5 de Abril de 2025
Robert Bibeau
Por Daniel VANHOVE . De campo de concentração a campo de extermínio, Gaza transforma-se no maior cemitério do mundo
A raça humana é decididamente infrequentável. Parece
não ter aprendido nada com o seu passado. O actual genocídio em Gaza não é o
primeiro da sua história. Já cometeu outros. Mas, na altura, esses extermínios
abomináveis, esses massacres em massa, passaram despercebidos aos olhos do
exterior porque os meios de informação e comunicação eram praticamente
inexistentes. As vítimas foram deixadas à sua sorte. Ignoradas e esquecidas.
Hoje em dia, as coisas mudaram, com a informação a circular à velocidade da luz e até mesmo as reuniões entre os mais altos funcionários e as suas trocas de impressões, muitas vezes descritas como “secretas”, a serem retransmitidas e difundidas na Internet. Os antigos responsáveis públicos silenciados são rápidos a “soltar-se” assim que se retiram da vida profissional, e o último dos subalternos transmite o que recolheu nas alcovas da casta dirigente. Isto torna a nossa responsabilidade colectiva ainda mais evidente.
Há, no entanto, uma coisa que parece faltar cruelmente a este género humano: o dever de recordar. Cada geração pensa que o mundo começa com ela e que vai ensiná-lo a ser como ela quer. Um erro. E as consequências estão a revelar-se cada vez mais graves e ameaçadoras para a própria sobrevivência da nossa espécie, que se julga muito superior às que a precederam.
Se assim é, porque é que hoje é mais grave do que no passado? Porque a soma dos nossos conhecimentos acumulados nos deu meios cada vez mais mortíferos, ao ponto de algumas pessoas encararem sem pestanejar a utilização de armas nucleares para se livrarem dos seus inimigos, como se de um jogo de vídeo se tratasse. Pensam poder levantar-se dos seus cadeirões quando os seus mísseis forem lançados contra os alvos que querem aniquilar, acreditando que têm a capacidade de controlar as consequências que daí adviriam.
No entanto, a história recente recorda-nos constantemente que não é esse o caso. O genocídio nazi contra os judeus em 1939-1945 mostra-nos todos os dias que, 80 anos depois, as consequências ainda se fazem sentir. A Europa, tão pretensiosa através dos voos líricos dos seus tenores, responsável por este genocídio - a Alemanha à cabeça, mas com a cumplicidade de outros Estados - não ousa tomar medidas firmes e decisivas para impedir o regime terrorista israelita de cometer o actual genocídio contra o povo de Gaza, nem para pôr termo à limpeza étnica da população palestiniana em curso desde 1948. Pior ainda, participa nele, encontrando sempre um qualquer mau pretexto para apoiar este regime neo-nazi. Ela e os seus pares estão paralisados pelo seu passado e entram em pânico quando se trata de contrariar o regime de apartheid israelita, com medo de serem rotulados de “anti-semitas”, esse jogo pernicioso dos sionistas. Mesmo quando se trata de actos terroristas contra crianças, mulheres e idosos, a Europa permanece em silêncio. E esta paralisia beneficia o regime sionista, que se sente com rédea solta para levar cada vez mais longe os seus planos para um Grande Israel.
Assim sendo, se o regime terrorista israelita pensa que pode prosseguir o seu empreendimento de extermínio no terreno sem encontrar a mínima sanção, se não mesmo verbal, por parte dos governos ocidentais - os mesmos que hoje consolidaram o seu poder económico e militar através das suas aventuras coloniais -, os sionistas e os seus patrocinadores viverão durante décadas com uma arma apontada à cabeça, porque os resistentes na Palestina, no Líbano, na Síria, no Iraque e noutros locais procurarão vingar-se desta flagrante injustiça exibida diante dos nossos olhos. E a história - mais uma vez - ensina-nos que, por mais poderoso que seja o império a que pertencemos, ele acaba sempre por se desmoronar, em benefício de outro que, através de mil canais, se organiza e acaba por ser derrubado. É apenas uma questão de tempo.
Israel Katz, o criminoso ministro da “Defesa” do regime terrorista israelita, acaba de avisar os habitantes de Gaza: "Libertem os prisioneiros e expulsar-vos-emos. Se não o fizerem, enfrentarão a “devastação total”.
Este “Sinistro da Defesa” fez estas ameaças incríveis aos palestinianos em Gaza, exigindo a libertação de todos os prisioneiros israelitas em troca da expulsão dos palestinianos da sua casa, Gaza! Caso contrário, promete-lhes “devastação total”. Como se isso não fosse já uma realidade!
Onde está a reacção à altura da gravidade dos factos por parte dos nossos dirigentes, que não só deixam dizer e fazer as coisas sem pestanejar, como, por vezes, atacam activistas pacíficos - até agora - quando marcham nas ruas em apoio da Palestina? Como sempre, mas convém repetir, é um caso de inversão acusatória: o poder dominante acusa as vítimas mas apoia os agressores.
Não contente com as ameaças do Ministro da Defesa, Israel Katz, a força aérea israelita lançou esta quinta-feira de manhã sobre a Faixa de Gaza panfletos abertamente genocidas, que podem ser traduzidos da seguinte forma:
“Depois dos acontecimentos, do cessar-fogo temporário e antes da aplicação do plano de Donald Trump que vos obrigará a deslocarem-se, quer queiram quer não, decidimos lançar um último apelo àqueles que desejam receber ajuda em troca da sua cooperação. Não hesitaremos nem por um momento em ajudar.
Reconsiderem as vossas escolhas, porque o mapa do mundo não mudará se todos os habitantes de Gaza desaparecerem. Ninguém se compadecerá de vós e ninguém perguntará por vós. Estão sozinhos perante o vosso destino inevitável. Mesmo o Irão não se pode proteger a si próprio, então como é que vos pode proteger? Viram com os vossos próprios olhos o que aconteceu. Nem os Estados Unidos nem a Europa se preocupam com Gaza. Nem sequer os vossos países árabes, agora nossos aliados, que nos fornecem dinheiro, petróleo e armas, enquanto vos enviam apenas caixões.
O jogo está quase a acabar, e resta muito pouco. Quem
quiser salvar-se antes que seja tarde demais, nós estamos aqui para ficar até
ao Dia do Juízo Final”.
Na madrugada de terça-feira, num cenário apocalítico de sangue e membros deslocados espalhados pelas ruas após a cobarde agressão levada a cabo pela força aérea neo-nazi sionista na véspera, muitos países e organizações reagiram com vários “comunicados”, condenando a barbárie sionista contra as crianças e mulheres de Gaza, bem como a quebra do acordo de cessar-fogo. Perante um genocídio comprovado, “comunicamos”. Grande coisa!
O exército genocida retomou a sua agressão contra pessoas inocentes nas suas casas e acampamentos na Faixa de Gaza, utilizando uma centena de aviões de guerra com milhares de bombas lançadas sobre os habitantes à hora do “suhoor” (refeição antes do nascer do sol durante o Ramadão), matando e ferindo cerca de 1000 civis. A ONU afirmou que nunca antes tantas crianças tinham sido assassinadas num espaço de tempo tão curto.
O exército de ocupação lançou a sua agressão terrorista contra Gaza, que já tinha sido consideravelmente devastada pela operação militar após 7 de Outubro de 2023, alegando ter como alvo o movimento Hamas e ameaçando que Gaza seria mergulhada no “inferno”, tal como anunciado pelo novo ocupante louco da Casa Branca, sob o pretexto de não libertar os prisioneiros detidos pela resistência.
O recomeço da agressão contra o enclave de Gaza ocorre após dois meses de um cessar-fogo pouco respeitado pelo regime ocupante, e num contexto de agravamento da situação humanitária devido à continuação do bloqueio e ao corte do abastecimento médico e humanitário.
Alguns habitantes de Gaza, que se tornaram peritos em armamento por pura força das circunstâncias, relataram que um bombardeiro com armas nucleares está a sobrevoar o enclave. Não há nada de inócuo nisto. Há apenas algumas semanas, o governo dos EUA autorizou a entrega ao regime terrorista israelita de bombas com mais de 900 kg cada - consideradas as mais devastadoras antes da utilização nuclear - que a anterior administração Biden tinha bloqueado, receando a sua utilização pelos extremistas de Telavive.
Assim, tudo parece estar a postos para o assalto final à Faixa de Gaza, que se tornou um dos maiores cemitérios do mundo. E acreditar que não haverá consequências deste extermínio orquestrado pelos nossos países é uma ilusão, uma cegueira, até mesmo uma loucura. A falta de firmeza por parte dos nossos governos não só é indesculpável como abre as portas a uma violência endémica que deixará os nossos descendentes a perguntarem-se de onde veio. O “dilúvio de Al-Aqsa” pode muito bem não ficar confinado à Palestina, mas espalhar-se-á por toda a região e, provavelmente, para além dela...
Daniel Vanhove –
20.03.25
URL deste artigo 40285
https://www.legrandsoir.info/d-un-camp-concentrationnaire-puis-d-extermination-gaza-se-transforme-en-plus-grand-cimetiere-du-monde.html
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/298953?jetpack_skip_subscription_popup
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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