No momento em que se aproxima mais uma mascarada eleitoral da burguesia –
as eleições autárquicas que se irão realizar em Setembro próximo -, proponho a
retoma da discussão sobre a posição que
um Partido Comunista deve adoptar face às eleições burguesas – sejam elas de
que natureza forem, isto é, presidenciais, para a o parlamento ou autárquicas. Há
ainda quem se reclame do marxismo que ainda formula e defende a ideia de que,
em determinadas circunstâncias – mormente o risco de um quadro em que pudesse
emergir um sistema fascista no país -, se justifica a participação do
proletariado revolucionário nessas autênticas mascaradas eleitorais que a
burguesia se encarrega de organizar para paralisar a sua luta e capturar a sua
autonomia política, ideológica e organizativa. Para esses camaradas, deixo a
interpretaçáo deste trecho das “Teses da
Urgeiriça”, escritas pelo meu saudoso camarada Arnaldo Matos:
“Vivemos num planeta em que o imperialismo, estádio supremo e último do capitalismo, se mundializou e globalizou, ou seja, se tornou dominante ao nível local e ao nível geral.
É agora que se irão
intensificar as guerras entre as grandes potências imperialistas. Qualquer
dessas guerras tenderá a mundializar-se também, como está a suceder com a
guerra imperialista pela conquista do petróleo e matérias-primas no Próximo e
no Médio Oriente.
Essa guerra leva já
mais de quarenta anos e a tendência é mundializar-se cada vez mais. Dessas
guerras imperialistas acabarão por nascer as revoluções proletárias socialistas
modernas, e que – essas sim – estão em condições de permitir a destruição do
modo de produção capitalista e instaurar o novo modo de produção comunista.”
Ler aqui no jornal Luta Popular online:
Ora, se concordamos com o que o camarada diz, isto
é, que por “vivermos num planeta em que o
imperialismo, estádio supremo do capitalismo, se mundializou e globalizou, ou
seja, se tornou dominante ao nível local e ao nível geral”, e que, neste
quadro, se irão “...intensificar as
guerras entre as grandes potêncis imperialistas”, o que levará a que “...qualquer dessas guerras tenderá a
mundializar-se também...”, das quais “...acabarão por nascer as
revoluções proletárias modernas, e que – essas sim – estão em condições de
permitir a destruição do modo de produção capitalista e instaurar o novo modo
de produção capitalista”, temos de concordar com o que afirmou na
sua palestra do 1º de Maio Vermelho de 2018, isto é, de que a nossa táctica é o estudo do marxismo e a
nossa estratégia transformar essas guerras imperialistas em guerras cívis
revolucionárias, não para instituir ou proteger a “democracia” (ou um regime
“democrático”, ou “patriótico”) – ou sequer salvá-la – mas para “...instaurar o novo modo de produção comunista”.
A estratégia do proletariado revolucionário, dos
comunistas, dos marxistas, não se deve focar, pois, em “salvar a sociedade” do
fascismo ou de qualquer outro regime ditatorial, não é procurar alianças com
uma camada da burguesia contra a outra, para evitar esse “desfecho”, mas sim
preparar, educar a classe operária, para a inevitabilidade das guerras
imperialistas e prepará-la para as transformar em guerras cívis
revolucionárias. Não compreender isto é conduzir a classe operária para a
armadilha da “luta contra o fascismo”, pela luta pela “democracia” que, em modo
de producção capitalista é uma ditadura – ainda que “democrática” – burguesa, é
conduzir a classe operária para onde, uma vez mais, servirá de carne para
canhão para uma das facções da burguesia em contenda.
Para nos ajudar a compreender melhor a questão em
debate, proponho-vos à reflexão várias das teses propostas por Robert Bibeau, o
Editor da webmagazine Les 7 du Quebec. Teses que propôs em vários dos seus
textos, sobretudo na excelente abordagem marxista contida no seu livro “A democracia
nos Estados Unidos – as mascaradas eleitorais “, que passo a
reproduzir.
Notas sobre a
participação dos comunistas em eleições burguesas
Após a Grande Depressão dos
anos trinta, várias esquerdas burguesas uniram-se como uma frente patriótica
unida, frente democrática, frente republicana e frente popular e populista.
Nesses tempos de estado de graça, os militantes de esquerda eram numerosos e
tinham peso, o que não acontece agora, excepto para empurrar o proletariado
indefeso para as urnas fúteis.
