segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Lançamento do livro: «Georges Ibrahim Abdallah: O prisioneiro de Lannemezan, um homem de princípios»

 


Lançamento do livro: «Georges Ibrahim Abdallah: O prisioneiro de Lannemezan, um homem de princípios»

 

René NABA / 10 de novembro de 2025  / in Mídia


« Georges Ibrahim Abdallah, o prisioneiro de Lannemezan, um homem de princípios » será lançado a 24 de Outubro de 2025, por ocasião do 41.º aniversário da detenção do militante comunista libanês pró-palestiniano, em Lyon, a 24 de Outubro de 1984, onde ele entrou numa esquadra para pedir protecção contra agentes da Mossad que o perseguiam. Ele foi então detido por posse de um passaporte argelino falso em nome de Abdelkader Saadi.


Esta obra, intitulada «Georges Ibrahim Abdallah, o prisioneiro de Lannemezan, um homem de princípios», é o relato de uma manifesta negação dos direitos humanos na «Pátria dos Direitos do Homem», um caso emblemático da paralisia do debate público em França devido à colaboração do regime de Vichy com a Alemanha nazi. O julgamento deste militante foi considerado por muitos observadores, devido às suas graves e repetidas derrapagens, como «o caso Dreyfus do século XX».

Como um pavio de combustão lenta, o caso Georges Ibrahim Abdallah carboniza insidiosamente, mas com segurança, a relação entre a França e o Líbano.

Executora zelosa das ordens americanas na prisão abusiva do agora decano dos prisioneiros políticos no mundo, a França ver-se-á envergonhada, objecto de riso universal, em 2021, ao ser expulsa do mercado naval australiano; ELLA, rebaixada pelos seus aliados da OTAN ao status de potência média.

Que esta afronta lhe sirva de lição, guardando cuidadosamente na memória a regra fundamental das relações de força internacionais, segundo a qual a ingratidão é a lei suprema dos povos para a sua sobrevivência; e a servilidade, o caminho mais curto para a desonra.

O autor renunciou aos seus direitos autorais. A totalidade das receitas geradas pela comercialização desta obra será destinada a duas organizações: «Car T’y es Libre», da qual o signatário deste texto é presidente honorário, e «Collectif Palestine Martigues».

Esta obra constitui um testemunho do autor e dos seus editores — CGT Martigues, «Rouge Midi», «Car T’y es Libre» e «Comité Palestine de Martigues» –, a Georges Ibrahim Abdallah, um ser inflexível, de coragem indomável, de vontade inabalável, cujas sólidas convicções políticas serviram de combustível para a sua luta contra a arbitrariedade do poder francês nas suas duas variantes pós-gaullista e socialista.

Que este militante cristão maronita libanês seja, pela sua transcendência simbiótica, pró-comunista e pró-palestiniano, as duas principais fobias da liderança cristã do Líbano e dos países ocidentais, constitui uma afronta retumbante aos defensores do sectarismo, do chauvinismo e da xenofobia, males que gangrenam tanto o Líbano como o mundo ocidental... Com destaque para a aliança entre a extrema direita europeia e Israel: uma impostura moral da aliança dos descendentes das vítimas do genocídio hitleriano com os herdeiros espirituais dos seus antigos carrascos.

Que o exemplo deste belo herói contemporâneo permaneça gravado na memória dos povos que lutam pela sua liberdade e dignidade. E que a sua resistência obstinada e determinação inflexível reabilitem em toda a sua nobreza a noção de luta política e sirvam de estímulo para as gerações futuras.

Em 17 de Julho de 2025, durante uma audiência não pública, o Tribunal de Recurso de Paris ordenou a libertação condicional de Georges Ibrahim Abdallah e a sua expulsão para o Líbano, em 25 de Julho.

Com 74 anos, o antigo militante das Fracções Armadas Revolucionárias Libanesas (FARL) teve uma semana para esvaziar a sua cela em Lannemezan (Altos Pirenéus), onde se acumularam ao longo de décadas cartas de apoio, bandeiras e cartazes com a efígie do líder revolucionário latino-americano Ernesto Che Guevara de la Serna.

Transportado por avião militar para Paris, foi colocado num centro de detenção antes de apanhar um voo para Beirute, onde foi entregue às autoridades libanesas.

