quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A AGENDA DE MACHADO PARA VENDER A VENEZUELA PEDAÇO POR PEDAÇO

 

Privatizar, entregar, leiloar: é nisso que consiste a campanha internacional de María Corina Machado para entregar o país ao capital norte-americano (Foto: Bloomberg)

O LOBBY DO SAQUE

A AGENDA DE MACHADO PARA VENDER A VENEZUELA PEDAÇO POR PEDAÇO

19 Nov 2025, 11:20 am.

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María Corina Machado consolidou-se como uma operadora política do capital norte-americano, dedicada a promover a entrega dos recursos estratégicos da Venezuela aos grandes centros financeiros e corporativos do mundo ocidental.

A sua actividade pública centra-se na participação em fóruns empresariais e conferências internacionais, onde apresenta o país como um território aberto ao investimento estrangeiro, em troca de apoio político e visibilidade mediática.

Nas últimas semanas, essa projecção internacional foi impulsionada pelo seu Prémio Nobel da Paz e pelos convites para espaços de alto perfil nos Estados Unidos e na Europa, onde insiste na liberalização total da economia venezuelana e na venda de activos nacionais como vias de «reconstrução».

Mas por trás da linguagem tecnocrática e dos eufemismos de modernização, o que Machado está a apresentar é um plano de saque sistemático, concebido para que o capital estrangeiro se aproprie directamente da riqueza energética, mineira e territorial do país sob o manto da «transição democrática».

O seu discurso coincide com uma nova fase de agressão de Washington contra a Venezuela e a região, que combina acções militares encobertas no Caribe com uma campanha de criminalização enquadrada na suposta luta contra o narcotráfico.

Nesse contexto, a narrativa de Machado sobre abertura, privatização e «confiança para os investidores» faz parte da arquitectura de poder que os Estados Unidos estão a implementar para retomar o controlo sobre o mapa energético venezuelano.

TERRA DE GRAÇA: A ARQUITECTURA ECONÓMICA DO DESPOJAMENTO

O plano «Venezuela Terra de Graça», apresentado durante a campanha eleitoral presidencial de 2024, é o documento que resume com maior precisão a visão económica que María Corina Machado e a sua equipa apresentam às organizações internacionais e aos investidores estrangeiros. Sob a promessa de «recuperar a produtividade» e «reinserir a Venezuela no mercado mundial», o texto traça um caminho para o desmantelamento do Estado e a entrega do património nacional aos centros financeiros internacionais.

O programa assenta em três eixos principais:

1.         Redução do Estado sob o eufemismo de «optimizar o seu tamanho», o que na prática significa a eliminação de subsídios, políticas sociais e programas de protecção que garantem direitos básicos.

2. Endividamento controlado por organismos multilaterais como o FMI, o Banco Mundial e agências bilaterais de crédito, o que equivale a hipotecar a política económica e financeira do país perante os ditames do sistema financeiro internacional.

3.    Privatização em massa de empresas e activos públicos, particularmente nos sectores petrolífero, gasífero, eléctrico e mineiro, amputando o Estado das suas principais fontes de receita e soberania económica.

Embora o discurso oficial do plano apele a conceitos como eficiência, modernização e estabilidade macro-económica, a sua estrutura reproduz os mesmos mecanismos de ajustamento estrutural aplicados pelo Fundo Monetário Internacional na América Latina durante os anos 90: redução da despesa pública, privatização do sector energético e liberalização do mercado de trabalho. Em termos históricos, representa uma restauração do modelo neo-liberal clássico, actualizado para a fase predatória actual do grande capital norte-americano.

O resultado previsível desse modelo é a consolidação de uma economia extractiva dependente, orientada para a exportação de matérias-primas e subordinada aos interesses do capital financeiro ocidental. Propõe-se uma abertura irrestrita, na qual as empresas transnacionais assumiriam o controlo directo das principais fontes de riqueza do país: petróleo, gás, minerais, electricidade e infraestrutura logística.

O componente mais alarmante do documento é a sua visão do Estado como um mero administrador passivo, cuja função se limitaria a garantir «segurança jurídica» aos investidores. Em síntese, «Tierra de Gracia» é um roteiro para a reinserção subordinada da Venezuela na ordem neo-liberal pró-americana.

DOS MIL MILHÕES DE DÓLARES AO LOBBY ENERGÉTICO INTERNACIONAL

Após a publicação do plano «Tierra de Gracia», María Corina Machado aprofundou a sua estratégia de promoção internacional da pilhagem através de uma série de fóruns e encontros com organismos ligados ao poder financeiro e energético dos Estados Unidos.

Um dos mais emblemáticos foi a sua intervenção, em Junho de 2025, perante o Council of the Americas (AS/COA), um consórcio criado por David Rockefeller na década de 1960, historicamente associado ao Departamento de Estado e às grandes corporações do hemisfério.

