30 de Julho de
2021 Oeil de faucon
Michel Husson: por trás do economista, o homem Jean-Marie Harribey 20/07/2021
Michel Husson faleceu. Economista e estatístico, soube dissecar modelos
neoclássicos como ninguém para apontar inconsistências, até mesmo absurdos,
especialmente nas suas muitas colunas de Alternativas Económicas. O economista
Jean-Marie Harribey presta-lhe homenagem.
Michel Husson deixou-nos. As notícias deixam-nos sem palavras. Devemos primeiro prestar homenagem ao excelente economista que ele era ou ao homem mergulhado em bondade e humor devastador, dotado de um senso pedagógico incomum para dissecar os estudos mais técnicos?
Michel Husson faz parte de uma geração de economistas-estatísticos, treinados
no rigor científico enquanto possui uma cultura de economia política crítica
baseada na melhor fonte: Marx. Ele é um dos poucos analistas que dedicaram o seu
trabalho à análise da evolução do capitalismo mundializado e financeirizado
contemporâneo usando os conceitos de super-acumulação de capital e taxas de
lucro cuja evolução acompanha as transformações do capitalismo. Transformações
cujas consequências no trabalho, distribuição de rendimento e protecção social
têm sido o centro das suas preocupações ao longo do período neoliberal.
Michel Husson foi, entre outras coisas, um dos mais ardentes defensores da
redução da jornada de trabalho e o seu trabalho recente mostrava ainda a aposta
que ela representava mesmo na época da crise sanitária. E o menor dos seus
méritos é que ela emergiu de uma cultura productivista, que tem sido
transmitida há muito tempo por movimentos progressistas, a fim de levar em
conta a crise ecológica e associar a sua resolução com a da crise social.
Não saberemos a extensão do trabalho realizado por Michel Husson olhando para
seu site "hussonet", que é uma mina documental sem precedentes,
compõem tanto textos curtos e pedagógicos quanto de análises aprofundadas
graças ao domínio de ferramentas econométricas que lhe permitem mostrar a inanidade
de muitos trabalhos académicos que afirmam ser ortodoxia, como a redução de
salários que supostamente deveriam aumentar o emprego, ou então, ele, o
matemático-estatístico, para destacar a afirmação científica de modelos
neoclássicos.
Mas esse domínio que implantou profissionalmente, em especial no Instituto de
Pesquisas Económicas e Sociais (Ires) na última parte da sua carreira,
colocou-o à disposição participando da forma mais activa possível nas
associações empenhadas na batalha social: Attac, a Fundação Copérnico, os Economistas Consternados,
sem mencionar os seus compromissos sindicais e políticos. As suas contribuições
para obras colectivas sobre a crise do capitalismo, pensões ou dívida pública
são incontáveis, incluindo a sua participação na Auditoria da Dívida Pública
Grega em 2015 em Atenas.
Também teremos um vislumbre da inteligência do seu humor se lermos a citação
grotesca de um economista bem-intencionado sobre ele, que ele havia destacado
de seu site: Michel Husson, "ideólogo desconhecido do mundo académico entregando-se a críticas incompetentes".
É que Michel Husson também permanecerá pela sua contribuição para a desmistificação
da chamada epistemologia da economia neoclássica, porque, para ele, o mais
importante foi, sem dúvida, colocar a economia no âmbito das relações sociais
de exploração e alienação. Do ponto de vista de Michel Husson, a análise em
termos de classes não envelheceu nem um pouco. Que a sua mensagem continue nas
batalhas sociais que permanecem diante de nós. O seu desaparecimento perturba-nos. Não apenas pelo seu talento que se
vai embora, mas pelo lugar que ele ocupou amigavelmente numa luta colectiva.
Fonte: Michel Husson est décédé né le 3 avril 1949 à Lyon et mort le 18 juillet
2021 – les 7 du quebec
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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