Existem muitas esquerdas, existem esquerdistas,
esquerdas oportunistas (ao centro) e esquerdas reformistas (à direita do centro
no espectro político burguês). Nos anos trinta, elas forjaram uma frente
popular única com os partidos políticos da direita liberal democrática (sic)
para impedir a ascensão da extrema direita qualificada na época como
militarista (Japão, China), corporativista (Espanha, Portugal), fascista
(Itália, Hungria) e nazi (Alemanha, Áustria). A Terceira Internacional
Comunista de George Dimitrov e José Estaline trouxe
o seu prestigioso apoio de “esquerda” a essas frentes populistas, patrióticas e
chauvinistas unidas. Assim, o proletariado foi convidado a confraternizar com o
inimigo de classe da esquerda pequeno-burguesa liberal, a fim de permitir-lhe
reter o poder contra os seus amigos e concorrentes capitalistas
"extremistas" de direita e totalitários, aliados para conter os
avanços do proletariado revoltado.
Os comunistas e socialistas insinuaram
então que o capital "liberal" é preferível ao capital "totalitário",
intransigente, vingativo e belicista. Era esquecer que o capital tem apenas uma
vocação, apenas um item na sua agenda, apenas um objectivo estratégico,
aprimorar-se –reproduzir-se - e perpetuar-se ... ou morrer. A opção de guerras
e crueldades nunca é rejeitada pela esquerda ou pela direita burguesa quando o
vento da crise ameaça o navio. A Segunda Guerra Mundial iria confirmá-lo muito
em breve.
Na verdade, para atingir este objetivo estratégico,
o capital "liberal e totalitário" sabe que deve fazer
concessões e às vezes lançar lastro e conceder algumas migalhas momentâneas aos
trabalhadores proletarizados, enquanto por vezes terá que apertar o cinto dos seus
assalariados, mostrar os dentes, fazer a guerra contra os seus concorrentes e
exterminar milhões de assalariados excedentes, choramingando (à esquerda) ou
vociferando (à direita), depende. É necessário entender bem que estas
duas tácticas - a táctica liberal democrática eleitoralista
burguesa e a táctica radical totalitária capitalista se complementam e se
sobrepõem (Bad cop, Good cop). Entre
esses dois pugilistas, a grande burguesia nunca se sente ameaçada no seu poder
hegemónico, especialmente se a esquerda defender esse logro “frentista
populista”.
Frente Unida do compromisso para apoiar
a burguesia reformista.
A única coisa que pode variar consoante
qual a táctica, branda, liberal, parlamentar, que seja
privilegiada ou a táctica dura, totalitária e ditatorial, é o nível de
intensidade da repressão a que a classe proletária será submetida. A pressão
exercida pela repressão é determinada por duas variáveis: a primeira diz
respeito à profundidade da crise económica que atravessa o capitalismo, profundidade
que determina a extensão dos sacrifícios que serão impostos às classes
camponesa, proletária e pequeno-burguesa, carne para canhão e reféns das
guerras imperialistas. Assim, durante a Primeira Grande Guerra, a
intensidade dos sacrifícios impostos aos camponeses, proletários e
pequeno-burgueses nas trincheiras da Europa foi muito grande, mas todos aqueles
que conseguiram escapar da frente de guerra tiveram uma vida menos miserável e
foi necessário o colapso da frente no leste e a fome generalizada para que a
população russa se sentisse globalmente ameaçada pelos abusos da guerra. Ela
reagiu então, rejeitando a guerra imperialista, que Lenine entendeu
mais rápido do que Trotsky e os outros bolcheviques com o seu
slogan "Pão, Terra, Paz" perfeitamente adequado aos
milhões de mujiques camponeses que formavam as fileiras do exército e os povos
famintos da Rússia czarista feudal e ainda não capitalista. Por outro lado,
durante a Segunda Guerra Mundial, muito rapidamente as populações
civis foram feitas reféns e postas à prova nesta guerra total,
tanto quanto os militares nas frentes de confronto. Em 1939, no entanto, o
número de camponeses declinou, compensado pelo aumento do número de proletários
da Europa Ocidental, América do Norte e Japão, mas não chineses, onde os
camponeses ainda formavam a maior parte do contingente, daí a táctica de guerra
popular prolongada dos camponeses em favor de Mao Tsé-Tung, o herói dos
“camponeses urbanos” contemporâneos (sic). Em 1939, o proletariado multiétnico
e internacionalista alimentou a frente única de guerra, enquadrada pelos
esquerdistas burgueses e fascistas. Eles formaram a base sacrificada em nome da
pátria adulada e do estado fetichista em perigo. A memória colectiva da classe
proletária lembrar-se-á disso para sempre.
