Sociedades
íntegras banem os dirigentes condenados, enquanto na França os ricos os
abençoam. (caso Sarkozy)
29 de Outubro de 2025 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Em 25 de setembro, o
ex-presidente francês Nicolas Sarkozy foi considerado culpado de conspiração
pelo Tribunal Penal de Paris, que entendeu que ele desempenhou um papel activo
na criação de um esquema de financiamento para a sua campanha eleitoral de 2007
por líderes líbios.
Os factos são inegavelmente graves: o
financiamento clandestino de uma campanha eleitoral com fundos do regime de Kaddafi,
em troca de intervenção para promover o seu retorno ao cenário internacional e
um compromisso de perdoar Abdallah Senoussi, condenado à prisão perpétua pelo
seu papel num atentado.
O tribunal condenou o ex-presidente por
solicitar "dinheiro de um regime responsável por um dos ataques mais
mortais já cometidos contra civis franceses". A sentença baseia-se na
falha de Sarkozy em dar o exemplo. A sentença invoca especificamente o
princípio da conduta exemplar: "Trata-se, portanto, de actos
excepcionalmente graves, susceptíveis de minar a confiança dos cidadãos
naqueles que os representam e que deveriam agir no interesse público, bem como
nas instituições da República".
O crime pelo qual o ex-presidente foi
considerado culpado, segundo o tribunal, mina gravemente a confiança pública e
o Estado de Direito. De facto, de acordo com os fundamentos da sentença, os actos
pelos quais Sarkozy é culpado são particularmente graves, sendo actos
criminosos cometidos por um presidente cujo dever é servir o país com
honestidade, lealdade e dignidade.
Nicolas Sarkozy falhou em manter a
integridade no exercício das suas funções. Portanto, o ex-presidente foi
condenado principalmente por violação da integridade e por não ter dado o
exemplo. Ele foi considerado culpado de usar a sua posição como ministro e como
candidato à presidência para concluir, segundo o veredicto, "um acordo
clandestino para obter dinheiro de um ditador líbio criminoso".
Nas sociedades antigas, quando um
patriarca ou ancião cometia um crime, era imediatamente excomungado da tribo e
banido da comunidade. A punição era severa e irrevogável devido ao dever de
conduta exemplar esperado do chefe do clã, do líder comunitário e do chefe da
aldeia. Era um estigma para toda a vida.
Durante milhares de anos, o exílio foi uma
das sanções penais mais comuns infligidas a um membro da comunidade que detinha
autoridade. Esse exílio era acompanhado pela confiscação dos bens do
excomungado, pela perda dos seus direitos, pela perda da sua honra e pela
privação de todos os recursos, tanto materiais quanto sociais, uma vez que
todos os membros da comunidade se recusavam a ter qualquer contacto com o seu
antigo dignitário, agora considerado indigno.
Num mundo antártico onde todos os
estrangeiros eram considerados suspeitos e excluídos, o banido, incapaz de se
integrar numa nova comunidade, era condenado à vida de vagabundo. O banimento
era para eles uma verdadeira forma de morte social.
Na França, em 2025, sob o capitalismo
decadente, um governante ou capitalista condenado pelos tribunais é, ao
contrário, aclamado como um exemplo de virtude e alvo de intensos elogios. E,
sobretudo, a condenação do líder é severamente criticada.
Como era de se esperar com a condenação de
Nicolas Sarkozy, essa decisão provocou imediatamente indignação em grande parte
da classe dominante francesa. A burguesia, a classe política e a media,
ignorando a gravidade dos factos, protestaram veementemente, alegando violação
do Estado de Direito. Alguns chegaram a reacender o debate em torno do suposto
"governo de juízes de esquerda" que, segundo eles, condenam injustamente
representantes da nação pela sua filiação política de direita.
Nicolas Sarkozy denunciou uma
"injustiça" e um "ódio" que supostamente o perseguem por
parte de certos magistrados. Comparou-se também a Alfred Dreyfus, alegando ser
vítima de uma conspiração. Sarkozy não é vítima de uma conspiração. A França,
porém, é vítima de Sarkozy; essa é a realidade.
Em entrevista ao Journal du Dimanche, o
ex-presidente declarou: "Não sou eu quem está a ser humilhado, mas a
França". Pelo contrário, raramente um ex-presidente degradou a França de
forma tão completa.
No entanto, em vez de ser ostracizado como
um pária pelos seus crimes, ele foi recebido no Palácio do Eliseu por Emmanuel
Macron. O Ministro da Justiça, Gérald Darmanin, chegou a anunciar que visitaria
Nicolas Sarkozy na prisão. "Receber Nicolas Sarkozy no Eliseu e visitá-lo
na prisão, um homem condenado por crimes extremamente graves, não condiz com o
respeito às instituições", denunciou Olivier Faure, Primeiro Secretário do
Partido Socialista.
Este processo judicial revelou a
verdadeira e horrenda face da classe dominante francesa, em particular a da
classe política e dos jornalistas.
Devido a um reflexo de classe na França,
simplesmente por pertencer à classe dominante, alguém pode ser condenado por
crimes graves e continuar a beneficiar do apoio inabalável da elite política e
mediática, de tratamento preferencial e de privilégios.
Para relembrar, foi esse mesmo grupo
oligárquico que, após a condenação pelo TPI dos dois assassinos de Gaza,
Netanyahu e Gallant, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra,
aproveitou imediatamente a oportunidade para denunciar a validade da decisão do
Tribunal Penal Internacional. Essa facção da elite política e cultural sionista
francesa havia instado o governo Macron a não executar o mandato do TPI contra
os dois assassinos de Gaza, mesmo que isso significasse violar o direito
internacional. Criminosos apoiam-se mutuamente até nos actos mais abomináveis.
Para a França das classes baixas, a França
do povo trabalhador honesto, o veredicto que se prepara para aplicar à França
das classes altas, através da sua luta emancipadora final, é o banimento
definitivo de toda a classe dominante, de todos os políticos corruptos, de
todos os jornalistas a soldo.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice

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