sábado, 27 de novembro de 2021

COVID 19 – Ciência ou Dogma?!

 


Desde 2020 que se aprofunda o fosso entre aqueles que defendem as vacinas experimentais e aqueles que apelam a um maior aprofundamento da investigação, sobretudo no que diz respeito à avaliação da vertente segurança, associada à eficácia, das mesmas.

A ciência, por mais pressa que tenha em resolver os problemas para os quais é chamada a encontrar solução, não é precipitada. Não querendo ser associada ao dogma, a ciência assenta na curiosidade, na experimentação sem preconceito, na dúvida recorrente, no debate aberto, ponderado e sistemático entre pares, na contínua pesquisa seguindo o método científico dialéctico da tese, antítese e síntese.

Único método que acolhe o pressuposto de que nada pode ser encarado como definitivo ou, pior, servir de caução a um qualquer determinismo, , pois o pensamento científico, tal como os fenómenos sobre os quais se debruça, são evolutivos e contraditórios, que hoje podem ser uma coisa, e amanhã o seu contrário.

Ao longo da história da humanidade, muitos dos que se reclamaram da ciência e se arrogavam como cientistas, ou como verdadeiros homens e mulheres de ciência, sofreram da tentação da  arrogância de serem os detentores da “verdade”, erigindo-a à condição de total e absoluta. Os episódios são muitos, alguns dos quais contemporâneos, outros mais distantes no tempo, como é o caso paradigmático de Galileu Galilei.

Muitos daqueles que hoje são classificados como negacionistas,  têm curiosidade, apelam à investigação continuada, séria, livre de toda e qualquer influência externa e estão abertos ao debate entre pares. Os verdadeiros negacionistas, no entanto, são aqueles que tendem de facto a classificar os primeiros como tal, uma classificação que é feita na base dos dogmas que, eles próprios, abraçam no que diz respeito ao método e praxis científica que deve assegurar a prevalência da ciência.

Desde o início da chamada crise pandémica COVID 19, que os campos, no âmbito da ciência, se dividiram. Em boa verdade, na exacta medida em que, noutras ocasiões, já havia dividido. Geralmente, um dos sectores nega o pressuposto do debate, nega a curiosidade que deve mover a ciência, a ausência de determinismo.

E é este um dos parâmetros que os distingue daqueles que sabem que o apelo deve ser feito ao debate aberto e franco entre correntes que defendem pontos de vista diferentes. Daqueles que exigem que toda e qualquer conclusão deve ser abordada e revista  por pares, sem manipulação ou dogmatismo.

Porém, um debate entre pares que obedeça, como ponto de partida, ao pressuposto de que cada um dos debatentes faça um declaração de interesses que faça a demonstração clara de que nenhum deles participa em qualquer debate inquinado por qualquer tipo de ligação a interesses que possam comprometer a independência dos pontos de vista que formulam e defendem.

E este ponto marca a diferença entre a “falsa ciência” e a boa ciência. É que, se o que estiver a ser defendido por uma das partes atender mais aos interesses comerciais, à prossecução de uma agenda de lucro a todo o custo, então o debate estará, à partida, inquinado. É um pouco como a situação de colocar as raposas a cuidar do galinheiro. Nada aconselhável.

E, quando os “decisores” das políticas sanitárias integram, em grande medida, a nível nacional e internacional, grandes empresas farmacêuticas , ou com elas tenham colaborado ou ainda colaborem, ainda mais fica comprometida a independência que deve presidir à investigação científica ou, ainda mais grave, ao plano terapêutico a seguir, influenciando governos de todo o mundo a estabelecer o discurso e a narrativa da “verdade absoluta”, impondo medidas terroristas e fascistas – mormente recorrendo à manipulação – para impôr a sua visão.

É manifesto, na actual situação de crise pandémica que, para além de ser facilmente compreendido que os únicos que até agora beneficiaram financeiramente das “vacinas experimentais” são os laboratórios farmacêuticos que “investigaram” as vacinas, também beneficiaram todos os governos – tanto a nível nacional, como internacional – que apostaram na liquidação sistemática dos sistemas públicos de saúde – mormente através de um desinvestimento agravado -, e que veem na alegada pandemia o bode expiatório de excelência para escamotear essa responsabilidade.

A nível nacional, um dos casos mais gritantes é o do novo Coordenador do Plano de Vacinação, o coronel Carlos Augusto Gomes Barbosa da Penha Goncalves, que veio substituir o “herói” nacional, também ele militar – a recorrência desta condição militar deverá significar algo - , o almirante Gouveia de Melo. Já para não falar do conceito de “herói”, manifestamente estranho a qualquer premissa científica, vejamos o curriculum do personagem em questão.