Esta guerra total pela sua
intensidade e extensão das suas atrocidades exigiu uma intendência muito maior
do que as guerras anteriores. Os soldados dos exércitos foram, portanto,
recrutados desde a década de 1930 nas milícias comunistas ou fascistas, a fim
de aprender desde cedo a suportar tamanha intensidade de destruição na frente e
atrás da frente para a salvação da Nação (sic). Na verdade, com os
bombardeamentos alemães, japoneses, britânicos e americanos atrás das linhas, a
frente estava em toda a parte, os crimes de guerra permanentes e os sacrifícios
constantes para os soldados, para os guerrilheiros e para as populações civis
de ambos os lados. As terríveis guerras no Médio Oriente e em África
(1990-2020) são "remakes" dessas populares carnificinas genocidas e
um treino para os massacres virais em massa anunciados pela pandemia de
Covid-19. Estamos a viver em tempo real os preparativos para a Terceira Guerra
Mundial e Joe Biden terá pouco controle sobre a evolução desse drama
corneliano.
A reacção da classe operária a uma
próxima guerra bacteriológica e nuclear.
O capital internacional sabe perfeitamente que a
próxima guerra mundial com os seus vectores bacteriológicos, virais, nucleares,
os seus drones, os seus mísseis, as suas bombas de neutrões e as suas radiações
será mil vezes mais intensa, total, global, mortal e devastadora que as
anteriores. Nessas condições, é impossível para ele prever qual será a reacção
das populações e, especialmente, impossível prever a reação dos combatentes na
frente - estando a frente em todos os lugares ao mesmo tempo, nas cidades para
começar: megalópoles urbanas incontroláveis e perigosas para o poder do
estado burguês. Compreendam que as guerras localizadas que estamos a
testemunhar no Médio Oriente e em África, bem como essa pandemia falsa em que
os governos causadores de problemas estão emaranhados são
preparações - exercícios práticos - do que atingirá o mundo inteiro no próximo
conflito generalizado. O que nos leva à segunda variável que
mencionámos anteriormente e que diz respeito à reacção apreendida da classe
operária e do proletariado internacional sacrificado.
Um revolucionário
escreveu certa vez que a guerra imperialista levará à revolução proletária ou
então a revolução proletária afastará a guerra imperialista. Na verdade,
sabemos hoje que é a guerra imperialista que levará à revolução proletária. Façamos uma
comparação entre a classe proletária internacional nas duas guerras mundiais
anteriores e a classe proletária hoje, na véspera deste terceiro conflito
generalizado. Vamos estudar esta classe sob três variáveis fundamentais: os
seus efectivos, a sua organização e a sua consciência
de classe.
Os efectivos da classe proletária.
Do ponto de vista dos seus efectivos - um reflexo da
sua força - a situação actual é diferente daquela que prevalecia no século XX.
Se durante as duas primeiras guerras mundiais o proletariado formou um pequeno
contingente de soldados (Primeira Guerra), depois um grande contingente de
soldados (Segunda guerra), o campesinato dos países ocidentais e o dos países
da África, Ásia e África e da Oceania constituiu uma força militar muito
importante. Daí, as temáticas da posse da terra e dos recursos alimentares, do
espaço de vida, da demografia galopante, da raça e etnia, da comunidade de
pertença, tantos temas camponeses e feudais preponderantes para apoiar a chama
patriótica dos combatentes. Já sabemos que esses temas arcaicos, chauvinistas,
xenófobos e retrógrados terão pouca influência sobre os soldados-proletários das
potências ocidentais e carne para canhão das potências orientais. O
proletariado industrial e o sector terciário hoje formam um enorme contingente
de milhares de milhão (biliões em português do Brasil) de indivíduos (incluindo
as suas famílias), multiétnicos, amplamente urbanizados, socializados,
treinados, educados, "conectados" e conscientes, amargurados com a
sua miséria e que desesperam. Além disso, com o agravamento da crise económica,
este proletariado está num processo de empobrecimento e precariedade e a raiva
está a rugir nas suas fileiras. A grande burguesia não tem ideia de como esses
milhares de milhão de proletários irão reagir numa situação de pandemia e
apocalipse nuclear e ela apressa-se em lançar as suas hordas de pequenos
burgueses de extrema direita e extrema esquerda para tentar enquadrar esses
desesperados.
