Charlie Hebdo, um ano depois
René NABA / 4 de janeiro de 2016 / in Culture, Société
Última aCtualização em 2 de Fevereiro de 2019
A trágica mescla de
uma dupla fuga: a fuga da República e a fuga dos perdidos do Islão.
Paris – O massacre da Charlie Hebdo teve
o efeito de um choque eléctrico trágico e levou a França a reflectir sobre si
mesma, na medida em que esse crime hediondo é o resultado de uma extensão
trágica de uma dupla fuga:
A Fuga da República
·
A fuga dos perdidos do Islão
Paris-Bataclan, 13 de Novembro de 2015,
11 meses depois, confirmou essa forte tendência.
Para que o trabalho de introspecção seja
salutar, é importante que os componentes da sociedade francesa se comprometam num
dever de verdade e não se limitem a um exercício de flagelação ou
auto-satisfação. E que a casta do pensamento dominante renuncie, em particular,
a uma visão hemiplégica das coisas, ao seu discurso disjuntivo, que varia de
acordo com os seus interesses, que não pode ser confundido com o interesse
nacional.
As fugas da República
Uma estratégia de evasão pedagógica
O debate é cíclico sobre um único tema nas
suas várias variações: o véu, a burca, os minaretes, o papel positivo da
colonização. Como que para esconder o essencial, a dívida de honra da França
para com os seus imigrantes, tanto pela defesa da sua independência – duas
vezes no decorrer do mesmo século, durante as duas guerras mundiais, ocorrência
raríssima na história – quanto pela sua contribuição para a influência da
França em todo o mundo.
O trabalho salutar que é prioritário iniciar não é um trabalho de exaltação
chauvinista propício a todos os excessos, mas um trabalho de
"desconstrução" dos mitos fundadores da grandeza francesa, uma
leitura fractal da história da França, a fim de basear a identidade nacional num
conhecimento concreto e não sublimado da história nacional e cimentar a unidade
nacional levando em conta os vários componentes da população nacional e não na
estigmatização do metic.
Aí está a raiz do mal. Nessa estratégia de evasão pedagógica que torna o ensino
de história tendencioso e visa ampliar as páginas gloriosas e apagar as páginas
hediondas.
A HISTÓRIA DE UM PAÍS É O DNA DA SUA
NAÇÃO. Seria absolutamente contraproducente esconder os factos, por mais
hediondos que sejam, sob pena de falsificação e, portanto, de mistificação e
fabulação.
Ensinar pelo menos o episódio da repressão
sangrenta da comuna de Paris em 1870, obra da República, mas engrandecendo a
Revolução Francesa (contra a Monarquia), apesar da terrível sequência de
"O Terror", está inevitavelmente a gerar um estado de auto-satisfação
permanente, um estado de levitação intelectual contraproducente. Um ensinamento
que gerou chauvinismo em que "A Comuna de Paris" (17.000 mortos,
43.522 prisões e deportações, incluindo a lendária Louise Michel), exaltou o
espírito da Resistência e a recusa em capitular.
A capitulação que é a principal
característica das campanhas militares francesas dos séculos XIX e XX contra os
ingleses em Waterloo, em 1815, contra a Alemanha, em 1870, em Sedan, novamente
contra a Alemanha nazi em Maio de 1940, contra os vietnamitas, quinze anos
depois, Dien Bien Phu em 1955, ou seja, quatro capitulações em dois séculos.
Isso nunca antes foi visto nos anais da estratégia militar mundial.
A promoção de um Islão
de inspiração wahhabista em detrimento de um Islão consular
No auge da Guerra Fria
americano-soviética (1945-1990), em plena fase de descolonização da África
francófona, predominantemente muçulmana, o bloco atlantista favoreceu a
promoção de um Islão wahhabista em detrimento de um Islão consular, um Islão
doméstico. O bloco atlantista instrumentalizou assim o Islão como um travão à
adesão das gerações mais jovens de imigrantes às estruturas anti-establishment
da ordem capitalista (partidos comunistas, sindicatos) com base no falso
princípio autocrático de que o Islão cumpre uma função de obediência colectiva
ao Príncipe, seja ela justa ou injusta.
Vamos remover a ambigüidade: o Islão não
conquistou a França, foi a França que se propôs a conquistar os países árabes e
africanos que eram predominantemente muçulmanos. O Islão não é, portanto, um
produto do solo francês, como o cristianismo, mas a consequência residual do
refluxo do império. O sub-produto resultante da turgescência colonial francesa
e sua conseqüência ultramarina. Sem colonização, não haveria "albornoz
para fazer suar", nem "bougnoule", nem "y a bon
banaia", nem "carne para canhão". Sem "bicot", sem
"ratonnades", sem "perfil racial", sem "Código do
Indigenato" ou "Código Negro", não mais do que "Vénus
Callipygian", nem "Setif", nem "Thiaroye", nem
"Sanaga", muito menos "territórios perdidos da República".
E não há Islão, pelo menos nesta densidade. "A manteiga, o dinheiro da
manteiga, além do sorriso da leiteira", isso é uma fábula. Ou um conto de
fadas maravilhoso. Bem como o "fardo do homem do branco e seu fardo de
primogenitura", um álibi destinado a mascarar a megalomania predatória.