Detido em 1984 e condenado à prisão perpétua em 1987 por cumplicidade nos assassinatos terroristas de Charles R. Ray, adido militar adjunto americano, e Yacov Barsimentov, segundo secretário da embaixada de Israel, ambos mortos pelas FARL em 1982 em Paris,

Georges Ibrahim Abdallah sempre se declarou inocente desses dois atentados. Mas também sempre assumiu a responsabilidade política por eles, qualificando-os de «actos de resistência» contra «a opressão israelita e americana».

Nascido a 2 de Abril de 1951 em Kobayat (norte do Líbano), o militante comunista libanês pró-palestiniano é considerado o líder da Fracção Armada Revolucionária Libanesa (FARL) em França. Preso em 1984, cumpre desde 1987 uma pena de prisão perpétua por cumplicidade no assassinato dos dois diplomatas acima mencionados.

Em Abril de 1984, a polícia francesa descobriu um esconderijo de armas num refúgio parisiense, incluindo uma pistola calibre 7,65 de fabrico checo, 25 quilos de explosivos, foguetes, metralhadoras e outras armas. Testes determinaram que a pistola era realmente a arma usada para assassinar Charles Ray e Yacov Barsimantov em 1982.

Mas a única prova incriminatória contra Georges Ibrahim Abdallah era um corrector com as suas impressões digitais. A acusação de Georges Ibrahim Abdallah foi, portanto, feita por extrapolação. Veja a este respeito o relato do nosso colega Jacques Marie Bourget.

 

https://blogs.mediapart.fr/jacques-marie-bourget/blog/051024/quand-le-monde-soutient-gi-abdallah-comme-la-corde-le-pendu

Georges Ibrahim Abdallah estava apto para ser libertado desde 1999.

A sua prisão fica em Lannemezan (Altos Pirenéus), uma vila de 5.000 habitantes. O seu número de registo em Lannemezan é o n.º 2388/A221. É considerado o prisioneiro político mais antigo da Europa. Desde a sua prisão, apresentou 12 pedidos de libertação.

Em 2013, a justiça francesa validou em recurso o seu pedido de liberdade condicional. Mas Manuel Valls, na altura ministro socialista do Interior, impediu a sua libertação.

A audiência de 19 de Junho de 2025 foi um tanto grotesca.

«Eu disse aos juízes que ou o libertavam ou o condenavam à morte», declarou o seu advogado, Jean-Louis Chalanset, aos meios de comunicação à saída da audiência, que não foi pública.

Em relação a este último pedido, o tribunal adiou em Fevereiro e à última hora a sua decisão, explicando que, antes de qualquer libertação, era necessário «pré-requisito» que ele fizesse um «esforço significativo» para indemnizar as partes civis, o que ele sempre se recusou a fazer.

Sem reconhecer o seu envolvimento nos assassinatos, Georges Ibrahim Abdallah sempre os qualificou como «acto de resistência» contra «a opressão israelita e americana» no contexto da guerra civil libanesa e da invasão israelita ao sul do Líbano em 1978.

Na audiência, o seu advogado, Jean-Louis Chalanset, transmitiu ao tribunal documentos que indicavam a presença na conta de Georges Abdallah na prisão de uma quantia «de cerca de 16 000 euros», «à disposição das partes civis, caso estas solicitem o pagamento». Sem especificar a origem do dinheiro nem se pronunciar sobre a posição do seu cliente.

Segundo o advogado Chalanset, o Ministério Público e o advogado da parte civil, que se opõem à sua libertação, consideraram que não havia «nenhum esforço», uma vez que «não é o seu dinheiro» e que não havia «arrependimento». «Lembrei que o conceito de arrependimento não existe no direito francês», prosseguiu o advogado Chalanset.

Para grande desgosto do renegado Manuel Valls, a figura mais hedionda da política francesa e espanhola, a encarnação perfeita do socialismo degenerativo e, consequentemente, da decadência do socialismo francês.



Índice

·         Prólogo

·         Capítulo I: Líbano: Reconciliação impossível?
Enquadramento: As relações especiais entre Israel e a Igreja Maronita com a versão em inglês do tratado como adenda.

·         Capítulo II - O Julgamento de Georges Ibrahim Abdallah contra o Estado Francês
René Naba História Final

·         Capítulo III - Georges Ibrahim Abdallah: Não negociarei a minha inocência. Não vou desistir da minha posição.

