Não é a "civilização ocidental" que deve
desaparecer, mas a civilização bárbara do capitalismo decadente.
15 de Setembro
de 2025 Robert Bibeau 
Por Khider Mesloub .
Num artigo recente publicado no seu site, a ensaísta
australiana Caitlin Johnstone escreve: «A civilização ocidental não merece ser
salva. Penso que isso já está bem estabelecido. Afirmo que esta civilização,
tal como realmente existe, é um desastre indefensável.» Ela acrescenta:
«Esta civilização é genocida. Ecocida. Omnicida. Imperialista. Racista.
Desumanizante. Degradante. Distópica. Emocionalmente atrasada. Culturalmente
insípida. Espiritualmente empobrecida. Intelectualmente escravizada. «Não
precisamos de salvar a civilização ocidental das forças externas, precisamos de
nos salvar a nós próprios da civilização ocidental. O modo de vida ocidental
não precisa de ser preservado, precisa de desaparecer», afirma.
Antes de mais nada, vamos restabelecer a verdade sobre o conceito de "civilização ocidental".
Uma
coisa é certa: o conceito de «civilização ocidental» é inadequado e errado para
qualificar a cultura dominante actual, o modo de pensamento universal
contemporâneo na sociedade capitalista avançada. Essa noção de civilização
ocidental é uma construção ideológica.
Se existe uma civilização que domina o mundo, essa civilização é o capitalismo. E para corrigir e precisar a noção, seria mais adequado falar de sistema económico e social, e não de civilização. Pois a essência do capitalismo é produzir mais-valia (lucro), o que alimenta a acumulação de Capital, finalidade última – estratégica – deste modo de produção (MPC), e não produzir cultura.
Essa «civilização» esforça-se por acumular
capital e não por capitalizar os engenhosos valores humanos civilizacionais.
Por transformar a sociedade num mercado governado exclusivamente por relações
mercantis e não por reunir mulheres e homens numa comunidade universal regida
por relações sociais de produção «autenticamente humanas» (sic), baseadas na
satisfação das necessidades e não no lucro.
Além disso, é uma classe social, e não a cultura ocidental, que domina o mundo contemporâneo. O modo de vida capitalista baseia-se na propriedade privada do capital e seus investimentos, não na moralidade e em valores espirituais. A cultura, incluindo a espiritualidade que emana desse objectivo estratégico final (acumular/aumentar capital), é governada — gerada — pela ganância e pelo consumo compulsivo, um método de expansão da reprodução do capital.
Além
disso, o capitalismo em si não é especificamente ocidental. Hoje, é apátrida,
cosmopolita, mundializado e produziu — gerou — a sua oponente e coveira — a
classe proletária internacionalista. Os chineses, muito antes da Europa,
impulsionaram o movimento do capitalismo, mas este foi cortado pela raiz pelos
senhores e mandarins chineses parasitas… algo que a aristocracia europeia não
conseguiu fazer.
Toda
modernização é um fenómeno social provocado por empréstimos. Ainda mais sob o
capitalismo, que se baseia na extraordinária expansão das forças produtivas e
na aceleração da história. Em menos de um século, impulsionadas pela mundialização
capitalista, centenas de sociedades, por força ou condicionamento ideológico,
foram transformadas e modernizadas. A tal ponto que agora todas fazem parte da
mesma dinâmica económica e social comum do capitalismo mundializado e
financeirizado.
Certamente,
o capitalismo é uma criança concebida nas entranhas espaciais da Europa cristã,
e em geral do Ocidente, mas fertilizada às escondidas do cristianismo, contra
sua vontade estéril, arrancada do útero feudal europeu a fórceps. O capitalismo
não é herdeiro do cristianismo... o cristianismo moderno é fruto do
capitalismo.
Na
realidade, o capitalismo é o fruto (amargo?) da burguesia produtiva. Nasceu nas
fábricas criativas das prósperas cidades da Europa, fertilizado por homens
viris, progenitores de uma nova geração de empreendedores determinados a
revolucionar o mundo (não nos esqueçamos de que a burguesia foi revolucionária
em algum momento). Portanto, o capitalismo não foi concebido pelo cristianismo,
dominado durante séculos por eunucos incapazes de gerar a mais ínfima criação
material humana, excepto por essas ruminações religiosas patológicas e
fantasmagóricas, evanescentes e celestiais.
Incapaz
de revolucionar as forças produtivas devido à sua esterilidade social congénita,
a instituição eclesiástica em nada contribuiu para a fertilização do
capitalismo. Além disso, o celibato do cristianismo proibia-a de abraçar o
espírito da criatividade, privando-a de engendrar a mais leve civilização
humana material e cultural. O cristianismo, inimigo da razão (como todas as
religiões, pois, segundo a crença baseada na fé, o Livro Sagrado incriado e
indiscutível, contendo todo o conhecimento, tem o valor de verdade científica,
tão inútil quanto usar a Razão para compreender e transformar o nosso mundo
terreno), mal conseguiu construir uma instituição eclesiástica parasitária,
escolasticamente ocupada em discutir o sexo dos anjos no céu e em se entregar
ao sexo com anjinhos na terra.
