Itália: A propósito da «greve
geral» por Gaza
Na Itália, milhares de
trabalhadores entraram recentemente em greve para apoiar a Flotilha Mundial
Sumud, a iniciativa que visa levar ajuda a Gaza, e para denunciar o massacre em
curso nessa região. O que se segue baseia-se nos relatos dos nossos camaradas
em Itália, que participaram nas greves em várias cidades. Incluímos também
abaixo um panfleto que eles distribuíram nesse dia.
A 19 de Setembro, a
federação sindical CGIL convocou greves de duas a quatro horas (as últimas
horas do turno diurno), dependendo da categoria e do local. A 22 de Setembro,
foram os sindicatos de base, principalmente a USB e o colectivo dos estivadores
de Génova CALP, bem como organizações da chamada sociedade civil (ANPI, ARCI,
Emergency e toda uma galáxia de acrónimos pacifistas), que convocaram uma greve
geral de um dia. Desta vez, o Si Cobas não se juntou ao apelo, deixando
simplesmente os seus membros livres para escolherem participar ou não na greve,
e apelou antes a uma acção a 3 de Outubro com um apoio muito mais explícito à
chamada «resistência palestiniana» (na prática, embora não abertamente, o Hamas
– não nos esqueçamos que o Si Cobas descreveu o dia 7 de Outubro de 2023 como
um dos exemplos mais brilhantes de «acção anti-imperialista das massas
oprimidas»).
A greve de 19 de Setembro
teve uma participação relativamente elevada, com forte adesão às manifestações;
a maioria dos grevistas pertencia ao mundo dos «cols bleus», ou seja, aqueles
que trabalham em fábricas e sectores semelhantes. A greve de 22 de Setembro,
por outro lado, foi geralmente liderada por trabalhadores do sector terciário
(serviços diversos, escolas, transportes, etc.), ou seja, os sectores de
emprego assalariado onde os sindicatos de base são mais fortes. Mas, para além
destes sectores da força de trabalho, várias organizações da sociedade civil e
indivíduos que não pertencem a nenhuma organização específica, mas que estão
justamente indignados com a devastação que se desenrola em Gaza, também participaram.
A participação foi realmente impressionante, muito maior do que a de 19 de Setembro
e provavelmente inesperada: em muitas cidades, marchas gigantescas reuniram
milhares de pessoas, ou mesmo dezenas de milhares nas cidades maiores. Em
algumas cidades, como Bolonha, Roma e Florença, os manifestantes ocuparam
trechos de vias rápidas e auto-estradas, bloqueando obviamente o trânsito (em
Roma, no entanto, os motoristas retidos expressaram a sua solidariedade e
saudaram os manifestantes), apesar dos recentes «decretos de segurança»
promulgados pelo governo, que agravaram as sanções para as pessoas que
participam em bloqueios de estradas, piquetes e outras acções semelhantes. Em
algumas cidades, os manifestantes ocuparam brevemente a estação ferroviária
(Reggio Emilia) e bloquearam ou tentaram bloquear o acesso aos portos (Génova,
Marghera-Veneza, Ancona, etc.). Apenas em alguns casos, como na estação
ferroviária de Milão ou no porto de Marghera, houve confrontos com a polícia
(claramente exagerados pelo governo e pela imprensa), durante os quais, ao que
parece (mas isso ainda precisa ser verificado), jovens de origem
norte-africana, de segunda ou terceira geração, participaram nas acções, ao
lado da habitual multidão do «black bloc», mas isso representou apenas uma fracção
infinitesimal da enorme massa de pessoas que participaram nas marchas.
Não é preciso dizer que o conteúdo era marcado pelo
pacifismo humanitário e pelo reformismo, sem o menor traço de internacionalismo
proletário, ou seja, de classe: as bandeiras palestinianas dominavam
incontestavelmente, acompanhadas dos habituais slogans «Palestina livre», etc.
A divisão da classe operária pelos sindicatos era claramente visível: de um
lado, os trabalhadores do Si Cobas (principalmente imigrantes), do outro, os da
CGIL (principalmente italianos), com pouca discussão. A Battaglia Comunista
interveio em várias cidades com um panfleto, embora este se tenha obviamente
perdido na vaga do nacionalismo pró-palestiniano. Em Reggio Emilia, também
foram distribuídos panfletos dos «Comités Internacionalistas Contra a Guerra –
Pela Guerra de Classes» (embora não se chamem «Comité Contra a Guerra, Pela
Guerra de Classes», eles vão essencialmente na mesma direcção).