A organização das classes burguesa e proletária.
Em termos de organização de classe, durante a Primeira
Guerra Mundial, a classe capitalista, embora seriamente dividida entre o campo
imperialista alemão-austro-húngaro e o campo da Santa Aliança liberal, de forma
alguma foi ameaçada de colapso ou de derrube revolucionário, se exceptuarmos o
colapso da Rússia que um hábil estratega político bolchevique conseguiu
transformar numa revolução social democrática burguesa. Notemos que essa
revolução democrática burguesa permitiu derrubar o feudalismo czarista e
construir o capitalismo de estado que Estaline, o “pequeno pai dos povos”
levou ao auge, preparando assim a grande vitória patriótica de 1945 e a
expansão temporária do campo imperialista soviético. Durante a Segunda Guerra
Mundial, as tensões no seio da classe capitalista mundial hegemónica chegaram a
um clímax, à imagem das tensões antagonistas que minam a economia capitalista
numa crise sistémica.
Além disso, o equilíbrio das forças entre os dois
campos imperialistas era apertado e não fosse a necessidade de expansão do
capital alemão para o leste - sua área preferida de expansão – e não é seguro
que o Eixo Germânico fosse derrotado na Europa. O capital japonês não teve
qualquer chance de se opor à imensa máquina de guerra dos Estados Unidos em
expansão.
Foi porque o equilíbrio de forças entre os dois campos
imperialistas rivais era tão apertado que a burguesia foi forçada a levar a cabo
uma intensa campanha de mobilização entre a pequena burguesia, sua ponta de
lança e seu cavalo de Tróia; com o campesinato, sua força de reserva; e entre o
proletariado, o seu inimigo jurado - enganado pelos "frentistas
reformistas e populistas" - que apresentava as facções da direita radical
- fascista, corporativista, salazarista, franquista, militarista e nazi - como
demónios enfurecidos contra os quais os esquerdistas de esquerda , oportunistas
e reformistas amalgamados deviam unir forças agarrando-se à carruagem
nacionalista patriótica da burguesia "moderada-liberal-democrática"
(sic), como se a democracia burguesa não abrigasse o germe do totalitarismo
fascista pedindo apenas para florescer ao sol negro da reacção.
Assim, há muitos anos,
são de facto os capitalistas das nações e países ditos "liberais -
democráticos - parlamentaristas - eleitoralistas" burgueses que conduzem
guerras de extermínio e crimes de guerra genocidas sem necessidade de chamar a
cavalaria fascista populista para o resgate. Joe Biden, só seguirá
os passos dos seus antecessores, e é precisamente isso que o
reformista-frentista “go-left” (falsa esquerda) tenta mascarar ao deixar
acreditar, como nos anos 30, que haveria duas classes de capitalistas - um
amigo e "moderado" com o qual o proletariado é convidado a fornicar,
e o outro, ditatorial, totalitário e intransigente que o proletariado é
convidado a contra-atacar para assegurar o poder da facção capitalista
"democrática moderada" mais generosa para os pequeno-burgueses, pelo
menos até à crise económica. Essas duas faces de Janus escondem a mesma classe
social antagónica, decadente, disposta a tudo para garantir a sua missão
histórica e reproduzir o capital, e com a qual o imenso proletariado
internacional nunca deve vincular o seu destino.
A agiotagem racista, étnica e religiosa, islamofóbica,
reaccionária, é apenas o último salto de um mundo semifeudal em degradação nos
chamados países "emergentes" que, se for convidado para os Campos
Elísios, não consegue despertar a histeria das multidões proletárias que
compreenderam quem são os que puxam os cordelinhos por detrás das cortinas dos
serviços secretos do Estado dos ricos. A pequena burguesia parasita, a eterna
defensora da farsa "frentista - unificadora - populista", implora a
unidade. A unidade do imenso proletariado planetário não é um ícone a
ser implorado, será o resultado que se forjará na e pela luta das classes
antagónicas e não o resultado das injunções e encantamentos dos gurus das
múltiplas seitas esquerdistas. De resto, é evidente que depois de cinquenta
anos de repetidos ataques ao movimento operário, a classe está desorganizada e
indefesa. A classe proletária terá que reconstituir as suas forças e a sua
"vanguarda" e acreditamos que o fará durante a intensificação da luta
de classe contra classe resultante do aprofundamento da crise económica
sistémica e na sequência dos inevitáveis ataques do capital que vai provocar
a insurreição popular. No entanto, será que a classe operária saberá assumir a
direção desta insurreição popular para transformá-la numa revolução proletária?
