Robert Bibeau
Questão
Nacional e Revolução Proletária
Sob o Imperialismo Moderno
Capítulo 4
Nacionalismo e Socialismo
Paul
Mattick
Neste capítulo, analisamos um importante texto de Paul Mattick, intitulado "Nacionalismo e Socialismo", publicado em inglês no The American Socialist em Setembro de 1959, em francês no Front Noir (Fevereiro de 1965) e na ICO nº 99 em Novembro de 1970. Mais uma vez os nossos comentários estarão identificados com as letras NDLR.
Mattick escreveu aí: "Os socialistas não utópicos
favoreceram o capitalismo como oposto às
velhas relações sociais de producção, e saudaram o nacionalismo na medida em
que poderia acelerar o desenvolvimento capitalista. Sem admitir isso
abertamente, eles não estavam longe de aceitar o imperialismo capitalista (...) Eles também eram favoráveis ao
desaparecimento de pequenas nações incapazes de desenvolver a economia em larga
escala (...) No entanto, eles apoiaram as pequenas "nações
progressistas" contra os grandes países reaccionários. (...) Em nenhum
momento e em nenhuma ocasião, porém, o nacionalismo foi considerado um objectivo
socialista.
Em
toda a parte, o modo de producção capitalista construiu-se ao abrigo das fronteiras
nacionais, incluindo a União Soviética, a China maoista, o Vietname, a Coreia,
Cuba, etc. Estas fronteiras têm a vocação de preservar por um tempo as particularidades
tribais, feudais, camponesas, étnicas e do comércio local, que o capitalismo
constrói e destrói com o tempo a fim de se consolidar, dificilmente por vezes,
como mostra o nascimento dos nacionalismos no Médio Oriente e em África. Cada
um está em condições de apreciar a clareza do resumo apresentado por Mattick
que concentra a quinta-essência do pensamento pequeno burguês sobre a questão
das lutas de libertação nacional e contra “o imperialismo político”, depois de
Bukarine, Lenine, Trotski, Estaline e Mao. Os gurus da ortodoxia marxista-leninista
apresentam o imperialismo como uma política de grandes potências e militam
contra o retorno destas regiões ao
pré-capitalismo”, processo histórico de regresso à rectaguarda, de toda a
maneira impossível, que mesmo os criminosos de guerra americanos não
conseguiram impor aos vietnamitas, e que os carniceiros khmeres vermelhos não
conseguiram impor aos cambojanos. De mais a mais, é infelizmente falso pretender, como o
faz Mattick, que o nacionalismo nunca tenha sido considerado como um objectivo
socialista. NDLR
Prossigamos com o pensamento de Mattick.
Ele escreveu: "Esse novo nacionalismo, que abala a dominação ocidental e estabelece
relações capitalistas de producção e indústria moderna em regiões ainda sub-desenvolvidas, ainda é uma força" progressista
", como foi o nacionalismo do passado? Essas aspirações nacionais
coincidem de alguma maneira com as aspirações socialistas? Elas apressam o fim
do capitalismo enfraquecendo o imperialismo ocidental ou injectam uma nova vida
no capitalismo fazendo estender ao mundo inteiro o seu modo de producção?
"
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O grande capital e os seus teóricos
insinuaram que haveria uma relação de domínio ocidental contra a civilização
oriental. Aqui Mattick insinua que “ o novo nacionalismo institui as relações
de producção capitalista e a indústria moderna nas regiões subdesenvolvidas”.
Segundo a teoria materialista dialéctica proletária é o desenvolvimento das
forças produtivas e dos meios de producção que instituem o desenvolvimento de
um certo tipo de relações de producção (Estado-nação) e uma ideologia
(nacionalista burguesa) que os intelectuais burgueses prenomeiam "civilização ocidental” se ela é
impregnada de artefactos feudais ocidentais e “civilização oriental” se é impregnada de artefactos feudais orientais.
