A criação de um inimigo muçulmano interno faz parte da
marcha do Capital rumo à guerra.
29 de Novembro de 2025 Robert Bibeau
Não é a consciência dos
homens que determina a sua
existência, é pelo contrário a sua
existência social que determina
a sua consciência
Karl Marx
Por Khider Mesloub e Robert Bibeau .
A recente publicação da pesquisa do IFOP sobre
" Islão e islamismo entre muçulmanos na
França "
serve como um lembrete de que a França burguesa está a acelerar os seus
preparativos para a guerra. A guerra implica uma sagrada unidade nacional.
Patriotismo vernáculo, chauvinista e reaccionário. Homogeneização do pensamento
popular. Unificação das organizações políticas burguesas, tanto de esquerda
quanto de direita.
No entanto, os franceses, e os imigrantes
muçulmanos em particular, são suspeitos de formar uma quinta coluna devido à
sua recusa em aderir a "valores republicanos burgueses, chauvinistas e
ossificados" (sic). Em suma, devido à sua insubordinação à ideologia
burguesa dominante e à sua insubordinação política ao capital dominante.
O próprio título do relatório – “ Situação actual da relação dos muçulmanos com o Islão e o islamismo na
França: entre a reislamização e a tentação islamista ” – ilustra essa
acusação de traição aos valores republicanos burgueses reaccionários e
chauvinistas, dirigida principalmente – mas não exclusivamente – aos franceses
e aos imigrantes de fé muçulmana.
Assim, este relatório
transforma uma parte do proletariado resultante de migrações pós-coloniais numa
população suspeita… suspeita de não se submeter à exploração pela classe dominante
francesa de origem.
Qual o propósito de divulgar este relatório, que pretende medir o nível de ortodoxia religiosa e doutrinação política "islamista", senão o de semear suspeitas e divisões sobre esses muçulmanos franceses acusados de falta de lealdade nacionalista chauvinista?
O comentário final de François Kraus , director da divisão de política e actualidades
do IFOP , confirma essa
acusação de quebra de lealdade nacional, chauvinista e vernacular dirigida aos
muçulmanos franceses: " O estudo mostra uma
reislamização duradoura " (sic), " um fortalecimento do rigorismo " (sic), " uma tentação islamista geracional " (sic). Noutras palavras,
François Kraus critica os franceses de religião muçulmana por serem demasiado
muçulmanos, por permanecerem invariavelmente muçulmanos de geração em geração.
Estamos perante um discurso político verdadeiramente racista e não uma
descrição sociológica dos resultados de uma sondagem... aliás tendenciosa.
A elaboração desta sondagem, baseada em comparações históricas anacrónicas, omissões metodológicas e uma amostragem problemática, visa sobretudo um objectivo belicoso e militarista: a produção de um inimigo interno de que o Estado capitalista francês necessita para justificar e reforçar a sua governação totalitária, para não dizer fascista... e preparar a plebe proletária para trocar as suas botas de trabalho por botas de trincheira.
De facto, num momento em que a França imperialista se prepara para conduzir guerras externas de «alta intensidade», em que a crise do capital francês atinge um limiar de decomposição irreversível, a burguesia precisa de uma bandeira externa para construir a união sagrada para a guerra e de um culpado interno para construir a união patriótica reaccionária, e para a propagação do medo, ampliar a vigilância e reforçar a disciplina fascista.
Assim, na realidade, a ofensiva contra os
franceses e imigrantes de religião muçulmana insere-se na dinâmica belicista da
marcha forçada para a guerra. Ora, a burguesia francesa está consciente de que
os proletários muçulmanos são instintivamente refractários, opostos a qualquer
alistamento. Por outras palavras, eles estão comprometidos com uma lógica de
«objecção de consciência». Para a burguesia, essa franja da população corre o
risco de comprometer o seu projecto de guerra total.
É preciso, portanto, começar a criminalizá-la desde já para justificar, no momento oportuno, o confinamento em campos de concentração de milhares de indivíduos designados como «perigosos para o Estado», internados para servir de exemplo e, em seguida, acusados para justificar a sua expulsão do território francês, onde a maioria deles nasceu.
É
evidente que o estudo do IFOP surge em boa hora. Ele fornece «cientificamente»
(sic) o material para reforçar a vigilância, legitimar leis de excepção,
designar uma parte da população como suspeita, desviar a ira popular da crise
económica abjecta, reconfigurar o conflito económico e social de classe entre
proletários-trabalhadores e burgueses parasitas em torno de um eixo cultural,
confessional e moral.
No entanto, embora revele a existência de um fenómeno de islamização da França, este estudo erra na explicação do aumento do islamismo e de outras modas religiosas. Se há ascensão do islamismo, incluindo as suas correntes ultra-conservadoras ou reaccionárias, ela é imputável à decomposição do tecido sociológico e moral do Estado francês, ao colapso da sua economia, à explosão da sua dívida, ao seu declínio comercial; em suma, à alienação das capacidades de valorização do capital da sua classe capitalista nacionalista.
A ascensão da imoralidade religiosa, incluindo o islamismo, mas também o cristianismo, o judaísmo, etc. em França, é o efeito dessa decomposição da entidade política francesa sob os golpes do mundialismo desenfreado e não a sua causa. Está correlaccionada com a destruição das organizações operárias, a relegação dos bairros populares, o vazio político total, a decadência cultural francesa, o aumento do racismo anti-árabe e anti-eslavo, a ausência de valores humanistas unificadores e mobilizadores, a ausência de projectos sociais emancipadores e de uma perspectiva revolucionária libertadora que só a classe proletária saberá um dia propor.
O islamismo político cresceu no terreno fértil da decomposição da sociedade francesa. É o irmão siamês e, no entanto, rival do populismo ocidental, do identitarismo cristão, do supremacismo judaico-sionista, do fascismo totalitário mundialista, todas essas ideologias imundas geradas pelo capitalismo decadente.
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice

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