Não à guerra e ao
pacifismo das ditaduras burguesas de todas as tendências! Sim à guerra de
classes!
O internacionalismo
proletário não é uma mistura de movimentos que reúnem «indivíduos e povos» de
boa vontade; não é um humanismo «benfeitor» e ético que apela simplesmente à
razão contra a maldade da burguesia maléfica. Deixamos essas coisas para os
grupos e organizações de uma certa esquerda mais ou menos radical, da qual
fazem parte, por exemplo, o Si Cobas e outros sindicatos de base. É certamente
nosso dever fazer greve contra qualquer guerra, mas não apoiar o surgimento de
outro Estado burguês, que inevitavelmente se alinhará com um dos blocos
imperialistas.
Expressar uma
solidariedade cega com a «Flotilha Sumud», um movimento pacifista que, para
além do humanitarismo subjectivo dos seus participantes, se insere na linha do
conservadorismo burguês, equivale a colocar-se em contradição com os interesses
de classe.
Expressar solidariedade
e usar o símbolo da «intifada, até à vitória», ignorando o papel do Hamas, uma
força fascista, fundamentalista e anti-comunista — em suma, uma força
capitalista reaccionária que, com a burguesia israelita, « aderiu e continua a
aderir » ao massacre das massas despossuídas da Palestina — leva-nos ao caminho
da contra-revolução.
O Hamas é apoiado pelo
imperialismo iraniano, que por sua vez está alinhado com o imperialismo
sino-russo; é financiado pelo Qatar com a bênção de Netanyahu e dos Estados
Unidos, que sempre fecharam os olhos, até ao confronto de 7 de Outubro, que deu
a Israel a oportunidade que procurava para massacrar dezenas de milhares de
habitantes de Gaza com uma crueldade sem precedentes.
Essas são as guerras do
capitalismo e do imperialismo, que esmagam e destroem tudo quando o interesse
supremo do capital está em jogo: o deus do lucro. E enquanto derramam lágrimas
falsas pela morte «atroz» de um dos seus apoiantes (Charlie Kirk), acusando
aqueles que semeiam o ódio, os seus cúmplices e acólitos, que por sua vez
administram o poder das classes dominantes, nem sequer se comovem com o espectáculo
horrível que encenam todos os dias, o massacre de centenas de milhares de
proletários nas 59 guerras que assolam o mundo. Não é ódio, é o que eles chamam
de amor... pela pátria.
A pátria e o Estado são
uma e a mesma coisa. Eis a palavra mágica: dois povos, dois Estados.
Reivindicar o Estado é reivindicar as suas próprias correntes: o Estado nada
mais é do que a organização violenta ou «democrática» das classes dominantes! A
auto-determinação nacionalista de um Estado capitalista entre os Estados
capitalistas. O imperialismo reinante da burguesia mundial controla todos os
aspectos da vida social e económica. Consequentemente, a tarefa histórica das
vanguardas revolucionárias dispersas, onde quer que se encontrem, é promover o
surgimento de organizações (partidos) que tenham uma visão clara das implicações
económicas do imperialismo contemporâneo, das acções das burguesias nacionais
individuais e das soluções tácticas a adoptar no quadro político imposto pelos
interesses burgueses.
Só assim poderemos
contribuir para preparar um futuro para todos os proletários da região (e do
mundo). Um futuro que tenha como ponto de partida a retoma da luta de classes
contra a agressão imperialista, contra as ambições nacionalistas das diferentes
burguesias, por uma solução revolucionária e comunista para a atual crise
internacional. Mas esse futuro está condenado a permanecer letra morta se o
destino político do proletariado for entregue ao conservadorismo capitalista
mais obtuso e ao sistema político anti-operário mais feroz que o Médio Oriente
pode produzir hoje. É um caminho difícil, mas não há alternativa.
Não às guerras do capital, sim à guerra de classes!
PCInt. - Battaglia Comunista
Segunda-feira, 6 de Outubro de 2025
Fonte: Italie
: À propos de la « grève générale » pour Gaza | Leftcom
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário