Diáspora do
Líbano 2/2: África e América Latina, base de retaguarda da guerra subterrânea
planetária entre Israel e o Hezbollah
Dossier 2 de dois
I – Paris – A diáspora, um activo significativo De mil libaneses em 1913,
na África Ocidental, o número de...
Por: René Naba - em: Análise
Líbano - em 22 Janeiro de 2014
I – Paris – A
diáspora, um activo significativo
De mil libaneses, em 1913, na África
Ocidental, o número passou para 4.500 em 1936 e para 300.000 actualmente. O
maior contingente estaria na Costa do Marfim, com 60 mil pessoas, seguido pelo
Senegal (30 mil, dos quais dez mil naturalizados), depois pela Nigéria (25 mil)
e Serra Leoa (10 mil), Gana, Congo Kinshasa (6 mil) e, finalmente, Gabão (5
mil), idem para o Camarões.
Primeiros investidores do Senegal, os
libaneses possuem 60% das PME-PMI, enquanto na Costa do Marfim são creditados
com 60% do parque imobiliário, 50% da indústria e 70% do sector de embalagens e
impressão, enquanto na Guiné controlam o circuito informático e na Costa do
Marfim detêm 60% do circuito informático e em Angola, a corporação de
engenheiros, sem contar com a exploração de diamantes na Serra Leoa. A imagem
idealizada do pequeno comerciante libanês em pé na sua loja, diante de um
balcão coberto de rolos de tecido, já não é mais a realidade há muito tempo. O
leque de actividades económicas dos emigrantes libaneses abrange agora todo o
espectro de profissões possíveis: medicina, comércio, engenharia, imobiliário,
informática, indústria agro-alimentar, restauração, banca. As transferências de
liquidez dos expatriados representam quase 25% do PIB do país.
De acordo com um estudo da Universidade
Americana de Beirute, os libaneses da diáspora teriam repatriado, em 2008,
cerca de 4,5 mil milhões de dólares, dos quais quase mil milhões provenientes
de África. O sistema bancário libanês é sustentado pelo aumento dos depósitos
na ordem dos 10% ao ano, um facto que o coloca a salvo de crises sistémicas.
A dívida soberana do Líbano atinge 139%
do PIB, ou seja, cerca de 53 mil milhões de dólares. Os bancos detêm cerca de
50% da dívida pública. Eles estão repletos de liquidez, com um balanço
consolidado que se aproxima de 340% do PIB, ou seja, 147 mil milhões de
dólares, enquanto o PIB do Líbano é de 41 mil milhões de dólares. Eles dividem,
portanto, 25 mil milhões de dívida soberana, o que não é suficiente para
colocá-los em dificuldades.
II – América Latina,
multinacional polimorfa da diáspora libanesa
Isso demonstra a força
da emigração libanesa na África, embora não seja comparável ao império
financeiro dos libaneses na América Latina. Representando dois terços da
diáspora, os libaneses da América constituem, em conjunto, uma multinacional
polimórfica que se estende por todo o cone sul, com picos no Brasil, no México
e na Argentina.
Na América do Sul, a
maior comunidade libanesa vive no Brasil, seguida pela Argentina, Colômbia,
Venezuela, Bolívia e Chile. O México conta com 500 000 imigrantes libaneses, na
sua maioria cristãos. Na Argentina, a imigração árabe é a terceira mais
numerosa do país. A comunidade mais representada é a síria, seguida pela
libanesa, iraquiana e palestiniana. Dos 3,5 milhões de árabes ou descendentes
na Argentina, 700 000 são muçulmanos. A comunidade palestiniana no Chile
tornou-se a maior do mundo fora do Médio Oriente, com cerca de 500 000 membros.
III – A equação xiita
e as razões do foco israelo-americano
A- O xiismo, ramo
rival do islamismo sunita, controla, através do Irão, toda uma das duas margens
do Golfo Árabe-Pérsico, a veia jugular do sistema energético internacional.