Para ir mais longe sobre este assunto, veja:
- http://www.renenaba.com/le-bougnoule-sa-signification-etymologique-son-evolution-semantique-sa-portee-symbolique/
- https://www.madaniya.info/2015/08/02/la-colonisation-occidentale-le-plus-important-bouleversement-demographique-de-l-histoire-de-l-humanite/
Na mesma linha, vamos remover outra ambigüidade: não foi a Síria que declarou guerra à França e não são os sírios que estão a lutar contra a França, que também foi a arquitecta do desmembramento da Síria durante o seu mandato no Levante.
Aqueles que estão a lutar contra a
França são cidadãos franceses expatriados na Síria pela campanha de incentivo à
media anti-Assad da casta político-mediática e formatados no jihadismo pelos
aliados objectivos da França.
Nesse contexto, teria sido sensato colocar essa nova religião da França sob um
regime de concordata, em vez de deixá-la em pousio, à mercê do borborigma do
primeiro beduíno petrodolarizado. Apoiar o seu desenvolvimento de forma
adaptada às realidades francesas. Além disso, os países ocidentais não deveriam
ter esquecido o facto de que os pregadores do Islão europeu foram formatados
nos moldes wahhabistas, pois o Islão, pela sua clientela petromonárquica e
autocracias pró-ocidentais, serve como um contraste para o modelo democrático,
bem como um provedor de uma renda segura.
Sob a asa protectora dos Estados Unidos,
com o consentimento europeu, a Arábia Saudita implantou a maior ONG de caridade
do mundo para fins de proselitismo, para conquistar novas terras de missão nas
décadas de 1970 e 1980, particularmente na Europa, graças ao boom do petróleo e
à guerra no Afeganistão. Essa implantação de aranha desenvolveu-se através de um
uso intensivo da política de checkbook.
O reino saudita gastou 87 mil milhões de
dólares nas últimas duas décadas para financiar o proselitismo religioso de
acordo com o rito wahhabista em todo o mundo, visando o Paquistão, a potência
nuclear sunita, ostensivamente para conter a ascensão do Irão ao posto de
"potência da energia nuclear", de acordo com a revista "Middle
East Monitor" na sua edição de Dezembro de 2015, cuja versão árabe é
publicada pelo jornal libanês "Al Akhbar". A um custo de cinco
milhões de dólares, o reino saudita construiu centros religiosos na Europa para
uma área de 3.848 m2 em Melilla e Madrid (Espanha), Lisboa, Roma, Londres,
Viena, Genebra, bem como Mantes La Jolie (região de Paris), sem mencionar a
aquisição de cátedras universitárias em instituições de renome internacional:
·
Cátedra King Fahd para Estudos (Instituto de Estudos Orientais e Africanos
da Universidade de Londres.
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Cátedra Rei Abdul Aziz de Estudos Islâmicos na Universidade da Califórnia.
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Cátedra Rei Fahd para o Estudo da Legislação Islâmica na Harvard Law
School.
O rei Fahd, o homem por excelência dos americanos, destinou uma parte dos royalties do petróleo para o financiamento do proselitismo em todo o mundo, na ordem de 1,8 milhar de milhão de dólares por ano, durante vinte anos.
Para ir mais longe neste assunto:
A desvalorização do ensino da língua árabe
Outra causa do problema reside na
desvalorização do ensino da língua árabe em França, onde, desde a década de
1990, existe apenas um liceu que ensina essa língua na região parisiense, o
Lycée Voltaire, no 10.º arrondissement de Paris.
180 mil milhões de dólares de
capitalização bolsista das grandes fortunas francesas evaporaram-se durante o
crash bolsista americano de 2008 devido aos seus investimentos em fundos
especulativos (Maddof and Co) e 80 mil milhões de euros são anualmente
desviados para paraísos fiscais, o equivalente ao orçamento da educação
nacional. Uma fortuna subtraída à formação pedagógica dos cidadãos, à criação
de empregos, à redução do desemprego endémico e à fluidez social. Elementos que
constituem tantos contrapesos à frustração social e ao proselitismo religioso.
Em suma, às tentações integristas.
A redução do ensino oficial da língua
árabe levou muitos franceses de origem árabe a refugiarem-se em mesquitas,
institutos islâmicos e escolas corânicas para aprender a sua língua materna e
"reapropriar-se da cultura de origem" através da aquisição de
conhecimentos da religião muçulmana. Como resultado desse ostracismo, a
mesquita e os clubes esportivos tornaram-se o refúgio final para os
"condenados ao ostracismo".
Desporto com as novas práticas, boxe
tailandês, e principalmente MMA para "Artes Marciais Mistas", um desporto
tão violento que é proibido pelo Ministério do Desporto, mas muito infiltrado
por fundamentalistas religiosos. A tal ponto que os clubes desportivos agora
servem como aulas preparatórias para o jihadismo.
Para aprofundar este assunto, ver
"A Implantação do Islão em França, um Campo Religioso Fragmentado" de
Haoues Séniguer, Professor de Ciência Política (Lyon), membro do ISERT
(Institut Supérieur d'Etudes des Religions et de la Laïcité). Cahiers Français
N° 389.