As relações de producção capitalistas – por todo o lado as mesmas, pois o modo
de producção capitalista industrial é por toda a parte o mesmo - por seu lado,
reforçam o desenvolvimento dos meios de producção. Assim, é o desenvolvimento
industrial da Ásia que permitiu a emergência das relações de producção
capitalistas nacionais (durante a sua fase de emergência), na China maoista
nomeadamente, país que desenvolveu uma indústria vigorosa ao abrigo das suas
fronteiras nacionais e que agora, enquanto estado-nação capitalista atingiu o
estádio último, imperialista, de desenvolvimento, integrando o capital
financeiro mundializado. A China procura portanto abater as barreiras
tarifárias dos seus concorrentes, a fim de conquistar os seus mercados orientais
ou ocidentais. O capitalismo é a condição do nacionalismo que se reforça até
que o capitalismo, chegando ao termo das suas contradições entra na fase
imperialista e faz cair as fronteiras nacionais e repudia a ideologia
nacionalista. NDLR.
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Mattick acrescenta: “
Todavia, no fim do século, é o imperialismo, não o nacionalismo, que estava na
ordem do dia.” Os interesses
"nacionais" alemães tornaram-se interesses imperialistas que
rivalizavam com os imperialismos de outros países. Os interesses
"nacionais" franceses eram do Império Francês, assim como os da
Grã-Bretanha eram do Império Britânico. O controle do mundo e a partilha desse
controle entre as grandes potências imperialistas determinaram políticas
"nacionais". As guerras "nacionais" foram guerras
imperialistas que culminaram em guerras mundiais”.
“ Nova demonstração (acima) do pensamento
socialista- idealista – burguês a propósito do imperialismo que Bukarine ,
Lenine e os bolcheviques ligaram à III Internacional e aos partidos comunistas
nacionalistas (eurocomunistas, nomeadamente) e que os trotsquistas e outras
oposições da esquerda e da direita adoptaram.
“
É o imperialismo e não o nacionalismo que está na ordem do dia da batalha”,
escreve o autor, estabelecendo uma oposição entre imperialismo e nacionalismo.
O imperialismo não é uma política de grande potência oprimindo os pequenos
países nacionalistas, como Bukarine sugeriu. Não há modo de producção
imperialista francês, britânico, alemão ou americano. O imperialismo é o modo
de producção capitalista nacional chegado à maturidade,e é em toda a parte o
mesmo. O imperialismo moderno
(capitalista) é o capital financiarizado,
globalizado, mundializado que tenta futilmente compensar a depreciação
dos meios de producção com o aumento da produtividade do trabalho e fazendo
isso pela alta da sua composição
orgânica, o que mergulha mais profundamente na sua contradição. O que é
próprio de todo o país capitalista, tão pequeno ou tão grande quanto o seja, é
atingir o estádio último da evolução capitalista – o estádio imperialista- onde as relações de producção capitalistas já
não podem assegurar o desenvolvimento das forças produtivas sociais, impedindo
por esse facto o modo de produção de se reproduzir a fim de assegurar a
valorização do capital; deixando o proletariado inútil, órfão do seu mestre
alienante, forçando-o a emancipar-se ou
a desaparecer. É então, não à escala nacional – o que os marxistas terão
compreendido instintivamente, denunciando as veleidades de construir o modo de
producção comunista num só país -, mas à escala internacional que a revolução
proletária deverá ser conduzida. A política revolucionária do proletariado não
faz suas as lutas de libertação nacional democráticas e burguesas que não são
senão guerras entre clãs capitalistas para o controlo do aparelho de estado
burguês e das fontes da mais-valia. NDLR
Seguindo os passos de Paul Mattick, descobrimos
"Um socialismo internacional consistente, como o de Rosa Luxemburgo, por
exemplo, que se opôs à" autodeterminação nacional "dos bolcheviques.
Para ela, a existência de governos nacionais independentes não alteraria o
facto de serem controlados pelas potências imperialistas, uma vez que estas
dominavam a economia mundial. Nunca se poderia lutar contra o capitalismo
imperialista ou enfraquecê-lo criando novas nações, mas apenas opondo contra o
supranacionalismo capitalista o internacionalismo proletário. Esses movimentos
pertencem à sociedade capitalista, assim como o seu imperialismo. Mas
"usar" esses movimentos nacionais para fins socialistas não poderia
significar outra coisa senão que livrá-los do seu carácter nacionalista ".
