quinta-feira, 10 de abril de 2025

O que fazer depois de o PCTP/MRPP se ter transformado no seu contrário?

 


Um Partido, seja qual for a sua natureza, reflecte os interesses da classe social que representa – ou que se afirma representar.

 

Está, portanto, sujeito às mesmas leis universais da dialéctica materialista, isto é, no seu seio reflectem-se as contradições de classe que se debatem na sociedade de que é parte integrante.

 

Para um Partido que se considere representante da classe operária, comunista, internacionalista, a questão não é, pois, diferente. No seio de um Partido Operário, manifestam-se as contradições e a luta de classes que se operam na sociedade, visto que ele emana dessa sociedade.

 

No caso do PCTP/MRPP, desde a sua fundação em 18 de Setembro de 1970, a luta de classes no seu seio, uma condicionante absoluta do ponto de vista da dialéctica materialista, levou a que tivessem emergido lutas intensas entre as duas linhas – a linha de esquerda, operária, comunista, internacionalista e a linha de direita, pequeno-burguesa, oportunista, arrivista, liquidacionista, tendo esta estado em maioria a maior parte da vida deste Partido, e na direcção programática do mesmo.

 

Com a morte do seu fundador – o comunista Arnaldo Matos – a linha liquidacionista, pequeno-burguesa, social-fascista, conseguiu – perante a deserção miserável de um importante núcleo do seu Comité Central (entre os quais me incluo) – criar as condições políticas, objectivas e subjectivas, para tomar de assalto, quer a direcção do PCTP/MRPP, quer a do seu Órgão Central, o Luta Popular online.

 

Consolidou-se, assim, o afastamento das massas operárias e de escravos assalariados – que se vinha a degradar há décadas - e agravou-se o divórcio entre o Partido e o movimento operário e popular, o que impediu o Partido de cumprir o seu papel na condução das suas lutas.

 

O PCTP/MRPP transformou-se no seu contrário. Isto é, de partido comunista, operário, internacionalista, transformou-se num partido irrelevante, pequeno-burguês, social-fascista e liquidacionista.

 

A Comissão Liquidatária do PCTP/MRPP , que continua a arrogar-se como Comité Central, anda desaparecida em combate. A Sede Nacional, à Rua da Palma em Lisboa, de Centro de Organização, Estudo e exponenciamento da militância, passou a destroço à deriva, abandonado e degradado.

 

O recente episódio da alegada apresentação de listas às próximas eleições legislativas pelo Círculo de Braga demonstram de forma clara e inequívoca a deriva oportunista da actual direcção do PCTP/MRPP. Para além de terem entregue uma lista de candidatos apresentada num papel qualquer, manuscrita e rasurada, sem a identificação adequada dos  seus 2 integrantes, a bandalheira organizativa, ideológica e programática imperam naquela que já foi considerada a organização representativa do proletariado revolucionário em Portugal.

 

A actual estratégia da cáfila oportunista que se apoderou da direcção do PCTP/MRPP e do seu Órgão Central – o Luta Popular online, onde impera um conhecido “anarquista libertário” (vá-se lá saber o que isso representa!!!) – é propositadamente híbrida.

 

Como convém a quem não tem argumentos para se opor àqueles que defendem, que no quadro político actual – que é de iminente Guerra Imperialista -, os comunistas não podem alimentar ilusões quanto à sua participação na mascarada eleitoral burguesa.

 

E, muito menos, aprisionar a classe operária e restantes escravos assalariados à mística oportunista e pequeno-burguesa da colaboração de classes em que assenta o que remanesce do Pacto MFA/Partidos e muito menos cair na armadilha das frentes populares, ditas anti-fascistas que, em todo o mundo, se têm revelado, precisamente, aliadas das burguesias nacionais que exploram miseravelmente a classe operária, para além de tentarem arregimentá-la como carne para canhão das suas guerras genocídas.

 

Como se afirma no livro escrito por Robert Bibeau e Khider Mesloub “Da Insurreição Popular à Revolução Proletária”:

 

 Segundo os proletários revolucionários, a tarefa da organização de classe é assegurar que o proletariado se organize e tome plena consciência da sua missão histórica, que não é corrigir as injustiças do capitalismo ou travar a destruição do planeta sob o capitalismo. A missão da classe proletária revolucionária é a de criar um novo modo de produção - comunista - que ponha fim à exploração do homem e à alienação do género humano. Em suma, a missão da classe proletária é construir um novo modo de produção que assegure a emancipação do género humano, a satisfação das suas necessidades, a sua reprodução e a sua expansão.

 

Lenine fez desta questão a organização de classe da revolução, o ponto de diferenciação entre a revolução proletária comunista e a crise revolucionária insurreccional sem futuro

 

“A revolução não surge de todas as situações revolucionárias, mas apenas no caso em que, a todas as mudanças objectivas enumeradas, se junta uma mudança subjectiva, a saber: a capacidade, no que diz respeito à classe revolucionária, de levar a cabo acções de massas suficientemente vigorosas para esmagar completamente o velho governo, que nunca cairá, mesmo em tempos de crise, a não ser que seja derrubado.”