Há, é claro, em tempos de crise, um
colapso do senso moral. Mas esse fenómeno acentuou-se em França com o
desaparecimento das grandes matrizes formativas da consciência nacional, o
exército e a escola. O exército com a abolição do serviço militar obrigatório;
escola com a multiplicação de escolas particulares, grandes écoles e outros
institutos especializados. Além disso, a supressão dos grandes debates
televisivos, que constituíam uma forma disfarçada de pedagogia política, foi
acompanhada, ao mesmo tempo, pela proliferação de programas que desenvolvem uma
forma de individualismo baseada na denúncia. Longe de encorajar a
solidariedade, Loft Story e Koh Lanta desenvolvem uma forma de individualismo
desenfreado, de cada um por si (cada um com o seu bife, segundo a fórmula
consagrada). E a delação, um vício quase nacional, com a tradicional existência
de informantes nas províncias da França e a delação dos judeus sob o regime de
Vichy.
A instauração de uma forma dissimulada
de serviço cívico responderia, no contexto pós-Charlie Hebdo, à preocupação das
autoridades públicas em restaurar uma forma de compromisso colectivo à escala
nacional.
A França pode, com razão, glorificar as
suas páginas gloriosas, sem, no entanto, ocultar as suas páginas vergonhosas: a
«Pátria dos Direitos do Homem» é também a Pátria do «Código Negro» da
escravatura e do «Código do Indígenato».
O país do Código Civil é também o país da codificação segundo os critérios do darwinismo de Gobineau, o país das exposições etnológicas, dos famosos «zoológicos humanos», da Vénus Calípige, da cristalização das pensões dos antigos combatentes ultramarinos e da classificação dos trabalhadores coloniais. O país da revolução, uma revolta popular contra a monarquia, é também o país da Comuna de Paris, uma revolta popular contra a República, este último episódio ocultado do ensino da história por se tratar de uma revolta popular contra a República.
A Fuga dos Perdidos do Islão
O balanço fala por si: as seis
"guerras sujas" da era contemporânea estão localizadas na esfera da
Organização da Conferência Islâmica (Síria, Iraque, Afeganistão, Somália, Iémen
e Líbia) gerando 600 milhões de crianças muçulmanas que sofrem de pobreza,
doença, privação e falta de educação, enquanto 12 países muçulmanos têm a maior
taxa de mortalidade infantil e 60% das crianças não têm acesso à educação em 17
países muçulmanos. (Ver Haytham Manna, presidente do Instituto Escandinavo de
Direitos Humanos no seu livro "Resistência Civil, contribuição para a auto-imunização
das sociedades" - SIHR 2ª edição 2015).
O panorama dispensa comentários: a
precariedade económica, com o seu cortejo de marginalização, reclusão social,
discriminação racial, delinquência, recuperação religiosa, num contexto de
dinâmica de grupo sobre seres fragilizados num universo prisional, constituem
factores de tropeço, ou mesmo de queda.
Sobrepondo-se a uma infantilização
religiosa, num contexto de demagogia e instrumentalização do Islão como arma de
combate contra o ateísmo soviético (Afeganistão, 1980-1989) e, posteriormente,
contra os países árabes laicos (Líbia, Síria) com a cumplicidade dos países
ocidentais (2011-2014), esses factores acabaram por gerar, ao fim de uma
sequência turbulenta de um quarto de século, um ser híbrido, perdido do Islão e
perdido da República, jihadista por via da delinquência, um louco de Deus, um
zombie criminogénico.
Em ressonância com uma campanha
dissimulada de islamofobia veiculada ao mais alto nível do Estado através de
expressões que se tornaram populares: «ruídos e odores» (Jacques Chirac); «os
subúrbios com karcher e as ovelhas nas banheiras» (Nicolas Sarkozy); Ou ainda,
«a equipa de França negra, negra, negra, motivo de chacota na Europa» (Alain
Finkielkraut), ou mesmo «os muçulmanos mamam o anti-semitismo desde o
nascimento», do mesmo académico compulsivo.
Com a sua prolongação na margem árabe do
Mediterrâneo, num contexto de autoritarismo absoluto do poder político, de uma
forma de religiosidade ingénua com base demagógica, com o seu cortejo de
miséria e desemprego em massa de amplas camadas da esfera árabe-muçulmana, uma
conjunção que as torna terreno fértil para o islamismo.
35% dos jovens sofrem com o desemprego e
o salário mensal de um trabalhador no mundo árabe é da ordem de 150
dólares/mês, ou seja, o salário diário de um combatente do Daesh (Estado
Islâmico).
Ou seja, 30 vezes
mais, com um prémio de 50 dólares para cada uma das quatro esposas e 30 dólares
para cada filho. Algo com que se pode sonhar, com todos os atributos do poder
que muitas vezes se confunde com o machismo.
A guerra enriquece,
com o seu cortejo de pilhagens, e constitui um poderoso propulsor da narrativa
histórica com a sua dinâmica de exaltação e impunidade, cujo apogeu se
concretiza na imunidade do poder machista e na sua tradução concreta: o
descanso do guerreiro, mais conhecido pelo nome de Djihad al Nikah.
