segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Questão Nacional e Revolução Proletária Sob o Imperialismo Moderno

 


Robert Bibeau


                                    Questão Nacional e Revolução Proletária

                               Sob o Imperialismo Moderno

 

Capítulo 4

Nacionalismo e Socialismo

 

Paul Mattick

 

Neste capítulo, analisamos um importante texto de Paul Mattick, intitulado "Nacionalismo e Socialismo", publicado em inglês no The American Socialist em Setembro de 1959, em francês no Front Noir (Fevereiro de 1965) e na ICO nº 99 em Novembro de 1970. Mais uma vez os nossos comentários estarão identificados com as letras NDLR.

Mattick escreveu aí: "Os socialistas não utópicos favoreceram o capitalismo como oposto  às velhas relações sociais de producção, e saudaram o nacionalismo na medida em que poderia acelerar o desenvolvimento capitalista. Sem admitir isso abertamente, eles não estavam longe de aceitar o imperialismo capitalista (...) Eles também eram favoráveis ​​ao desaparecimento de pequenas nações incapazes de desenvolver a economia em larga escala (...) No entanto, eles apoiaram as pequenas "nações progressistas" contra os grandes países reaccionários. (...) Em nenhum momento e em nenhuma ocasião, porém, o nacionalismo foi considerado um objectivo socialista.

Em toda a parte, o modo de producção capitalista construiu-se ao abrigo das fronteiras nacionais, incluindo a União Soviética, a China maoista, o Vietname, a Coreia, Cuba, etc. Estas fronteiras têm a vocação de preservar por um tempo as particularidades tribais, feudais, camponesas, étnicas e do comércio local, que o capitalismo constrói e destrói com o tempo a fim de se consolidar, dificilmente por vezes, como mostra o nascimento dos nacionalismos no Médio Oriente e em África. Cada um está em condições de apreciar a clareza do resumo apresentado por Mattick que concentra a quinta-essência do pensamento pequeno burguês sobre a questão das lutas de libertação nacional e contra “o imperialismo político”, depois de Bukarine, Lenine, Trotski, Estaline e Mao. Os gurus da ortodoxia marxista-leninista apresentam o imperialismo como uma política de grandes potências e militam contra  o retorno destas regiões ao pré-capitalismo”, processo histórico de regresso à rectaguarda, de toda a maneira impossível, que mesmo os criminosos de guerra americanos não conseguiram impor aos vietnamitas, e que os carniceiros khmeres vermelhos não conseguiram impor aos cambojanos. De mais a  mais, é infelizmente falso pretender, como o faz Mattick, que o nacionalismo nunca tenha sido considerado como um objectivo socialista. NDLR

Prossigamos com o pensamento de Mattick. Ele escreveu: "Esse novo nacionalismo, que abala a dominação ocidental e estabelece relações capitalistas de producção e indústria moderna em regiões ainda sub-desenvolvidas, ainda é uma força" progressista ", como foi o nacionalismo do passado? Essas aspirações nacionais coincidem de alguma maneira com as aspirações socialistas? Elas apressam o fim do capitalismo enfraquecendo o imperialismo ocidental ou injectam uma nova vida no capitalismo fazendo estender ao mundo inteiro o seu modo de producção? "

 

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    O grande capital e os seus teóricos insinuaram que haveria uma relação de domínio ocidental contra a civilização oriental. Aqui Mattick insinua que “ o novo nacionalismo institui as relações de producção capitalista e a indústria moderna nas regiões subdesenvolvidas”. Segundo a teoria materialista dialéctica proletária é o desenvolvimento das forças produtivas e dos meios de producção que instituem o desenvolvimento de um certo tipo de relações de producção (Estado-nação) e uma ideologia (nacionalista burguesa) que os intelectuais burgueses prenomeiam "civilização ocidental” se ela é impregnada de artefactos feudais ocidentais e “civilização oriental” se é impregnada de artefactos feudais orientais. As relações de producção capitalistas – por todo o lado as mesmas, pois o modo de producção capitalista industrial é por toda a parte o mesmo - por seu lado, reforçam o desenvolvimento dos meios de producção. Assim, é o desenvolvimento industrial da Ásia que permitiu a emergência das relações de producção capitalistas nacionais (durante a sua fase de emergência), na China maoista nomeadamente, país que desenvolveu uma indústria vigorosa ao abrigo das suas fronteiras nacionais e que agora, enquanto estado-nação capitalista atingiu o estádio último, imperialista, de desenvolvimento, integrando o capital financeiro mundializado. A China procura portanto abater as barreiras tarifárias dos seus concorrentes, a fim de conquistar os seus mercados orientais ou ocidentais. O capitalismo é a condição do nacionalismo que se reforça até que o capitalismo, chegando ao termo das suas contradições entra na fase imperialista e faz cair as fronteiras nacionais e repudia a ideologia nacionalista. NDLR.

