária, estes sabem perfeitamente que reclamar o “direito ao trabalho” é o mesmo, num quadro em que o modo de produção capitalista e imperialista é dominante, que reclamar o “direito” a ser explorado.

Do ponto de vista programático marxista, estes devem deixar claro à classe cujos interesses representam – a classe operária – que não será, nunca, o “direito ao trabalho” que resolverá a questão de fundo – as crises cíclicas e sistémicas do modo de produção capitalista – que remetem operários e assalariados para o desemprego, a miséria, a precariedade, o desemprego, a fome e a humilhação constantes.

Enquanto permanecer esta filosofia económica assente no princípio do “empreendedorismo” e do “cada um por si”, enquanto permanecer um modo de produção assente no lucro que, ciclicamente, se vê obrigado a destruir forças produtivas e meios de produção massivos, numa tentativa de se reconfigurar perante as crises cíclicas e sistémicas do capitalismo, como acontece no presente – e ocorrerão com cada vez maior gravidade e profundidade e com cada vez menor espaço de tempo entre ciclos de crise – permanecerá a absoluta necessidade de organizar e dirigir a classe operária e os seus aliados para a Revolução Comunista que destrua o modo de produção capitalista, obsoleto, anárquico, caótico e mortífero, por um modo de produção comunista que liberte as forças produtivas de molde a que estas passem a satisfazer as necessidades colectivas e não as de 1% da população mundial.

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