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Como
é que uma classe operária liliputiana, inexperimentada na luta de classes nas
frentes económica, política e ideológica, saída de meios de producção arcaicos,
na orla do capitalismo industrial ascendente, sempre em expansão em numerosas
regiões, e não tendo ainda conquistado certos países da Ásia, da África e da
América Latina; como é que pode esta classe emergente impor o internacionalismo
proletário que ela nem sequer supõe haver e que não virá senão com a paz
imperialista da evolução do modo de producção? NDRL
E Mattick acrescenta: "A Primeira Guerra Mundial produziu a
Revolução Russa e, quaisquer que fossem as suas intenções primitivas, foi uma
revolução nacional. Embora esperasse ajuda do exterior, ela nunca foi aportada
às forças revolucionárias do exterior, excepto quando essa ajuda foi ditada
pelos interesses nacionais russos. A Segunda Guerra Mundial e as suas sequelas
trouxeram a independência para a Índia e o Paquistão, a Revolução Chinesa (...)
Aparentemente, a era da emancipação nacional
não terminou, e é óbvio que a corrente cada vez mais forte contra o
imperialismo não serve os fins socialistas revolucionários à escala mundial
".
Que
libertação e que auto-determinação para os proletários da Ásia do Sueste, para
os da África e do Médio Oriente? Numa análise de classe proletária da economia
política, cada conceito tem um significado de classe. Assim, para nós
proletários revolucionários, o termo libertação não pode significar senão a
libertação da exploração da alienação da classe, do jugo do modo de producção
capitalista. Em que é que foram emancipados alguns proletários da Ásia do
sueste, da China, da África, do Médio Oriente, entre 1945 e 1975? Acaba-se
assim por compreender que os socialistas, comunistas, frentes unidas patrióticas,
frentes populares e outras esquerdas burguesas nacionalistas consideram como
uma libertação o facto de que eles se apoderaram da direcção da edificação do
capitalismo burguês nos seus respectivos Estados nacionais. A classe proletária,
em curso de internacionalização sob o
imperialismo moderno, conhece as suas novas cadeias, mas continua a não ser
emancipada. NDLR
Paul
Mattick toma coragem e diz: "O que
revela realmente esse novo nacionalismo, são as mudanças estruturais da
economia capitalista mundial e o fim do colonialismo do século XIX. O "fardo do homem branco" tornou-se
um fardo real em vez de um benefício. Os lucros do domínio colonial estão a
diminuir enquanto o custo do império está a aumentar ".
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Os proletários revolucionários rejeitam firmemente toda a
acusação de racismo a propósito do fardo
do homem branco. Há o homem branco capitalista que oprime o homem branco
proletário, assim como o homem negro proletário. Ambos são oprimidos e
explorados pelos seus congéneres raciais, étnicos ou linguísticos. Assim, contrariamente
ao que escrevia Mattick, os lucros da exploração capitalista nos países colonizados
emergentes – recém-chegados ao modo industrial de producção e de reprodução –
não diminuem, são os lucros realizados nos países dominantes, os primeiros
capitalizados países ocidentais, que diminuem em resultado de dois factores: A)
encarecimento do custo da reprodução da força de trabalho social nos países
industrialmente avançados ¸B) o aumento da composição orgânica do capital – os
capitalistas mecanizando a produção têm de aumentar a produtividade e a taxa de
exploração da força de trabalho a fim de reduzir a quantidade global da força
de trabalho social cujo custo está em alta. O nacionalismo chauvinista e reaccionário
não visa senão fazer aceitar estes sacrifícios pela classe operária nacional.