A realidade muçulmana na França e na
Europa
Para além do debate
recorrente sobre a compatibilidade entre o Islão e a República, há um facto
evidente: os árabes muçulmanos da Europa constituem o primeiro grupo étnico
identitário de importância sedimentado fora da esfera eurocêntrica e
judaico-cristã.
Principal base da
população imigrante, apesar da sua heterogeneidade linguística e étnica, com 20
milhões de pessoas, das quais 6 milhões em França, a comunidade árabe-muçulmana
da Europa Ocidental surge, devido à sua efervescência — uma piada que, no
entanto, esconde uma realidade —, como o 28.º Estado da União Europeia.
Primeiro país europeu
em importância da sua comunidade muçulmana, a França é também,
proporcionalmente à sua superfície e população, o maior centro muçulmano do
mundo ocidental. Com cerca de 7 milhões de muçulmanos, dos quais 2/3 de
nacionalidade francesa, conta com mais muçulmanos do que nada menos que oito
países membros da Liga Árabe (Líbano, Kuwait, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes
Unidos, Palestina, Ilhas Comores e Djibuti). Por isso, poderia justificar a
adesão à Organização da Conferência Islâmica (OCI), o fórum político
pan-islâmico que reúne cinquenta e dois Estados de vários continentes, ou, pelo
menos, ter um lugar de observador.
A especificidade da
imigração na França: uma imigração de credibilidade
Apesar do que possam pensar os
nostálgicos do império, também aqui a verdade impõe-se: a imigração de pele
escura na França é uma imigração de crédito, resultado de um tributo de sangue
sem paralelo nos anais, o que faz com que, por esse motivo, os imigrantes na
França devam ser recebidos pela porta da frente, enquanto as autoridades do
país de acolhimento se preocupam constantemente em fazê-los entrar pela porta
dos fundos.
Que cada um julgue por si mesmo. A
contribuição global das colónias para o esforço de guerra francês na Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) ascendeu a 555 491 soldados, dos quais 78 116 foram
mortos e 183 903 destacados para a rectaguarda para o esforço de guerra
económico, a fim de compensar o alistamento de soldados franceses na frente.
Para a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945): O primeiro exército africano que desembarcou na Provença (sul da
França), em 15 de Agosto de 1944, permitiu abrir uma segunda frente na França
após o desembarque de 6 de Junho de 1944 na Normandia.
Este exército de 400 000 homens contava
com 173 000 árabes e africanos nas suas fileiras. De Junho de 1940 a Maio de
1945, cinquenta e cinco mil (55 000) argelinos, marroquinos, tunisinos e
combatentes da África Negra foram mortos. 25 000 deles serviam nas fileiras do
exército africano.
Durante a campanha da
Itália, marcada pela famosa batalha de Monte Cassino, que abriu caminho para
Roma e, por isso, celebrada como a grande vitória francesa da Segunda Guerra
Mundial, dos 6.255 soldados franceses mortos, 4.000, ou seja, dois terços, eram
originários do Magrebe e, dos 23.500 feridos, 15.600, ou seja, um terço, eram
do Magrebe.
Assim, cinco séculos
de colonização intensiva em todo o mundo ainda não banalizaram a presença dos
«morenos» em solo francês. Da mesma forma, treze séculos de presença contínua,
materializados por cinco vagas de emigração, não conferiram ao Islão o estatuto
de religião autóctone em França, onde o debate, há meio século, gira em torno
da compatibilidade entre o Islão e a República, como para conjurar a ideia de
uma agregação inevitável aos povos de França deste agrupamento
étnico-identitário, o primeiro de tal importância sedimentado fora da esfera
eurocêntrica e judaico-cristã.
A França, o único grande país europeu na
articulação principal dos dois grandes flagelos do Ocidente da época
contemporânea, o tráfico de escravos e o extermínio dos judeus.
«A política árabe da França», que
Nicolas Sarkozy procurou desconstruir com o apoio activo dos transfugas
atlantistas, nomeadamente Dominique Strauss Khan, antigo director do Fundo
Monetário Internacional, e Bernard Kouchner, antigo médico de urgência nas
zonas petrolíferas (Biafra, Curdistão, Darfur, Gabão e Birmânia), consistiu
principalmente, para os países árabes, em socorrer a França, por duas vezes,
durante o século XX.
Para ajudá-la a derrotar os seus
inimigos, nomeadamente em 1939-1945, ajudando-a a livrar-se do jugo nazi, do
qual uma parte importante da comunidade nacional de confissão judaica sofreu
fortemente.
Em contrapartida e como recompensa pela
contribuição árabe para a libertação da Alsácia-Lorena, a França amputou a
Síria do distrito de Alexandrette para o ceder à Turquia, seu inimigo na
Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Reincidente, carbonizou com napalm os
habitantes de Sétif, na Argélia, (1945), após a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), fornecendo em seguida a Israel a tecnologia nuclear do centro de
Dimona (Neguev).
Se Nicolas Sarkozy pôde presidir um país
que se alinhou no campo da democracia, ele deve isso certamente às «Cruzes
Brancas» dos cemitérios americanos da Normandia, mas também ao sacrifício de
cerca de 500 mil combatentes do mundo árabe e africano que ajudaram a França a
libertar-se do jugo nazi, enquanto uma grande parte da população francesa
colaborava com o inimigo.