·         Capítulo IV – A Lição de Coragem e Dignidade de Georges Ibrahim Abdallah

·         Capítulo V – O quotidiano de Georges Ibrahim Abdallah em Lannemezan: visita ao pavilhão da prisão de Gilbert Hanna

·         Capítulo VI - A Palestina, a Bússola; Georges Habache, líder da FPLP, a referência.

·         Capítulo VII: Manuel Valls: "No Pasaran": Um "poodle" de Hillary Clinton, preso pela sua psicorigidez.

·         Capítulo VIII – Laurent Fabius: Da pole position ao carro vassoura, uma ilustração caricatural da diplomacia francesa.

·         Capítulo IX - Laurent Fabius, o pequeno operador de telégrafo dos israelitas nas negociações internacionais sobre o programa nuclear iraniano.

·         Capítulo X - Hillary Clinton queimou-se na fogueira das suas vaidades.

·         Capítulo XI – François Hollande: A rendição em campo aberto do furacão da guerra da Síria.

·         Capítulo XII – Nicolas Sarkozy: crónica de uma rejeição anunciada.

·         Capítulo XIII: O calendário como uma função traumática

·         Epílogo: O Caso Georges Ibrahim Abdallah, um fusível de queima lenta que insidiosamente carboniza a relação entre a França e o Líbano.

Apêndice documental

Anexo 1 – Uma vez«terrorista», terrorista para sempre? Por Pierre Carles

Para agradar aos Estados Unidos, a prisão perpétua de Georges Ibrahim Abdallah

 

 Director do site https://www.madaniya.info/, ex-responsável pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da Agência France Presse, René Naba é autor, nomeadamente, do livro «Du bougnoule au sauvageon, voyage dans l’imaginaire français» (Éditions l’Harmattan 2002), «L'Arabie Saoudite, un Royaume des ténèbres» (Golias 2013) e «L'ingérence humanitaire et ses dérives» (Golias 2017).

René Naba

Jornalista-escritor, ex-chefe do mundo árabe e muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois assessor do director-geral da RMC Médio Oriente, chefe de informação, membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo de Direitos Humanos e da Associação de Amizade Euro-Árabe. De 1969 a 1979, foi correspondente rotativo no escritório regional da Agence France-Presse (AFP) em Beirute, onde cobriu a guerra civil jordaniano-palestiniana, o "Setembro Negro" de 1970, a nacionalização de instalações petrolíferas no Iraque e na Líbia (1972), uma dúzia de golpes de Estado e sequestros de aviões, bem como a Guerra do Líbano (1975-1990) a 3ª guerra árabe-israelita de Outubro de 1973, as primeiras negociações de paz egípcio-israelitas na Mena House Cairo (1979). De 1979 a 1989, foi responsável pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois assessor do director-geral da RMC Médio Oriente, encarregado da informação, de 1989 a 1995. Autor de "Arábia Saudita, um reino das trevas" (Golias), "De Bougnoule a selvagem, uma viagem ao imaginário francês" (Harmattan), "Hariri, de pai para filho, empresários, primeiros-ministros" (Harmattan), "As revoluções árabes e a maldição de Camp David" (Bachari), "Media e democracia, a captura do imaginário, um desafio do século XXI" (Golias). Desde 2013, ele é membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo de Direitos Humanos (SIHR), com sede em Genebra. Ele também é vice-presidente do Centro Internacional Contra o Terrorismo (ICALT), Genebra; Presidente da instituição de caridade LINA, que opera nos bairros do norte de Marselha, e Presidente Honorário do 'Car tu y es libre', (Bairro Livre), trabalhando para a promoção social e política das áreas periurbanas do departamento de Bouches du Rhône, no sul da França. Desde 2014, é consultor do Instituto Internacional para a Paz, Justiça e Direitos Humanos (IIPJDH), com sede em Genebra. Desde 1 de setembro de 2014, é responsável pela coordenação editorial do site https://www.madaniya.info  e apresentador de uma coluna semanal na Radio Galère (Marselha), às quintas-feiras, das 16h às 18h.

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Fonte: Parution de l’ouvrage : "Georges Ibrahim Abdallah : L’emmuré de Lannemezan, un homme debout" - Madaniya

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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