RENÉ — Este texto é publicado em parceria com www.madaniya.info.
Salvo alguns contratempos, os Estados Unidos e os Talibã assinaram um acordo histórico em 29 de Fevereiro de 2020, para teoricamente acabar com um conflito de 18 anos que começou após o ataque de 11 de Setembro de 2001 aos símbolos da hiperpotência americana e custou ao orçamento dos EUA impressionantes US$ 2 triliões. O texto negociado em nome dos Estados Unidos por Zalmay Khalilzad, o embaixador dos EUA em Cabul, de ascendência afegã, um remanescente da administração republicana de George Bush Jr, e o líder político talibã, Abdul Ghani Barada, foi assinado no Catar, na presença de Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA.
As negociações duraram um ano e meio. O
acordo prevê a retirada das tropas americanas dentro de 14 meses e abre caminho
para negociações de paz inter-afegãs. 1.800 tropas americanas e mais de 30.000
civis afegãos perderam as suas vidas no conflito
§
Para ir mais longe sobre este conflito, juntam-se
as revelações do Washington Post sobre as
derivas do conflito https://www.madaniya.info/2020/02/10/afghanistan-papers/
§
E o
conteúdo do acordo https://www.mondialisation.ca/lenigme-de-laccord-de-paix-en-afghanistan/5642240
Voltando a um aspecto pouco conhecido das negociações clandestinas entre a Arábia Saudita e os Talibã para fechar este dossier, entregando Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, aos sauditas.
O relato da tempestuosa reunião entre o chefe dos serviços de inteligência
sauditas e Mullah Omar, líder do Talibã.
A Arábia Saudita ofereceu amnistia a Osama bin Laden, acompanhada de uma soma de US$ 200 milhões se ele concordasse em voltar ao Reino; duplicando a quantidade se o líder da Al Qaeda confirmasse numa declaração à sua chegada ao aeroporto saudita que "a lei islâmica se aplicava da maneira mais perfeita no território do Reino".
"Quando conheci Osama bin Laden nos
porões de Tora Bora no final de Novembro de 1996, ele confirmou-me que as
autoridades sauditas haviam enviado vários emissários. Numa das delegações
estavam a minha própria mãe, acompanhada do seu segundo marido, Mohamad Attas,
bem como um grupo de empresários de Hejaz (região de Jeddah).
Esta revelação está contida num
testemunho de Abdel Bari Al Aywane, um dos poucos jornalistas no mundo a ter
conhecido Osama bin Laden, no seu refúgio em Tora Bora. Fundador do jornal
trans-árabe 'Al Quds Al Arabi', e depois do site online 'Ar Rai Al Yom', o Sr.
Atwane, um dos melhores especialistas no mundo árabe muçulmano, reagiu às
declarações do príncipe Turki Ben Faysal, no canal saudita Al Arabiya, embelezando
o seu papel neste caso.
Para o leitor de
língua árabe, o relato completo deste testemunho, neste link.
"Os emissários eram portadores de uma oferta em duas partes: a amnistia real e a libertação de 200 milhões de dólares que representavam a parte de Osama bin Laden nos lucros gerados pelas actividades do Consórcio Bin Laden, na época um gigante da construcção saudita.... "O aumento dessa soma se no seu desembarque na Arábia Saudita, Osama bin Laden fizesse uma declaração à imprensa confirmando que a lei islâmica se aplicava da maneira mais perfeita em território saudita", prosseguiu Atwane.
Osama Bin Laden confirmou ao Sr. Atwane
que ele recusou as duas ofertas sauditas. A delegação saudita regressou de mãos
vazias e foi "a última vez que o líder da Al Qaeda viu a sua mãe, Alia
Ghanem", disse o jornalista.
A oferta saudita a Mullah Omar
O relato de Abdel Bari Atwane sobre esta entrevista tempestuosa
"Uma semana após a entrevista do príncipe Turki Ben Faysal com Molalh Omar, que ocorreu em Agosto de 1998, após os ataques em Nairóbi e Dar Es Salaam, Abu Mouss'ab As Soury (de seu nome verdadeiro Moustapha Sitt Mariam), procurou-me por telefone para me informar do conteúdo da negociação.
"O príncipe Turki dirigiu-se a
Molalh Omar num tom cheio de desdém e presunção. Ele ordenou ao líder dos seus
Talibã que lhe entregasse Osama bin Laden, que ele devia embarcar com ele no
avião especial que levaria o príncipe saudita de volta a Kandahar antes de
pousar em Ryad, desembarcando o líder da Al Qaeda do avião algemado.
"Em troca, o príncipe Turki propôs
o reconhecimento do governo talibã, substituindo o governo presidido por Hamid
Karzai, a restituição aos Talibã do assento na ONU e, finalmente, propostas financeiras
atraentes."
"Diante de tal comportamento
obsequioso, Mullah Omar não conseguiu conter a sua raiva, recriminando
severamente o chefe dos serviços de inteligência sauditas: "Estou
preparado para entregar Osama bin Laden, desde que ele compareça perante um
tribunal legítimo composto por juízes da Arábia Saudita, Afeganistão e outros
países muçulmanos. Se tal tribunal o condenar por terrorismo, cumprirei a
sentença imediatamente.
"Então, olhando para o príncipe
saudita, o líder talibã assegura-lhe: Como é que me pode pedir para entregar um
Mujahid muçulmano a um país ateu, neste caso os Estados Unidos, para julgamento
no seu território." Então, juntando o gesto à palavra, Mullah Omar pede ao
príncipe saudita para sair da sala. O que foi feito de imediato.
