30 de Maio de 2021 Robert Bibeau
Se os europeus e os norte-americanos conseguiram até agora passar pela governança pobre da pandemia COVID-19, é graças, em parte, às medidas de apoio tomadas pelos seus governos, que mantiveram a economia à distância ao longo do último ano. No entanto, milhares de pessoas que vivem nesses países ricos sofreram perdas de rendimento muito significativas e há longas filas em frente aos balcões de ajuda alimentar.
Nos países mais pobres, a situação é catastrófica. Confinamentos, recolher obrigatório, restricções, desfalques, mercado negro e outras medidas governamentais a pretexto da falsa pandemia farão entre 119 e 124 milhões de pobres (a viver com menos de US$ 1,90 por dia), de acordo com estimativas do Banco Mundial.
Este cálculo inclui pessoas cujo estatuto se deteriorou como resultado da pandemia (entre 88 e 93 milhões), mas também aqueles que teriam sido retirados da pobreza se não fosse pela má governança da chamada pandemia (31 milhões de pessoas).
Antes da pandemia, o Banco Mundial previu que haveria 31 milhões a menos de
novos pobres em 2020. Estamos muito longe disso.
De acordo com uma pesquisa por telefone realizada
pelo Banco Mundial em países em desenvolvimento, aos quais ele vem supostamente
em socorro, desde o início da pandemia, 51,5%
dos adultos tiveram que dispensar pelo menos uma refeição por falta de
dinheiro. Os pobres não morrem do vírus – os governos lacaios fazem-nos morrer
de fome sem contaminação viral.
Esta é a primeira vez em 20 anos que a taxa global de pobreza aumentará, diz Ambar Narayan, Economista Sénior do Cluster de Experiência em Pobreza e Equidade do Banco Mundial. A última vez que a pobreza global aumentou foi após a crise financeira asiática em 1998", diz ele.
Desde 1999, o número de pessoas a viver em extrema pobreza caiu mais de 1 bilião. A gestão calamitosa da pandemia COVID-19 corre o risco de reverter parcialmente esses progressos.
As regiões mais afectadas são aquelas onde a pobreza já era alta, diz Narayan, incluindo a África subsaariana e o sul da Ásia e América Latina.
A esse estrato de pessoas pobres, a governança patética do COVID-19
adiciona um novo segmento da população, explica o economista. Muitos deles
vivem em países de rendimento médio, em centros urbanos e trabalham nos sectores
informais.
Isso é diferente da pobreza estrutural que vimos antes da pandemia,
argumenta.
Na Ásia, muitos desses novos pobres estão em países como o Bangladesh, o Paquistão
e, sobretudo, na Índia, que tem todo o seu peso demográfico na balança dos
pobres.
A Índia acolhe cerca de um quarto das pessoas do mundo que vivem abaixo da
linha da pobreza, diz Jules Naudet, sociólogo do Centro para o Estudo da Índia
e do Sul da Ásia (EHESS-CNRS). As tendências indianas estão, portanto, a pesar
sobre a dinâmica global.
© Indranil Mukherjee/afp via getty images Voluntários de uma organização não-governamental distribuem alimentos a indianos necessitados em Mumbai, 15 de Abril de 2021.
Os problemas económicos do país não datam da governança calamitosa do COVID, diz o pesquisador, mas sim das más políticas governamentais dos últimos anos.
A desmonetização decretada pelo governo Modi em
2016 causou um choque que levou a falências e ao aumento da dívida.
Numa época em que a economia já estava a desacelerar, para evitar o pior, o governo decidiu, com apenas quatro horas de aviso prévio, impor um confinamento à escala do país inteiro", diz Jules Naudet. Como eles não tinham mais meios de subsistência, os trabalhadores migrantes tentaram retornar às suas aldeias, o que resultou em congestionamentos maciços e milhares de mortes. O vírus Sars-CoV-2 e o Covid-19 não têm nada a ver com essas decisões de um governo fracassado ao serviço de bilionários indianos acossados pela concorrência estrangeira.
