sábado, 31 de julho de 2021

Michel Husson nasceu a 3 de Abril de 1949 em Lyon e morreu a 18 de Julho de 2021.

 


 30 de Julho de 2021  Oeil de faucon  

Michel Husson: por trás do economista, o homem                                                                        Jean-Marie Harribey 20/07/2021


Michel Husson faleceu. Economista e estatístico, soube dissecar modelos neoclássicos como ninguém para apontar inconsistências, até mesmo absurdos, especialmente nas suas muitas colunas de Alternativas Económicas. O economista Jean-Marie Harribey presta-lhe homenagem.

Michel Husson deixou-nos. As notícias deixam-nos sem palavras. Devemos primeiro prestar homenagem ao excelente economista que ele era ou ao homem mergulhado em bondade e humor devastador, dotado de um senso pedagógico incomum para dissecar os estudos mais técnicos?


Michel Husson faz parte de uma geração de economistas-estatísticos, treinados no rigor científico enquanto possui uma cultura de economia política crítica baseada na melhor fonte: Marx. Ele é um dos poucos analistas que dedicaram o seu trabalho à análise da evolução do capitalismo mundializado e financeirizado contemporâneo usando os conceitos de super-acumulação de capital e taxas de lucro cuja evolução acompanha as transformações do capitalismo. Transformações cujas consequências no trabalho, distribuição de rendimento e protecção social têm sido o centro das suas preocupações ao longo do período neoliberal.


Michel Husson foi, entre outras coisas, um dos mais ardentes defensores da redução da jornada de trabalho e o seu trabalho recente mostrava ainda a aposta que ela representava mesmo na época da crise sanitária. E o menor dos seus méritos é que ela emergiu de uma cultura productivista, que tem sido transmitida há muito tempo por movimentos progressistas, a fim de levar em conta a crise ecológica e associar a sua resolução com a da crise social.


Não saberemos a extensão do trabalho realizado por Michel Husson olhando para seu site "hussonet", que é uma mina documental sem precedentes, compõem tanto textos curtos e pedagógicos quanto de análises aprofundadas graças ao domínio de ferramentas econométricas que lhe permitem mostrar a inanidade de muitos trabalhos académicos que afirmam ser ortodoxia, como a redução de salários que supostamente deveriam aumentar o emprego, ou então, ele, o matemático-estatístico, para destacar a afirmação científica de modelos neoclássicos.


Mas esse domínio que implantou profissionalmente, em especial no Instituto de Pesquisas Económicas e Sociais (Ires) na última parte da sua carreira, colocou-o à disposição participando da forma mais activa possível nas associações empenhadas na batalha social: Attac, a Fundação Copérnico, os Economistas Consternados, sem mencionar os seus compromissos sindicais e políticos. As suas contribuições para obras colectivas sobre a crise do capitalismo, pensões ou dívida pública são incontáveis, incluindo a sua participação na Auditoria da Dívida Pública Grega em 2015 em Atenas.


Também teremos um vislumbre da inteligência do seu humor se lermos a citação grotesca de um economista bem-intencionado sobre ele, que ele havia destacado de seu site: Michel Husson, "ideólogo desconhecido do mundo académico  entregando-se a críticas incompetentes".


É que Michel Husson também permanecerá pela sua contribuição para a desmistificação da chamada epistemologia da economia neoclássica, porque, para ele, o mais importante foi, sem dúvida, colocar a economia no âmbito das relações sociais de exploração e alienação. Do ponto de vista de Michel Husson, a análise em termos de classes não envelheceu nem um pouco. Que a sua mensagem continue nas batalhas sociais que permanecem diante de nós. O seu desaparecimento  perturba-nos. Não apenas pelo seu talento que se vai embora, mas pelo lugar que ele ocupou amigavelmente numa luta colectiva.

 

Fonte: Michel Husson est décédé né le 3 avril 1949 à Lyon et mort le 18 juillet 2021 – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice


 

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