Tudo vai depender do seu nível de consciência de classe.
A consciência de classe.
Regressemos agora à consciência de classe, outra
variável importante nesta problemática. Um famoso revolucionário escreveu certa
vez: "Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário",
isso foi um erro. A frase materialista dialética é mais "Sem um
movimento de classe revolucionário, nenhuma consciência de classe
revolucionária, nenhuma teoria revolucionária e, portanto, nenhuma organização
revolucionária", seguindo o preceito de que a consciência procede do movimento e nunca o precede. Por que
dizemos que a variável "consciência de classe" não é vital de
momento? Porque este vector é uma variável dependente e não independente e
determinante, como o fizeram crer os comunistas, marxistas-leninistas,
maoístas, trotskistas, anarquistas e outros esquerdistas idealistas. Digamos
primeiro que a consciência de classe não pode preceder o estado de avanço
económico e político de uma classe.
Foi assim que Marx, que foi
um excelente analista económico do modo de producção capitalista - totalmente
desenvolvido na Inglaterra vitoriana – foi um pobre analista político na
Inglaterra conservadora, onde a classe operária penava para encontrar as suas
marcas de combate. Enquanto uma classe social estiver subdesenvolvida como
força produtiva - numa sociedade feudal czarista em transformação capitalista,
por exemplo - ela não pode ter uma consciência de classe muito aguda - muito
desenvolvida - muito revolucionária "para si mesma". Lenine,
por exemplo, tinha uma consciência de classe proletária mais nítida do que a
emergente classe operária russa, porque Lenine viveu parte da
sua vida entre o proletariado da Europa Ocidental. Por outro lado, numa
sociedade altamente mecanizada, robotizada, tecnicizada, digitalizada,
conectada, amplamente desenvolvida e de alta produtividade como observamos
hoje, a consciência da classe que opera essas tecnologias, esses robots, esses
meios de producção e de comunicação informatizados e digitalizados, é nítida, e
isso, independentemente das tácticas de "contenção",
"formatação" do pensamento alienado, propaganda de massa e fabrico do
"consentimento" que o capital desdobra para subverter essa
consciência de classe que inevitavelmente se desenvolve ao mesmo tempo que as
contradições que abalam o moribundo modo de producção e os confrontos de classe
que tentam conter os seus efeitos, se apenas o proletariado revolucionário
conseguir conter as divagações do "vanguardismo ”que prossegue em marcha
atrás.
Assim sendo, quais são as perspectivas económicas,
políticas, ideológicas, sociais e militares da burguesia em antecipação do
próximo conflito bacteriológico e termonuclear?
Elas são extremamente precárias. Por um lado, a esquerda
esquerdista, oportunista e reformista já não consegue cumprir a sua
missão de desorganizar a luta de classes do proletariado porque perdeu toda a
influência na classe que repudia esta "vanguarda" da qual se protege
(lucidez que a pseudo “vanguarda” interpreta como um sinal de senilidade).
Assim, se nos anos trinta os comunistas conseguiram agitar o espantalho do
fascismo - da extrema direita e do nazismo - para apoiar a ala liberal do
capital - já não o conseguem hoje, desacreditados como estão por noventa anos
de colaboração de classes e seus fúteis clamores contra a ala direita dos
predadores capitalistas.
O fim dos frentistas de
« vanguarda ».
Entre a ala liberal
(Churchiliana) e a ala radical (hitlariana e estalinista) do capital, não havia
diferença fundamental como Churchill, Roosevelt, Estaline, Hitler, Hirohito,
Mussolini, Mao, Tito e de Gaulle o demonstraram. O que atrapalha os preparativos
para a guerra imperialista, não é o lamento dos pacifistas, alter globalistas,
eco socialistas e outros esquerdistas, comunistas, marxista-leninistas,
trotskistas, maoístas e frentistas de serviço, mas sim as
"Primaveras" dos levantamentos espontâneos (mesmo se, até agora,
recuperados e liquidados); são esses jovens mercenários jihadistas esfomeados
que os agentes do estado recrutam e contratam, e de repente os perdem de vista;
são essas revoltas violentas e espontâneas em Ferguson, Dallas, Oakland e nos subúrbios
de Londres, Bruxelas e Paris que eles não serão capazes de apaziguar ou conter
no dia do grande tumulto descontrolado, no dia da inssureição popular, antes da
revolução proletária.