Os capitalistas brancos do norte não hesitaram deslocalizar as suas fábricas do norte
(branco) para o sul (negro) ou para o leste (amarelo) quando tal se tornava
proveitoso. O capitalista, tal como o proletário, é internacionalista e sabe
que o capital não tem pátria, cor ou odor. Temos escrito e repetimo-lo, uma
nação ou um povo oprimido e uma nação ou um povo opressor isso não existe. Sob o modo de producção capitalista,
diferentes classes sociais afrontam-se e destes afrontamentos nascem as
condições de exploração e de opressão da classe operária metropolitana e as
condições de exploração e de opressão da classe proletária dos países
ex-colónias também chamados países capitalistas emergentes, agora que é
vantajoso explorá-los industrialmente. O
desenvolvimento desigual e combinado está votado a ser modificado como o
demonstram os contantes fenómenos da deslocalização e da relocalização
industriais. É nisso que o capital nacional se torna mundial construindo
como seu coveiro o proletariado revolucionário internacional. Na passagem que
segue, Paul Mattic expõe precisamente a incompreensão profunda do conjunto da esquerda
esquerdista, oportunista e reformista com que traiu o imperialismo que
considera como uma evolução da política de domínio das grandes potências
económicas do colonialismo ao neo-colonialismo. NDLR
Mattick escreve: "Em geral, o colonialismo não paga mais, de
modo que é em parte o próprio princípio do lucro que nos convida a reconsiderar
o problema da dominação imperialista. Duas guerras mundiais destruíram mais ou
menos as antigas potências imperialistas. Mas elas não provocaram o fim do
imperialismo que, embora assumindo novas formas e expressões, mantém o controle
económico e político das nações fortes sobre os fracos (...) a América não foi
um poder imperialista no sentido tradicional. Garantiu o benefício do controle
imperial, mais pela "diplomacia do
dólar" do que pela intervenção militar directa.”
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As nações e os Estados-nação são resíduos
do modo de producção capitalista ascendente e estão condenadas a desaparecer no
seio do cadinho internacional. As guerras não podem “ conduzir” ao fim do
imperialismo como o pretende Mattic. As guerras são o resultado da evolução da
economia política imperialista no seu desenvolvimento contraditório -
dialéctico – e constituem a última táctica do sistema capitalista para tentar
ultrapassar as contradições. Pelo que respeita à “diplomacia do dólar”, que teria substituído a “ diplomacia da canhoneira”, constatamos
simplesmente que os Estados Unidos intervieram militarmente 200 vezes depois do
fim da Segunda Guerra Mundial; que os capitalistas que dominam esse país
conduziram o seu país à guerra durante 220 anos nos seus 240 anos de
existência. Acontece que a potência militar da Aliança imperialista ocidental é
muito activa na defesa dos seus interesses – não nacionais- mas interesses de
capitalistas monopolistas internacionais, nomeadamente financeiros através da
diplomacia da canhoneira, do porta-aviões, do míssil e do drone. A diplomacia
do dólar e a diplomacia da canhoneira são duas tácticas complementares. NDRL
De seguida, Paul Mattick declara: "Nenhuma das potências européias tem
hoje força para se opor à dissolução completa do seu império, a não ser com a
ajuda americana. Mas essa ajuda submete essas nações, assim como as suas
possessões coloniais, à penetração e ao controle americanos. Herdando aquilo
que o imperialismo em declínio está a abandonar, os Estados Unidos não sentem a
necessidade de voar em socorro do imperialismo da Europa Ocidental ,"Anticolonialismo"
não é uma política americana deliberadamente assumida para enfraquecer os
aliados ocidentais (...), mas foi escolhido na perspectiva de fortalecer o
mundo livre. "
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O
modo de producção capitalista americano não está em guerra contra o modo de
producção capitalista europeu, russo ou chinês. Existe uma aliança de empresas
concorrentes que alcançaram a fase imperialista da evolução capitalista e elas
estão todas em competição umas com as outras, mas também em concorrência com as
empresas capitalistas emergentes e mundializadas. Não são os países que são
emergentes, são as grandes empresas dos países do sul que se reagrupam em
conglomerados, a fim de fazer face aos monopólios ocidentais. É para aí que as
empurra muito naturalmente o seu desenvolvimento imperialista. Um inquérito
recente da organização não governamental (ONG) OxFAM revela que
o conjunto das dez maiores corporações do mundo têm rendimentos mais importantes que os
rendimentos governamentais de 180 países combinados, é isso o imperialismo. Estes
imensos conglomerados trocam entre si bens de consumo, mas também meios de
producção – capitais – é neste momento que intervêm os bancos e os mercados
financeiros e partilham entre si os mercados, após ásperas negociações, senão
guerras. A evolução muito rápida das relações de producção capitalistas entre
estes conglomerados emergentes e entre os países emergentes coloca-os já em posição
de conquistadores, cara a cara com os seus antigos mentores ocidentais. O
proletariado deve tomar partido em favor dos capitalistas nacionais emergentes
ou em favor dos antigos capitalistas internacionais? Nem de um nem do outro,
evidentemente. Assim, a China que ainda não completou a integração de 350
milhões dos seus camponeses nas suas forças produtivas industriais nacionais,
está já na corrida para a robotização da sua producção industrial, a fim de
atingir uma maior produtividade que conduza a sustentar a concorrência imperialista
mundial e a sacrificar milhões de proletários que amanhã não terão outra
escolha senão revoltarem-se e destruírem – não a nação chinesa, ou o
imperialismo chinês emergente -, mas o modo de producção capitalista na China,
a título de contribuição para a revolução proletária mundial. NDLR.
