terça-feira, 4 de maio de 2021

Colômbia: Greve geral - o proletariado luta para defender as suas condições de vida e de trabalho

 

 4 de Maio de 2021  Robert Bibeau 

Por Rosa Espinoza

O movimento nacional de greve de 21 de Novembro de 2019 veio à superfície como um gigante ressuscitado depois de 28 de Abril de 2021, iniciando o que está a tornar-se uma das maiores lutas deste período: a Greve Geral contra a reforma tributária e os aumentos fiscais.

A reivindicação de princípio surgiu da exasperação causada por essa lei odiosa introduzida pelo Ministério das Finanças. Mas por trás disso, há um profundo descontentamento fomentado por uma longa lista de abusos contra as massas cada vez mais empobrecidas nas mãos do governo Duque. A cada dia que passa, os grevistas adicionam novas exigências, quer figurem ou não na lista oficial dos sindicatos.

No entanto, uma solução real na forma de um programa revolucionário para ajudar a lidar com a crise actual não está em lugar nenhum, muito menos uma liderança forte que una todas as organizações militantes por trás de um objectivo comum.

Isso dá ao movimento um carácter desordenado, enfraquece-o e expõe-o a acções espontâneas e insurreições, abrindo um espaço para oportunistas e reformistas que, a cada avanço da greve, tentam chegar a um acordo com a burguesia para fins puramente eleitorais.

No entanto, as experiências que vivenciamos trazem lições duradouras. Apesar da sua crueldade, cada dia mostrava à maioria a sua capacidade de unidade. Ao mesmo tempo, ele revelou às massas a violência e a gravidade da elite colombiana — isso não é nada mais, menos, do que a verdadeira face do capitalismo.

Lições dolorosas

No primeiro dia, o clima estava mais ou menos calmo na maioria das 23 cidades onde os protestos ocorreram. De acordo com o comité de greve por trás do movimento, centenas de milhares de pessoas saíram para protestar contra a reforma tributária. O dia terminou com cacerolazos (bater de panelas – NdT)) audíveis em todos os lugares. No entanto, o medo imediatamente atingiu as elites, diante desta vigorosa demonstração de força das massas. Eles rapidamente libertaram a sua única arma: a repressão.

 Até agora, de acordo com a Human Rights International, 35 civis foram assassinados, 31 pessoas estão desaparecidas, 45 defensores dos direitos humanos foram atacados e uma mulher foi estuprada pela polícia durante as marchas. É possível que esses números sejam subestimados, dado que na cidade de Cali, os confrontos ocorreram e serviram de pretexto para decretar um recolher obrigatório de cinco dias, com a intervenção do exército.

No final de 30 de abril, o exército disparou indiscriminadamente contra manifestantes pacíficos e desarmados em Cali. Durante o tiroteio, a eletricidade foi cortada em vários bairros. Isso indica o grau em que essa estratégia está planeada. Um grande número de soldados chegou ao aeroporto na capital valle del Cauca a tempo do 1º de Maio.

Esses actos violentos de repressão têm-se repetido noutras cidades, como Medellín, Bogotá, Neiva, Pereira, Buenaventura, entre outras. Armas de fogo, carros incendiados, janelas de casas partidas, espancamentos brutais, uso de estádios desportivos como centros de tortura, e muitas outras coisas, são a longa lista dos seus actos criminosos.

A ordem foi dada por Uribe, que foi ao Twitter para exigir que o exército e a polícia pudessem usar as suas armas para atirar em manifestantes, que ele descreveu como vândalos. Este tweet provocatório foi apagado e a conta do ex-presidente suspensa.

Ao mesmo tempo, o presidente Duque agiu de forma infame: ignorou a marcha e denunciou "actos de vandalismo", enquanto criminalizava, ameaçava e banalizava protestos. O seu último acto, impulsionado pela pressão sob a qual estava, foi anunciar mudanças na redacção do projecto de reforma sobre questões como o IVA sobre bens básicos, a gasolina e o não aumento do imposto de rendimento básico.

São mudanças cosméticas. Há problemas subjacentes que são mais prejudiciais ao (já baixo) rendimento dos trabalhadores. O movimento está cansado dos métodos de Duque, e a resposta tem sido radicalizar o movimento, que agora exige a retirada total dessa reforma tributária e da reforma sanitária, bem como a renúncia do presidente, ou o seu derrube pelas massas.

No entanto, essa iniciativa veio directamente das massas na rua. Em vez disso, o Comité de Greve e os sindicatos dos trabalhadores, como a CUT e a FECODE, decidiram pelo contrário deslocar o protesto em andamento, apelando ao regresso à rua para uma paragem nacional a partir de 19 de Maio.

Eles argumentam que o recolher obrigatório colocado em vigor para o terceiro pico da pandemia exige responsabilidade em matéria de saúde pública. Uma retirada nessas condições não preserva os progressos feitos e não prepara os futuros progressos. Constitui um abandono dos trabalhadores no meio da luta pelo medo de enfrentar a reacção do governo Duque-Uribe.

Sem a liderança dos sindicatos ou uma alternativa revolucionária, as massas colombianas só podem confiar na sua própria energia. Se essa energia pode mover montanhas, só pode fazê-lo com uma liderança revolucionária e um programa socialista (comunista – NdT). Sem isso, não será possível encontrar uma expressão que possa mudar as condições que a geraram e pode dissipar-se. Tudo o que vamos conseguir é um confronto aberto com a reacção: um confronto que a reacção tem todas as chances de vencer sem muitas dificuldades. 

Estamos à beira de uma insurreição em larga escala, um facto sentido de forma tangível pelas massas. Temos visto um despertar em alguns indivíduos do exército, e até mesmo na polícia, mostrando uma brecha nessas instituições corruptas.

Mas temos que entender que isso é só o começo. Essas fracturas são compreensíveis porque esses órgãos repressivos são compostos, dentro das suas fileiras, por membros da classe trabalhadora e dos camponeses pobres. Em muitos casos, as suas origens de classe tendem a criar simpatia pela causa dos trabalhadores, especialmente quando essa causa encontra expressão política.

Como enfrentar o futuro?

Há sempre uma determinação para seguir em frente. Parece que não há travão que possa conter a desobediência das massas (proletárias). Embora apoiemos esta rebelião, acreditamos que é importante que ela seja apoiada por uma organização e uma educação teórica, caso contrário, os resultados podem ser tão trágicos quanto têm sido até agora. (Agora não é hora de ser um teórico...)

Comités de bairro devem ser criados para discutir como conduzir a auto-defesa contra os abusos policiais e começar a discutir problemas na zona, na cidade e ao nível nacional, e sugerir propostas aos conselhos territoriais.

Estes devem fazer parte da democracia da greve: quando um curso de acção é decidido através de um debate e uma votação, ele é mantido até que a oportunidade para outro debate se abra. Mais do que isso, é necessário impregnar essas organizações com um programa político socialista (comunista – NdT) que lhes possa dar um objectivo maior do que a defesa do movimento: o objectivo de desafiar a elite colombiana pelo poder.

Temos visto uma série de movimentos insurgentes contra a legislação reaccionária na América Latina durante o último período, nomeadamente no Chile e no Equador em Outubro de 2019, onde a auto-defesa foi organizada pelas massas revolucionárias.

A história recente da América Latina está repleta de insurgências causadas por legislações como a reforma tributária. Participámos no Outubro Vermelho no Chile e Equador. Em ambos os países, os protestos contra as leis de austeridade terminaram com greves gerais que desafiaram o poder dos governos de Piaera e Moreno, respectivamente.

Em ambos os casos, foram criados guardas populares, comités de combate formados para defender os manifestantes contra o pior da polícia para oferecer e ajudar as massas a ocupar edifícios do governo. Esses órgãos são o próximo passo, já que a burocracia sindical abdicou do seu papel de liderança nesta luta.

A tarefa dos revolucionários no momento é clara: procurar os melhores elementos da classe operária colombiana com essas ideias, e começar a trazer essas ideias para o resto do povo colombiano. Ideias que esclarecem a razão por trás da crueldade deste sistema e do governo Duque-Uribe em particular e como acabar com a classe que este governo representa. (Em tal situação e para tal propósito, seria melhor procurar outras coisas do que "ideias" ...)

Fonte: Colombie: Grève générale – le prolétariat lutte pour la défense de ses conditions de vie et de travail – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para a Língua Portuguesa por Luis Júdice

 

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