Em última análise, o nosso diagnóstico é que a
consciência da classe operária está à frente daquela da chamada “vanguarda” e
que não há nenhuma hipótese de as frentes populistas unidas e
democrático-eleitoralistas do grande capital ressurgirem nestes tempos de crise
económica sistémica do capitalismo. O trumpismo terá sido a sua última
manifestação.
Igualmente importante
para este debate é ainda o artigo que Robert Bibeau publicou “A mascarada eleitoral
americana, edição 2020 (Parte 7)”, no dia 11 de
Novembro de 2020, a propósito das eleições americanas que levaram ao poder um
dos sectores da burguesia americana, mormente o protagonizado por Joe Biden.
Trata-se, como certamente constatarão, de um importante desenvolvimento teórico
marxista ao brilhante texto que acima reproduzimos.
UM PRESIDENTE AMERICANO COMUM VAI PARA A GUERRA
O 46º Presidente da República dos Estados Unidos da
América será entronizado, empossado, munido dos documentos que lhe conferem a
legitimidade e lhe conferem os "plenos poderes" que lhe incumbem ...
e depois? Depois, “business as usual”.
Deixámos bem claro antes da eleição - https://les7duquebec.net/archives/259547 - e
confirmámos depois dessa farsa eleitoral, um presidente dos Estados Unidos é o
elo de uma corrente que aprisiona toda a nação multiétnica e multicultural
americana, de modo que é a classe capitalista hegemónica que está no poder por
meio das suas plumitivas políticas.
Um
presidente é tudo menos um "self-made man", um
anti-establishment ou um oponente do estado
profundo (sic), um estado que lhe dará corda suficiente para o servir. A
retórica eleitoral oposta - utópica - foi apresentada aos perdidos para atrair
aqueles que estavam prontos para a batalha contra o poder hegemónico dos ricos.
Agora que esta salada deu os votos esperados, que foi engolida e levou um
candidato ao auge do Capitólio, é hora de o grande capital começar a trabalhar
e continuar os preparativos para a guerra já iniciada por esta pandemia viral.
Terminada a comédia eleitoral,
passemos aos assuntos sérios.
Os assuntos sérios são, por exemplo, todas estas
promessas feitas durante a eleição que só envolvem quem nelas acreditou, não
quem as promoveu na sua caminhada eleitoral ao sabor do vento do oportunismo
que sempre varre este tipo de exercício "Prometo-vos o que vocês querem ouvir e no dia seguinte farei o que
agrada aos meus generosos doadores" (o custo da edição das eleições americanas
de 2020 foi de 14 biliões de dólares). Assim, o proteccionismo, o isolacionismo e o mundialismo nada mais serão
do que slogans de campanha para justificar a imposição de tratados de livre
comércio. Deixem de lado o vosso boné "America First" e o
vosso boné de livre-comércio, que é bom apenas para excitar os parvos e os
pequeninos.
Essas intermináveis negociações comerciais dizem
respeito a potências imperialistas mais poderosas do que a América e que não
serão impostas por um pugilista à frente de um "Estado falido". Nem Trump nem Biden são politicamente ingénuos como a media tentou retratá-los. É
por isso que o vencedor colocará falcões, criminosos de guerra endurecidos, à
frente dos exércitos ianques e serviços secretos. Vocês gostaram dos programas
de assassinato selectivo de Obama, vocês vão adorar o programa de mortes
colectivas e de guerra generalizada de Joe Biden, os seus créditos para a
guerra, os seus navios de ataque no mar (350 no mínimo ), mais fundos para as
700 bases de agressão militar no exterior e alvos mais rígidos dos três
inimigos mais vingativos da América, o Irão do petróleo e dos petrodólares, as
etapas das novas rotas da seda, a Alemanha do euro, e a China mecanizada,
robotizada, digitalizada, tecnológica e produtivista. As duas fábricas do mundo
devem ser colocadas no seu lugar ao serviço do imperialismo mundial. Para a
Rússia, é oferecido um corredor de saída se desejar abrigar-se ao lado dos
europeus, que são convidados a alinhar-se atrás do comandante em chefe do
Pentágono.