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      Mattick acrescenta:  “ Todavia, no fim do século, é o imperialismo, não o nacionalismo, que estava na ordem do dia.Os interesses "nacionais" alemães tornaram-se interesses imperialistas que rivalizavam com os imperialismos de outros países. Os interesses "nacionais" franceses eram do Império Francês, assim como os da Grã-Bretanha eram do Império Britânico. O controle do mundo e a partilha desse controle entre as grandes potências imperialistas determinaram políticas "nacionais". As guerras "nacionais" foram guerras imperialistas que culminaram em guerras mundiais”.

 

 “ Nova demonstração (acima) do pensamento socialista- idealista – burguês a propósito do imperialismo que Bukarine , Lenine e os bolcheviques ligaram à III Internacional e aos partidos comunistas nacionalistas (eurocomunistas, nomeadamente) e que os trotsquistas e outras oposições da esquerda e da direita adoptaram.

“ É o imperialismo e não o nacionalismo que está na ordem do dia da batalha”, escreve o autor, estabelecendo uma oposição entre imperialismo e nacionalismo. O imperialismo não é uma política de grande potência oprimindo os pequenos países nacionalistas, como Bukarine sugeriu. Não há modo de producção imperialista francês, britânico, alemão ou americano. O imperialismo é o modo de producção capitalista nacional chegado à maturidade,e é em toda a parte o mesmo. O imperialismo moderno (capitalista) é o capital financiarizado,  globalizado, mundializado que tenta futilmente compensar a depreciação dos meios de producção com o aumento da produtividade do trabalho e fazendo isso pela alta da sua composição orgânica, o que mergulha mais profundamente na sua contradição. O que é próprio de todo o país capitalista, tão pequeno ou tão grande quanto o seja, é atingir o estádio último da evolução capitalista – o estádio imperialista-  onde as relações de producção capitalistas já não podem assegurar o desenvolvimento das forças produtivas sociais, impedindo por esse facto o modo de produção de se reproduzir a fim de assegurar a valorização do capital; deixando o proletariado inútil, órfão do seu mestre alienante, forçando-o  a emancipar-se ou a desaparecer. É então, não à escala nacional – o que os marxistas terão compreendido instintivamente, denunciando as veleidades de construir o modo de producção comunista num só país -, mas à escala internacional que a revolução proletária deverá ser conduzida. A política revolucionária do proletariado não faz suas as lutas de libertação nacional democráticas e burguesas que não são senão guerras entre clãs capitalistas para o controlo do aparelho de estado burguês e das fontes da mais-valia. NDLR

Seguindo os passos de Paul Mattick, descobrimos "Um socialismo internacional consistente, como o de Rosa Luxemburgo, por exemplo, que se opôs à" autodeterminação nacional "dos bolcheviques. Para ela, a existência de governos nacionais independentes não alteraria o facto de serem controlados pelas potências imperialistas, uma vez que estas dominavam a economia mundial. Nunca se poderia lutar contra o capitalismo imperialista ou enfraquecê-lo criando novas nações, mas apenas opondo contra o supranacionalismo capitalista o internacionalismo proletário. Esses movimentos pertencem à sociedade capitalista, assim como o seu imperialismo. Mas "usar" esses movimentos nacionais para fins socialistas não poderia significar outra coisa senão que livrá-los do seu carácter nacionalista ".