Mattick continua: "Privados das possibilidades imperialistas,
Alemanha, Itália e Japão, não têm mais uma política independente. O declínio
progressivo dos impérios francês e britânico tornou esses países poderes de
segunda ordem. Ao mesmo tempo, as aspirações nacionais das regiões menos
desenvolvidas e mais fracas só podem ser realizadas se entrarem nos planos de
conquista dos imperialismos dominantes ".
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Em que é que a
Alemanha e o Japão foram privados de capacidades imperialistas? A força de uma
potência capitalista – em fase imperialista – está na medida das suas
capacidades económicas, industriais, comerciais, financeiras e por último
militares. A Rússia soviética ensinou estas coisas à Alemanha hitleriana. Os Estados
Unidos de Roosevelt ensinaram estas coisas ao Japão de Hirohito. A China produz
e consome metade dos produtos industriais do mundo, cimento, energia, cauchu,
produtos químicos, aço, cobre, alumínio, etc. Assim, a China, em 2016, comprou
sózinha metade dos robots industriais colocados no mercado pela Alemanha, o
Japão e a Coreia. A produção industrial chinesa representa 55% do PIB desse
país e ocupa 45% do total da sua mão-de-obra assalariada, ou seja, 350 milhões
de proletários, aos quais 350 milhões de outros esperam juntar-se, ou seja, duas
vezes a população total dos Estados Unidos. Nos Estados Unidos 70% do PIB diz
respeito ao consumo das mercadorias, que este país não produz, e menos de 12%
do PIB nacional provém da indústria, nomeadamente da indústria de armamento
subvencionada e parasitária. Menos de 12% do proletariado americano trabalha na
indústria produtiva, felizmente a sua taxa de produtividade é muito elevada.
Esta potência capitalista, no seu estádio imperialista declinante não fará face
por muito tempo à subida em potência da sua substituição não nacional, mas
internacional, e que mesmo que ela não se habitue a pôr-se militarmente à
frente, será forçada a fazê-lo. NDLR.
Paul Mattick repete e reafirma
obstinadamente a sua incompreensão com o conceito do imperialismo como fase final
de todo o modo de producção. Ele escreve: "A
erosão do imperialismo ocidental, diz-se, cria um vácuo de poder em regiões
anteriormente subjugadas. (...) As Revoluções nacionais em regiões atrasadas do
ponto de vista capitalista são tentativas de modernização através da
industrialização, seja por exprimirem
simplesmente uma oposição ao capital estrangeiro, seja porque elas tendem a
alterar as relações sociais existentes. Mas enquanto o nacionalismo do século
XIX era um instrumento de desenvolvimento do capital privado, o nacionalismo do
século XX é essencialmente um instrumento para o desenvolvimento do capitalismo de estado. (...) O
nacionalismo actual traz novos solavancos a um mercado mundial (...) ".