Sob Biden, a era Bush está de volta "Vocês estão connosco ou estão contra nós!",
os truques do período Obama já duraram bastante, esse é o motivo da eliminação
dos pretendentes que prometeram mais oito anos suplementares de tergiversação
enquanto o Palácio Imperial arde, e que o fogo está latente em Ferguson,
Chicago, Milwaukee e Charlottesville. Joe manterá um olhar atento e a aplicação
da lei erradicará a desordem com metralhadoras e canhões devastadores mesmo no
seio da nação.
Os imigrantes ilegais serão ameaçados - mas não
devolvidos – trata-se simplesmente de os
aterrorizar para fazê-los aceitar piores condições de sujeição. A
América não pode prescindir desta força de trabalho barata que mantém uma
pressão salutar sobre os salários dos proletários americanos e sobre os
trabalhadores pobres (60 horas de trabalho por semana por salários
insuficientes para garantir a sua sobrevivência). A falsa esquerda tem orgulho
de ter direccionado a atenção para o racismo, a imigração, a pandemia, as
minorias, excepto sobre as questões de sobrevivência da maioria proletária. A
extrema esquerda sempre fez o papel de imbecil útil. Enquanto gesticula para
reformar e salvaguardar o moribundo modo de producção capitalista, enquanto a
crise se alastra, à medida que a miséria se espalha por todo o proletariado
negro, latino e branco, feminino e masculino, a esquerda atira-se contra uma
parede, sobre o casamento gay, os direitos dos animais, os escândalos
Hollywood-Me Too e outras questões secundárias.
Défice – dívida – dólar americano – o declínio da
Aliança atlântica.
Para financiar esses défices astronómicos
recorrentes, haverá impressão de dinheiro. É aqui que vocês podem entender por
que é que a China, o Irão, a Alemanha, a
Rússia, o Canadá, a Europa estão sob ameaça, embora cada um desses pretendentes
seja tratado de forma diferente pelo grande Timoneiro do Capitólio. Essa
profusão de dinheiro de crédito - petrodólar - "dinheiro de fantasia"
levará os Estados Unidos directamente para a falência, mais rápido do que o
desempenho de Obama, o primeiro presidente negro será desclassificado para
o terceiro lugar da dívida, logo após Donald Trump e Joe Biden, os campeões.
Nos próximos anos, os aliados roubados e os concorrentes prejudicados tentarão
escapar - para se livrar dos seus dólares de chumbo - é aqui que a cavalaria
aerotransportada, os drones, as sete frotas de agressão, os onze porta-aviões e
os 540.000 soldados estacionados nas centenas de bases espalhadas, do
Mediterrâneo ao Mar da China, servirão para chamar à ordem os recalcitrantes
aliados e pretendentes ao posto de comandante dos exércitos da Aliança
Atlântica. Para comandar, é preciso mesmo pagar com "dinheiro de
fantasia". Infelizmente, tudo isso nada mais são do que divagações
desesperadas por parte de uma potência que mal tem meio milhão de soldados
aerotransportados treinados para o combate e uma economia estilhaçada,
alinhando cerca de 100 milhões de proletários mal pagos, produtores de
mais-valia desvalorizada, contra 800 milhões de proletários chineses que são produtivistas
e geradores de mais-valia. A América não é mais do que uma sombra de si mesma e
não pode esperar impor-se ao mundo inteiro sob Donald ou sob a gestão de Joe
... da mesma forma.
Portanto, é fácil prever que o jogo está perdido de
antemão para a aliança imperialista americana, que está a murchar perante os
ventos de sucessivas derrotas militares que alguns classificam como estratégias
ponderadas do "caos" (sic). No entanto, teme-se que o leão ferido se
aventure numa saga desesperada. Não é a esquerda americana ou a esquerda
"de vanguarda" mundial que nos salvará, mas o proletariado americano
e internacional. No entanto, ao contrário de Lenine, não acreditamos que a Revolução impedirá a guerra, mas sim
que a guerra levará ao levantamento popular e depois à Revolução Proletária.
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259648
En français sur le site web de l’Harmattan (13 euros en PDF)
HARMATTAN : http://www.editions-harmattan.fr/index.asp?navig=catalogue&obj=livre&no=59199
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