À espera da libertação: Um relatório da frente e um aviso

 

 26 de Dezembro de 2022  Robert Bibeau  

By Batiushka − novembro 2022 − Source The Saker Blog

 

Se esperas notícias e imagens dramáticas do Donbass, onde as tropas Aliadas avançam lenta mas inexoravelmente, destruindo milhares de nazis de todas as nacionalidades ocidentais e dezenas dos seus veículos militares e pilhas do seu equipamento todas as semanas, à medida que libertam cidades e aldeias (tudo o que não é noticiado pelos meios de comunicação ocidentais), lamentamos. Esta é uma história da frente doméstica. É uma história humana. Espero que te faça tomar consciência de tudo isto. 

É uma pequena cidade a sul de Kiev. Há dois anos, membros ucranianos (embora russos, no que lhes diz respeito) da minha família, um casal com dois filhos adultos, compraram ali uma casa nova em folha. Fui e fiquei lá. O ano passado. Conheço-a bem, e a estrada de lá para o centro de Kiev. Poderia levá-lo lá agora.

Antes de mais nada, está a nevar. As fotografias que me foram enviadas mostram isso. O longo Verão indiano está bem e verdadeiramente acabado. E os russos decidiram utilizar a mesma táctica que os americanos na Sérvia: lançar mísseis nas infra-estruturas energéticas. Obrigado, EUA, pelo seu exemplo de guerra.

A moeda ucraniana, o hryvnia, caiu 30% em relação ao dólar, à libra e ao euro. O preço de tudo o que é importado subiu pelo menos tanto. Para muitas coisas, em 100%. Embora a situação seja semelhante à da Europa Ocidental, onde vivo agora. Além disso, o que costumava obter da Rússia é agora impossível de obter por causa das "sanções".

Isto acontece apenas na Ucrânia, no contexto de uma economia falida apoiada pelos EUA, Reino Unido e UE na ordem dos milhares de milhões de dólares por mês. Como gostaria de viver num país cujo PIB caiu 40% este ano? E não há sinais de mudança no futuro, pelo menos até ao colapso do regime de Kiev, Zelensky voa para Miami do telhado da embaixada dos EUA num helicóptero (lembra-se de Saigão? ), os nazis agarram-se ao exterior dos aviões americanos que descolam do aeroporto de Borispol (lembram-se de Cabul?), mais nacionalistas fanáticos partem para a Polónia (alguns já o fizeram) e a Rússia liberta todo o país, o que agora parece necessário e inevitável.

Os preços dos imóveis no centro de Kiev caíram. Muitas pessoas estão a tentar mover-se, porque há sobretudo apartamentos e as explosões acontecem sobretudo em Kiev. Claro que, se estiver num edifício alto, nunca venderá, a menos que esteja num andar inferior. Ninguém quer ficar preso num elevador ou, quase tão mau, se tiver de subir as escadas para o décimo quinto andar todos os dias para transportar as suas mercearias.

Tem de fazer tudo sozinho. Restam poucos trabalhadores por terem sido forçados, gritando e lutando, a entrar nas forças armadas. Se tiverem sorte, podem render-se aos seus irmãos russos antes de serem transformados em pó ou alvejados pelas costas pela odiada polícia secreta ucraniana. Os restantes trabalhadores cobram taxas astronómicas. Os meus familiares estão muito felizes por finalmente terem terminado tudo apenas algumas semanas antes de tudo ter começado em Fevereiro.

Na quinta-feira passada, X testemunhou um grave acidente na estrada próxima: os semáforos não estavam a funcionar devido a um corte de energia. Isto está a acontecer em todo o lado. As ruas são escuras, sem luzes.

Muitas pessoas trabalham a partir de casa, ou habituadas a trabalhar. Agora é difícil, porque na melhor das hipóteses só se tem três a quatro horas de electricidade antes de se apagar durante pelo menos esse tempo. Não há luz. E então, mesmo as melhores baterias de computador significam que se perde energia após uma hora ou duas, se se tiver internet, o que nem sempre é o caso.

E não se esqueça de carregar o seu telefone assim que a electricidade voltar a ligar. A energia não vai durar e pode falhar o dia todo. Não tem forma de saber isto. E quando a electricidade se apaga, o mesmo acontece com a caldeira. Sem calor, sem água quente. Ns janelas colcocam-se fitas em forma de X para evitar que os mísseis as atinjam e estilhacem o vidro. Os meus parentes viram um míssil a passar no passado mês de Maio. Aterrou em Kiev.E às vezes a máquina de lavar pára a meio do ciclo. Corte de energia. É embaraçoso. E nunca se esqueça de ter uma lanterna no bolso ou bolsa e ter pelo menos mais de uma em casa. Para cozinhar, muitos usam fogões primus de fabrico sueco – se você pode obter um e recargas. Alguns suecos estão a sair-se bem.

Quanto às compras, os horários de funcionamento mudam com os cortes de energia, mas as lojas do bairro continuam abertas, mesmo que esteja escuro. E, claro, Kiev regressou à economia monetária. As máquinas de venda automática de cartões não funcionam por falta de electricidade. Esperemos que as caixas multibanco sejam reabastecidas com bastante frequência. Isto é, se tiver dinheiro na sua conta.

Os membros da minha família não têm carros. Muitos ucranianos ricos o suficiente para terem um carro partiram para o Ocidente em Março/Abril/Maio passado com os seus filhos em idade de recrutamento (pagando subornos até 5.000 dólares aos guardas de fronteira, que partiram por último), e vivem agora nas casas apertadas dos ocidentais ingénuos o suficiente e outrora prósperos o suficiente para os levar.

Os meus parentes têm muita sorte pois podem entrar nos mini-autocarros que os levam para as suas casas no campo. Apenas existe falta de madeira, mas há vegetais, na sua maioria batatas, e muita lenha. Tiveram um Verão ocupado na grande horta. Prepararam-se para o Inverno, apanha, engarrafamento e enlatamento. A única forma de obter calor lá é colocar lenha no fogão. Sem gás, mas não precisa dele. E até se pode viver sem electricidade, porque há um stock de velas. O único problema é que faz muito frio no Inverno, -20 ou -30 no exterior, -10 no interior, a menos que se aqueça constantemente. Assim, é preciso ficar o mais possível dentro de casa e preparar muita lenha seca para os anos vindouros.

Tudo isto é um aviso para a Europa Ocidental. Sei que estás distraído com o circo do Campeonato do Mundo de Futebol. Não estejas. Votaste também em líderes fantoches americanos como Zelensky? Também querias ser ukrainizado pelos EUA? Então este é também o teu futuro. Foste avisado. Tenho amigos na Letónia, Lituânia e Moldávia. Já estão a viver assim. Este é um vírus que se está a espalhar para oeste, na sua direcção.

Vê o teu futuro; a menos que te livres a tempo dos teus governos fantoches pró-Nazis. Elejam governos pró-russos. Façam amizade com os vossos vizinhos do lado na Europa Oriental (nunca ouviste falar da frase "ama o teu vizinho"?) Moscovo fica a 1.600 quilómetros de Berlim, a cerca de 2.500 quilómetros de Roma, Paris e Londres. Sabes que isso faz sentido. Em breve poderás estar quente e tostado.

Batiushka

Reitor ortodoxo russo de uma grande paróquia na Europa, serviu em muitos países da Europa Ocidental e eu vivi na Rússia e na Ucrânia. Trabalhou também como docente na história e política russa e europeia.

Traduzido por Hervé, revisto por Wayan, para o Saker Francophone

 

Fonte: En attendant la libération : Un rapport du front et un avertissement – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice