21 de Agosto de 2021 Robert Bibeau
Os líderes talibãs continuam a chegar a Cabul.
Anas Haqqani é filho de
Jalaluddin Haqqani e irmão mais novo de Sirajuddin Haqqani, o chefe da Rede
Haqqani. Fazia parte da equipa talibã que negociava no Qatar. Hoje, reuniu-se
com uma delegação de alto nível do ex-Presidente dos Talibãs Hamid Karzai e
Abdullah Abdullah, presidente do Alto Conselho para a Reconciliação Nacional.
Hoje, Khalil-your-Rahman, tio de Sirajuddin Haqqani, para quem o FBI está a oferecer uma recompensa de 5 milhões de dólares por recolher dinheiro para os talibãs, também chegou a Cabul.
Ontem, o vice-líder dos talibãs, Mullah
Abdul Ghani Baradar, co-fundador dos talibãs, do Qatar, chegou a Kandahar.
Cabul parece estar a ter um dia normal, excepto no aeroporto onde milhares de pessoas ainda tentam sair do país. Os talibãs deixaram algumas pessoas irem para o aeroporto, mas tentam evitar uma grande pressa e caos, retendo as massas.
Pequenas manifestações ocorreram hoje em Khost e Jalalabad, onde as pessoas retiraram a bandeira branca do Emirado Islâmico e colocaram a bandeira verde-negra do Afeganistão. Os talibãs rapidamente afastaram os manifestantes e corrigiram o problema.
Em mais um sinal de reconciliação, nomearam hoje Humayoon Humayoon, ex-vice-presidente do parlamento e um aliado próximo do ex-presidente fugitivo Ashraf Ghani, como chefe da polícia de Cabul.
Entretanto, alguns estão a tentar formar resistência contra os talibãs:
[Imagens do Vale
Panjshir, ao norte de Cabul, um reduto das milícias da Aliança do Norte que se
aliaram aos Estados Unidos contra o Talibã em 2001, parecem mostrar potenciais
figuras da oposição a reunirem-se ali. É a única província que ainda não caiu
nas mãos do Talibãs.
Entre essas
figuras estão membros do governo deposto - o vice-presidente Amrullah Saleh,
que afirmou no Twitter ser o presidente legítimo do país, e o ministro da
Defesa, general Bismillah Mohammadi - além de Ahmad Massoud, filho do chefe da
Aliança do Norte líder Ahmad Shah Massoud, que foi morto. Não se sabe se eles
pretendem desafiar os Talibãs, que conquistaram a maior parte do país na semana
passada.
A Embaixada do Afeganistão no
Tajiquistão parece apoiar esta
iniciativa:
O Embaixador do
Afeganistão no Tajiquistão declara que "Ashraf Ghani tendo fugido do país, o vice-presidente Amrullah Saleh passa
a ser o dirigente legítimo do Afeganistão".
Saleh é um antigo peão da CIA. Por volta de 1995, foi treinado como espião
nos Estados Unidos e depois trabalhou como chefe dos serviços secretos,
primeiro para a Aliança do Norte e depois para o governo instalado em Cabul
pelos EUA. Há muitas pessoas no Afeganistão que não gostam, ou odeiam-no abertamente,
por boas razões. Não é um bom líder. Ahmad Massoud não é um lutador, é muito
jovem e não tem credibilidade para estar à frente de uma resistência.
Para criar um exército de resistência, Saleh vai precisar de dinheiro, muito dinheiro e rapidamente. Mas quem será o patrocinador nacional para quem possa vir a trabalhar? Duvido que os Estados Unidos estejam interessados numa nova guerra civil no Afeganistão. Nem concordarão em usar Saleh como outro Juan Guaido impotente. Mesmo a Índia, que considera os talibãs como um agente do seu inimigo jurado, o Paquistão, não parece interessada em continuar a luta. Há também a Organização de Cooperação de Xangai, que reúne todos os países vizinhos do Afeganistão, mais a Rússia e a Índia, que irá pressionar para que não haja mais guerra.
No entanto, os talibãs seriam aconselhados a enviar um grupo de tropas para o Vale do Panjshir e expulsar Saleh antes que ele começasse a criar novos problemas.
Actualmente, os talibãs são apenas um governo provisório improvisado. Devem formar uma nova estrutura representativa e um verdadeiro governo de coligação. Ambos, mesmo que não sejam eleitos, serão aceites pelo mundo exterior.
A questão é urgente porque todos os governos afegãos,
mesmo os liderados pelos talibãs, precisam de dinheiro.
Ajmal Ahmady @aahmady
- 6:40 UTC - 18 de
Agosto de 2021
O objectivo deste tópico de discussão é esclarecer a localização das reservas internacionais do Banco Central do Afeganistão (DAB).
