domingo, 29 de agosto de 2021

Boicote activo à farsa eleitoral autárquica!

 




Na época actual, do imperialismo, estadio supremo do capitalismo, todo e qualquer Estado – mesmo aqueles que se reclamam do socialismo e/ou do comunismo – serve os interesses da burguesia e do capital, são uma sua decorrência.

Tal como Marx sempre o considerou, uma superestrutura que deriva de uma infraestrutura económica da sociedade, e do modo e relações de produção que nela são, actualmente, dominantes. Modo e relações de produção que assentam num antagonismo insolúvel entre a natureza social do trabalho e a apropriação privada da riqueza por ele gerada.

Modo de produção e relações sociais de produção que opõem os detentores do capital e, subsequentemente, dos instrumentos de produção e da terra, àqueles que nada mais possuiem do que a sua força de trabalho, força que tudo produz e da qual resulta a mais-valia que assegura a acumulação do capital.

Tudo isto vem a propósito das eleições autárquicas que se realizam no próximo dia 26 de Setembro, em Portugal. As autarquias são uma espécie de “correia de transmissão” do poder da burguesia. Visam assegurar que a “administração” central do poder capitalista e imperialista chegue a todos os cantos do território de um determinado espaço “nacional”.

Todo aquele partido ou individualidade que escamoteie esta génese da “organização autárquica” não faz mais, pois, do que defender que o estado burguês é aceitável para a classe operária e para os restantes escravos assalariados, e deve ser acolhido como sendo o “seu” estado, pelo menos a este “nível” administrativo.

É puro oportunismo e arrivismo político, considerar – como o fazem alguns galarós que se reclamam de marxistas e, até, de leninistas e maoístas – que, não concorrendo os comunistas às eleições autárquicas ou, a algumas autarquias, se devem, então, apoiar figuras de proa que – vá-se lá saber com base em que critérios – estes consideram como sendo honestas.

A decisão,  aqui, do ponto de vista marxista, não pode ser baseada numa questão “moral” – ser “honesto”, ser reconhecido como “impoluto” ou “incorruptível” pelas massas populares. A questão, aqui, como acima fica demonstrado, é saber qual a natureza de classe do órgão – seja ele qual for: Presidência  e Assembleia da República,  governo, autarquias, governos regionais, etc. E, manifestamente, todos eles são órgãos do poder do capital e do imperialismo. Sem sofismas!

Estou consciente de que, em Portugal, todos os partidos que se reclamam da esquerda adoptaram, em relação aos interesses estratégicos e tácticos da classe operária e dos seus aliados, igualmente escravos assalariados, uma postura de traição miserável, vendendo a ilusão de que é possível utilizar um aparelho de estado que foi desenhado, construído e imposto para servir os interesses da burguesia e do grande capital, para servir outro dono, isto é, os interesses de quem trabalha e nada mais possui do que a sua força de trabalho.

Partidos que escamoteiam que o que, de facto, está por detrás do autêntico frenesim eleitoral autárquico que se gerou, é o apeticível bolo da “bazuca” financeira” que será, em grande medida, gerida e aplicada pelos caciques regionais que emergirão do “poder autárquico” (https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2019/08/o-povo-tem-de-levantar-se-contra.html ).

Assim como estou consciente de que não existe, neste momento, uma direcção comunista, caldeada nas lutas de massas, com uma ligação íntima e umbilical à classe operária e às massas populares. A classe operária não tem, de momento, um partido onde se possa rever e identificar, uma vanguarda para os levantamentos populares que a conduzirão à revolução comunista e operária.

Claro que tal situação não resulta de um determinismo histórico. A classe operária necessita – e necessáriamente o construirá – de um verdadeiro Partido Comunista Operário, que seja o resultado e emirja das suas lutas. Aquilo que Marx afirmava ser “a classe operária em Partido”.

Foi esta a visão que o comunista Arnaldo Matos teve quando, magistralmente, elaborou as “Teses da Urgeiriça” (https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2016/11/o-coloquio-da-urgeirica.html ) e produziu o seu discurso do 1º de Maio Vermelho em 2018 (https://www.lutapopularonline.org/images/IntCArnMa1Maio2018-finalissima.pdf ). Discurso que esteve na base, e orientou, o Plano de Acção aprovado por unânimidade no I Congresso Extraordinário do PCTP/MRPP, nos passados dias 18 e 19 de Setembro de 2020.

 E no qual, de forma clara e resoluta, se afirmava que a estratégia dos comunistas e da classe operária é transformar a Guerra Mundial em curso, em Guerra  Cívil Revolucionária, que se integre na Revolução Comunista Mundial que levará à destruição do mais sanguinolento modo de produção que a humanidade conheceu – o modo de produção capitalista e imperialista, e a sua táctica é o estudo do marxismo.

Claro que para tornar efectiva esta estratégia e esta táctica será necessário um Partido Comunista e Operário que esteja intimamente ligado às massas de operários, camponeses e escravos assalariados, que dirija , pelo menos, as suas principais lutas. Que seja, enfim, reconhecido por elas como seu dirigente e sua vanguarda de luta e que não seja remetido, como sucede actualmente, para a total irrelevância ou ausência de reconhecimento.

Em meu entender, os comunistas não podem vir apenas afirmar que não participam nas eleições autárquicas de Setembro. Têm de dizer, de indicar, claramente, que as mesmas devem ser activamente boicotadas, apelar à abstenção massiva ou, em alternativa, para que se inscreva nos diferentes tipos de boletim de voto a frase “Viva a Revolução Comunista”.

Por fim, remeto-vos para o link de um artigo que recentemente  publiquei no meu blogue “Que o Silêncio dos Justos Não Mate Inocentes”, sob o título Não se eleva a consciência de classe proletária nem se divulga o marxismo participando nas mascaradas eleitorais da burguesia!”:

 https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2021/07/nao-se-eleva-consciencia-de-classe.html

Epílogo

O comunismo representa o mais elevado estadio da sociedade humana. Acontece depois de destruído o modo de produção capitalista, caduco, que impede o desenvolvimento das forças produtivas e que, pelo seu modelo caótico de organização da producção e distribuição, baseado no lucro, na ganância e na corrupção, remete para a miséria, a fome, a morte e a guerra, biliões de seres humanos.

Neste novo quadro político e económico, como seria de esperar, o comunismo acaba, de uma vez por todas, com a sacrossanta propriedade privada e constrói uma sociedade baseada na prossecução do bem estar de TODOS, assente numa política de planificação da economia em função das necessidades de cada um.

É por isso que, para construir o colectivo se torna necessário privilegiar o indivíduo, premiando-o pela sua capacidade, pela sua inteligência, pela sua criatividade. Não existe qualquer antagonismo entre a procura do bem estar colectivo e o desenvolvimento político, social e cultural do individuo.

 

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