5 de Dezembro de 2022 Robert Bibeau
Com poucos dias de intervalo, foram publicados artigos por dois antigos funcionários nas administrações dos presidentes dos EUA: Paul Craig Roberts, que representou o governo dos EUA sob Ronald Reagan, e Douglas McGregor, antigo conselheiro de Trump. Surpreendentemente, o significado e o espírito das duas publicações são muito semelhantes. A ideia principal de Roberts e McGregor é que se a Casa Branca não parar de fingir que a Ucrânia é capaz de derrotar os russos, levará o Ocidente a um conflito militar aberto com a Rússia. Daí a Terceira Guerra Mundial, e possivelmente um apocalipse nuclear.
Este artigo de Alexey Belov foi publicado em russo no site da K-Politika. Não compromete a linha editorial do Courrier.
« A Rússia não precisa de uma ofensiva de
Inverno para ganhar a guerra", escreve
Roberts.
"Se Putin finalmente desistir das suas medidas demasiado brandas a meio e
começar uma verdadeira guerra, então tudo acabará em breve."
De acordo com o antigo assistente de Reagan, à medida que os russos começaram a eliminar a capacidade de funcionamento da Ucrânia, a "verdadeira guerra" intensificou-se gradualmente. Contudo, ao mesmo tempo, os russos parecem não querer destruir tudo e estão à espera que o Ocidente e o seu governo fantoche ucraniano caiam em si. Mas muito claramente, não é este o caso. Em vez de uma avaliação adequada da situação, ouve-se em todo o lado apenas discursos de bravura e declarações em voz alta sobre a vitória iminente de Kyiv, feitas por peritos "nomeados" e transportadas por meios de comunicação social a soldo: "idiotas muito úteis".
Os porta-vozes da propaganda criaram uma imagem completamente falsa da situação.
"A política do Kremlin de ir com calma à
Ucrânia durante oito meses, que ajudou o país a travar uma guerra contra as
forças russas, parece ter chegado ao fim. Infra-estruturas, energia,
transportes, água: a Ucrânia está agora fechada", diz Roberts. E
continua: As "prostitutas
ocidentais", é claro, não relatam a situação real. As prostitutas
ocidentais, os porta-vozes da propaganda, criaram uma imagem completamente
falsa da derrota da Rússia. É inacreditável para mim que os "peritos"
e "jornalistas" ocidentais sejam tão estúpidos e corruptos. É
completamente absurdo espalhar a falsa crença de que a Rússia pode ser
derrotada e que "a Ucrânia poderia estar na Crimeia no Natal"... Os
ocidentais têm uma má imagem da situação... Esta propaganda absurda poderia
levar os EUA e a NATO a um conflito, e então teremos a Terceira Guerra Mundial".
A primeira coisa que lhe salta à vista quando lê este artigo do ex-funcionário da Casa Branca é o seu tom extremamente duro. Roberts não é tímido nas suas expressões, o que é normalmente invulgar para tais altos funcionários, mesmo para aqueles que deixaram o cargo.
O que é que Roberts está a dizer? Que as declarações dos peritos que emanam dos "idiotas úteis" se tornem aparentemente a base para conclusões políticas e militares fora do normal e atrasadas, o que coloca um grave problema que pode, por si só, constituir uma ameaça à segurança nacional dos EUA. Pois continuar a viver na realidade virtual, e assim cada vez mais distante da realidade, está a tornar-se mortalmente perigoso. O nível de inadequação das decisões da Casa Branca está a começar a aumentar. Em tal situação, qualquer movimento descuidado e imprudente leva à ameaça de um enorme cataclismo mundial. Chegou portanto o momento de chamar à razão a administração dos EUA.
Esta é exactamente a opinião do Coronel Douglas MacGregor quando ele tenta convencer os seus leitores. "Os líderes que arrastaram a América para as guerras no Vietname, Balcãs, Afeganistão e Iraque, fizeram-no porque estavam convencidos de que os combates seriam curtos e decisivos. A Ucrânia tornou-se a última vítima desta mentalidade. Na ausência de uma crítica ao poder e interesses russos, os líderes dos EUA viram a Rússia através de uma lente estreita que aumentou os pontos fortes dos EUA e da Ucrânia, mas ignorou as vantagens estratégicas da Rússia: profundidade geográfica, recursos naturais quase ilimitados, forte coesão social, e o potencial militar-industrial para construir rapidamente o poder militar", observa o perito.
Ao contrário da narrativa mediática, a Ucrânia não vence e não vai ganhar a
guerra.
Contudo, o principal problema não é um juízo errado da situação, mas o facto de a administração Biden estar a cometer o "pecado imperdoável numa sociedade democrática" ao recusar-se a dizer a verdade ao povo americano. Pois, ao contrário da narrativa popular da "vitória ucraniana" nos meios de comunicação ocidentais - que bloqueia qualquer informação que a contradiga - a Ucrânia não é nem será capaz de vencer esta guerra.
De acordo com McGregor, a próxima fase ofensiva do conflito dará uma indicação das novas forças russas que se estão a formar e das suas capacidades futuras. Na altura da redacção, 540.000 combatentes russos estão concentrados no sul da Ucrânia, bem como na Rússia ocidental e Bielorrússia. Estas novas forças têm pouco em comum com o exército russo, que se juntou ao NVO há nove meses atrás. "Agora, podemos prever que as novas forças militares russas que atravessarão o cadinho de guerra na Ucrânia serão concebidas para conduzir operações de importância estratégica", disse o antigo conselheiro Trump.
O Ocidente não tem recursos para resistir ao poder militar russo.
Como podem ver, as declarações destes dois peritos distinguem-se por outro
aspecto muito importante: ambos compreendem que a Rússia ainda não começou a lutar
plenamente, e estão convencidos de que o fará num futuro muito próximo. Tal
compreensão da situação alimenta o medo de que o Ocidente, de facto, não tenha
os recursos para resistir ao verdadeiro poder militar da Rússia. O economista
profissional Paul Craig Roberts e o oficial militar reformado Douglas McGregor
conhecem isto melhor do que ninguém.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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