 

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Como é que uma classe operária liliputiana, inexperimentada na luta de classes nas frentes económica, política e ideológica, saída de meios de producção arcaicos, na orla do capitalismo industrial ascendente, sempre em expansão em numerosas regiões, e não tendo ainda conquistado certos países da Ásia, da África e da América Latina; como é que pode esta classe emergente impor o internacionalismo proletário que ela nem sequer supõe haver e que não virá senão com a paz imperialista da evolução do modo de producção? NDRL

E Mattick acrescenta: "A Primeira Guerra Mundial produziu a Revolução Russa e, quaisquer que fossem as suas intenções primitivas, foi uma revolução nacional. Embora esperasse ajuda do exterior, ela nunca foi aportada às forças revolucionárias do exterior, excepto quando essa ajuda foi ditada pelos interesses nacionais russos. A Segunda Guerra Mundial e as suas sequelas trouxeram a independência para a Índia e o Paquistão, a Revolução Chinesa (...) Aparentemente, a era da emancipação nacional  não terminou, e é óbvio que a corrente cada vez mais forte contra o imperialismo não serve os fins socialistas revolucionários à escala mundial ".

 

 

Que libertação e que auto-determinação para os proletários da Ásia do Sueste, para os da África e do Médio Oriente? Numa análise de classe proletária da economia política, cada conceito tem um significado de classe. Assim, para nós proletários revolucionários, o termo libertação não pode significar senão a libertação da exploração da alienação da classe, do jugo do modo de producção capitalista. Em que é que foram emancipados alguns proletários da Ásia do sueste, da China, da África, do Médio Oriente, entre 1945 e 1975? Acaba-se assim por compreender que os socialistas, comunistas, frentes unidas patrióticas, frentes populares e outras esquerdas burguesas nacionalistas consideram como uma libertação o facto de que eles se apoderaram da direcção da edificação do capitalismo burguês nos seus respectivos Estados nacionais. A classe proletária, em curso de internacionalização sob o imperialismo moderno, conhece as suas novas cadeias, mas continua a não ser emancipada. NDLR

Paul Mattick toma coragem e diz: "O que revela realmente esse novo nacionalismo, são as mudanças estruturais da economia capitalista mundial e o fim do colonialismo do século XIX. O "fardo do homem branco" tornou-se um fardo real em vez de um benefício. Os lucros do domínio colonial estão a diminuir enquanto o custo do império está a aumentar ".

 

 

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            Os proletários revolucionários rejeitam firmemente toda a acusação de racismo a propósito do fardo do homem branco. Há o homem branco capitalista que oprime o homem branco proletário, assim como o homem negro proletário. Ambos são oprimidos e explorados pelos seus congéneres raciais, étnicos ou linguísticos. Assim, contrariamente ao que escrevia Mattick, os lucros da exploração capitalista nos países colonizados emergentes – recém-chegados ao modo industrial de producção e de reprodução – não diminuem, são os lucros realizados nos países dominantes, os primeiros capitalizados países ocidentais, que diminuem em resultado de dois factores: A) encarecimento do custo da reprodução da força de trabalho social nos países industrialmente avançados ¸B) o aumento da composição orgânica do capital – os capitalistas mecanizando a produção têm de aumentar a produtividade e a taxa de exploração da força de trabalho a fim de reduzir a quantidade global da força de trabalho social cujo custo está em alta. O nacionalismo chauvinista e reaccionário não visa senão fazer aceitar estes sacrifícios pela classe operária nacional. Os capitalistas brancos do norte não hesitaram  deslocalizar as suas fábricas do norte (branco) para o sul (negro) ou para o leste (amarelo) quando tal se tornava proveitoso. O capitalista, tal como o proletário, é internacionalista e sabe que o capital não tem pátria, cor ou odor. Temos escrito e repetimo-lo, uma nação ou um povo oprimido e uma nação ou um povo opressor isso não  existe. Sob o modo de producção capitalista, diferentes classes sociais afrontam-se e destes afrontamentos nascem as condições de exploração e de opressão da classe operária metropolitana e as condições de exploração e de opressão da classe proletária dos países ex-colónias também chamados países capitalistas emergentes, agora que é vantajoso explorá-los industrialmente. O desenvolvimento desigual e combinado está votado a ser modificado como o demonstram os contantes fenómenos da deslocalização e da relocalização industriais. É nisso que o capital nacional se torna mundial construindo como seu coveiro o proletariado revolucionário internacional. Na passagem que segue, Paul Mattic expõe precisamente a incompreensão profunda do conjunto da esquerda esquerdista, oportunista e reformista com que traiu o imperialismo que considera como uma evolução da política de domínio das grandes potências económicas do colonialismo ao neo-colonialismo. NDLR