Quinhentos mil combatentes na Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), tantos ou mais na Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), não se falava então em rastreamento genético, em «teste de ADN» ou
em «imigração selectiva» para o alistamento, em «limite de tolerância», mas sim
em sangue derramado em abundância por uma guerra que se apresentava para eles
como «uma disputa entre brancos».
Justificar a recusa em cumprir um «dever
de verdade» — os argelinos nunca falaram em arrependimento —, sob o pretexto de
que havia franceses que amavam a Argélia e que lá fizeram coisas boas,
constitui, se não ignorância, pelo menos má-fé ou, mais grave ainda, uma
monstruosidade.
Se é verdade que alguns franceses amavam
a Argélia, isso não significa necessariamente que amavam os argelinos. Prova
disso é o Código do Indígenato, que se aplicou durante cem anos à população
autóctone, ou seja, à população original do país. Tal como o «Código Negro»
para África, o «Código do Indígenato» colocava-a num estado de servilismo.
Algo nunca visto na história colonial
mundial. É certo que os colonos também fizeram coisas boas na Argélia. Primeiro
para si próprios, raramente para a população autóctone, que só teve acesso a
elas de forma parcimoniosa. Quanto às grandes realizações: todos os ditadores
têm algumas no seu currículo. Hitler e Mussolini lançaram grandes projectos de
infraestruturas, sem que isso os isentasse das suas torpezas, tanto a nível
moral como político ou jurídico. O argumento de Sarkozy não é, portanto,
válido.
Com todo o respeito pelos intelectuais
da corte, as três grandes figuras tutelares do século XX pela sua contribuição
à moral universal foram, vale a pena lembrar, três personalidades do terceiro
mundo colonizado: Mahatma Gandhi (Índia), Nelson Mandela (África do Sul) e,
para o espaço francófono, o martinicano Aimé Césaire, três apóstolos da não
violência, uma consagração que ressoa como uma afronta aos países ocidentais
com o seu cortejo de nazismo, fascismo, totalitarismo e escravatura.
E, por mais doloroso que seja para o
nosso orgulho nacional, somos obrigados a reconhecer que a França, em
contrapartida, foi o único grande país europeu a articular as duas grandes pragas
do Ocidente da época contemporânea, «as tendências criminosas da Europa
democrática», o tráfico de escravos e o extermínio dos judeus. Ao contrário da
Grã-Bretanha, que praticou exclusivamente o tráfico de escravos, sem qualquer
participação no extermínio dos judeus, e ao contrário mesmo da Alemanha, que
concebeu e realizou a solução final da questão judaica, mas sem participar no
tráfico de escravos.
O dever da verdade não constitui, portanto, segundo uma análise chauvinista, uma palhaçada comparável aos «soluços do homem branco», mas um dever de coragem moral.
Neste contexto, convém admitir que, se a
questão judaica reveste uma importância particular na Europa, é principalmente
devido ao facto de os dois países considerados os mais civilizados da época — a
Alemanha e a França — terem massacrado os seus próprios concidadãos devido à
sua origem étnico-religiosa. Ousemos afirmar: Se os judeus fossem iroqueses da
América do Norte, astecas, incas, guaranis da América Latina, ou ainda zulus,
bassas-bamilekés, songhais ou soninkés da África, ou mesmo árabes,
particularmente palestinianos, podemos apostar que o Ocidente nunca teria
santificado este problema.
A orquestração de uma
competição memorial sobre temas de grande sofrimento não é uma questão de
vitimização. Ela revela a patologia do seu autor.
Não transpor o conflito
israelo-palestiniano para França
Com um maquiavelismo descarado, Nicolas
Sarkozy, na época em que era ministro do Interior, escolheu como conselheiro
exclusivo para neutralizar os distúrbios nos subúrbios franceses, em 2005, não
o seu colega americano, acostumado à violência dos guetos negros dos Estados
Unidos, mas sim Avi Dichter, ministro israelita da Segurança Pública, o mesmo
responsável pela repressão da Intifada palestiniana nos territórios ocupados
por Israel, transpondo voluntariamente, no plano simbólico, o conflito
israelo-palestiniano para o território nacional.
Numa abordagem demagógica, com
conotações eleitorais, ele assegurou, como reincidente, a colaboração de um
antigo reservista do exército israelita, Arno Klarsfeld, como conselheiro,
tanto na definição do «papel positivo» da colonização como na regularização dos
sem-papéis.
Curiosa forma de promover a laicidade,
um dos princípios fundamentais da República Francesa, garantindo a promoção de
um homem que reivindicou uma nacionalidade estrangeira, neste caso israelita,
por convicção religiosa. Não menos curiosa é a forma de garantir a visibilidade
e a credibilidade da diplomacia francesa, assegurando os serviços de um
reservista israelita, um país em guerra contra países amigos da França, o
Líbano e a Palestina.
Sem falar de DSK, «todos os dias me questiono
o que posso fazer pela grandeza de Israel» (e não da França), nem de Manuel
Valls, ligado «eternamente a Israel» e não à França, o que levanta a questão da
dualidade de lealdade dos dirigentes franceses. É uma forma curiosa de promover
a democracia e a igualdade, quando se pensa na conivência vergonhosa da França,
tanto na sua vertente neo-gaullista como socialista, com a franja mais extrema
do obscurantismo regressivo dos países mais repressivos do planeta.