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As
revoluções nacionalistas, nas regiões economicamente atrasadas, nunca
exprimiram oposição ao capital e não mudaram as relações sociais capitalistas
que muitas vezes fecharam. O nacionalismo já não é o modo específico e
universal das relações de producção capitalistas, mas uma modalidade de
desenvolvimento ideologicamente orientada, no sentido do último século, e num
outro sentido, em relação ao século presente, no grau de imaginação fértil dos socialistas e
dos esquerdistas. O nacionalismo foi e será sempre a ideologia da classe
burguesa ascendente, qualquer que seja o país ou o continente em que se
desenvolve. No princípio, o nacionalismo opôs-se ao mercado livre mundial, pois
após uma fase da capitalização nacional lançou a sua integração multinacional
no grande mercado mundial imperialista. Foi verdade na Europa, berço do
capitalismo, na América e na Oceania
para onde foi transplantado, e na Ásia onde foi inseminado, e em África onde
foi imposto. NDLR
Paul Mattick seguidamente escreve: "Por detrás dos movimentos nacionalistas, é claro, há a pressão da
pobreza, que se está a tornar cada vez mais explosiva à medida que aumenta a
diferença entre nações pobres e ricas. A divisão internacional do trabalho,
determinada pela formação do capital privado, implica a exploração dos países mais pobres pelos mais ricos e a
concentração de capital nos países capitalistas avançados. O novo nacionalismo opõe-se
à concentração de capital determinada pelo mercado, de modo a garantir a
industrialização dos países subdesenvolvidos. (...) Hoje, empresa privada e
controlo governamental operam simultaneamente em cada país capitalista e em
todo o mundo. De modo a que a
subordinação da concorrência privada à concorrência nacional é implacável
(...) ".
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A coberto de teorizar
o princípio do imperialismo e de o opor às aspirações nacionais das regiões pobres
face às regiões ricas, Mattick opõe o capitalismo nacional privado ao
capitalismo nacional público. O Estado capitalista e a sociedade seriam uma
entidade independente da classe capitalista dominante . Para dizê-lo de outra
maneira, haveria de um lado a classe capitalista e do outro, o Estado
capitalista, dirigido por burocratas e caciques estaduais independentes, com a sua própria agenda de
desenvolvimento. Como escreveu Mattick, o Estado capitalista é um organismo
saído do desenvolvimento do modo de producção – é uma componente das relações
sociais de producção capitalista– e nisso o Estado burguês não pode senão responder
às necessidades de desenvolvimento deste modo de producção. Não pode aí haver
subordinação da concorrência privada à concorrência nacional, completando-se as
duas. Este Estado só fica preso no seu
funcionamento quando o modo de producção fica emaranhado nas suas contradições e
bloqueia-se a si próprio. Diz-se então que as condições objectivas da revolução
estão reunidas. NDLR
Mattick acrescenta: "Na raiz das aspirações nacionais e das rivalidades imperialistas está a real
necessidade de uma organização global de producção e distribuição, como o
geólogo KF Mather assinalou", a Terra é feita muito mais para ser ocupada
por homens organizados à escala mundial, que possam praticar ao máximo através
do mundo inteiro a livre troca de matérias-primas e de produtos acabados, do
que para homens que persistem em criar barreiras entre regiões, mesmo que sejam
regiões grandes ou continentes inteiros. Em segundo lugar, porque a producção
social não pode ser totalmente desenvolvida e os homens serem libertados da
carência e da miséria senão através da cooperação internacional (...) ".
--- x ---
Segundo
Mattick, “se não for utilizada para fins humanos, uma luta entre nações
produzirá (…) a eliminação da competição capitalista” Tremei capitalistas e
proletários do mundo inteiro, vós deveis aceitar a cooperação industrial, se
não a competição capitalista desaparecerá.