Sudão: salvo-conduto para o presidente sudanês Omar Al-Bashir em troca por
entregar Osama bin Laden aos sauditas
A Arábia Saudita ofereceu ao general Omar Al Bachir, que foi deposto em 2019, garantir-lhe um salvo-conduto, obtendo a anulação da sua presença perante o Tribunal Penal Internacional em troca da sua entrega às autoridades sauditas de Osama bin Laden.
O líder da Al Qaeda havia fugido para o
Sudão em 1995 depois de a sua nacionalidade saudita fter sido revogada. Ele
escolheu o Sudão pela sua proximidade geográfica com o Egipto, o lar do seu
braço direito e sucessor Ayman Al Zawahiri, que tinha uma grande rede de apoiantes
da Irmandade Muçulmana.
Os ataques às embaixadas americanas em
África em 7 de Agosto de 1998 em Nairóbi, Quénia, e Dar Es Salaam (Tanzânia)
foram realizados por agentes locais da Al-Qaeda.
A primeira consequência deles foi
colocar Osama Bin Laden na lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI.
O ataque a carro-bomba na embaixada de
Nairóbi matou pelo menos 213 pessoas, das quais 12 eram americanos, incluindo
dois funcionários da CIA, e feriu mais de 4.000, incluindo o embaixador. O
ataque à embaixada em Dar el Salaam, usando o mesmo modus operandi, matou 11
pessoas e feriu outras 85.
Com o bombardeamento do World Trade
Center em 1993, o bombardeamento das Torres Khobbar na Arábia Saudita, e o
ataque ao USS Cole no Iémen, os ataques das embaixadas dos EUA em África
estavam entre os ataques anti-americanos mais significativos que precederam os
de 11 de Setembro de 2001.
§
Sobre os ataques em Nairóbi e
Dar es Salaam, veja os depoimentos de um arrependido neste link: https://www.madaniya.info/2014/11/26/al-qaida-derriere-les-attentats-paris-en-1995-selon-l-ancien-messager-ben-laden/
O ataque à casa de Osama Bin Laden
Osama bin Laden foi morto num ataque na sua residência em Bilal2, nos arredores de Abbottabad, Paquistão, em 2 de Maio de 2011. O ataque de 40 minutos, apelidado de "Operação Lança de Neptuno", foi conduzido por uma equipa de cerca de 20 SEALs (comandos da Marinha americana). De acordo com a versão oficial americana, os restos mortais de Osama bin Laden foram lançados no mar alto.
Baseado no testemunho do irmão da esposa
de Osama bin Laden, Abdel Bari Atwane conta:
"A minha irmã, Amal As Sadat,
estava ao lado do marido no último andar da sua casa. Osama Bin Laden segurava
uma metralhadora perto da sua mão. No primeiro alerta, a minha irmã lançou-se
sobre o marido para o proteger. Ela sofreu uma lesão na coxa.
"Ninguém sabe o que aconteceu desde
então, excepto que um dos filhos de Osama bin Laden, Khaled, foi morto ao seu lado
e de dois dos seus companheiros. Um dos três helicópteros envolvidos no ataque
foi destruído.
O ataque foi iniciado com base numa
denúncia de um médico paquistanês, que permanece até hoje numa das prisões do
Paquistão.
epílogo
Dois dos colaboradores mais próximos de Turki Ben Faysal - Osama bin Laden e Jamal Khashoogi - desapareceram sem deixar rastro, privando a narrativa saudita de temíveis oponentes.
"Turki Ben Faysal endossa a versão
americana e afirma que os restos mortais de Osama bin Laden foram transferidos
a bordo de um navio de guerra americano para o Mar Arábico, na costa do Iémen,
onde foi submerso sob a lei islâmica, na presença de um imã que realizou a
"oração dos mortos". Tal esquema havia sido decidido a fim de impedir
que o túmulo do líder da Al Qaeda se tornasse um lugar de peregrinação para os seus
simpatizantes. A administração Obama absteve-se de apresentar evidências
convincentes sobre esta questão.
De qualquer forma, -por acaso ou não -
deve-se notar que dois dos colaboradores mais próximos do Príncipe Turki Ben
Faysal, o primeiro, Osama bin Laden, o segundo, Jamal Khashoggi, ex-emissário
do chefe dos serviços de inteligência sauditas ao líder da Al Qaeda no Afeganistão,
conheceram um fim violento, na maior incerteza sobre a sua sorte.
O primeiro, Osama bin Laden,
oficialmente submerso, o segundo, Jamal Khashoggi, que também era um ex-bagageiro
do príncipe Turki para os "árabes afegãos" quando ele era o chefe dos
serviços de inteligência sauditas, desmembrado no consulado saudita em Istambul
em Outubro de 2018, sem que os seus restos mortais fossem encontrados.
Estabelecida esta constatação, coloca-se
a questão de qual foi o destino final dos dois ex-colaboradores do chefe dos
serviços de inteligência sauditas na guerra anti-soviética no Afeganistão
(1980-1989), levantando dúvidas de que a resposta acontecerá num futuro
previsível.
§
Para ir mais longe, veja Jamal
Khashoogi, um produto
puro da matriz takfirista Wahhabi https://www.madaniya.info/2018/10/19/arabie-saoudite-jamal-khashoggi-non-un-parangon-de-la-liberte-de-la-presse-mais-un-pur-produit-de-la-matrice
§ Rei Salman, um dos maiores
coleccionadores da jihad afegã https://www.madaniya.info/2016/03/08/salmane-israel-2-3-moujtahed-acte-3/
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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