 

Não é, pois, amarrar operários e restantes escravos assalariados a sucessivas mascaradas eleitorais, antes das quais – e  porque os domina e manipula inteiramente – a burguesia já “elegeu” quais os candidatos que melhor servem os seus interesses e do modo de produção capitalista que gere e representa e os impõe, sem dó nem piedade, a toda a sociedade. A esse propósito, no supractitado livro da dupla Robert Bibeau/Khider Mesloub, retiro o seguinte:

 

Numa época de revolução proletária e de imperialismo decadente, não é apropriado que os militantes revolucionários acreditem na legitimidade das eleições burguesas, participando nestas mascaradas organizadas pelo capital para desarmar o proletariado material, ideológica e politicamente. Em muitos países, os operários compreenderam instintivamente - contra o conselho da pequena burguesia eleitoral - que estas mascaradas eleitorais não passam de truques em que a voz do proletariado nunca foi e nunca será ouvida. E mesmo que um partido dito proletário tomasse o parlamento dos comerciantes, dos industriais, dos financeiros e dos banqueiros, isso não lhe daria qualquer controlo sobre a polícia, o exército, as universidades, os meios de produção, de comercialização e de comunicação, nem sobre a justiça dos ricos. Todos devem recordar o exemplo chileno (1972). O operário que se abstém de participar nas eleições tem toda a razão em afirmar que não é esse o caminho para a classe proletária abolir o Estado, a propriedade, a exploração e a alienação.

 

Cabe aos militantes revolucionários apreender esta herança e aplicá-la às condições concretas da luta. No entanto, temos de ter cuidado para não nos deixarmos mistificar por novos princípios teóricos supostamente criativos e aplicados a situações supostamente únicas e originais (socialismo de rosto humano, socialismo à chinesa, marxismo-leninismo à albanesa, etc.) ou para falsificar a ciência materialista dialéctica. Há que ter o cuidado de não cair nos meandros do oportunismo, do reformismo, do trotskismo, do revisionismo de velho ou de novo tipo, do nacional-socialismo, do idealismo, da social-democracia, do social-chauvinismo, do cretinismo parlamentar, do titismo, do eurocomunismo, do ecologismo, do mundialismo, do altermundialismo e de toda uma série de contrafacções à esquerda e à direita.”

 

Existe um caminho. O do Internacionalismo Proletário, o da fundação do Partido Comunista Internacionalista. Do artigo do GIGC/Grupo Internacionalista da Esquerda Comunista permito-me destacar o seguinte:

 

“...a esquerda comunista cristaliza a experiência política de militantes e grupos de operários que já reflectiram, enfrentaram, resolveram, discutiram, lutaram contra as grandes questões que se colocam diante do proletariado em luta. Seria irresponsável deixar as gerações mais jovens desarmadas diante de questões políticas já resolvidas pelos grupos da esquerda comunista. A barbárie capitalista não pode durar para sempre.

A existência da esquerda comunista é a demonstração da potencialidade revolucionária do proletariado: ela representa a fracção mais revolucionária da classe operária e nisso reside a sua importância histórica. Agora, não devemos colocar-nos na cauda do movimento por medo de impor os nossos pontos de vista sobre ele, pois não temos o dever de liderá-lo como um general lidera um exército. Devemos, graças à nossa experiência, fertilizar a potencialidade revolucionária latente do proletariado, indicando-lhe "as condições, o curso e os resultados gerais do movimento operário" (Manifesto Comunista).

 

Para, a título de conclusão e síntese afirmar que:

“O período actual é de confrontos massivos entre as classes sociais. Proletariado contra burguesia, tal é a fisionomia da luta de classes na sociedade moderna. Ambos os lados da barricada têm os seus próprios interesses de classe e consciência de classe. O que está em jogo nos próximos confrontos é o comunismo ou o capitalismo, o socialismo ou a barbárie, a revolução ou a guerra.

A Esquerda Comunista é atualmente a única corrente política que se reivindica do proletariado que defende a perspectiva do comunismo contra a barbárie capitalista. Todos os outros falsos amigos do proletariado, esquerdistas de todos os matizes, estão apenas a defender variantes particulares do capitalismo. Eles propõem o "capitalismo com rosto humano": democratismo, anti-fascismo, anti-racismo, municipalismo, cidadania, autogestão, sindicalismo. Essas ideologias negam as principais classes sociais e especialmente o proletariado; eles contribuem para enfraquecer a existência da luta constante deste último na sociedade capitalista e da sua luta final contra ela.”


O volume de Robert Bibeau e Khider Mesloub acaba de ser publicado pela Éditions L'Harmattan em Paris:

"  DA INSURREIÇÃO POPULAR À REVOLUÇÃO PROLETÁRIA ". Colecção Edições Contemporâneas. 220 páginas.

Para encomendar: Da Insurreição Popular à Revolução Proletária – Robert Bibeau, Khider Mesloub


Uma revolução social é um movimento de classe pelo qual a classe dominante de um modo de produção obsoleto é derrubada, a sua infraestrutura económica e material e as suas superestruturas sociais, políticas e ideológicas são destruídas para serem substituídas por um novo modo de produção.

Revolução Francesa foi uma verdadeira revolução social na qual a burguesia derrubou a ordem feudal para estabelecer o modo de produção capitalista (MPC). Da mesma forma, a Revolução Russa derrubou a aristocracia czarista para iniciar a construção da sociedade capitalista estatal soviética . Até hoje, nunca houve uma revolução social proletária vitoriosa na história da humanidade.

Insurreição, revolução social, capitalismo, imperialismo, eleitoralismo burguês, democracia, povo, classe social, luta de classes, marxismo, socialismo, comunismo, internacionalismo, tantos termos que têm sido notícia ao longo dos últimos séculos. Essas expressões foram desvalorizadas pela esquerda , esses falsos amigos do proletariado, e pela direita , esses inimigos declarados da classe proletária.

Desejamos restaurar o significado dialéctico e histórico materialista desses termos para entender melhor o que foram essas revoluções supostamente socialistas, mas certamente não proletárias.

O nosso objectivo final é identificar as condições objectivas e subjetivas da próxima revolução proletária internacionalista.

Para encomendar: Da insurreição popular à revolução proletária – Robert Bibeau, Khider Mesloub .

Sem comentários:

Enviar um comentário