| Privatizar, entregar, leiloar: é nisso que consiste a campanha internacional de María Corina Machado para entregar o país ao capital norte-americano (Foto: Bloomberg) |
O LOBBY DO SAQUE
A AGENDA DE MACHADO PARA VENDER A VENEZUELA PEDAÇO POR
PEDAÇO
19 Nov 2025, 11:20 am.
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María Corina Machado consolidou-se como uma operadora política do capital
norte-americano, dedicada a promover a entrega dos recursos estratégicos da
Venezuela aos grandes centros financeiros e corporativos do mundo ocidental.
A sua actividade pública centra-se na participação em fóruns empresariais e
conferências internacionais, onde apresenta o país como um território aberto ao
investimento estrangeiro, em troca de apoio político e visibilidade mediática.
Nas últimas semanas, essa projecção internacional foi impulsionada pelo seu
Prémio Nobel da Paz e pelos convites para espaços de alto perfil nos Estados
Unidos e na Europa, onde insiste na liberalização total da economia venezuelana
e na venda de activos nacionais como vias de «reconstrução».
Mas por trás da linguagem tecnocrática e dos eufemismos de modernização, o
que Machado está a apresentar é um plano de saque sistemático, concebido para
que o capital estrangeiro se aproprie directamente da riqueza energética,
mineira e territorial do país sob o manto da «transição democrática».
O seu discurso coincide com uma nova fase de agressão de Washington contra
a Venezuela e a região, que combina acções militares encobertas no Caribe com
uma campanha de criminalização enquadrada na suposta luta contra o
narcotráfico.
Nesse contexto, a
narrativa de Machado sobre abertura, privatização e «confiança para os
investidores» faz parte da arquitectura de poder que os Estados Unidos estão a implementar
para retomar o controlo sobre o mapa energético venezuelano.
TERRA DE GRAÇA: A ARQUITECTURA ECONÓMICA DO
DESPOJAMENTO
O plano «Venezuela Terra de Graça», apresentado durante
a campanha eleitoral presidencial de 2024, é o documento que resume com maior
precisão a visão económica que María Corina Machado e a sua equipa apresentam
às organizações internacionais e aos investidores estrangeiros. Sob a promessa
de «recuperar a produtividade» e «reinserir a Venezuela no mercado mundial», o
texto traça um caminho para o desmantelamento do Estado e a entrega do
património nacional aos centros financeiros internacionais.
O programa assenta em três eixos principais:
1. Redução do Estado sob o
eufemismo de «optimizar o seu tamanho», o que na prática significa a eliminação
de subsídios, políticas sociais e programas de protecção que garantem direitos
básicos.
2. Endividamento controlado por organismos multilaterais como o FMI, o
Banco Mundial e agências bilaterais de crédito, o que equivale a hipotecar a
política económica e financeira do país perante os ditames do sistema
financeiro internacional.
3. Privatização em massa de
empresas e activos públicos, particularmente nos sectores petrolífero,
gasífero, eléctrico e mineiro, amputando o Estado das suas principais fontes de
receita e soberania económica.
Embora o discurso
oficial do plano apele a conceitos como eficiência, modernização e estabilidade
macro-económica, a sua estrutura reproduz os mesmos mecanismos de ajustamento
estrutural aplicados pelo Fundo Monetário Internacional na América Latina
durante os anos 90: redução da despesa pública, privatização do sector
energético e liberalização do mercado de trabalho. Em termos históricos,
representa uma restauração do modelo neo-liberal clássico, actualizado para a
fase predatória actual do grande capital norte-americano.
O resultado previsível
desse modelo é a consolidação de uma economia extractiva dependente, orientada
para a exportação de matérias-primas e subordinada aos interesses do capital
financeiro ocidental. Propõe-se uma abertura irrestrita, na qual as empresas
transnacionais assumiriam o controlo directo das principais fontes de riqueza
do país: petróleo, gás, minerais, electricidade e infraestrutura logística.
O componente mais
alarmante do documento é a sua visão do Estado como um mero administrador
passivo, cuja função se limitaria a garantir «segurança jurídica» aos
investidores. Em síntese, «Tierra de Gracia» é um roteiro para a reinserção
subordinada da Venezuela na ordem neo-liberal pró-americana.
DOS MIL MILHÕES DE DÓLARES AO LOBBY ENERGÉTICO
INTERNACIONAL
Após a publicação do plano «Tierra de Gracia», María Corina Machado
aprofundou a sua estratégia de promoção internacional da pilhagem através de
uma série de fóruns e encontros com organismos ligados ao poder financeiro e
energético dos Estados Unidos.
Um dos mais emblemáticos foi a sua intervenção, em Junho de 2025, perante o
Council of the Americas (AS/COA), um consórcio criado por David Rockefeller na
década de 1960, historicamente associado ao Departamento de Estado e às grandes
corporações do hemisfério.