Mas, pode-se dizer, é exactamente o que desejam os grandes monopólios
internacionais que renegaram a sua nacionalidade e que fazem tudo para absorver
os seus adversários e eliminar os seus concorrentes, onde quer que eles se
encontrem, salvo se as leis da economia política capitalista tornarem a coisa
impossível, e que mesmo que este objectivo seja atingido não resolverá a
contradição fundamental do capital. Sob o modo de producção capitalista, não
existe tal contradição que oponha as aspirações nacionais às rivalidades
imperialistas. Porquê? Porque o imperialismo é o resultado do desenvolvimento
capitalista nacional. O imperialismo é o filho do capitalismo nacional e como
pai – que ele mata alcançada a maturidade – o imperialismo tem a vocação de se
expandir e de reinar sobre a humanidade capitalista após o parricídio do nacionalismo
demasiado restrito para lhe permitir reproduzir-se. Retomemos: o capital
mundializado encontra-se exactamente na
estrutura da governação nacional e procura quebrar esta armadura a fim de lhe
dar as condições para a sua reprodução. Ora, esta governação nacional serve os
interesses da pequena burguesia, tão numerosa na sociedade imperialista
avançada (nomeadamente no sector terciário). Esta governação nacional fez assim
o jogo do pequeno capital nacional ainda não monopolista, mas que aspira a
sê-lo , ao abrigo das fronteiras nacionais
que se tornam caducas para o grande capital. Uma guerra de classe
explode então no seio da burguesia (pequena-média-grande) para o controlo do
aparelho de estado nacional; o grande capital para o fazer explodir; o pequeno
capital e a pequena burguesia para o preservar e reforçar. Inevitavelmente é o
grande capital que vencerá, mas esta guerra de classe reaccionária, entre facções
burguesas, não diz respeito à classe operária revolucionária que dela toma nota, nada mais.” NDLR.
Prossigamos com Mattick "Enquanto uma atitude positiva em relação ao nacionalismo trai uma falta
de interesse para o socialismo, a posição socialista sobre o nacionalismo é
claramente ineficaz, assim como os países que oprimem os outros. Uma posição
anti-nacionalista intransigente parece, pelo menos indirectamente, apoiar o
imperialismo (...) os socialistas não têm o papel de fomentar as lutas pela
autonomia nacional; como o demonstraram os movimentos de "libertação"
que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. (...) o nacionalismo não poderia
ser usado para fins socialistas e não era uma boa maneira estratégica de
acelerar o fim do capitalismo ".
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x ---
“Paul Mattick pretende que uma luta de classe contra o
capitalismo nacional constituiria um apoio ao imperialismo; todavia, não é
preciso conduzir a luta anti-capitalista para conduzir a guerra
anti-imperialista? O imperialismo não é uma potência económica e política
estrangeira. O imperialismo é a última etapa do desenvolvimento do modo de
producção capitalista, como o escrevemos mais atrás. Noutros termos, cada
Estado capitalista burguês, e cada classe capitalista nacional que controla
esse Estado estão votados a evoluir até se integrarem numa aliança imperialista
e a prosseguir assim a sua luta contra os outros Estados e contra as outras
classes burguesas – mas sobretudo contra a classe proletária mundial de onde
todos tiram a sua mais-valia. Esta integração internacionalista faz-se primeiro
no plano económico pela via do comércio, dos investimentos de capitais (IDEF)
das transacções bolsistas, as trocas de moeda, das tomadas de controlo de
empresas, dos empréstimos, do crédito, da dívida, etc.. O proletariado revolucionário
não tem nenhum controlo sobre esta guerra concorrencial entre alianças
capitalistas que se afrontam por meio da concorrência, e não pode senão sofrer
as consequências. NDLR
Paul Mattick escreve então: "Pelo contrário, o nacionalismo destruiu o socialismo, usando-o para fins nacionalistas.
Não é papel do socialismo apoiar o nacionalismo, mesmo quando combate o imperialismo.
Combater contra o imperialismo sem
simultaneamente enfraquecer o nacionalismo não passa de combater alguns
imperialistas para apoiar outros, porque o nacionalismo é necessariamente
imperialista ou ilusório. A autodeterminação nacional não emancipou as classes
trabalhadoras dos países avançados. Agora não o fará na Ásia e em África. As
revoluções nacionais, por exemplo, na Argélia, trarão pouco para as classes
mais pobres, além do direito de compartilhar preconceitos nacionais de maneira
mais equitativa. Sem dúvida, é algo para os argelinos, que sofreram um sistema
colonial particularmente arrogante. Podem-se
prever os possíveis resultados da independência da Argélia examinando o caso da
Tunísia e Marrocos, onde as relações sociais existentes não mudaram e onde as
condições de existência das classes exploradas não foram acentuadamente melhoradas ".
**********
Desta vez, estamos totalmente de
acordo com Paul Mattick. NDLR
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