Deixemos de lado as questões meramente pessoais e familiares e detenhamo-nos sobre as questões que se podem prender com a decisão da escolha da sua personagem para este cargo:

·         Licenciado em Medicina Veterinária pela Universidade de Lisboa em 1984

·         Mestre em Biologia Molecular pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, em 1992

·         Doutorado em Imunologia pela Umea University, Suécia, em 1999

·         Prestou provas de Agregação na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, em 2007

·         Ingressando no quadro permanente de Medicina Veterinária do Exército em 1986, no posto de Tenente, recebendo a promoção ao posto de Coronel, em 2008

Um curriculum impressionante que não nos suscita qualquer reserva quanto às suas capacidades técnicas e científicas, nem compromete a sua honorabilidade. Vejamos, agora, outra vertente da sua actividade curricular:

·         Entre 2000 e 2001 foi investigador pós-doutorado no Cambridge Institute of Medical Research, na University of Cambridge, no Reino Unido

·         Foi chefe da Unidade de Genómica do Instituto Gulbenkian de Ciência entre 2002 e 2018

·         E, desde 2003 foi investigador principal do laboratório de Genética de Doenças no Instituto Gulbenkian de Ciência

·         Durante a sua carreira militar liderou o levantamento da capacidade laboratorial e operacional de Defesa Biológica do Exército e exerceu as funções de Chefe do Laboratório de Defesa Biológica (2006-2011), Chefe do Centro Militar de Medicina Veterinária (2011) e Sub-Director do Serviço de Saúde do Exército (2012-2015).

·         Fez parte da delegação portuguesa em reuniões anuais da Convenção das Armas Biológicas e publicou vários artigos de revisão e de divulgação na área da defesa biológica.

·         Professor Associado convidado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (2010-2018) e leitor em vários cursos de mestrado e doutoramento em Portugal. Foi orientador de oito investigadores pós-doutorados e de nove teses de doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência e de mais duas dezenas de teses de mestrado.

·         Recebeu o 1º prémio Pfizer de investigação clínica em Portugal em (2010), a bolsa Génese da Gilead (2019) e a bolsa de inovação da Ferring Pharmaceuticals.

·         Foi Presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina Veterinária (2013-16) e desde 2021 é Presidente da Sociedade Portuguesa de Imunologia.

·         Fez parte da delegação portuguesa em reuniões anuais da Convenção das Armas Biológicas e publicou vários artigos de revisão e de divulgação na área da defesa biológica.

·         Professor Associado convidado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (2010-2018) e leitor em vários cursos de mestrado e doutoramento em Portugal. Foi orientador de oito investigadores pós-doutorados e de nove teses de doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência e de mais duas dezenas de teses de mestrado.

·         Recebeu o 1º prémio Pfizer de investigação clínica em Portugal em (2010), a bolsa Génese da Gilead (2019) e a bolsa de inovação da Ferring Pharmaceuticals.

·         Foi Presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina Veterinária (2013-16) e desde 2021 é Presidente da Sociedade Portuguesa de Imunologia.

 

Claro que, um tal personagem, tendo estado ligado, quer no âmbito da formação, quer no âmbito executivo, quer no âmbito de reconhecimento e prémios atribuídos pela indústria farmacêutica, não pode assegurar qualquer tipo de distanciamento e independência relativamente ao debate científico que é urgente ocorrer e, mais do que isso, não pode assegurar que este seu parâmetro curricular não influenciará o seu desempenho operacional. 

E tal não quer afirmar que ele esteja corrompível ou que esteja a ser alegada ou potencialmente corruto. Nós somos seres sociais, influenciados - consciente ou inconscientemente - pelos "meios em que estamos envolvidos.

Muitas das empresas ou institutos mencionados no seu curriculum – desde o Cambridge Institute of Medical Research, até às farmacêutica Pfizer, Ferring Pharmaceuticals e à Gilead, estão envolvidos na acesa polémica e discussão que se gerou entre os dois campos relativos àquilo que deve ser a investigação científica em torno do vírus SARS-Cov 2 e à doença que provoca, o COVID 19 e, sobretudo, quanto aos métodos e ferramentas de investigação utilizados ou a utilizar.

Um caso típico de potencial situação de colocar a raposa a tomar conta do galinheiro, sem ofensa, quer para os humanos...quer para as galinhas!

Luis Júdice 

 

 

 

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