segunda-feira, 26 de julho de 2021

Otelo e os tira-nódoas da contra-revolução

Fascistas e social-fascistas conspiram contra a classe operária – Jaime Neves com Otelo


Finou-se, no passado sábado, dia 24 de Julho, Otelo Saraiva de Carvalho, quando estava muito próximo de alcançar, em Agosto próximo, a idade de 85 anos.

Arrogava-se ter sido o estratega do 25 de Abril, dirigente de uma revolução que nunca existiu – a não ser na sua cabeça atrofiada, buçal e bronca. Arrogava-se de ter “libertado” o povo português, a classe operária, as massas populares, do jugo fascista de Salazar e de Marcelo.

Ou seja, tal como qualquer chapado oportunista, revisionista ou neo-revisionista, defendia o princípio de que a classe operária e seus aliados eram dispensáveis à revolução, que poderia ser realizada apenas com recurso a meia dúzia de “bravos” e “iluminados”, que arrastariam a massa imensa dos soldados e marinheiros para as ruas, a fim de levarem a cabo uma “revolução” que mais não foi do que um golpe de estado organizado e levado a cabo pela oficialagem menor – capitães sobretudo – descontentes com a sua condição face aos oficiais milicianos.

Com a sua arrogância, desplante e displicência intelectual, Otelo Saraiva de Carvalho deu um contributo inestimável à burguesia para que esta conseguisse desmantelar o movimento revolucionário que se gerou após o 25 de Abril de 1974, não pela acção do Conselho da Revolução ou dos auto-proclamados “militares de Abril”, mas porque explodiu um movimento que já se agigantava muito antes da ocorrência do golpe de estado de 25 de Abril de 1974.

Só quem não esteve nas ruas de Lisboa e outras cidades de Portugal naquele dia e seguintes, a constatar a presença de dezenas de milhar de operários, trabalhadores e as massas populares, é que não compreende que a revolução já estava numa fase muito adiantada quando ocorreu o golpe militar.

Só quem esteve “distraído” não compreendeu, com o desenrolar dos acontecimentos, que nunca foi intenção dos “militares de Abril” derrubar o poder, mas sim “reformá-lo. Basta ver o papel que atribuíram, logo naquela noite ao fascista Spínola. Basta perceber que não estava nas mentes dos militares do golpe, quer a libertação dos presos políticos quer a decapitação da odiada polícia política do sistema fascista, a PIDE.

Só a pressão das massas, na rua, que gritavam a plenos pulmões “Morte à PIDE!” – e tentou mesmo tomar de assalto a sua sede na Rua António Maria Cardoso, acção durante a qual foram assassinados vários populares - e “Libertação Imediata dos Presos Políticos!” é que “motivou” os “militares de Abril” a integrarem na sua agenda estratégica, a libertação das centenas de presos políticos e o desarmar e aprisionamento – temporário – dos faccínoras e assassinos da PIDE.

Como, só a pressão das massas frustrou as intenções neo-colonialistas da “Junta Militar” que emergiu a seguir ao golpe de estado, que não fazia quaisquer intenções de fazer regressar as tropas das ex-colónias, evidenciando que pretendiam prosseguir a guerra colonial e impedir a justa luta pela independência e auto-determinação das mesmas.

Exibindo uma faceta “radical” e pseudo-esquerdista, terrorista e bombista, aventureirista, o que Otelo, objectivamente, proporcionou à burguesia, foi uma “justificação” para o esmagamento do movimento operário e popular e toda a cobertura legislativa que, entretanto, os partidos da burguesia aprovaram na Assembleia da República, a sede do grande capital e não da democracia como todos eles tentam fazer crer que é.

Em 28 de Maio de 1975, sob o comando do pistoleiro Otelo – e ao serviço dos revisionistas do PCP, do Conselho da “Revolução” e da 5ª Coluna - , as tropas do COPCON assaltaram dezenas de sedes do MRPP em todo o país e encarceraram cerca de 500 dos seus militantes, entre os quais o seu Secretário-Geral à época, o meu saudoso camarada Arnaldo Matos.

Ao contrário do “historiador” Rosas, que perante este facto histórico não se pronuncia, nada diz, tudo silencia, temos que denunciar que a pretensão de Otelo NUNCA foi a de aprisionar militantes do MRPP mas, pura e simplesmente, liquidá-los física e politicamente, como dizia para quem o quisesse ouvir, na Praça do Campo Pequeno. Só a reacção das massas populares e dos revolucionários, impediu que essa pretensão fosse consumada. Ou seja, enquanto pactuava com a burguesia, libertava os PIDES e facilitava o retorno do sector mais parasitário e explorador da burguesia, tentava calar a voz da classe operária, dos seus mais lídimos representantes e dirigentes, para, assim, liquidar a revolução que ainda estava – e está – por realizar.

Mal a morte de Otelo foi anunciada, toda a contra-revolução veio branquear o papel deste pistoleiro contra-revolucionário.  Actuando como autênticos “tira nódoas”, uma espécie de JAVISOL gigantesco se abateu sobre toda a media a soldo do grande capital, para relevar a figura do “revolucionário”, do “salvador” da pátria acorrentada e amordaçada por quase meio século de ditadura fascista.

Foi ver, desde Marcelo ao BE, passando pelo PCP e pelo PS, a classe dominante, a burguesia, a reconhecer os préstimos de um “dos seus” ou, num registo mais à direita, que a história se encarregará de branquear ainda melhor o papel deste crápula contra-revolucionário. Só será necessário um pouco mais de ... distância e perspectiva!!!

Aí está! Para quem dúvidas ainda tivesse, quando o sistema elogia alguém como Otelo está a reconhecer, implícita e explicitamente, os serviços que este lhes prestou, mormente os que garantiram a liquidação do movimento revolucionário que se gerou a seguir ao 25 de Abril de 1974.

Os marxistas revolucionários não choram Otelo. Esse papel cabe à burguesia, a toda a contra-revolução, quer aquela que ocupa a Assembleia da República, quer aquela que, fora daquele antro de lacaios do capital, trabalha igualmente para trair os interesses da revolução, da classe operária, dos escravos assalariados, do povo em geral.

À classe operária, ao escravos assalariados, às massas populares, aos revolucionários, aos marxistas, cabe tirar as lições da história, levar a cabo com sucesso as sublevações que conduzirão à revolução, à destruição do modo de producção capitalista, garantia de que o modelo de producção que melhor serve os seus interesses - o modo de producção comunista – se realizará, não por obra e graça de um “iluminado”, mas pela sua acção colectiva e autónoma.

1 comentário:

  1. Otelo foi mesmo mau, de tal forma que a ele deve quem escreveu estas letras a liberdade de o fazer. A direita salazarista existe e contrariamente ao que se diz Otelo não foi assim tão mau pois não os meteu no Campo Pequeno, assim aparecem estes infelizes textos de gente frustrada pelo fim do salazarismo!

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