Derrota das cliques
eleitorais em França (Mesloub)
14 de Novembro de 2025 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub
França: os excessos do
"barragismo" eleitoral e do "entravismo" presidencial levam
ao confusionismo burguês.
Como escrevemos no nosso artigo no dia
seguinte à dissolução da Assembleia Nacional no Verão de 2024, nos últimos
anos, a burguesia francesa, através do extremismo de centro, esta postura de
extremo centro que se refere a uma intolerância a tudo o que não se encaixa no
seu centro arbitrariamente decretado, a fim de evitar qualquer alternância
genuína susceptível de levar a RN ou a LFI ao poder , emprega a estratégia do
" barragismo " dos
lacaios dos extremos (sic).
Na
França, o barragismo é esse movimento reaccionário
erguido eleitoralmente pela camarilha governamental predatória para impedir que
um partido reaccionário vença as eleições legislativas ou presidenciais na
segunda volta.
O barragismo, um movimento eleitoral
interclassista impulsivo e intempestivo, surge em todas as eleições em que o
partido de extrema-direita francês, o Rassemblement National, e agora a LFI,
conquista uma vitória expressiva na primeira volta.
Este movimento político burguês e reaccionário – tanto de esquerda quanto de direita – é, de facto, desencadeado por cada derrota eleitoral presidencial ou legislativa sofrida por perdedores ressentidos, tanto da direita quanto da esquerda, esses auto-proclamados liberais extremistas-centristas, defensores da República burguesa francesa, determinados a agarrar-se ao poder para preservar os seus privilégios, as suas sinecuras e os seus rendimentos governamentais, parlamentares, institucionais e políticos.
Os protagonistas do movimento barragista,
todos membros de partidos institucionais e líderes governamentais
estabelecidos, lutam, portanto, para impedir, inclusive através de manobras
fraudulentas e negociações secretas, que o partido de extrema-direita (RN) ou
de extrema-esquerda (LFI) em disputa concretize a vitória obtida na primeira volta,
seja no Palácio do Eliseu ou no Parlamento.
Essas manobras enganosas e negociações secretas, engendradas pelo bloco governante e seus partidos institucionais afiliados, apoiados pelos seus aliados intelectuais e veículos de comunicação, revelam tanto a impostura da democracia burguesa quanto o desprezo das elites pela soberania popular e pelo voto do povo.
Para atingir os seus objectivos,
burocratas reaccionários pressionam e chantageiam eleitores com ameaças de
fascismo para obter os seus votos, arrancando-os das urnas através de engano.
Alguns chamariam a isso roubo do consentimento eleitoral obtido através de
pressão política e mediática, digno dos métodos comumente empregues pela máfia.
Esses burocratas, movidos pelo extremismo centrista, proclamam-se os únicos
árbitros da consciência e os únicos senhores do evangelho republicano.
Portanto, pensar correctamente e votar correctamente significa pensar como eles
e votar neles — isto é, nas correntes políticas reaccionárias e burguesas do
extremo centro, dotadas do mesmo projecto liberal/capitalista, salpicado de
medidas sociais liliputianas, leis sociais generosas e normas identitárias
racistas.
Ao bloqueio eleitoral iniciado pelos
partidos institucionais do centro extremo (tão burgueses e
reaccionários quanto os demais) juntou-se, após as eleições legislativas de Julho
de 2024, o " obstrucionismo "
presidencial, inovado por Emmanuel Macron.
De facto, apesar da derrota do partido de
Macron nas eleições legislativas, o presidente Macron persistiu obstinadamente
em obstruir a formação de um governo composto por membros do NFP, que, embora
liderasse as pesquisas, não obteve maioria absoluta. Macron perseguiu
implacavelmente o NFP, estabelecendo as condições para a formação do governo.
Em carta enviada à imprensa regional, o
déspota Macron, que agora comunica com o seu povo e as autoridades eleitas
apenas por correspondência para ditar as suas ordens e directrizes,
estabelecerá arbitrariamente as condições para a nomeação de um novo
primeiro-ministro. Este novo primeiro-ministro, segundo ele, deve vir de uma coligação
maioritária. Noutras palavras, uma maioria composta pelo partido de Macron e
pela direita institucional (LR). Na pior das hipóteses, incluindo também o
Partido Socialista (PS). Noutras palavras, o movimento centrista extremo … o novo fantoche político promovido
pelo Estado burguês totalitário.
Apesar da derrota do seu partido nas
eleições legislativas de Julho de 2024, o déspota Macron imporá a sua vontade
de maneira completamente bonapartista e anti-democrática. Ele está a levar essa
postura totalitária ao ponto de interferir no programa do futuro governo,
exigindo que este "seja construído em torno de alguns princípios
fundamentais para o país, valores republicanos claros e partilhados, um plano
pragmático e compreensível, e que leve em consideração as preocupações que
vocês expressaram durante as eleições".
A anomalia ideológica leva à anomia
política.
Este veto presidencial visava não apenas
obstruir a formação de um governo não partidário, como exigia o
centro-esquerda, mas também manter o governo em exercício no poder até que uma
coligação surgisse entre o partido de Macron, os Republicanos (LR), o Partido
Socialista e os Verdes (EELV). Para tanto, reuniões e negociações secretas
ocorreram nos bastidores. Figuras importantes do campo presidencial afirmaram a
sua capacidade de governar e declararam a sua recusa em ceder o poder.
Em todo caso, desde o Verão de 2024,
a camarilha de Macron recusa-se a
ceder o poder. Está "a jogar a carta da obstrução" para impedir que o
partido populista NFP forme um
governo. Os apoiantes de Macron, particularmente a ala direita, demonstram
abertamente a sua determinação em obstruir, principalmente através de um voto
de desconfiança, a formação de qualquer governo que inclua um ministro da
França Insubmissa (LFI) ou que adopte a plataforma do NFP. Essas são todas
manobras anti-democráticas do partido de Macron para evitar a entrega do
poder... os totalitários de direita estão simplesmente a confrontar os
totalitários de esquerda. O proletariado não tem lugar nessa confusão.
Com essas manobras, Macron, ao ganhar
tempo, espera exacerbar as divisões que surgiram dentro do NFP, graças, em
particular, à campanha mediática e política para demonizar o LFI. Essa
demonização também se estenderá ao EELV.
Dito isso, sabíamos que a França estava a caminhar,
economicamente, rumo à terceiro-mundialização, e agora descobrimos que,
politicamente, está a seguir os caminhos de uma república das bananas.
Após a depravação dos bloqueios e
obstruções, as tácticas de Macron agora levam à confusão política e
institucional.
O confusionismo caracteriza-se pela
indefinição das linhas políticas. Essa anomalia ideológica leva à anomia
política, ou seja , à ausência de qualquer programa
coerente. E essa incoerência programática é fonte de confusionismo
institucional, anarquia governamental e desintegração social… o que não é
indesejável para o proletariado que resiste.
Na
França, a confusão política faz parte de uma era marcada pela ausência de
qualquer narrativa colectiva unificadora e mobilizadora, de qualquer horizonte
emancipatório, precipitada pelo fracasso do comunismo estalinista, pelas
decepções da esquerda, pela disseminação pública de uma xenofobia motivada pela
segurança e pela normalização da estigmatização e criminalização de muçulmanos
e árabes. Uma era dominada pela hegemonia do liberalismo burguês desenfreado.
Hoje, paira no ar um ar com ares da década
de 1930. Nunca um contexto foi tão propício à desintegração de marcos políticos
e à disseminação da confusão.
Essa confusão generalizada não é doutrina
nem teoria. Tal como na década de 1930, trata-se de um projecto confuso,
curiosamente defendido pelo centro extremo, o macronismo, esse "fascismo light", para quem a guerra é o
horizonte intransponível.
Não se deve esquecer que na França, como
na maioria dos países imperialistas, é a guerra que dita o ritmo. É a guerra
que impõe o seu programa político assassino, a sua agenda económica
militarista, o seu sistema de pensamento chauvinista e autoritário.
A principal
preocupação de Macron é formar um governo de unidade nacional composto por
ministros determinados a impor medidas de austeridade em tempos de guerra. Noutras
palavras, travar impiedosamente uma guerra militar na frente internacional e
uma guerra social na frente interna. Essa guerra social contra os trabalhadores
será travada através do desmantelamento, com o apoio incondicional de um novo
parlamento fantoche, de todos os seus direitos sociais (cortes salariais e
aumentos de impostos) e direitos políticos (restricções às liberdades e à
liberdade de expressão), a fim de reforçar o esforço de guerra militar e social.
O velho mundo está a morrer, o novo
demora a aparecer.
A prioridade do capital francês é, por um
lado, ter uma equipa ministerial dedicada e poderosa para apoiar a expansão da
economia de guerra. Por outro lado, é ter um Parlamento fantoche composto por deputados
dóceis e subservientes, comprometidos com o programa de guerra social e militar
que está a ser preparado pela belicosa burguesia francesa. A era do
investimento em bem-estar social acabou; agora, tudo gira em torno do
rearmamento e da economia de guerra.
Contudo, os partidos tradicionais, tanto
de direita quanto de esquerda, estão em desacordo com essa nova ordem
militarista e belicosa imposta pelo capital. Permanecem prisioneiros das suas
ilusões políticas, agarrando-se ao absurdo reformista e redistributivo do
capital. Esses partidos, cujos programas políticos são completamente
incompatíveis com as necessidades objectivas da burguesia belicosa francesa,
tornaram-se um verdadeiro obstáculo à gestão da economia militarista e aos objectivos
imperialistas do capital francês.
Na nossa época, igualmente marcada por uma
crise orgânica, pela perda de controlo da classe dominante sobre o seu aparelho
económico e pela incapacidade das diferentes formações políticas francesas de
propor projectos coerentes e realistas, os «cidadãos» e o proletariado já não
acreditam na ideologia burguesa consensual que os levava a submeter-se à ordem
estabelecida. No entanto, sem construir uma nova concepção do mundo capaz de
garantir a sua emancipação, sem criar uma saída salutar, a não ser a do
niilismo, do individualismo desenfreado, do cada um por si.
Em todo caso, o impasse histórico em que o capitalismo, e ainda mais o capital francês, está atolado, o descrédito que afecta todos os governantes devido aos fracassos patentes das suas diversas políticas, precipitou a falência de todo o aparelho político francês, incapaz de impor à sociedade e ao proletariado a mínima docilidade cívica, "coesão social", muito menos a adesão aos seus projectos militaristas e belicosos que se esforça incessantemente para implementar.
«Não
basta que os de baixo não queiram mais, é preciso também que os de cima não
possam mais», observava Lenine. A França encontra-se nessa situação: a
burguesia não pode mais governar.
A "História com o seu grande machado" está a ser encenada hoje. A burguesia francesa, em conflito directo com o seu inimigo de classe, o proletariado , pretende despedaçá-la, triturar os seus direitos sociais, antes de passá-la à espada nas frentes de batalha das estepes florestais da Rússia.
Khider MESLOUB
Fonte: Mise
en échec des cliques électoralistes en France (Mesloub) – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice

Sem comentários:
Enviar um comentário