O papel ambíguo do Hamas no genocídio dos palestinianos
e na destruição de Gaza
19
de Outubro de 2025 Robert Bibeau
Por Khider MESLOUB
É desnecessário dizer que o Hamas não
representa todo o povo palestiniano. A luta do povo palestiniano não é
personificada por organizações auto-proclamadas palestinianas. Muito menos pelo
Hamas, uma organização islâmica extremista movida por uma agenda política contr-rrevolucionária
e supremacista islâmica.
Além disso, os islamitas do Hamas não
lutam pela independência da Palestina, mas pelo estabelecimento de um Estado
islâmico. Os membros do Hamas não lutam como combatentes palestinianos, mas
como muçulmanos, para libertar a terra islâmica do judaísmo. A sua luta faz
parte de uma estrutura confessional, não nacionalista, muito menos anti-colonialista
ou anti-imperialista. Não devemos perder de vista os laços estreitos entre o
Hamas e os serviços secretos israelitas. O Hamas é uma criação de Israel,
criado para contrabalançar a Organização para a Libertação da Palestina e o
partido Fatah. Antes de fingir lutar contra os sionistas israelitas, o Hamas
lutou impiedosamente contra a autêntica resistência palestiniana.
Desde o seu ataque relâmpago mortal, o Hamas tem sido duplamente conhecido pela sua covardia e perversidade (sic). Pior ainda, pela sua cumplicidade no genocídio e na limpeza étnica dos palestinianos de Gaza, cometidos pelo Estado nazi de Israel, sob o patrocínio, a protecção e a bênção do governo americano e de muitos países europeus.
Primeiro, a covardia exógena em atacar
perversamente civis israelitas desarmados, barbaramente massacrados, sabendo
com que resposta militar desproporcional o estado terrorista sionista costuma
responder contra a população civil palestiniana. De facto, o Hamas, a menos que
fosse cúmplice, não poderia fingir ignorar que o regime fascista israelita iria
responder com violência assassina e vingativa contra todos os palestinianos.
Ou, melhor, aproveitar esta oportunidade macabra para justificar e legitimar a
anexação de Gaza após ter massacrado e expulsado os seus habitantes. Uma
anexação planeada há anos por Israel para se apoderar das jazidas de gás e
petróleo.
Depois, a covardia endógena em desferir um combate fantasmagórico vicário aos sádicos soldados israelitas através da população civil palestiniana, usada como escudo humano, uma população civil desarmada, entregue como vítima sacrificial expiatória à rapacidade genocida de todos os colonos sionistas fanáticos sedentos de vingança. Colonos supremacistas sanguinários, adeptos da lei talmúdica da retaliação. Para quem, em nome do princípio irracional da eleição bíblica que erige os judeus como povo escolhido, a morte de um judeu exige a morte vingativa de um milhão de goyim. A tomada de refém de um único judeu exige o sequestro faminto de um milhão de goyim.
Desde os primeiros dias da intensificação
do genocídio dos palestinianos pelo assassino Israel, os líderes sionistas
(SIONAZI) justificam a sua ofensiva militar com a tomada de «reféns» de
cidadãos israelitas e a sua vontade de erradicar o Hamas. Desde o início, o
exército israelita alinhou um exército de 400 000 mercenários fascistas e
reservistas fanáticos para liderar a sua resposta.
No entanto, apesar desta relação de forças assimétrica, o que faz o movimento islamista Hamas? Em vez de impedir os massacres de civis palestinianos através da libertação imediata dos reféns israelitas, retirando assim qualquer justificação para a continuação da ofensiva militar do Tsahal, a organização islâmica Hamas prefere ignorar deliberadamente a questão do destino dos reféns israelitas, entregando as populações civis de Gaza à vingança genocida das tropas militares fanáticas israelitas durante dois anos.
Da mesma forma, uma vez que o regime fascista israelita afirma querer apenas combater e erradicar o Hamas, por que razão estes combatentes islamistas, adeptos do martirismo, não enfrentaram directamente os soldados israelitas nas linhas da fronteira para os impedir de entrar em Gaza, mesmo que isso significasse morrerem todos como mártires, preservando assim a vida dos seus compatriotas civis que pretendem representar e defender?