Mattick escreve: "Em geral, o colonialismo não paga mais, de modo que é em parte o próprio princípio do lucro que nos convida a reconsiderar o problema da dominação imperialista. Duas guerras mundiais destruíram mais ou menos as antigas potências imperialistas. Mas elas não provocaram o fim do imperialismo que, embora assumindo novas formas e expressões, mantém o controle económico e político das nações fortes sobre os fracos (...) a América não foi um poder imperialista no sentido tradicional. Garantiu o benefício do controle imperial, mais pela "diplomacia do dólar" do que pela intervenção militar directa.”

 

 

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     As nações e os Estados-nação são resíduos do modo de producção capitalista ascendente e estão condenadas a desaparecer no seio do cadinho internacional. As guerras não podem “ conduzir” ao fim do imperialismo como o pretende Mattic. As guerras são o resultado da evolução da economia política imperialista no seu desenvolvimento contraditório - dialéctico – e constituem a última táctica do sistema capitalista para tentar ultrapassar as contradições. Pelo que respeita à “diplomacia do dólar”, que teria substituído a “ diplomacia da canhoneira”, constatamos simplesmente que os Estados Unidos intervieram militarmente 200 vezes depois do fim da Segunda Guerra Mundial; que os capitalistas que dominam esse país conduziram o seu país à guerra durante 220 anos nos seus 240 anos de existência. Acontece que a potência militar da Aliança imperialista ocidental é muito activa na defesa dos seus interesses – não nacionais- mas interesses de capitalistas monopolistas internacionais, nomeadamente financeiros através da diplomacia da canhoneira, do porta-aviões, do míssil e do drone. A diplomacia do dólar e a diplomacia da canhoneira são duas tácticas complementares. NDRL

De seguida, Paul Mattick declara: "Nenhuma das potências européias tem hoje força para se opor à dissolução completa do seu império, a não ser com a ajuda americana. Mas essa ajuda submete essas nações, assim como as suas possessões coloniais, à penetração e ao controle americanos. Herdando aquilo que o imperialismo em declínio está a abandonar, os Estados Unidos não sentem a necessidade de voar em socorro do imperialismo da Europa Ocidental ,"Anticolonialismo" não é uma política americana deliberadamente assumida para enfraquecer os aliados ocidentais (...), mas foi escolhido na perspectiva de fortalecer o mundo livre. "

 

 

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     O modo de producção capitalista americano não está em guerra contra o modo de producção capitalista europeu, russo ou chinês. Existe uma aliança de empresas concorrentes que alcançaram a fase imperialista da evolução capitalista e elas estão todas em competição umas com as outras, mas também em concorrência com as empresas capitalistas emergentes e mundializadas. Não são os países que são emergentes, são as grandes empresas dos países do sul que se reagrupam em conglomerados, a fim de fazer face aos monopólios ocidentais. É para aí que as empurra muito naturalmente o seu desenvolvimento imperialista. Um inquérito recente da organização não governamental (ONG) OxFAM revela que o conjunto das dez maiores corporações do mundo têm rendimentos mais importantes que os rendimentos governamentais de 180 países combinados, é isso o imperialismo. Estes imensos conglomerados trocam entre si bens de consumo, mas também meios de producção – capitais – é neste momento que intervêm os bancos e os mercados financeiros e partilham entre si os mercados, após ásperas negociações, senão guerras. A evolução muito rápida das relações de producção capitalistas entre estes conglomerados emergentes e entre os países emergentes coloca-os já em posição de conquistadores, cara a cara com os seus antigos mentores ocidentais. O proletariado deve tomar partido em favor dos capitalistas nacionais emergentes ou em favor dos antigos capitalistas internacionais? Nem de um nem do outro, evidentemente. Assim, a China que ainda não completou a integração de 350 milhões dos seus camponeses nas suas forças produtivas industriais nacionais, está já na corrida para a robotização da sua producção industrial, a fim de atingir uma maior produtividade que conduza a sustentar a concorrência imperialista mundial e a sacrificar milhões de proletários que amanhã não terão outra escolha senão revoltarem-se e destruírem – não a nação chinesa, ou o imperialismo chinês emergente -, mas o modo de producção capitalista na China, a título de contribuição para a revolução proletária mundial. NDLR.

Mattick continua: "Privados das possibilidades imperialistas, Alemanha, Itália e Japão, não têm mais uma política independente. O declínio progressivo dos impérios francês e britânico tornou esses países poderes de segunda ordem. Ao mesmo tempo, as aspirações nacionais das regiões menos desenvolvidas e mais fracas só podem ser realizadas se entrarem nos planos de conquista dos imperialismos dominantes ".

 

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Em que é que a Alemanha e o Japão foram privados de capacidades imperialistas? A força de uma potência capitalista – em fase imperialista – está na medida das suas capacidades económicas, industriais, comerciais, financeiras e por último militares. A Rússia soviética ensinou estas coisas à Alemanha hitleriana. Os Estados Unidos de Roosevelt ensinaram estas coisas ao Japão de Hirohito. A China produz e consome metade dos produtos industriais do mundo, cimento, energia, cauchu, produtos químicos, aço, cobre, alumínio, etc. Assim, a China, em 2016, comprou sózinha metade dos robots industriais colocados no mercado pela Alemanha, o Japão e a Coreia. A produção industrial chinesa representa 55% do PIB desse país e ocupa 45% do total da sua mão-de-obra assalariada, ou seja, 350 milhões de proletários, aos quais 350 milhões de outros esperam juntar-se, ou seja, duas vezes a população total dos Estados Unidos. Nos Estados Unidos 70% do PIB diz respeito ao consumo das mercadorias, que este país não produz, e menos de 12% do PIB nacional provém da indústria, nomeadamente da indústria de armamento subvencionada e parasitária. Menos de 12% do proletariado americano trabalha na indústria produtiva, felizmente a sua taxa de produtividade é muito elevada. Esta potência capitalista, no seu estádio imperialista declinante não fará face por muito tempo à subida em potência da sua substituição não nacional, mas internacional, e que mesmo que ela não se habitue a pôr-se militarmente à frente, será forçada a fazê-lo. NDLR.

 

Paul Mattick repete e reafirma obstinadamente a sua incompreensão com o conceito do imperialismo como fase final de todo o modo de producção. Ele escreve: "A erosão do imperialismo ocidental, diz-se, cria um vácuo de poder em regiões anteriormente subjugadas. (...) As Revoluções nacionais em regiões atrasadas do ponto de vista capitalista são tentativas de modernização através da industrialização, seja por exprimirem simplesmente uma oposição ao capital estrangeiro, seja porque elas tendem a alterar as relações sociais existentes. Mas enquanto o nacionalismo do século XIX era um instrumento de desenvolvimento do capital privado, o nacionalismo do século XX é essencialmente um instrumento para o desenvolvimento do capitalismo de estado. (...) O nacionalismo actual traz novos solavancos a um mercado mundial (...) ".

 

 

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 As revoluções nacionalistas, nas regiões economicamente atrasadas, nunca exprimiram oposição ao capital e não mudaram as relações sociais capitalistas que muitas vezes fecharam. O nacionalismo já não é o modo específico e universal das relações de producção capitalistas, mas uma modalidade de desenvolvimento ideologicamente orientada, no sentido do último século, e num outro sentido, em relação ao século presente, no  grau de imaginação fértil dos socialistas e dos esquerdistas. O nacionalismo foi e será sempre a ideologia da classe burguesa ascendente, qualquer que seja o país ou o continente em que se desenvolve. No princípio, o nacionalismo opôs-se ao mercado livre mundial, pois após uma fase da capitalização nacional lançou a sua integração multinacional no grande mercado mundial imperialista. Foi verdade na Europa, berço do capitalismo, na América e  na Oceania para onde foi transplantado, e na Ásia onde foi inseminado, e em África onde foi imposto. NDLR


Paul Mattick seguidamente escreve: "Por detrás dos movimentos nacionalistas, é claro, há a pressão da pobreza, que se está a tornar cada vez mais explosiva à medida que aumenta a diferença entre nações pobres e ricas. A divisão internacional do trabalho, determinada pela formação do capital privado, implica a exploração dos países mais pobres pelos mais ricos e a concentração de capital nos países capitalistas avançados. O novo nacionalismo opõe-se à concentração de capital determinada pelo mercado, de modo a garantir a industrialização dos países subdesenvolvidos. (...) Hoje, empresa privada e controlo governamental operam simultaneamente em cada país capitalista e em todo o mundo. De modo a que a subordinação da concorrência privada à concorrência nacional é implacável (...) ".

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A coberto de teorizar o princípio do imperialismo e de o opor às aspirações nacionais das regiões pobres face às regiões ricas, Mattick opõe o capitalismo nacional privado ao capitalismo nacional público. O Estado capitalista e a sociedade seriam uma entidade independente da classe capitalista dominante . Para dizê-lo de outra maneira, haveria de um lado a classe capitalista e do outro, o Estado capitalista, dirigido por burocratas e caciques estaduais  independentes, com a sua própria agenda de desenvolvimento. Como escreveu Mattick, o Estado capitalista é um organismo saído do desenvolvimento do modo de producção – é uma componente das relações sociais de producção capitalista– e nisso o Estado burguês não pode senão responder às necessidades de desenvolvimento deste modo de producção. Não pode aí haver subordinação da concorrência privada à concorrência nacional, completando-se as duas. Este Estado só fica preso  no seu funcionamento quando o modo de producção fica emaranhado nas suas contradições e bloqueia-se a si próprio. Diz-se então que as condições objectivas da revolução estão reunidas. NDLR

Mattick acrescenta: "Na raiz das aspirações nacionais e das rivalidades imperialistas está a real necessidade de uma organização global de producção e distribuição, como o geólogo KF Mather assinalou", a Terra é feita muito mais para ser ocupada por homens organizados à escala mundial, que possam praticar ao máximo através do mundo inteiro a livre troca de matérias-primas e de produtos acabados, do que para homens que persistem em criar barreiras entre regiões, mesmo que sejam regiões grandes ou continentes inteiros. Em segundo lugar, porque a producção social não pode ser totalmente desenvolvida e os homens serem libertados da carência e da miséria senão através da cooperação internacional (...) ".

 