© Amit Dave/Reuters Os trabalhadores migrantes, que ficaram de fora do trabalho em Março de 2020 devido ao confinamento, estão a tentar retornar à sua região de origem.
Durante este primeiro confinamento, o governo colocou em prática algumas medidas para ajudar os mais pobres, incluindo a distribuição de arroz e lentilhas, mas muitas pessoas sofreram com a fome e ficaram fortemente endividadas. Durante a segunda vaga – o segundo confinamento insano – a angústia foi ainda maior",diz Naudet.
Desigualdades ampliadas
Os impactos da governança calamitosa da pandemia COVID-19 ainda estão a ser sentidos, particularmente no que diz respeito às desigualdades de rendimento no interior dos países, bem como à diminuição da mobilidade social, ressalta o Banco Mundial.
Em muitos países em desenvolvimento, a
mobilidade social já é muito baixa, diz Ambar Narayan. No entanto, com a pandemia tratada por lacaios políticos, milhares de crianças foram
privadas da escola e oportunidades para melhorar a sua
situação. As consequências a médio e longo prazo provavelmente serão
desastrosas.
©/Reuters Os colombianos mobilizaram-se contra o governo, enquanto a economia do país se deteriorou acentuadamente com a gestão mórbida da pandemia ao serviço da Big Pharma e da GAFAM.
Vários observadores temem que esse empobrecimento brutal possa levar a uma crise social em vários países frágeis. A coesão social está a ser prejudicada pela gestão incompetente da pandemia, escreve o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) num estudo que mostra que tumultos, manifestações e violência colectiva aumentaram ao longo do último ano.
Os efeitos do confinamento e da crise variam de acordo com os sistemas políticos, bem como de acordo com o nível de pobreza ou desenvolvimento dos países, segundo Mathieu Couttenier, professor-pesquisador da École normale supérieure de Lyon. O confinamento tende a exacerbar as desigualdades económicas existentes, as tensões políticas e as tensões religiosas e étnicas", disse ele.
Em alguns casos, isso tomou a forma de manifestações denunciando (ou exigindo) medidas governamentais, enquanto noutros, tem sido organizada violência por grupos armados. A violência mais estruturada ocorre principalmente em países onde grupos insurgentes estão a lucrar com o enfraquecimento do Estado, particularmente em África.
No entanto, os países do Norte não são poupados, com a violência que toma a forma, por exemplo, de represálias contra grupos considerados bodes expiatórios, como a comunidade asiática. Num contexto de instabilidade económica, tendemos a culpar aqueles que têm menos poder na sociedade, os mais pobres ou estrangeiros", acredita Couttenier.
Como prevenir esses surtos de violência?
Em alguns casos, os Estados podem intervir estabilizando o preço de certos alimentos para evitar o empobrecimento generalizado, acredita Couttenier.
Noutros, pode haver trabalho educacional e informativo para combater
estereótipos que levam à violência contra determinadas comunidades. Mas é
realmente caso a caso, considera ele. Cada país é um caso único."
A comunidade internacional, por sua vez,
também tem um papel a desempenhar no apoio aos países em desenvolvimento. Não
pode haver um fim duradouro para a crise económica sem acabar com a (falsa) crise sanitária", escreve o Fundo
Monetário Internacional (FMI), que defende doações maciças de vacinas e aumento
de subsídios para nações menos afortunadas.
Ajudar os mais pobres colocará a máquina de volta aos trilhos mais rapidamente e proporcionará um retorno muito lucrativo sobre o investimento, acredita o FMI. (sic)
O G20 apoiou essa iniciativa emitindo
direitos de tiragem especiais , o que aumentaria a capacidade de empréstimos do
FMI. Os 20 países mais ricos do mundo também decidiram em Abril prorrogar a suspensão do serviço de
endividamento para os países mais vulneráveis até o final de
2021... sabendo que os países pobres não podem
pagar a sua dívida de qualquer maneira (NDE).
Fonte: The Legacy of COVID-19:
Pobreza e Instabilidade (msn.com)
Fonte do artigo: L’héritage de la gouvernance bourgeoise de
la pandémie: pauvreté et instabilité – les 7 du quebec
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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