terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A DÍVIDA AMERICANA E O FINANCIAMENTO DA GUERRA NA UCRÂNIA

 


 3 de Janeiro de 2023  Robert Bibeau 

"Faites vos jeux, Rien ne va plus

O inexorável naufrágio do dólar americano


Por Dominique Delawarde. 23 de Dezembro de 2022

No dia 20 de Novembro, fiz uma análise da evolução da confiança da comunidade internacional no dólar americano.

https://reseauinternational.net/ou-en-est-la-confiance-de-la-communaute-internationale-dans-le-dollar-etats-unien/

Note-se o desinteresse gradual de quase toda a comunidade internacional, com a notável excepção do Reino Unido e das instituições europeias, para o produto financeiro cada vez mais tóxico que se tornou a dívida americana denominada em dólares. A operação especial russa na Ucrânia e as sanções económicas de boomerang aplicadas à Rússia pelo Ocidente pareciam precipitar o declínio das principais economias ocidentais, provocando uma inflacção galopante, uma grave crise energética e um abrandamento da produção industrial ligado aos custos energéticos.

Somente no decurso do mês de Outubro, os novos desenvolvimentos nos EUA são tais que não podem ser ignorados. Parecem anunciar o triste epílogo que pôs fim à curta aventura de John Law, o primeiro banqueiro central francês, que queria transformar ouro em papel e papel em ouro sob Luís XIV e que levou o nosso país à falência.

https://www.latribune.fr/opinions/tribunes/qui-est-john-law-notre-premier-banquier-central-461714.html

O livro de Nicolas Buat (2015) publicado sob o título: "John Law: dívida ou como se livrar dela" mostra-nos que John Law foi um precursor da lógica dos banqueiros centrais do nosso tempo. Foi o "primeiro banqueiro central" na medida em que acreditava poder estimular a economia apenas pelo poder da circulação monetária.

Onde é que estamos nos EUA, sobre os últimos dados publicados pelo Departamento do Tesouro a 31 de Outubro de 2022?

Num mês, a dívida federal aumentou 150 mil milhões de dólares, passando de 31.300 mil milhões para 31.450 mil milhões de dólares. A taxa da dívida dos EUA era, portanto, de 5 mil milhões de dólares por dia em Outubro de 2022.

Note-se também que, se somarmos as dívidas dos Estados da União, as das autoridades locais as das empresas e dos particularesa dívida total dos EUA é 3 vezes maior do que a dívida federal e ascende a 94.000 mil milhões de dólares (pelo menos 30 vezes o PIB da França).

https://www.usdebtclock.org/

No que diz respeito à evolução da confiança da comunidade internacional no dólar e na economia dos EUA, continua a diminuir, uma vez que a parte desta dívida dos EUA detida por estrangeiros, um indicador de confiança, continua a diminuir. Em Outubro, esta quota caiu 112 mil milhões de dólares (de 7.297 mil milhões para 7.185 mil milhões de dólares), mesmo com o aumento da dívida dos EUA em 150 mil milhões de dólares. https://ticdata.treasury.gov/Publish/mfh.txt

A análise estatal desta dívida detida pelos principais credores dos EUA mostra que a Ásia, incluindo os presumíveis aliados dos EUA (Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura) continua a virar as costas à dívida dos EUA e a descarregá-la gradualmente (Japão: – 42 mil milhões, China: -24 mil milhões, Coreia do Sul: -5,5 mil milhões, Singapura: -0,6 mil milhões, Taiwan: -0,6 mil milhões) só em Outubro. Isto é significativo.

Na Europa, o Reino Unido parece ter entendido que o apoio incondicional ao dólar era insustentável e reduziu a sua exposição à dívida dos EUA em 25 mil milhões de dólares em Outubro. A governança da UE continua a comprar dívida dos EUA, mas em quantidades muito pequenas (2 mil milhões de dólares).

A França, entretanto, é o oposto da tendência mundial e da tendência europeia, aumentando a sua exposição à dívida dos EUA em 10,7 mil milhões de dólares (????) Em Outubro de 2022: difícil de compreender e justificar. ....

Para regressar à economia dos EUA, cuja saúde precária apoia o dólar o melhor que pode, há que reconhecer que não está no seu melhor. Além da dívida, que aumentou 150 mil milhões de dólares num só mês, o défice orçamental anual aumentou 23 mil milhões de dólares em Outubro, passando de 1.200 mil milhões para 1.223 mil milhões de dólares, o défice comercial também se deteriorou em mais 12 mil milhões de dólares num mês, de 1.215 mil milhões para 1.227 mil milhões de dólares e o défice comercial com a China. aumentou ainda mais em Outubro de 417 mil milhões para 421 mil milhões de dólares por ano, batendo um recorde de todos os tempos.

A inflacção continua elevada em 7,7% em Outubro (mais de 12 meses), mas melhora ligeiramente (foi de 8,2% em Setembro).

Os principais índices de Wall Street estão a caminho da sua maior queda anual desde a crise financeira de 2008. O receio de uma recessão em 2023 está a pesar nos mercados financeiros.

https://www.boursorama.com/bourse/actualites/point-marches-wall-street-plonge-plombee-par-les-craintes-d-une-recession-ffb2c0da861876a024679e800ba6132a?symbol=%24INDU

É no contexto desta economia que se degrada gradualmente que o Congresso acaba de votar despesas recorde de defesa para 2023 de 858 mil milhões de dólares. Todos compreendem que estas despesas, como todas as anteriores, só podem ser financiadas por défices e dívidas adicionais. Quanto aos novos compromissos intermináveis de apoio financeiro à Ucrânia (mais de 40 mil milhões de dólares), todos têm de perceber que só podem ser financiados por um aumento do défice orçamental e da dívida dos EUA e que precipitarão a falência se tal acontecer a curto ou médio prazo.

https://www.armed-services.senate.gov/imo/media/doc/fy23_ndaa_agreement_summary.pdf

Quando comparamos este gasto de defesa dos EUA de 858 mil milhões de dólares com o défice orçamental de 1,223 mil milhões de dólares ao longo de um ano, percebemos que estas despesas de defesa representam dois terços do défice orçamental anual dos EUA e um terço da dívida anual dos EUA (quase 1,8 biliões de dólares em 2022.). Poderá tudo isto durar se o dólar perder o seu estatuto de monopólio virtual como moeda de troca e de reserva a nível mundial? Os BRICS e a SCO deverão desenvolver sistemas alternativos de câmbio em moeda nacional? Está o sistema SWIFT a competir ou a ser contornado por outros sistemas criados pela Rússia e pela China em países que desejam escapar à tirania do dólar e do Ocidente da NATO?

Os poderes financeiros neo-conservadores e mundialistas que estão a empurrar a Ucrânia para a guerra e o extremismo suicida do tipo "Masada" fizeram a arriscada aposta de uma derrota da Rússia. A sua política externa de "custe o que for preciso" pode muito bem custar-lhes muito, muito caro.

Fonte: LA DETTE AMÉRICAINE ET LE FINANCEMENT DE LA GUERRE EN UKRAINE – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




 

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