Estou a escrever isto porque me disseram que os Talibãs estão a perguntar ao pessoal do DAB onde estão os activos.
Se isso for verdade, é claro que eles precisam urgentemente adicionar um economista à sua equipa.
Primeiro, as reservas totais do DAB eram de cerca de US $ 9,0 biliões na semana passada.
Mas isso não significa que o DAB tenha fisicamente US $ 9 biliões nos seus cofres.
De acordo com os padrões internacionais, a maioria dos activos são colocados em activos seguros e líquidos, como letras do tesouro e ouro.
Os principais activos são os seguintes (todos os números estão em biliões)
(1)- Letras do Tesouro / títulos dos EUA: 3.1
- Activos RAMP do Banco Mundial: 2.4
- Ouro: 1,2
- Contas de caixa: 0,3
(2) Contas internacionais = 1,3
(3) BIS = 0,7
...
Dado o grande défice em conta corrente do Afeganistão, o DAB dependia da garantia de entregas físicas de dinheiro a cada poucas semanas.
O montante de caixa restante está próximo de zero devido à paralisação dos embarques à medida que a situação de segurança se deteriora, principalmente nos últimos dias.
...
Uma vez que os Talibãs ainda estão nas listas de sanções internacionais, espera-se (confirmado?) Que esses activos serão congelados e não estarão acessíveis aos Talibãs.
Não consigo imaginar um cenário em que o Tesouro / OFAC permitiria que os Talibãs tivessem acesso a esses fundos.
...
Portanto, o meu cenário básico será o seguinte:
- O Tesouro congela os activos
- Os Talibãs devem colocar em prática controles de capital e limitar o acesso a dólares.
- A moeda deprecia-se
- Os preços vão subir.
- Os pobres sofrerão com o aumento dos preços dos alimentos.
Seria mau para o futuro dos talibãs e do Afeganistão permitir que isso
acontecesse. Não há esperança de que outros países ajudem a resolver o
problema.
Embaixada da Rússia,
Reino Unido @RussianEmbassy - 10:53 UTC – 18 Agosto 2021
Lavrov: Declaramos repetidamente que não temos pressa em reconhecer a autoridade dos Talibãs, assim como o resto do mundo.
Estamos a observar desenvolvimentos positivos nas ruas de Cabul, onde a situação está razoavelmente calma e os Talibãs estão efectivamente a garantir a ordem.
O Paquistão, que tem razões para ajudar os talibãs, é, em si, um caso
economicamente desesperado.
O acesso ao dinheiro tornar-se-á em breve um problema grave e a economia afegã afundar-se-á.
A melhor solução para os talibãs é
formar um governo provisório que eles não vão (abertamente) liderar. O rosto do
governo deve ser conhecido internacionalmente, provavelmente o
ex-Presidente Hamid Karzai, que já
não é uma lacaio dos Estados Unidos.
Se houver um gabinete provisório, os talibãs deverão ocupar apenas alguns
cargos, por exemplo, os ministros da Educação, da Cultura, da Segurança e da
Defesa, e deixar os postos mais visíveis a nível internacional para os outros.
Também devem pedir a Ajmal Ahmady que regresse ao Banco Central.
Uma vez instalado e aceite pela
comunidade internacional, uma Loya Jirga, uma assembleia legal seguindo as
tradições pashtun, poderia ser convocada para elaborar uma nova constituição
baseada na constituição monárquica de 1964.
Sob uma constituição modificada de 1964,
o "rei",substituído por algo
como o líder supremo do Irão, seria o chefe de Estado oficial. Haveria uma Casa
do Povo eleita (Wolesi Jirgah) e uma Casa dos Anciãos (Meshrano Jirgah). O
segundo teria um terço dos seus membros nomeados pelo "rei" e dois terços
pelos conselhos provinciais e eleitores provinciais. Ambas as câmaras votariam
confiança num primeiro-ministro e num gabinete nomeado pelo "rei".
Os talibãs vão insistir na existência de um comité religioso/jurídico, como
o Conselho dos Guardiões no Irão, que verificará se cada nova lei está em
conformidade com a jurisprudência islâmica. Esta comissão poderia substituir a
Câmara dos Anciãos ou tornar-se uma nova instituição ao lado do Parlamento.
O processo de decisão sobre este sistema e a realização de novas eleições
deverá demorar um ano.
Até lá, um governo provisório deve trabalhar no âmbito de algum tipo de
acordo consensual. Os Talibãs estão a tentar formar os dois.
Moon of Alabama
Traduzido por Wayan, revisto por Hervé, para o Saker de
língua francesa
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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