O
capitalismo, portanto, não nasceu dentro da Igreja, ocupada em se ajoelhar
diante do Espírito Santo em igrejas decadentes, mas nos "laboratórios
científicos" da emergente sociedade burguesa racional, no coração de
fábricas produtivas e cidades mercantis dinâmicas.
Entretanto,
se as sociedades foram profundamente perturbadas nos últimos dois séculos, não
foi pela intrusão do modelo ideológico ocidental, da civilização ocidental, mas
pela penetração de técnicas, tecnologias, conhecimento científico e meios
modernos de produção trazidos pelo capitalismo sem Estado e mundialista.
Como
prova. Dezenas de países, particularmente os de religião muçulmana, hindu,
budista ou confucionista, modernizaram-se maciçamente, transformando as suas
cidades arcaicas em megacidades equipadas com as tecnologias mais recentes,
equipadas com empresas de alta tecnologia, sem terem adoptado os
"dogmas" sociais ocidentais, o modelo institucional ocidental. É o
sistema económico capitalista mundialista que está na origem da extraordinária
transformação dessas sociedades e da sua unificação-mutualização, e não as
normas culturais e sociais ocidentais, ou seja, o modelo ocidental de
civilização capitalista ocidental.
Algumas dessas sociedades, nomeadamente as dos países do Golfo, integraram-se amplamente no movimento global do capitalismo mundializado, mantendo, no entanto, as suas tradições e costumes específicos, que são radicalmente opostos aos promovidos pelo Ocidente. Por outras palavras, esses países integraram-se no modelo capitalista mundialista, sem se ocidentalizarem.
Na verdade, não existe «uma civilização» ocidental, nem uma civilização asiática, nem uma civilização africana. Assim como não existe uma civilização muçulmana ou cristã. Existem culturas, diversas e variadas, sustentadas por um modo de produção específico: esclavaista, feudal, capitalista.
«O que é a civilização? É o dinheiro colocado ao alcance daqueles que o possuem», observava o escritor Georges Darien. Na realidade, o conceito de civilização, particularmente a sua variante supostamente racialista declinada sob o termo «civilização ocidental», tal como é veiculado pelos «anti-ocidentalistas» que surfam no islamo-esquerdismo e no racialismo, serviu sobretudo para justificar e legitimar todas as empresas de escravatura e colonialismo na época da acumulação primitiva e da ascensão do capitalismo.
E se, ao longo dos últimos três séculos, houve políticas de aniquilação das sociedades «indígenas», elas foram obra do capitalismo e não do Ocidente.
Além disso, o Ocidente cristão não é responsável pelas iniciativas mortíferas do capitalismo nascente. O capitalismo bárbaro (é um pleonasmo) acabou também por aniquilar o cristianismo, por fagocitá-lo.
Por outro lado, se é preciso falar de domínio em matéria civilizacional, é do sistema capitalista como modo de produção, e não do Ocidente. Com razão, no plano puramente económico, o capitalismo foi largamente superior a todos os outros modos de produção anteriores. O capitalismo, hoje em dia, não é ocidental, nem americano, nem asiático. É mundial. Internacional. Apátrida.
Para restabelecer a verdade, ao contrário das elucubrações anti-históricas da escritora australiana Caitlin Johnstone e do Partido dos Indígenas da República, adepto do racialismo e, portanto, das «guerras raciais» (em vez da luta de classes), não foi a entidade conceptual – intelectual – «civilização ocidental» que se destacou pelo genocídio dos índios da América, pela tortura e exploração dos escravos africanos, pelo colonialismo, pela pilhagem dos seus continentes, pela destruição das suas culturas, mas sim o sistema capitalista que surgiu na Europa. A diferença é importante.
Da mesma forma, não é abstratamente a França que é responsável pelo colonialismo, mas as classes possuidoras e dirigentes francesas, promotoras do novo modo de produção capitalista predatório. O povo francês, ou seja, as classes operárias e camponesas, não pode ser responsabilizado pelas empresas imperialistas e pelos massacres coloniais.
Assim, contrariamente à postura moralista de Caitlin Johnstone, que defende que «a civilização ocidental não merece ser salva, o modo de vida ocidental não precisa de ser preservado, deve desaparecer», dando a entender que em certas partes do mundo existiria uma civilização mais humana (na China capitalista? Na Rússia imperialista? Nos países muçulmanos feudais? na África tribal e gangsterizada), proclamamos que é o capitalismo, agora mundializado, que não merece ser salvo, que deve imperativamente desaparecer da face da Terra.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice

Sem comentários:
Enviar um comentário