Devido à sua expansão demográfica, está presente em todas as zonas petrolíferas
do Médio Oriente: na região oriental do Reino Saudita (Dhahran), no sul do
Iraque (Basra) e no norte do Kuwait. Os xiitas estão também massivamente
implantados no sul do Líbano, a última zona de confronto com Israel, com o
enclave palestiniano de Gaza e... na África Ocidental. Este feudo xiita
constituído, numa curiosa reviravolta da situação, no território francês, não
resulta de uma decisão soberana de uma comunidade, muito menos de um Estado
numa política de conquista gradual. Mas constitui a consequência de uma tripla
decisão errática, num contexto de miséria económica da zona: a política
segregacionista da França colonial, que atribuiu à África o excesso xiita do
Líbano; a política de despovoamento da região fronteiriça entre Israel e o
Líbano, praticada por Israel através do bombardeamento quase diário do sector,
com o objectivo de o transformar numa terra de ninguém estratégica; e,
finalmente, o glacis petrolífero monárquico.
Para além dos clichés estafados
e dos efeitos da propaganda, um facto permanece incontestável. Se as
petromonarquias foram uma fonte de enriquecimento para os seus correligionários
sunitas árabes, particularmente a irmandade dos Irmãos Muçulmanos, a África e,
em menor grau, a América Latina, foram fonte de enriquecimento para os xiitas,
uma comunidade geralmente vista pela opinião ocidental como hostil aos
interesses do campo atlantista, ao contrário dos sunitas, apesar dos repetidos
ataques da Al Qaeda. Observada, se não
com condescendência, pelo menos com benevolência paternalista na época em que o
xá do Irão presidia ao destino do Irão, ela será vista com desconfiança sob o
regime da República Islâmica.
B – A passagem do
imigrante libanês do estatuto de auxiliar dos mecanismos do poder colonial para
o de concorrente das empresas ocidentais na África pós-independência, o
estabelecimento, além disso, de uma parceria com as elites nacionais,
nomeadamente através do financiamento das campanhas eleitorais dos decisores
políticos, exacerbou os antagonismos sociais, particularmente em relação aos xiitas,
tanto mais acentuados quanto subjacentes a objectivos económicos.
O assassinato de
Laurent Désiré Kabila, em Janeiro de 2001, é considerado como tendo sido
financiado por libaneses furiosos pelo facto de o presidente congolês ter
confiado à empresa israelita IDI o monopólio da compra de diamantes (1).
Como efeito colateral dos erros da
estratégia israelo-ocidental, a militarização dos xiitas libaneses na sequência
da liquidação do seu carismático líder, o imã Moussa Sadr, em 1978, na Líbia, e
do desmantelamento do santuário da OLP no Líbano (1982), fizeram desta
comunidade, outrora a mais desfavorecida do Líbano e sem dúvida a mais
desprezada, pelo efeito mágico das suas proezas bélicas contra Israel (2000,
2006), a equação incontornável do Médio Oriente. O seu novo poder económico
será então percebido como uma fonte de perturbação, uma evolução amplificada
pela exacerbação dos antagonismos interconfessionais no Médio Oriente, num
contexto de braço de ferro entre o Irão e o Ocidente sobre o nuclear iraniano e
a guerra regional sunita-xiita atiçada pela dinastia wahhabita. A sua mutação
sociológica modificará a percepção do seu papel, de acordo com o processo
clássico de «fabricação do inimigo».
http://www.diploweb.com/La-fabrication-de-l-ennemi-ou.html*
C – A
mudança do Irão, antigo supergendarme americano no Golfo, para o campo hostil
ao campo atlantista sob a égide do imã Khomeini (1979) e a sua aproximação
estratégica aos países latino-americanos que contestavam a ordem americana
(Cuba, Venezuela, Bolívia, Brasil, Chile) acabou por criminalizar tanto o Irão
como o Hezbollah e os xiitas de forma potencial.
A diáspora libanesa, trunfo para o
Líbano, torna-se uma armadilha tanto para os libaneses como para o país de
origem. Os países de acolhimento, principalmente em África e na América Latina,
tornam-se o terreno privilegiado da guerra subterrânea planetária entre Israel
e o Hezbollah. Abundam os exemplos de artigos da imprensa local e internacional
que mencionam «O tesouro dos libaneses-africanos», a sua «opacidade devido à
decadência da administração fiscal nacional, à fluidez do sistema bancário e
aos inúmeros canais do circuito de branqueamento da antiga «Suíça do Médio
Oriente».
IV: Sob a liderança de Saad Hariri, a criminalização do Hezbollah
Por instigação de Saad Hariri, furioso por ter sido destituído sem cerimónias do cargo de primeiro-ministro, os parlamentares americanos de origem libanesa Nick Rahhal, Charles Boustany e Darrel Issa, decidiram criminalizar o Hezbollah em 2011, através da aprovação pelo Congresso da HATA (Hezbollah Accountability Act), inspirada na Syrian Accountability Act, aprovada nove anos antes. Dois textos legislativos americanos adoptados na vã esperança de pressionar a formação xiita e o seu aliado sírio, com o objectivo de os obrigar a aceitar o seu regresso ao poder em Beirute e a conformar-se com a ordem saudita-americana. A fim de os enfraquecer, como prelúdio a uma ofensiva contra o Irão. Intervindo quase um ano antes da criação da coligação da oposição síria no exílio, sob a liderança franco-turca, a pressão diplomática do clã Hariri foi impulsionada, em particular, por outro parlamentar americano-libanês, próximo do lobby sionista nos Estados Unidos, Anthony Nicy, bem como por Walid Farès, antigo dirigente das milícias cristãs libanesas durante a guerra civil libanesa (1975-1990) e reciclado nos Estados Unidos como conselheiro da comissão de luta anti-terrorista no Senado americano. CF. Jornal libanês Al Akhbar de 24 de Junho de 2011. http://www.al-akhbar.com/node/15357
O dinheiro xiita foi assim colocado sob vigilância internacional. Os Estados Unidos apreenderam 150 milhões de dólares do Banco Libano-Canadiano (BLC), suspeito de lavagem de dinheiro. Por falta de dinheiro, o BLC não foi o único banco acusado dessas práticas. Uma investigação visou o Deutsche Bank, que teria transferido vários milhares de milhões de dólares em nome do Irão e do Sudão, entre outros. A filial mexicana do HSBC teria transferido um montante de 7 mil milhões de dólares para a filial americana do HSBC, HBUS, entre 2007 e 2008.
A prisão, em paralelo, de um empresário
conhecido por ser próximo do Hezbollah, Salah Ezzedine, fez surgir na imprensa
expressões como «o tesouro africano do Madoff libanês», uma vez que ele
oferecia investimentos com rendimentos de 40 %.
Na Nigéria, um país que luta para
neutralizar o Boko Haram, o grupo terrorista islâmico fundamentalista, a
justiça acusou, em Novembro de 2013, três libaneses suspeitos de pertencerem ao
Hezbollah. Mustapha Fawaz, 49 anos, Abdallah Thahini, 48 anos, e Talal Ahmad
Roda, 51 anos, por terem planeado ataques contra alvos ocidentais e israelitas
na Nigéria. Os três homens foram acusados de lavagem de dinheiro e exportação
ilegal de bens, após a descoberta de armas na sua loja em Abuja. Mas o caso
pode ser arquivado por falta de provas suficientes. Sobre o jogo da Mossad na
Nigéria http://www.al-akhbar.com/node/190431
V – Comando Sul,
guarda penitenciária da América Latina
Na América do Sul, os desafios assumem
outra dimensão diante de uma combinação tão explosiva que beira o pesadelo
tanto para os israelitas como para os americanos, com cerca de 9 milhões de
emigrantes libaneses solidamente estabelecidos há muito tempo, uma série de
multimilionários num contexto de tradição revolucionária fortemente enraizada,
no quintal do Império Americano, a Argentina, país refúgio dos grandes
criminosos de guerra nazis Adolf Eichmann e Josef Mengele, onde os serviços
israelitas evoluem como peixes na água, apontando sucessivamente,
alternadamente, cumulativamente, a responsabilidade do Hezbollah e do Irão no
atentado contra uma sinagoga em 1984, sugerindo a sua «responsabilidade
implícita» devido ao facto de o antigo país de Jorge Videla abrigar 700 000
muçulmanos árabes, e o Chile, o antigo país de Augusto Pinochet, abrigar 500
000 palestinianos, a maior diáspora palestiniana do mundo fora do Médio
Oriente, num contexto de parceria com as forças revolucionárias da zona da
Venezuela à Bolívia.
Um vigilante brutal vigia as
turbulências do território norte-americano: o Comando Sul, o equivalente latino
do Comando Africano para o continente africano, que supervisiona a «cultura
estratégica» do hemisfério sul; Na verdade, um plano de classificação dos
países da zona através de um programa de estudos da Universidade Internacional
da Flórida, que financia para levar a cabo uma série de acções de propaganda
ideológica hegemónica favorável aos interesses militares e económicos dos
Estados Unidos na América Latina e na zona das Caraíbas. Assim, em Setembro de
2013, no auge da controvérsia sobre o uso de armas químicas pelo governo sírio,
enquanto os Estados Unidos e a França se preparavam para iniciar a batalha de
Damasco, um site electrónico lançou um ataque em grande escala contra o aliado
da Síria, acusando o Hezbollah de ser um actor e agente do narcotráfico
latino-americano e de ameaçar o subcontinente. Ver anexo documental, em
espanhol e francês http://infosurhoy.com/es/articles/saii/features/main/2013/09/06/feature-01
O Hezbollah, uma ameaça para a América
Latina? Uma organização libanesa a milhares de quilómetros de distância,
ameaçar, sozinha, um continente dominado pelos gringos, conhecido pelos seus
guerrilheiros, barbudos, cartéis de narcotraficantes e esquadrões da morte? https://www.renenaba.com/hispaniland-un-role-galvanisateur-dans-la-dynamique-contestataire-de-lordre-mondial/
VI – Diplomatas
franceses de língua árabe destacados na América Latina
Presciência? Omnisciência?
Ou puro acaso? O jornalista francês Yves Mamou programou, paralelamente, no
espaço francófono, o lançamento de um livro sobre o «Hezbollah, último acto»,
que trata do papel da formação xiita no narcotráfico entre a América Latina e a
África. O lançamento está previsto para Janeiro de 2014, data presumida do
início do julgamento dos assassinos do ex-primeiro-ministro libanês Rafic
Hariri, no qual quatro membros dessa organização são acusados.
Sem dúvida alimentado
por informações dos serviços israelitas, o jornalista narraria a colaboração
entre o Hezbollah e as FARC nessa área. Com um olhar distorcido, ele ignorará o
facto de que o Sahel, particularmente o Mali, é há uma década a porta de
entrada das drogas para a Europa, graças ao domínio da AQMI, a filial magrebina
da Al Qaeda, uma organização exclusivamente sunita, sobre esse lucrativo
tráfico. Como é lógico, ele ocultará o papel subterrâneo de Israel tanto na
África como na América Latina.
Como pioneiro, o
presidente israelita Shimon Peres, na Primavera de 2013, preparou o terreno com
uma ofensiva à escala europeia, pleiteando, de forma sub-reptícia, junto à
União Europeia a inclusão do Hezbollah na lista de organizações terroristas,
com o objectivo subjacente de enfraquecer o Hezbollah na fronteira norte e na
Síria, bem como o Irão, como prelúdio a uma eventual acção militar. Esta
ofensiva diplomática, acompanhada por uma operação de charme que mobilizou a
cantora Riva, uma israelita de origem judaica iraniana, para cantar a paz, foi,
no entanto, interrompida devido a um incidente surpreendente «de carácter
racista». Invocando «motivos de segurança», o acesso ao comboio presidencial, à
sua chegada a Paris, foi proibido ao chefe de bordo, que era negro, e um
maquinista de outro comboio, de origem magrebina, foi impedido de chegar ao seu
posto.
Assumindo o comando, a
França, dando continuidade à acção do seu aliado libanês Hariri, conseguiu que
o braço militar do Hezbollah fosse incluído na lista negra da União Europeia,
em Junho de 2013, paralelamente a um movimento diplomático que afectou
diplomatas arabistas na América Latina: Frédéric Desagneux, responsável pela
Palestina, foi transferido para a Venezuela, base da cooperação entre o Irão e
os países contestatários da América do Sul; Denis Pitton, antigo embaixador em
Beirute, reduto do Hezbollah, para o Brasil, o maior reduto eleitoral do clã
saudita-americano de Saad Hariri no Líbano.
Um facto nada insignificante, uma vez que a esposa de Frédéric Desagneux, Dalal, é uma excelente arabista, libanesa originária da região xiita do sul do Líbano, ex-jornalista da rádio haririana Radio-Orient de Paris, e que a esposa de Daniel Pitton morreu num acidente da Ethiopian Airlines a caminho da África Oriental, transportando um suposto peixe graúdo financeiro do Hezbollah. Ao contrário dos Estados clientes dos Estados Unidos, o líder do sub-continente e seu representante no BRIC deixou claro que não tinha qualquer objecção à angariação de fundos a favor do Hezbollah, que considera uma formação política. http://blog.lefigaro.fr/malbrunot/2013/09/quai-dorsay-les-ambassadeurs-a.html
Em missão de
observação in situ? De rastreamento e localização? De enquadramento por parte
da França, o país pioneiro na pirataria aérea que desviou o avião dos líderes
históricos do FNL argelino na década de 1950, que proibiu o sobrevoo do seu
espaço aéreo, em 2013, ao presidente democraticamente eleito da Bolívia, Evo
Morales, um dos líderes da contestação anti-americana. A França, que conta com
o maior número de reféns no mundo detidos pelo jihadismo sunita – e não xiita –
na África e na Síria (incluindo quatro jornalistas)? Em benefício e em partilha
com o seu parceiro na defesa do território francês em África, um continente que
durante muito tempo foi o seu campo de acção privilegiado, do qual foi relegada
em duas décadas para a 5.ª posição, atrás dos Estados Unidos, da China, da
Índia e do Reino Unido.
Israel? Ou seja, o
maior apoiante das ditaduras do terceiro mundo, o aliado incondicional do
regime de apartheid da África do Sul? A guarda pretoriana de todos os ditadores
francófonos que saquearam África. De Joseph Désiré Mobutu (Zaire-RDC) a Omar
Bongo (Gabão), Gnassingbé Eyadema (Togo) e até Félix Houphouët-Boigny (Costa do
Marfim) e Laurent Gbagbo, passando por Paul Biya, o presidente offshore dos
Camarões, cujo território serve de trânsito para os sequestradores do Boko
Haram? Além disso, na América Latina, nas Honduras, na Colômbia e no Paraguai.
VII – As questões
subjacentes da guerra entre o Hezbollah e Israel no Terceiro Mundo:
Israel é um dos
maiores colonizadores planetários e poluidores das terras da África, América
Latina e Ásia.
O assédio israelita às
comunidades libanesas de África, particularmente na Nigéria e na Serra Leoa,
visa exclusivamente eliminar concorrentes na exploração de diamantes no subsolo
africano e secar o fluxo financeiro proveniente dos emigrantes xiitas para os
seus correligionários do sul do Líbano? Ou enfraquecer o escudo constituído
pela imigração xiita libanesa na África e na América Latina diante da
colonização crescente das terras empreendida por Israel nessas duas regiões?
Uma colonização com uma área 20 vezes maior que a Palestina. Israel, cuja
experiência de colonização da Palestina o levou a colonizar terras em todo o
mundo que representam vinte vezes a sua superfície, em detrimento das populações
e do ambiente dos países pobres:
- Na
República Democrática do Congo, para o cultivo de cana-de-açúcar, além da
exploração de diamantes.
- No
Gabão, para o cultivo de Jatropha, necessária para a produção de bio-combustíveis;
- Na
Serra Leoa, onde a colonização israelita representa 6,9% do território
deste país da África Ocidental, além disso diamantífero.
- Na
Colômbia, onde Israel assumiu o controlo de imensas áreas para cultivar
cana-de-açúcar.
- Nas
Filipinas, onde a proporção de terras confiscadas atinge 17,2% da
superfície agrícola.
Os escândalos abundam no Congo Kinshasa, onde Laurent Désiré Kabila pagou com a vida as suas indelicadezas. Na Guiné também, com o escândalo de Simandou a envolver o homem mais rico de Israel, Benny Steinmetz. Uma das mais importantes operações de pilhagem das riquezas minerais de África, num contexto de corrupção das elites africanas e evasão de capitais para paraísos fiscais. http://www.lemonde.fr/afrique/article/2013/09/24/les-milliards-de-simandou_3483463_3212.html
Israel lidera os
países que controlam as terras nos países pobres, juntamente com os Estados
Unidos, a Grã-Bretanha e a China, de acordo com um estudo publicado no «The
Journal of the National Academy of Sciences of the United States». De acordo com este estudo intitulado «Global
Land and Water Grabbing» (apropriação mundial de terras e águas) e publicado
pela revista Golias Hebdo N.º 275 (semana de 14 a 20 de Fevereiro de 2013), 90%
dessas terras estão localizadas em 24 países, a maioria na África, Ásia e América
Latina. Desde a crise alimentar de 2007-2008, as empresas estrangeiras estão a
adquirir dez milhões de hectares de terras aráveis por ano. As novas culturas
são frequentemente cultivadas em detrimento das selvas e das zonas de
importância ambiental, ameaçando a sua bio-diversidade. Utilizam fertilizantes
e pesticidas e libertam quantidades significativas de gases com efeito de
estufa. Em última análise, este fenómeno compromete as bases da soberania
alimentar e desvia, em particular, os recursos hídricos.
VIII – Tunísia, base
operacional do Mossad e do AFRICOM.
A ofensiva mediática e política
israelita teria ainda como objectivo enfraquecer as defesas árabes na periferia
do campo atlantista, através da América Latina, do Magrebe, da África
subsaariana, a última barreira antes da grande invasão chinesa à Europa
Ocidental. O desmantelamento de uma importante rede israelita na Tunísia, em
2012, insere-se nesta estratégia, cujo objectivo final é instalar a principal
base operacional da Mossad no Magrebe, neste país em plena transição política,
na encruzilhada entre África e a Europa, outrora reduto ocidental.
Os Estados Unidos já instalaram o
quartel-general do Africom (Comando para África) em Remada, no sul da Tunísia.
O general David M. Rodriguez, chefe do Africom, visitou Túnis em 20 de Novembro
de 2013, onde se reuniu com o primeiro-ministro tunisino, Ali Larayedh, para
discutir a evolução do projecto, iniciado em Dezembro de 2011 e continuado sob
o regime neo-islâmico de An Nahda.
A nomeação de Dov Zerah para a chefia da
Agência Francesa para o Desenvolvimento poderia dar início a credibilidade a
esta hipótese, na medida em que a promoção do presidente do consistório
israelita de Paris e secretário-geral da Fundação França-Israel para o cargo
estratégico de distribuidor da ajuda financeira francesa à África ocorreu em 2
de Junho de 2010, seis meses antes da independência do Sudão do Sul, quando a
«batalha do Nilo» pela repartição das quotas de água deste rio africano estava
em pleno andamento entre o Egipto e os aliados africanos de Israel: a Etiópia e
o Quénia, em particular.
Apoiando-se nos países africanos
anglófonos não muçulmanos, Etiópia, Uganda e Quénia, Israel conseguiu um grande
avanço diplomático na África anglófona, obtendo a redução da quota de águas do
Nilo do Egipto, a maior palhaçada diplomática da era Mubarak, que lhe custou o
poder no Egipto. Negociando com o Egipto, fazendo-lhe acreditar na
possibilidade de uma sucessão dinástica a favor do seu filho, Israel incitou os
Estados africanos a reclamarem um aumento da sua quota na distribuição hídrica
do rio, atraindo os africanos com projectos económicos e os investidores
egípcios com promessas de participação nos projetos israelitas. Na Etiópia,
Israel financiou a construção de dezenas de projectos para a exploração das
águas do Nilo Azul.
Sobre a estratégia de estrangulamento do Hezbollah, CF: https://www.renenaba.com/sous-la-syrie-le-hezbollah/
Para o leitor de língua árabe, CF.
Tunísia, plataforma do Mossad no Magrebe do jornal libanês "Al
Akhbar". http://www.al-akhbar.com/node/166000
Sobre o jogo de Israel na África e a colonização de terras africanas: https://www.renenaba.com/le-jeu-de-la-france-defense-du-pre-carre-en-tandem-avec-israel/
O panorama seria mais completo se o
jornalista investigativo francês tivesse voltado a sua atenção para as
publicações do site independente latino-americano El Correo http://www.elcorreo.eu.org/
bem como para o
site anti-establishment http://www.rebelion.org/ que abundam em
informações sobre a colaboração ita até mesmo conivência, com regimes
autoritários no sul do continente americano.
A ofensiva anti-Hezbollah na América
Latina teria ainda como objectivo criar uma cortina de fumo sobre a face
hedionda do humanitarismo israelita. Camuflar a colonização crescente das
terras na Colômbia e essa singular impostura que é a reprodução do regime de
apartheid da Palestina nas Honduras. Ah, as dolorosas reminiscências.
«As Honduras são hoje, tal como a
Palestina, um laboratório de genocídio indígena, um laboratório de técnicas de
contra-insurreição, um laboratório de guetização e contenção de populações
escravizadas. É também o laboratório da implementação de um neo-liberalismo
absoluto, graças à cessão da soberania sobre regiões inteiras do país através
da «Lei Hipotecária» e à criação de
enclaves neo-liberais subtraídos ao território nacional, as «Zonas de Emprego e
Desenvolvimento Económico» ou «Cidades Modelo» ou «Cidades Charter», bem como a
cessão dos direitos sobre todos os recursos naturais do país», está escrito. Fonte
em espanhol: Barrios seguros, Control de Población o la Fase de Implantación
del neo fascismo ?»
Honduras, que tem a maior taxa de
homicídios per capita do mundo (85,5 por 100.000 em 2012, cerca de 20
assassinatos por dia, 95% dos quais ficam impunes, cuja pobreza afecta mais de
70% da população, segundo a ONG local Fórum da Dívida Externa), e que luta para
recuperar das consequências do derrube do presidente Manuel Zelaya em Junho de
2009 pelos militares apoiados por sectores de direita e pelo sector dos
negócios.
No entanto, a repressão israelita
encontra resistência local. No México, por exemplo, o clamor de intelectuais
contra o facto de designar Israel como convidado de honra na Feira
Internacional do Livro de Guadalajara, em 2013. http://upsidedownworld.org/main/mexico-archives-79/4589-mexicans-against-zionism Sobre a presença
do Mossad e de outras forças israelitas que vêm transmitir os seus
conhecimentos na América Latina, a sua experiência palestiniana em termos de
genocídio e apartheid. Veja em particular "Como é que Israel ganha
dinheiro com sangue") ou, outro exemplo, como ("Empresas militares privadas
estão a penetrar na América Latina").
Nesta fase de
deslocamento geo-político mundial do mundo árabe, o Hezbollah continua a ser
uma das poucas formações político-militares árabes a resistir ao fenómeno da
desorientação, a única, segundo os americanos, a não colaborar na vigilância
electrónica dos líderes árabes, a única a resistir vitoriosamente à estratégia
de estrangulamento de que é alvo e à abdicação perante o imperium
israelo-americano. A única a manter o rumo. A única a não baixar a guarda. A
única a garantir uma dissuasão militar libanesa credível face a Israel.
Neste centenário da
imigração libanesa e da completa subjugação do Líbano à ordem ocidental, é
importante que o Líbano e os libaneses rompam com o estado de beatitude e
prostração permanente em relação à França e ao Ocidente, que se abram aos novos
pólos decisórios da geo-política mundial e forjem uma nova relação baseada numa parceria crítica com a França e
os seus aliados ocidentais, no interesse bem compreendido do Líbano, dos
libaneses e da França. Neste centenário da imigração libanesa, era importante
que essa verdade fosse dita, pois é verdade que a história ri dos povos
desarmados e desorientados e que finalmente é hora de o Líbano atingir a
maturidade e romper com a tutela incapacitante.
Referências.
