31 de Maio de
2021 Olivier Cabanel
Num único dia, quase um bilião de euros foram angariados para reconstruir Notre Dame... e enquanto isso, centenas de sem-abrigo, quasimodos do nosso tempo, morrem na quase indiferença geral.
Os bilionários do país dispararam primeiro,
e num lance, dezenas de milhões estão a chegar para salvar o monumento
histórico...
Notre Dame de Aleppo, testemunha de 1300 anos de
história não teve essa oportunidade, destruídaa sob um tapete de bombas,
algumas das quais provavelmente eram francesas,... e provavelmente nunca será
reconstruída.
Os Pinaults, os Arnaults e outros Bettencourts já libertaram meio bilião de euros, no que foram seguidos por outros grandes industriais... link
Só que, finalmente, é o Estado que faz uma má operação, já que os generosos doadores poderão deduzir ~70% das suas doações dos impostos que tiveram que pagar, fazendo finalmente um bom negócio às custas do Estado. link
Ainda mais desde que um ex-ministro da Cultura, Jean-Jacques Aillagon, neste caso, pediu que essa dedução subisse para 90%, e que o Estado aprovasse urgentemente uma lei nesse sentido. link
Ele retirou o seu pedido, ao descobrir que as doações já estavam perto de um bilião de euros, o que já era suficiente. link
Mas, nas ruas próximas, e por décadas, pobres ignorantes morrem todos os anos na indiferença de muitos ricos.
No entanto, Macron havia prometido
que, a partir do 1º ano do seu mandato, ninguém viveria nas ruas. link
Somente na capital, 3.622 pessoas sem-abrigo foram contabilizadas em Fevereiro de 2019... quando o ano apenas tinha começado... foram 3035 em 2018,um aumento tão terrível, que não augura nada de bom para o futuro... link
Vamos acrescentar que desses 3622 sem-abrigo, 566 morreram nas ruas em 2018. link
Outra promessa que terá que ser colocada na gaveta das decepções...
Outra promessa que é objeto de debate é
a que Macron acaba de fazer, sobre a reconstrucção da catedral
devastada: tudo deve ser concluído para os Jogos Olímpicos, ou seja, em menos
de 5 anos.
De facto, além das afirmações optimistas
que garantem que o essencial tenha sido salvo, outros, mais seriamente, estão
preocupados com o estado actual do edifício, alegando que alguns sectores foram
seriamente degradados, e ameaçam desabar, causando na sua queda, a queda de outras
partes do edifício.
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Para muitos especialistas, é missão impossível... começando com Alexandre Gady, historiador patrimonial que disse: "5 anos é um tempo político, não é muito sério...".
François Jouanneau, arquitecto dos
edifícios de França deixa bem claro, declarando que "com a água
e o calor, a estrutura ficou enfraquecida (...) acima de tudo, medidas urgentes
devem ser tomadas para proteger e conservar todo o edifício. Isso é essencial
para que o desastre não se estenda ainda mais. (...) uma vez que o todo esteja
seco e estabilizado, será necessário diagnosticar ponto por ponto toda a
estrutura e alvenaria, pedras e argamassa".
Philippe Bélaval, presidente do Centre des Monuments Nationaux, coloca a
sua pitada de sal: "antes de determinar o programa de trabalho,
será a fase mais longa: garantir a estabilidade do monumento". link
Segundo François Govent, inspector-geral de monumentos históricos, apenas para a definição do projecto e a criação do programa de obras, leva até dois anos.
Deve-se lembrar que esta etapa só pode
ser iniciada uma vez que todo o edifício tenha sido estabilizado.
Além disso, segundo Franck
Riester, actual Ministro da Cultura, a reconstrucção poderia ocorrer
entre 10 e 15 anos... Stéphane Bern é ainda menos
optimista, considerando 10 a 20 anos.
Em primeiro lugar, porque a experiência
mostra que, em casos semelhantes, levou muito mais tempo para reconstruir
prédios devastados deste tipo.
Alexandre Gady tenta uma
comparação com o maior estaleiro de obras daEuropa, o do castelo
de Lunéville, que sofreu um incêndio, lembrando que foi lançado em 2003,
e ainda não está concluído... Há, pois, 16 anos. link
Além disso, é grave basear o período de reconstrucção na realização dos Jogos Olímpicos?... velocidade e pressa não combinam bem.
Parece que a promessa feita em tom
solene por Macron, portanto, carece seriamente de
discernimento.
O mesmo talvez aconteça com o resultado do "grande debate"... cujo conteúdo já conhecemos, pois mesmo que o presidente tenha demorado a falar, o texto do discurso já havia sido enviado à media.
Já sabemos que o
famoso RIC, um pedido prioritário dos mediadores, foi refutado, uma
vez que se limitaria apenas às localidades, e em qualquer caso não a todo o
país. link
Em suma, já podemos concluir que as exigências dos Coletes Amarelos foram simplesmente ocultas. link
Nestes tempos de incêndios graves, é sério colocar óleo no fogo?
Mas de volta a Notre Dame.
Sem cair numa teoria da conspiração, um
homem questiona-se sobre este incêndio, e este homem não é qualquer um, já que
é o arquitecto Benjamin Mouton, ex-arquitecto-chefe de Notre Dame
de Paris que trabalhou no estaleiro de obras da catedral durante 13
anos, a fim de trazê-lo para padrões seguros.
Questionado por Pujada
no canal LCI, ele perde-se em conjecturas e na pergunta: "você
ficou surpreendido que esse fogo se tivesse espalhado tão rapidamente"... eao
que responde: "completamente, incompreensível!, é carvalho
muito velho, e queimou como um fósforo, como se fosse outra essência!, eu não
entendo! a propagação é extremamente curiosa... Carvalhos de 800 anos, não
queimam tão facilmente (...) toda a instalação eléctrica foi ajustada às normas,
e a questão de um curto-circuito deve ser completamente descartada (...)
alarmes de incêndio foram instalados , ligados directamente aos bombeiros (...)
dois homens estavam permanentemente presentes, dia e noite, para ir ver assim
que houvesse um alerta, alertando os bombeiros assim que a dúvida fosse
levantada (...) Ainda estou bastante atordoado". link
No entanto, lembramos que um primeiro alarme tinha sido ouvido por volta das 18:30... perturbando o padre que estava a pregar naquele momento, pedindo aos fiéis para sair, em seguida, chamando-os de volta de seguida, aparentemente convencido de que se tratava de um falso alarme ... porque os seguranças não tinham notado fumo... alarme que iria explodir novamente 23 minutos depois, causando a fuga de todos os fiéis. link
Alguém levantará um dia essas áreas cinzentas?
Não podemos reescrever a história, mas o que teria
acontecido se o 1º alarme tivesse sido levado a sério?
O incêndio poderia ter sido contido?
Pois como o meu velho amigo africano
diz: "os sábios não arrancam o que o tolo plantou".
Fonte: Leurs pierres valent plus que nos vies – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por
Luis
Júdice
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