Nessa sessão, apresentada como “A oportunidade dos mil milhões de dólares”, Machado delineou perante uma audiência de banqueiros e executivos petrolíferos um plano de 15 anos para mobilizar 1,7 mil milhões de dólares em investimentos estrangeiros, centrados em energia, mineração, terras agrícolas e água doce. No seu discurso, ofereceu a privatização total da PDVSA, a abertura das reservas de petróleo e gás ao capital estrangeiro e a venda de milhões de hectares falsamente classificados como «terras não desenvolvidas».

O núcleo dessa proposta foi concebido dentro do Grupo de Trabalho da Venezuela do próprio AS/COA, integrado por assessores de Machado, ex-funcionários do «interinato Guaidó» e representantes de ONGs e redes empresariais como Cedice Libertad et al. Esse espaço funciona como uma plataforma de lobby corporativo, articulando antigos operadores do projecto Guaidó com petrolíferas e fundos de investimento que procuram reingressar no mercado venezuelano sob a tutela de Washington. A líder apresentou-se, na prática, como a intermediária civil dessa operação económica.

Apenas alguns meses antes, em Março de 2025, Machado havia aparecido em vídeo na CERAWeek, uma conferência anual de grande importância na indústria energética mundial, organizada pela S&P Global no Texas. Lá, ela ratificou a sua proposta de entregar a indústria petrolífera venezuelana à gestão privada, garantindo “plenos direitos de propriedade” às transnacionais e “segurança jurídica” para seus investimentos.

Prometeu também incentivos fiscais e leilões de campos petrolíferos a empresas americanas, alinhando-se abertamente com a nova doutrina energética de Washington, que, sob a administração Trump, procura reconsolidar o domínio dos Estados Unidos na produção e exportação mundial de hidrocarbonetos.

Do seu púlpito, Machado projecta o mesmo plano que Washington procura executar com sanções e bloqueios, transformando a política numa ferramenta para facilitar o acesso das empresas norte-americanas ao subsolo venezuelano.

Até mesmo economistas da oposição alertaram para o alcance dessa entrega. O especialista em petróleo Rafael Quiroz afirmou que «a venda da nossa empresa petrolífera só beneficiará os grupos económicos bem posicionados dentro e fora do país» e que a proposta «atenta contra a soberania nacional».

O capital transnacional não precisa hoje de um governo aliado em Caracas: basta contar com porta-vozes locais que validem a sua lógica de desapropriação nos fóruns internacionais. Machado assumiu esse papel com precisão; a sua voz serve como garantia política perante os fundos, as petrolíferas e os organismos multilaterais de que a Venezuela pode ser reaberta à pilhagem sob novas formas legais e mediáticas.

UMA OFENSIVA SUSTENTADA SOB A FACHADA INSTITUCIONAL

Enquanto Washington tenta reorganizar a sua influência na América Latina através de sanções, operações militares nas Caraíbas e campanhas mediáticas de criminalização, desenvolve-se paralelamente uma ofensiva discursiva que procura naturalizar a dependência venezuelana, incorporando-a novamente no circuito de domínio energético do Norte Global.

María Corina Machado, com o aval simbólico de prémios e fóruns internacionais, empresta rosto e linguagem a essa estratégia, oferecendo a Venezuela como zona económica de exploração sob tutela estrangeira.

Essa dinâmica não visa uma eventual conquista do poder interno, que hoje se mostra inviável, mas sim manter aberta a brecha de legitimidade, necessária para justificar a pressão internacional sobre o país e sustentar a narrativa de «transição pendente».

A partir dessa posição, pretende-se minar o princípio da soberania, corroer a capacidade do Estado venezuelano de administrar os seus recursos e perpetuar o cerco económico e político sob novos formatos.

O verdadeiro perigo está na estrutura de interesses que sustenta as declarações de Machado: corporações energéticas, think tanks financeiros e organismos multilaterais que servem de plataforma indirecta para a política externa dos Estados Unidos.

O seu discurso é apenas o eco imperial de uma ofensiva mais ampla, que procura reconfigurar a América Latina como um espaço de reserva energética e controlo geo-económico, com a Venezuela como epicentro.

— Somos uM grupo de investigadores independentes dedicados a analizar O procesSo de guerra contra A Venezuela E AS suAs implicaÇÕES globaIS. Desde O princÍpio O nOSSO contEÚDO TEM sido de uso liVre. Dependemos de DOAÇÕES E colaboraÇÕES para SUSTENTAR este proJecto, sE deseJas contribuir coM Misión Verdad pOdes FAZÊ-LO aquI<

 

Fonte: La agenda de Machado para vender Venezuela pieza por pieza | Misión Verdad

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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