1 – Sobre os libaneses
e a política em África: Se o milionário libanês Mahmoud Bourgi (Senegal) foi um
colaborador tácito de Jacques Foccart, fundador da «Françafrique», o seu filho
Robert, transportador de malas para o pessoal político francês, outros
libaneses alinharam-se do lado dos partidários da independência. Foi o caso de
Albert Bachir, ginecologista em Dakar, militante activo no RDA (Rassemblement
Démocratique Africain), que reunia uma série de futuros líderes: Modibo Keita
(Mali), Sékou Touré (Guiné) e até Félix Houphouët-Boigny (Costa do Marfim), na
época companheiro de viagem do Partido Comunista Francês.
Animado por um activismo
precoce, Albert Bachir foi expulso do Liceu Faidherbe em Saint Louis por se
recusar a recitar «os nossos antepassados, os gauleses» em terra africana, um
liceu cujo director na época era ninguém menos que o escritor francês Roger
Peyrefitte, futuro tutor do Príncipe Rainier do Mónaco. O pai de Albert Bachir,
Naaman Bachir, é o inventor do «sacou naaman», o saco de Naaman, a unidade de
medida para pesar amendoins, obtida costurando a parte inferior das cuecas
árabes. O sacou naaman equivalia a 50 kg; Se o empresário da construção civil
Antoine Tabet financiou em Dakar as campanhas de Léopold Sedar Senghor, Kazem
Charara fez o mesmo com o seu sucessor Abdou Diouf, Hassan Hejeij com Omar
Bongo e Hajal Massad, um dos líderes do Partido Nacional Social Sírio, nos
Camarões. O Dr. Salim Accar foi ministro da Saúde da Guiné sob Sékou Touré
(1958-1962), Monie Captan, natural de Trípoli, ministro dos Negócios
Estrangeiros da Libéria (de 1996 a 2003), Ali Haidar, ministro da Ecologia do
Senegal, enquanto Roland Dagher assumiu um papel de conselheiro na Costa do
Marfim e Djamil Bitar, presidente da federação maliana de futebol, foi
candidato nas últimas eleições presidenciais (2013).
Deste grupo,
destaca-se, no entanto, uma ovelha negra: o controverso empresário Elie Calil.
Próximo do ditador nigeriano Sani Abacha (no poder de 1993 a 1998), foi
apontado pelo mercenário Simon Mann como um dos arquitectos da tentativa de
golpe contra o presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, em 2004,
bem como, segundo a jornalista belga Colette Braeckmann, a participação de
alguns libaneses no financiamento do assassinato, em Janeiro de 2001, do
presidente congolês Laurent-Désiré Kabila, que «alienou a poderosa comunidade
libanesa quando imprudentemente confiou à empresa israelita IDI o monopólio da
compra de diamantes» (Les Nouveaux prédateurs, Fayard, Paris, 2003) . Outros
exemplos de abusos: o do advogado Walid Koraytem, por investimentos duvidosos
no Gabão no âmbito do caso Elf, e o de Jamil Saïd, por envolvimento político e
material na guerra civil na Serra Leoa.
Para ir mais longe
- René
Naba, "Du bougnoule au sauvageon, voyage dans l'imaginaire
français", Editions L'Harmattan, 2002.
- http://communaute-franco-libanaise.blogspot.fr/2012/01/histoire-de-lemigration-libanaise-en.html
- "Liban
déraciné: Immigrés dans l'autre Amérique", Paris, Plon, col.
"Terre humaine", 1978.
- Reedição:
Liban déraciné: Fils et filles d'émigrés, Paris, Plon, col. "Terre
humaine", 1988.
- -John
G. Moses' O LIBANÊS NA AMÉRICA por Samir Mattar Vindo para a América:
Documentando os primeiros imigrantes libaneses
- -O
LIBANÊS NA AMÉRICA Por John G. Moses, Utica, NY Publicações
Educacionais
- Nova
York, edição revista, 2001.
- -Nadim
Shehadi, co-autor de um livro sobre a diáspora libanesa (The Lebanese in
the World: a Century of Emigration, CLS / Tauris, Londres, 2002).
- http://lebemigration.tripod.com/
- A
emigração de árabes para a Argentina http://books.openedition.org/iremam/2952
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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