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Segundo Mattick, “se não for utilizada para fins humanos, uma luta entre nações produzirá (…) a eliminação da competição capitalista” Tremei capitalistas e proletários do mundo inteiro, vós deveis aceitar a cooperação industrial, se não a competição  capitalista desaparecerá. Mas, pode-se dizer, é exactamente o que desejam os grandes monopólios internacionais que renegaram a sua nacionalidade e que fazem tudo para absorver os seus adversários e eliminar os seus concorrentes, onde quer que eles se encontrem, salvo se as leis da economia política capitalista tornarem a coisa impossível, e que mesmo que este objectivo seja atingido não resolverá a contradição fundamental do capital. Sob o modo de producção capitalista, não existe tal contradição que oponha as aspirações nacionais às rivalidades imperialistas. Porquê? Porque o imperialismo é o resultado do desenvolvimento capitalista nacional. O imperialismo é o filho do capitalismo nacional e como pai – que ele mata alcançada a maturidade – o imperialismo tem a vocação de se expandir e de reinar sobre a humanidade capitalista após o parricídio do nacionalismo demasiado restrito para lhe permitir reproduzir-se. Retomemos: o capital mundializado encontra-se  exactamente na estrutura da governação nacional e procura quebrar esta armadura a fim de lhe dar as condições para a sua reprodução. Ora, esta governação nacional serve os interesses da pequena burguesia, tão numerosa na sociedade imperialista avançada (nomeadamente no sector terciário). Esta governação nacional fez assim o jogo do pequeno capital nacional ainda não monopolista, mas que aspira a sê-lo , ao abrigo das fronteiras nacionais  que se tornam caducas para o grande capital. Uma guerra de classe explode então no seio da burguesia (pequena-média-grande) para o controlo do aparelho de estado nacional; o grande capital para o fazer explodir; o pequeno capital e a pequena burguesia para o preservar e reforçar. Inevitavelmente é o grande capital que vencerá, mas esta guerra de classe reaccionária, entre facções burguesas, não diz respeito à classe operária revolucionária que  dela toma nota, nada mais.” NDLR.

          Prossigamos com Mattick "Enquanto uma atitude positiva em relação ao nacionalismo trai uma falta de interesse para o socialismo, a posição socialista sobre o nacionalismo é claramente ineficaz, assim como os países que oprimem os outros. Uma posição anti-nacionalista intransigente parece, pelo menos indirectamente, apoiar o imperialismo (...) os socialistas não têm o papel de fomentar as lutas pela autonomia nacional; como o demonstraram os movimentos de "libertação" que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. (...) o nacionalismo não poderia ser usado para fins socialistas e não era uma boa maneira estratégica de acelerar o fim do capitalismo ".

 

 

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“Paul Mattick pretende que uma luta de classe contra o capitalismo nacional constituiria um apoio ao imperialismo; todavia, não é preciso conduzir a luta anti-capitalista para conduzir a guerra anti-imperialista? O imperialismo não é uma potência económica e política estrangeira. O imperialismo é a última etapa do desenvolvimento do modo de producção capitalista, como o escrevemos mais atrás. Noutros termos, cada Estado capitalista burguês, e cada classe capitalista nacional que controla esse Estado estão votados a evoluir até se integrarem numa aliança imperialista e a prosseguir assim a sua luta contra os outros Estados e contra as outras classes burguesas – mas sobretudo contra a classe proletária mundial de onde todos tiram a sua mais-valia. Esta integração internacionalista faz-se primeiro no plano económico pela via do comércio, dos investimentos de capitais (IDEF) das transacções bolsistas, as trocas de moeda, das tomadas de controlo de empresas, dos empréstimos, do crédito, da dívida, etc.. O proletariado revolucionário não tem nenhum controlo sobre esta guerra concorrencial entre alianças capitalistas que se afrontam por meio da concorrência, e não pode senão sofrer as consequências. NDLR

Paul Mattick escreve então: "Pelo contrário, o nacionalismo destruiu o socialismo, usando-o para fins nacionalistas. Não é papel do socialismo apoiar o nacionalismo, mesmo quando combate o imperialismo. Combater contra o imperialismo sem simultaneamente enfraquecer o nacionalismo não passa de combater alguns imperialistas para apoiar outros, porque o nacionalismo é necessariamente imperialista ou ilusório. A autodeterminação nacional não emancipou as classes trabalhadoras dos países avançados. Agora não o fará na Ásia e em África. As revoluções nacionais, por exemplo, na Argélia, trarão pouco para as classes mais pobres, além do direito de compartilhar preconceitos nacionais de maneira mais equitativa. Sem dúvida, é algo para os argelinos, que sofreram um sistema colonial particularmente arrogante.  Podem-se prever os possíveis resultados da independência da Argélia examinando o caso da Tunísia e Marrocos, onde as relações sociais existentes não mudaram e onde as condições de existência das classes exploradas não foram  acentuadamente melhoradas ".

 

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Desta vez, estamos totalmente de acordo com Paul Mattick. NDLR

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 


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