Nessa sessão, apresentada como “A oportunidade dos mil
milhões de dólares”, Machado delineou perante uma audiência de banqueiros e executivos
petrolíferos um plano de 15 anos para mobilizar 1,7 mil milhões de dólares em
investimentos estrangeiros, centrados em energia, mineração, terras agrícolas e
água doce. No seu discurso, ofereceu a privatização total da PDVSA, a abertura
das reservas de petróleo e gás ao capital estrangeiro e a venda de milhões de
hectares falsamente classificados como «terras não desenvolvidas».
O núcleo dessa proposta foi concebido dentro do Grupo de Trabalho da
Venezuela do próprio AS/COA, integrado por assessores de Machado,
ex-funcionários do «interinato Guaidó» e representantes de ONGs e redes
empresariais como Cedice Libertad et al. Esse espaço funciona como uma
plataforma de lobby corporativo, articulando antigos operadores do projecto
Guaidó com petrolíferas e fundos de investimento que procuram reingressar no
mercado venezuelano sob a tutela de Washington. A líder apresentou-se, na
prática, como a intermediária civil dessa operação económica.
Apenas alguns meses antes, em Março de 2025, Machado
havia aparecido em vídeo na CERAWeek, uma conferência anual de grande
importância na indústria energética mundial, organizada pela S&P Global no
Texas. Lá, ela ratificou a sua proposta de entregar a indústria petrolífera
venezuelana à gestão privada, garantindo “plenos direitos de propriedade” às
transnacionais e “segurança jurídica” para seus investimentos.
Prometeu também incentivos fiscais e leilões de campos petrolíferos a
empresas americanas, alinhando-se abertamente com a nova doutrina energética de
Washington, que, sob a administração Trump, procura reconsolidar o domínio dos
Estados Unidos na produção e exportação mundial de hidrocarbonetos.
Do seu púlpito, Machado projecta o mesmo plano que Washington procura
executar com sanções e bloqueios, transformando a política numa ferramenta para
facilitar o acesso das empresas norte-americanas ao subsolo venezuelano.
Até mesmo economistas
da oposição alertaram para o alcance dessa entrega. O especialista em petróleo
Rafael Quiroz afirmou que «a venda da nossa
empresa petrolífera só beneficiará os grupos económicos bem posicionados dentro
e fora do país» e que a proposta «atenta contra a soberania nacional».
O capital
transnacional não precisa hoje de um governo aliado em Caracas: basta contar
com porta-vozes locais que validem a sua lógica de desapropriação nos fóruns
internacionais. Machado assumiu esse papel com precisão; a sua voz serve como
garantia política perante os fundos, as petrolíferas e os organismos
multilaterais de que a Venezuela pode ser reaberta à pilhagem sob novas formas
legais e mediáticas.
UMA OFENSIVA SUSTENTADA SOB A FACHADA INSTITUCIONAL
Enquanto Washington tenta reorganizar a sua influência na América Latina
através de sanções, operações militares nas Caraíbas e campanhas mediáticas de
criminalização, desenvolve-se paralelamente uma ofensiva discursiva que procura
naturalizar a dependência venezuelana, incorporando-a novamente no circuito de
domínio energético do Norte Global.
María Corina Machado, com o aval simbólico de prémios e fóruns internacionais,
empresta rosto e linguagem a essa estratégia, oferecendo a Venezuela como zona
económica de exploração sob tutela estrangeira.
Essa dinâmica não visa uma eventual conquista do poder interno, que hoje se
mostra inviável, mas sim manter aberta a brecha de legitimidade, necessária
para justificar a pressão internacional sobre o país e sustentar a narrativa de
«transição pendente».
A partir dessa posição, pretende-se minar o princípio da soberania, corroer
a capacidade do Estado venezuelano de administrar os seus recursos e perpetuar
o cerco económico e político sob novos formatos.
O verdadeiro perigo
está na estrutura de interesses que sustenta as declarações de Machado:
corporações energéticas, think tanks
financeiros e organismos multilaterais que servem de plataforma indirecta para
a política externa dos Estados Unidos.
O seu discurso é apenas o eco imperial de uma ofensiva mais ampla, que procura reconfigurar a América Latina como um espaço de reserva energética e controlo geo-económico, com a Venezuela como epicentro.
— Somos uM grupo de investigadores independentes
dedicados a analizar O procesSo de guerra contra A Venezuela E AS suAs implicaÇÕES
globaIS. Desde O princÍpio O nOSSO contEÚDO TEM sido de uso liVre. Dependemos
de DOAÇÕES E colaboraÇÕES para SUSTENTAR este proJecto, sE deseJas contribuir
coM Misión Verdad pOdes FAZÊ-LO aquI<
Fonte: La agenda de Machado para vender Venezuela pieza por pieza | Misión Verdad
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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