A China não quer que a Rússia perca, mas também não
quer que a Rússia ganhe (Korybko)
12 de Outubro de 2025 Robert Bibeau
Por Andrei Korybko.
Uma derrota russa
seria catastrófica para a segurança da China, enquanto uma vitória russa
poderia acabar com a bonança de energia barata que está a ajudar o país a
sustentar o crescimento económico no contexto da desaceleração, sem mencionar a
aceleração do "retorno (dos) EUA para a Ásia (Leste)" para contê-la
mais vigorosamente.
O South China Morning Post (SCMP)
citou fontes anónimas para relatar que o Ministro dos Negócios Estrangeiros
chinês, Wang Yi, disse ao seu homólogo da UE que a China não queria que a
Rússia perdesse na Ucrânia, pois toda a atenção dos EUA poderia então voltar-se
para a China. Os seus supostos comentários foram apresentados pela grande media
como uma admissão de que a China não é tão neutra quanto afirma ser, assim como
eles e seus rivais na media alternativa suspeitavam. Ambos agora acreditam que
a China ajudará a Rússia a vencer, como a atingir os seus objectivos máximos , mas
provavelmente não é o caso.
Supondo, para fins de argumentação, que
Wang realmente disse o que lhe foi atribuído, isso alinhar-se-ia com a
avaliação em torno do primeiro aniversário do conflito em Fevereiro de 2023 de
que "a China não quer que ninguém vença na Ucrânia ". O SCMP canalizou
a essência da análise anterior ao escrever que "uma interpretação da
declaração de Wang em Bruxelas é que, embora a China não tenha pedido a guerra,
o seu prolongamento pode atender às necessidades estratégicas de Pequim, desde
que os Estados Unidos permaneçam envolvidos na Ucrânia".
Para explicar, não só os Estados Unidos
seriam incapazes de "virar-se para a Ásia Oriental" para conter a
China com mais firmeza na escala prevista por Trump se o conflito na Ucrânia se
prolongar, como a pressão contínua sobre a economia russa por parte das sanções
ocidentais beneficiaria a economia chinesa. A China já importa uma quantidade
impressionante de petróleo russo com desconto, o que a ajuda a manter o
crescimento económico no contexto da desaceleração, mas isso pode acabar se
as sanções forem reduzidas.
Além disso, quanto maior o for o papel da
China, mais a Rússia servirá como válvula de escape contra a pressão das
sanções ocidentais (tanto em termos de importações de energia para ajudar a
financiar o orçamento russo, quanto em termos de exportações que substituem
produtos ocidentais perdidos), mais dependente a Rússia se tornará da China. A
natureza cada vez mais desequilibrada de sua relação económica poderia então
ser aproveitada para garantir os acordos energéticos de longo prazo mais
preferenciais possíveis no que diz respeito à energia do Siberia II e outros oleodutos .
Esses resultados poderiam restaurar a
trajectória de superpotência da China, que foi descarrilada durante os
primeiros seis meses da operação especial , conforme
explicado aqui na época, fortalecendo assim a
sua resiliência geral à pressão americana e, portanto, tornando menos provável
que os EUA imponham uma série de acordos desequilibrados. É por essa razão que
o enviado especial de Trump à Rússia, Steve Witkoff , estaria supostamente a pressionar os EUA a
suspenderem as suas sanções energéticas contra a Rússia para privar a China
dessas vantagens financeiras e estratégicas.
A nascente " nova distensão" russo-americana poderia
restaurar a clientela energética do Kremlin, inicialmente através do alívio
gradual das sanções, expandindo assim o seu leque de parceiros para evitar
preventivamente a dependência russa da China, particularmente no caso de
uma cooperação energética
conjunta no Ártico . O objectivo, como
explicado aqui no
início de Janeiro, seria privar a China do acesso de décadas a recursos ultra-baratos
para alimentar a sua ascensão à custa dos Estados Unidos.
No geral, uma vitória russa (seja total ou
parcial através de concessões) poderia pôr fim à bonança energética com desconto
que está a ajudar a China a manter o seu crescimento económico no contexto da desaceleração,
razão pela qual Pequim não enviará ajuda militar ou tropas para facilitar isso
(além de temer severas sanções ocidentais). Da mesma forma, o cenário de uma
derrota estratégica ocidental para a Rússia seria catastrófico para a segurança da China , o que é outro
motivo para as importações mencionadas ajudarem a Rússia a manter a sua
economia de guerra.
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice
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