Na época actual, do imperialismo, estadio supremo do
capitalismo, todo e qualquer Estado – mesmo aqueles que se reclamam do
socialismo e/ou do comunismo – serve os interesses da burguesia e do capital,
são uma sua decorrência.
Tal como Marx sempre o considerou, uma
superestrutura que deriva de uma infraestrutura económica da sociedade, e do
modo e relações de produção que nela são, actualmente, dominantes. Modo e
relações de produção que assentam num antagonismo insolúvel entre a natureza
social do trabalho e a apropriação privada da riqueza por ele gerada.
Modo de produção e relações sociais de produção que
opõem os detentores do capital e, subsequentemente, dos instrumentos de
produção e da terra, àqueles que nada mais possuiem do que a sua força de
trabalho, força que tudo produz e da qual resulta a mais-valia que assegura a
acumulação do capital.
Tudo isto vem a propósito das eleições autárquicas
que se realizam no próximo dia 26 de Setembro, em Portugal. As autarquias são
uma espécie de “correia de transmissão” do poder da burguesia. Visam assegurar
que a “administração” central do poder capitalista e imperialista chegue a
todos os cantos do território de um determinado espaço “nacional”.
Todo aquele partido ou individualidade que
escamoteie esta génese da “organização autárquica” não faz mais, pois, do que
defender que o estado burguês é aceitável para a classe operária e para os
restantes escravos assalariados, e deve ser acolhido como sendo o “seu” estado,
pelo menos a este “nível” administrativo.
É puro oportunismo e arrivismo político, considerar –
como o fazem alguns galarós que se reclamam de marxistas e, até, de leninistas
e maoístas – que, não concorrendo os comunistas às eleições autárquicas ou, a
algumas autarquias, se devem, então, apoiar figuras de proa que – vá-se lá
saber com base em que critérios – estes consideram como sendo honestas.
A decisão, aqui, do ponto de vista marxista, não pode ser
baseada numa questão “moral” – ser “honesto”, ser reconhecido como “impoluto”
ou “incorruptível” pelas massas populares. A questão, aqui, como acima fica
demonstrado, é saber qual a natureza de classe do órgão – seja ele qual for: Presidência e Assembleia da República, governo, autarquias, governos regionais, etc.
E, manifestamente, todos eles são órgãos do poder do capital e do imperialismo.
Sem sofismas!
Estou consciente de que, em Portugal, todos os
partidos que se reclamam da esquerda adoptaram, em relação aos interesses
estratégicos e tácticos da classe operária e dos seus aliados, igualmente
escravos assalariados, uma postura de traição miserável, vendendo a ilusão de
que é possível utilizar um aparelho de estado que foi desenhado, construído e
imposto para servir os interesses da burguesia e do grande capital, para servir
outro dono, isto é, os interesses de quem trabalha e nada mais possui do que a
sua força de trabalho.
Partidos que escamoteiam que o que, de facto, está
por detrás do autêntico frenesim eleitoral autárquico que se gerou, é o
apeticível bolo da “bazuca” financeira” que será, em grande medida, gerida e
aplicada pelos caciques regionais que emergirão do “poder autárquico” (https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2019/08/o-povo-tem-de-levantar-se-contra.html
).
Assim como estou consciente de que não existe, neste
momento, uma direcção comunista, caldeada nas lutas de massas, com uma ligação
íntima e umbilical à classe operária e às massas populares. A classe operária
não tem, de momento, um partido onde se possa rever e identificar, uma
vanguarda para os levantamentos populares que a conduzirão à revolução
comunista e operária.
Claro que tal situação não resulta de um
determinismo histórico. A classe operária necessita – e necessáriamente o construirá
– de um verdadeiro Partido Comunista Operário, que seja o resultado e emirja
das suas lutas. Aquilo que Marx afirmava ser “a classe operária em Partido”.
Foi esta a visão que o comunista Arnaldo Matos teve
quando, magistralmente, elaborou as “Teses da Urgeiriça” (https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2016/11/o-coloquio-da-urgeirica.html
) e produziu o seu discurso do 1º de Maio Vermelho em 2018 (https://www.lutapopularonline.org/images/IntCArnMa1Maio2018-finalissima.pdf
). Discurso que esteve na base, e orientou, o Plano de Acção aprovado por
unânimidade no I Congresso
Extraordinário do PCTP/MRPP, nos passados dias 18 e 19 de Setembro de 2020.
E no qual, de
forma clara e resoluta, se afirmava que a estratégia
dos comunistas e da classe operária é transformar a Guerra Mundial em curso, em
Guerra Cívil Revolucionária, que se
integre na Revolução Comunista Mundial que levará à destruição do mais
sanguinolento modo de produção que a humanidade conheceu – o modo de produção
capitalista e imperialista, e a sua táctica
é o estudo do marxismo.
Claro que para tornar efectiva esta estratégia e
esta táctica será necessário um Partido Comunista e Operário que esteja
intimamente ligado às massas de operários, camponeses e escravos assalariados,
que dirija , pelo menos, as suas principais lutas. Que seja, enfim, reconhecido
por elas como seu dirigente e sua vanguarda de luta e que não seja remetido,
como sucede actualmente, para a total irrelevância ou ausência de reconhecimento.
Em meu entender, os comunistas não podem vir apenas
afirmar que não participam nas eleições autárquicas de Setembro. Têm de dizer,
de indicar, claramente, que as mesmas devem ser activamente boicotadas, apelar
à abstenção massiva ou, em alternativa, para que se inscreva nos diferentes
tipos de boletim de voto a frase “Viva a
Revolução Comunista”.
Por
fim, remeto-vos para o link de um
artigo que recentemente publiquei no meu
blogue “Que o Silêncio dos Justos Não Mate Inocentes”, sob o título “Não se eleva a consciência de classe proletária nem se divulga o marxismo
participando nas mascaradas eleitorais da burguesia!”:
Epílogo
O comunismo representa o mais
elevado estadio da sociedade humana. Acontece depois de destruído o modo de
produção capitalista, caduco, que impede o desenvolvimento das forças
produtivas e que, pelo seu modelo caótico de organização da producção e distribuição,
baseado no lucro, na ganância e na corrupção, remete para a miséria, a fome, a
morte e a guerra, biliões de seres humanos.
Neste novo quadro político e
económico, como seria de esperar, o comunismo acaba, de uma vez por todas, com
a sacrossanta propriedade privada e constrói uma sociedade baseada na
prossecução do bem estar de TODOS, assente numa política de planificação da
economia em função das necessidades de cada um.
É por isso que, para construir o colectivo se torna necessário privilegiar o indivíduo, premiando-o pela sua capacidade, pela sua inteligência, pela sua criatividade. Não existe qualquer antagonismo entre a procura do bem estar colectivo e o desenvolvimento político, social e cultural do individuo.
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