Na verdade, para o movimento islâmico palestiniano Hamas, que sempre trabalhou exclusivamente para reforçar a sua posição política, a sua hegemonia governamental e o seu reconhecimento diplomático, a vida dos reféns israelitas tinha estrategicamente mais valor do que a vida dos palestinianos. O Hamas está disposto a sacrificar todos os habitantes de Gaza para satisfazer as suas ambições políticas, concretizar os seus objectivos governamentais e afirmar-se na cena internacional como o único representante dos palestinianos.
Durante vinte e quatro meses, o Hamas manteve prisioneiros algumas dezenas de soldados e civis israelitas. Para que lhe serviram esses prisioneiros? Aparentemente, como moeda de troca para exigir a libertação dos prisioneiros palestinianos.
Somos tentados a exclamar: tudo isso para isto!
Capturar algumas dezenas de reféns
israelitas para, no final, se contentar em negociar diplomaticamente, em hotéis
luxuosos do Cairo ou de Doha, a libertação de alguns prisioneiros
palestinianos... que serão recapturados e presos nos dias seguintes. A menos
que o longo cativeiro dos reféns israelitas respondesse a um plano maquiavélico
tramado pelos falcões de Telavive?
Curiosamente, no final, após dois anos de adiamentos calculados, o Hamas aceita libertar os reféns israelitas depois de o regime fascista israelita ter concretizado o seu plano de limpeza étnica e destruição de Gaza. Tudo aconteceu como se o cativeiro dos reféns israelitas pelo movimento islâmico palestiniano tivesse sido deliberadamente mantido durante meses para permitir que o Tsahal justificasse as suas operações de limpeza étnica e destruição do enclave de Gaza, prelúdio à sua anexação para transformá-lo numa «Riviera» (zona turística e polo de tecnologias de ponta), de acordo com o plano elaborado há anos pelos falcões de Telavive e Washington.
Mais de 70 000 palestinianos massacrados, na sua maioria crianças e mulheres, 200 000 mutilados, 2 milhões de sem-abrigo e famintos, para obter a libertação, não da Palestina, mas de 1800 prisioneiros (que já têm um pé na cova, tanto os anos de encarceramento torturante lhes terão destruído a saúde). Somos obrigados a exclamar com raiva: tudo isso por isto!
Toda essa luta sacrificial vicária para arrancar miseravelmente a libertação de 1.800 detidos palestinianos mutilados das prisões israelitas, ao mesmo tempo que se aceita manter 2 milhões de habitantes de Gaza cativos nessa prisão a céu aberto que é Gaza. Um território que se tornou agora um cemitério a céu aberto devido à fome que ali grassa. Mas nem prisão nem cemitério para os membros do Hamas, milagrosamente quase todos poupados dos massacres em massa cometidos pelo Tsahal contra os habitantes de Gaza, como os vimos nesta segunda-feira, 13 de Outubro, exibindo-se em boa saúde durante o seu drama encenado da libertação dos reféns israelitas, sem sofrerem qualquer ataque do Tsahal, enquanto os civis palestinianos continuam a morrer devido à explosão de bombas escondidas por Israel nas casas das famílias palestinianas.
Nada de surpreendente nisso. Israel nunca esteve em guerra contra o Hamas, mas contra a população palestiniana. De acordo com várias fontes, nomeadamente israelitas, que não podem ser suspeitas de serem pró-Hamas, apenas 15% dos «combatentes de um dia» do movimento islâmico palestiniano Hamas teriam sido «neutralizados», mortos não em combate, mas sob os escombros dos túneis.
Como conseguiram escapar ao bombardeamento incessante do exército israelita e à armada do Tsahal que tomou conta de todo o território de Gaza? É um mistério. Será que os valentes combatentes do Hamas foram retirados de Gaza para serem colocados em segurança num país árabe vizinho?
Pergunta: onde o Hamas pretende alojar esses 1.800 prisioneiros palestinos «libertados», com a destruição de 90% das habitações de Gaza e a explosão da insegurança mortal na Cisjordânia? Nas suas luxuosas residências no Qatar ou no Egipto?
De qualquer forma, como os valentes combatentes do Hamas estão exaustos devido a 24 meses de combate armado frontal, desde o seu esconderijo subterrâneo e exílio dourado no Qatar, contra os soldados israelitas em todo o território de Gaza, eles finalmente, cansados da guerra, decidiram aceitar, com diplomacia, o acordo histórico de paz.
Pergunta. Desde quando um movimento de libertação nacional, supostamente empenhado numa ofensiva militar vitoriosa, assina com a potência ocupante um acordo de paz, adiando de facto, sine die, a independência para as calendas gregas?
Normalmente, um acordo de cessar-fogo ou de paz é assinado para ratificar a independência do país em guerra de libertação contra a potência colonial.
Se não fosse pela tragédia dos palestinianos de Gaza, poderíamos chamar essas gesticulações belicosas do movimento islâmico palestiniano Hamas de tragicomédia. Alguns diriam que se trata de maquinações maquiavélicas macabras tramadas a favor da entidade sionista.
Especialmente quando se descobre, como revelou David Kenner, coordenador para o Médio Oriente do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que há vários anos, às escondidas da opinião pública, Israel e seis países árabes – entre os quais o Qatar, a Arábia Saudita, Bahrein, Egipto, Jordânia e Emirados Árabes Unidos – participam numa aliança militar informal liderada pelos Estados Unidos. Como salienta o nosso colega Mohamed K. no seu artigo publicado no Algeriepatriotique (1), «esta colaboração, revelada por estes documentos, articula-se em torno de reuniões regulares, exercícios conjuntos e uma maior partilha de informações sensíveis» entre estes seis países (pela minha parte, incluirei uma sétima entidade: o Hamas). «Esta dupla postura — apoio declarado ao povo palestiniano, por um lado, e aliança militar clandestina com Israel, por outro — ilustra uma duplicidade política flagrante, em que o discurso público serve para mascarar interesses estratégicos muito mais maquiavélicos».
Lançar um «ataque relâmpago» mortal contra civis israelitas para supostamente libertar corajosamente a Palestina, fazer algumas dezenas de cidadãos judeus reféns para, no final, conseguir a assinatura de um cessar-fogo e a libertação de alguns prisioneiros feridos, depois de entregar 2,3 milhões de civis palestinianos à resposta genocida do Tsahal, entregar todo o território de Gaza à desolação e oferecer a Telavive a oportunidade de anexar Gaza, eis os feitos das armas dos combatentes (de um dia) dos islamistas do Hamas.
Com a sua operação relâmpago assimétrica de 7 de Outubro, uma operação orquestrada ou, no mínimo, camuflada pelos estrategas de Telavive, os falcões do Estado sionista supremacista, conduzida contra a primeira potência militar da região, apoiada e armada por todos os países ocidentais, uma potência militar conhecida pela sua barbárie vingativa, os líderes do movimento islâmico Hamas contribuíram para desencadear o maior genocídio do século XXI. E o maior assalto territorial da nossa era, cometido contra o enclave de Gaza.
Assim como a postura ambígua dos seis países árabes – apoio declarado ao povo palestiniano, por um lado, e aliança militar clandestina com Israel, por outro –, que ilustra a sua flagrante duplicidade política, acaba de ser revelada por David Kenner, a duplicidade do Hamas em breve virá à tona.
No teatro geo-político do Médio Oriente, tal como o Qatar, colaborador estratégico do eixo Washington-Telavive, sempre desempenhou um papel ambíguo, também o seu protegido, o Hamas, demonstrou grande ambiguidade e ambivalência. Curiosamente, o Qatar abriga a maior base militar americana no Médio Oriente, mas também a direcção política do Hamas. Melhor ainda, acolhe um terceiro ladrão: os israelitas que operam na base militar americana. A base militar americana serve, de facto, como plataforma operacional para os recursos israelitas em missões conjuntas contra o Hezbollah e o Irão, mas sobretudo contra Gaza.
Assim, o regime de Doha concede hospitalidade a dois supostos inimigos no seu território: a dupla israelo-americana e o agora solitário Hamas, organização islâmica da «rendição» palestiniana.
O ataque relâmpago de 7 de Outubro liderado pelo Hamas foi «a forma mais exacerbada de rendição» da Palestina!
Assim sendo, a História considerará o Hamas, devido à ambiguidade do seu papel neste conflito apocalíptico, tal como os seis regimes árabes acima mencionados, como cúmplices do genocídio dos palestinianos cometido pelo Estado nazi de Israel e da anexação de Gaza pelas potências israelo-americanas.
Khider MESLOUB
1)
Cumplicidade
dos Estados árabes no genocídio: revelações sérias de um jornalista americano,
Algeriepatriotique, 13 de Outubro de 2025.
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice

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