As questões são reais e fundamentadas,
mas pela sua repetição (problema da compatibilidade do Islão e da modernidade,
compatibilidade do Islão e da laicidade, identidade e juramento de lealdade à
bandeira), as variações sobre este tema parecem remeter sobretudo para o velho
debate colonial sobre a assimilação dos indígenas, como que para demonstrar o
carácter inassimilável do Islão no imaginário europeu.
Como para esconder as
antigas fobias chauvinistas, apesar das relações sexuais ancestrais do ultramar
colonial; apesar da mistura ocorrida no Norte de África e no continente negro,
apesar da mistura demográfica ocorrida nomeadamente no seio das antigas
potências coloniais (Reino Unido, França, Espanha, Portugal e Países Baixos)
devido às sucessivas vagas de refugiados do século XX provenientes de África,
Ásia, Indochina, Médio Oriente e outros locais, apesar das férias paradisíacas
dos dirigentes franceses à sombra dos trópicos ditatoriais.
Como se negassem a
contribuição dos árabes para a libertação da França; o papel da Líbia e do
Iraque como válvulas de escape para a expansão do complexo militar-industrial
francês com os seus «contratos do século», em compensação pelo aumento do preço
do petróleo após a guerra de Outubro (1973). Como negar o papel suplementar dos
jihadistas islâmicos sob tutela ocidental como ponta de lança da luta na
implosão da União Soviética, na década de 1980, no Afeganistão, depois na
implosão da Jugoslávia (Bósnia e Kosovo), na década de 1990, e, finalmente, na
implosão da Líbia e no desmembramento do Sudão, da Síria e do Iémen, na década
de 2010.
Um doloroso trabalho de adaptação ao
princípio da realidade: África, o fardo do homem branco? Ou melhor, a França, o
fardo do homem negro?
Nestes tempos de recuperação pós-Charlie
Hebdo, a Télé-université realizou uma pesquisa incomum sobre o quociente
intelectual dos povos do planeta. Uma pesquisa elaborada de acordo com
critérios exclusivamente etnocêntricos, sem levar em conta as experiências da
história.
Uma postura de desprezo que nos remete à
prática hedionda de classificação dos trabalhadores coloniais entre as duas
guerras mundiais, em que o glorioso Ho Chi Minh (indochinês na época) recebeu
uma nota 3 em 20, antes de infligir uma pesada derrota à França em Dien Bien
Phu, assim como os argelinos na sua guerra de independência (1) (1954-1960).
Purgar os silêncios da consciência francesa, purgar as escórias da memória francesa, tais poderiam ser as missões prioritárias dos franceses. Admitir, em suma, que a França também foi um fardo para o homem negro (2); que a imigração de pele escura é uma imigração de dívida para com a França; Que os benefícios da sua civilização também incluíam uma parte de malefícios, a fim de finalmente realizar um doloroso trabalho de adaptação ao princípio da realidade e pôr fim à sua permanente levitação, tão prejudicial à sua reputação.
A França apresenta-se voluntariamente como revolucionária, mas revela-se, na verdade, profundamente conservadora. Aliada dos dois maiores colonizadores do planeta, Israel e Arábia Saudita, dois países, além disso, com uma base teocrática, em contradição com a laicidade francesa, essa França do «tríptico republicano» deve fazer uma reflexão para purgar a esquizotimia que a habita.
A política ocidental em relação ao Médio Oriente gerou uma virulenta islamofobia, acompanhada de uma arabofobia, provocando um terrível e dramático vaivém: 10 000 jihadistas da Europa juntaram-se a grupos jihadistas para combater na Síria e no Iraque, enquanto, paralelamente, mais de um milhão de sírios e iraquianos procuraram chegar à Europa para encontrar refúgio.
Para ir mais longe neste tópico:
·
https://www.madaniya.info/2015/11/18/la-remission-par-le-sang-de-civils-innocents/
A capitulação de Sedan
perante a Alemanha em 1870-71 deu origem à III República, a capitulação de
Montoir perante Hitler em 1940 à IV República (1946), a de Dien Bien Phu e da
Argélia em 1955 à V República (1958), com o seu cortejo de grandes instituições:
Sedan à criação da «sciences po», o Instituto de Estudos Políticos de Paris, e
Montoir à fundação da ENA, a Escola Nacional de Administração (1945).
O país das «grandes
écoles», dos concursos que formam as elites, os escribas e os clérigos, não tolera
um regresso ao seu passado. Só concebe perspectivas de futuro. Nunca
retrospectivas, sempre prospectivas. Uma fuga em frente? A fuga como modo de
governar? Até quando? Até onde?
« Se uma França de 45
milhões de habitantes se abrisse amplamente, com base na igualdade de direitos,
para admitir 25 milhões de cidadãos muçulmanos, mesmo que em grande parte
analfabetos, não empreenderia uma iniciativa mais ousada do que aquela que
permitiu aos Estados Unidos não permanecerem uma pequena província do mundo anglo-saxão»,
profetizava, já em 1955, Claude Lévi-Strauss (Tristes trópicos) num resumo
impressionante da problemática pós-colonial com que a sociedade francesa se
debate há meio século.
Do desastre de Suez ao
desastre de Damasco ou do bom uso de «Munique e dos Sudetos da Checoslováquia»:
«A mudança é agora»?
Munique
Damasco é, na verdade, uma velha re-filmagem
do mau filme de Suez. MUNIQUE: Único país do mundo a fazer uso intensivo desse
termo para estigmatizar o que considera ser o «derrotismo» dos adversários da
sua política, «Munique» e, por extensão, «muniquenses», é, na verdade, um privilégio
do socialismo francês. A sua arma de destruição em massa para neutralizar
qualquer crítica a seu respeito.
Harlem Désir, neste assunto, é na
verdade apenas o fraco sucessor de Guy Mollet, o último primeiro-ministro
socialista da IV República, o homem de Suez e de Argel, com um belo palmarés,
que brandiu este argumento para desqualificar os opositores à agressão
tripartida de Suez, em 1956, contra Nasser. 57 anos depois, Harlem Désir repete
a mesma cantilena. A mudança é agora. Será mesmo?
Na terminologia da época, a «expedição
punitiva» anglo-franco-israelita — conduzida, é importante salientar, pelas
duas potências coloniais da época em associação com o seu protegido israelita —
tinha como objectivo castigar o «Bikbachi». Termo da hierarquia militar otomana
equivalente ao posto de coronel, o Bikbachi Nasser seria assim designado à
vingança pública como o novo Hitler do pós-guerra, sob o nome de Rayïss, que se
rimava no subconsciente europeu com o Reich. O segundo Hitler árabe seria
naturalmente Yasser Arafat, o líder da Organização para a Libertação da
Palestina. Figura assustadora no imaginário ocidental, o árabe, especialmente
quando defende uma reivindicação nacionalista, é um Hitler em potencial, mesmo
que os árabes e os africanos (cristãos e muçulmanos) tenham sido os principais
fornecedores de «carne para canhão» para a libertação da França, duas vezes no
mesmo século, um fenómeno extremamente raro na história.
De Gamal Abdel Nasser (Egipto) a
Mohammad Mossadegh, passando por Yasser Arafat e Sheikh Ahmad Yassin
(Palestina), Moqtada Sadr (Iraque) e Hassan Nasrallah (Líbano), todos tiveram a
honra de assumir essa função sem que ninguém jamais pensasse em estabelecer uma
ligação entre a arrogância ocidental e a radicalização dos contestadores da sua
supremacia.
Da Guerra da Espanha, na década de 1930,
onde as brigadas internacionais foram formadas por comunistas, à Argélia, onde
as ratonnades de Robert Lacoste ainda ressoam nas memórias, ao Egipto, onde os
bombardeamentos de Guy Mollet pretendiam «punir» Nasser por ter recuperado o
canal de Suez, subtraindo ao grande capital a única riqueza nacional do Egipto.
Munique, especialidade francesa, é brandida com tanto vigor quanto os
socialistas, bastante repressivos nesse domínio, nunca deram o menor apoio às
guerras de libertação do terceiro mundo.
Então, Harlem Désir? Munique, a Câmara
dos Comuns que deu uma lição retumbante de democracia à França ao recusar-se a
bombardear a Síria? Munique, Barack Obama, que considerou mais conforme à ética
democrática ouvir a opinião dos representantes da nação?
Munique, a Índia que
derrotou o colonialismo pela não violência? Munique, a África do Sul que
triunfou sobre a segregação racial através da reconciliação nacional e não pela
estigmatização?
Munique, o Papa
Francisco que reza pela paz na Síria enquanto o mufti da OTAN, o pregador
milionário do Qatar, Youssef Al Qaradawi, implora que a Síria seja bombardeada
pelos seus antigos colonizadores?
Munique à maneira de
Guy Mollet, como em 1956... A mudança é agora? Ou simplesmente Harlem Désir,
cabeça quente por uma política de terra queimada?
Os palestinianos, os Sudetas do século XXI
Na sua abordagem em relação à Síria,
François Hollande, segundo nos revelou o diário Le Monde, sempre generoso em
confidências quando se trata de apoiar o poder socialista, a ponto de
servir-lhe de amplificador mediático e de relé diplomático, está assombrado
pelo precedente da Checoslováquia e pelo destino dos Sudetas (1938), que Hitler
absorveu sem aviso prévio devido à passividade europeia, resultado dos acordos
de Munique.
O condicionamento ideológico é tal, a
servidão intelectual tão forte, que os estragos do pensamento socialista
parecem incomensuráveis.
Assim, Laurent Fabius, considerado uma
das mentes mais brilhantes da República, preconizou com arrogância e presunção
armar a oposição síria para estabelecer uma paridade militar e criar condições
equilibradas para uma negociação com o poder sírio. Ele sugere igualmente uma acção
enérgica com vista a favorecer o regresso dos refugiados sírios ao seu país.
Preocupação humanitária legítima que
poderia ter honrado o seu autor se tivesse sido acompanhada por um pedido
semelhante em relação aos palestinianos, despojados, exilados e deslocados há
sessenta anos... Os Sudetas do século XXI.
Em linha directa com o socialista Guy
Mollet e a sua expedição de Suez, de memória sinistra (Outubro de 1956), o
poder francês, meio século depois, sem levar em conta os ensinamentos da sua
louca aventura, colocou-se na vanguarda da campanha mediática incitando contra
o presidente sírio Bachar Al Assad, demonstrando, nesse assunto, um apetite
extraordinariamente aguçado por aventuras punitivas contra o mundo árabe. Um
verdadeiro prurido beligerante irreprimível.
Por 1% de crescimento, o poder francês, na sua dupla componente
Sarkozy-Hollande, vendeu a alma ao diabo, aos regimes mais antinómicos da
democracia.
Posicionando-se como
aliado objectivo dos jihadistas, transformou Paris num vasto cemitério e, com o
seu laxismo moral, a França numa peneira jihadista. Com total impunidade para
os dirigentes. Esta política aberrante revelou, em contrapartida, a decadência moral
das suas elites, a desintegração intelectual da sua casta político-mediática
venal, particularmente a inconsistência palpável dos seus islamofilistas, um
cancro do pensamento estratégico francês.
Ilustração das
derrapagens mentais da classe política francesa, num contexto de pressupostos
ideológicos, a França, que teve o maior número de reféns no mundo detidos pelo
jihadismo sunita — e não xiita — e que, além disso, tem o maior número de
vítimas do jihadismo sunita — e não xiita —, irá, paradoxalmente, empenhar-se
em obter a inscrição do braço militar do Hezbollah na lista negra da União
Europeia, em Junho de 2013. Por outro lado, ela tomará cuidado para evitar a
inscrição na lista do Jabhat An Nosra, a filial síria da Al Qaeda «que faz um
bom trabalho na Síria», segundo a expressão de Laurent Fabius, diplomata-chefe
dos socialistas neo-conservadores franceses. Uma incoerência sem dúvida devida
ao efeito da «racionalidade cartesiana».
Uma guerra de
civilizações, segundo a expressão do primeiro-ministro Manuel Valls, é travada
e vencida com clareza. Ela pressupõe, previamente, travar a sua própria guerra
contra a sua própria duplicidade e as suas próprias torpezas.
Referências
- http://www.liberation.fr/politiques/2015/09/26/patrick-pelloux-ne-collaborera-plus-avec-charlie-hebdo_1391254
- http://www.renenaba.com/manifeste-des-indignes-contre-l-islamophobie/
- http://www.renenaba.com/l-hommage-national-a-charlie-hebdo-aux-antipodes-de-la-philosophie-du-journal-satirique/
- https://www.madaniya.info/2015/06/21/israel-et-larabie-saoudite-deux-grands-colonisateurs-de-la-planete/
- http://www.lemonde.fr/economie/article/2014/05/26/elise-huillery-la-france-a-ete-le-fardeau-de-l-homme-noir-et-non-l-inverse_4425976_3234.html
René Naba
Jornalista-escritor, ex-chefe do mundo
árabe e muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois assessor do
director-geral da RMC Médio Oriente, chefe de informação, membro do grupo
consultivo do Instituto Escandinavo de Direitos Humanos e da Associação de
Amizade Euro-Árabe. De 1969 a 1979, foi correspondente rotativo no escritório
regional da Agence France-Presse (AFP) em Beirute, onde cobriu a guerra civil
jordaniano-palestiniana, o "Setembro Negro" de 1970, a nacionalização
de instalações petrolíferas no Iraque e na Líbia (1972), uma dúzia de golpes de
Estado e sequestros de aviões, bem como a Guerra do Líbano (1975-1990) a 3ª
guerra árabe-israelita de Outubro de 1973, as primeiras negociações de paz
egípcio-israelitas na Mena House Cairo (1979). De 1979 a 1989, foi responsável
pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois assessor do
director-geral da RMC Médio Oriente, encarregado da informação, de 1989 a 1995.
Autor de "Arábia Saudita, um reino das trevas" (Golias), "De
Bougnoule a selvagem, uma viagem ao imaginário francês" (Harmattan),
"Hariri, de pai para filho, empresários, primeiros-ministros"
(Harmattan), "As revoluções árabes e a maldição de Camp David"
(Bachari), "Media e democracia, a captura do imaginário, um desafio do
século XXI" (Golias). Desde 2013, ele é membro do grupo consultivo do Instituto
Escandinavo de Direitos Humanos (SIHR), com sede em Genebra. Ele também é
vice-presidente do Centro Internacional Contra o Terrorismo (ICALT), Genebra;
Presidente da instituição de caridade LINA, que opera nos bairros do norte de
Marselha, e Presidente Honorário do 'Car tu y es libre', (Bairro Livre),
trabalhando para a promoção social e política das áreas periurbanas do
departamento de Bouches du Rhône, no sul da França. Desde 2014, é consultor do
Instituto Internacional para a Paz, Justiça e Direitos Humanos (IIPJDH), com sede
em Genebra. Desde 1 de setembro de 2014, é responsável pela coordenação
editorial do site https://www.madaniya.info e apresentador de uma
coluna semanal na Radio Galère (Marselha), às quintas-feiras, das 16h às 18h.
Fonte: Charlie
Hebdo, un an après - Madaniya
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice

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