terça-feira, 28 de outubro de 2025

França e Estados Unidos expõem a mistificação da democracia burguesa

 


França e Estados Unidos expõem a mistificação da democracia burguesa

28 de Outubro de 2025 Robert Bibeau


Por Khider Mesloub .

Como repetimos constantemente, o capitalismo encontra-se num impasse histórico. De qualquer forma, como demonstram os dois países que durante muito tempo foram considerados modelos democráticos, estamos a viver o fim de um mundo capitalista: o da democracia burguesa com o seu sistema político, os seus parlamentos, os seus direitos, os seus poderes e contrapoderes que se tornaram supérfluos. Pois, a partir de agora, as leis e as medidas despóticas são ditadas directamente pelo poder executivo, ou seja, pelo Estado, esse conselho de administração do grande capital internacional, sem serem ratificadas pelos parlamentos. (ref. https://les7duquebec.net/archives/231044)

De Paris a Washington, passando por Londres e Berlim, assistimos ao fim da soberania do poder judicial, agora despojado da sua aparente e ilusória independência, à morte da liberdade de expressão e de imprensa, ilustrada pelo desaparecimento das funções de contrapeso correctivo democrático defendidas por instâncias reguladoras livres, agora ameaçadas de extinção por serem incómodas em tempos de guerra de classes. Isso também revela o carácter ilusório da democracia burguesa.

Ao longo da história, democracia e ditadura, dois modos de regulação política dentro do mesmo modo de produção capitalista, sucedem-se alternadamente, dentro do mesmo Estado, de acordo com as conjunturas socio-económicas e o adormecimento ou a exacerbação da luta de classes.

A política, local de confrontos por excelência, é necessariamente despótica. De facto, não pode tolerar a oposição e a contradição, excepto como antagonismo institucionalmente policiado e orientado para a estabilidade social, o respeito pela ordem existente, operado no seio de estruturas parlamentares ou comunais essencialmente incorporadas no poder estatal.

Melhor. A política é o espaço da regulação e da ponderação institucional dos conflitos, do equilíbrio interclassista, do respeito pelas normas estatais, da pacificação das relações sociais entre «cidadãos», mas também o local da «violência legítima» do Estado.

Ao contrário da propaganda difundida por todos os partidos políticos institucionais, sugerindo que o poder governamental emanaria das urnas, dos deputados eleitos para o Parlamento, é preciso reafirmar que as eleições são uma pura farsa. A democracia, uma impostura.

A prova disso é a França. Apesar da ausência de qualquer maioria na Assembleia Nacional, esta situação institucional caótica não impediu o funcionamento regular do Estado.

Ao contrário da ideia comummente difundida pela mitologia democrática, que proclama que o Parlamento é a expressão por excelência da «soberania popular», há mais de um século que o Parlamento já não constitui o espaço institucional de elaboração e decisão das orientações políticas e económicas. Com o reforço do poder do Estado, o Parlamento tornou-se uma simples câmara de registo das decisões tomadas pelos círculos capitalistas mais influentes. O poder governamental assenta nos cofres dos bancos, nos cassetetes da polícia e nos blindados dos quartéis. As urnas servem para enterrar as ilusões eleitorais do proletariado alienado.

É certo que podem surgir dissensões entre as várias facções que compõem o Estado capitalista sobre a orientação de certas políticas económicas e sociais, como se observa actualmente em França. Mas essas dissensões entre os partidos que disputam a governação permanecem circunscritas ao espaço institucional e, acima de tudo, sempre em conformidade com os interesses do capital.

Apesar disso, o sistema democrático desempenha um papel de mistificação política e conservação social. Ao dar a ilusão de que a participação eleitoral poderia influenciar a política seguida pelo Estado, o sistema democrático consegue opor a via parlamentar à via da luta aberta, da confrontação de classe contra classe.

Assim sendo, o processo de desintegração da política, esvaziada da sua dimensão conflituosa puramente ideológica, há muito ritualizada pelas mascaradas eleitorais, confirma-se cada vez mais com a crise institucional e o aumento da desconfiança e do abstencionismo.

Actualmente, em todos os países ditos democráticos, em particular na França e nos Estados Unidos, a política tornou-se um assunto intra-burguês e, em relação às classes populares, a política torna-se um empreendimento de terror exercido contra todo o proletariado.

De facto, se a política continua a funcionar como instância de regulação pacífica dos conflitos entre burgueses, por outro lado, como ilustram a França e os Estados Unidos, países erigidos como paradigmas dos "direitos humanos", nas suas relações com as populações trabalhadoras, hoje ela revela a sua hedionda face criminosa que sempre escondeu sob o véu da democracia burguesa: a da repressão policial, das prisões, do encarceramento arbitrário, do controlo social, da vigilância electrónica, do confinamento penitenciário, do estado de sítio, do recolher obrigatório. Em suma, da militarização da sociedade, da democracia totalitária, a mais recente invenção do capital, que baptizei de demospotismo.

Demospotismo é esse modo de governança ocidental, e portanto francês, que tem a aparência de democracia através de eleições, mas a verdadeira face do despotismo através da gestão estatal.

Se fosse necessária uma prova desse despotismo em plena acção, ela é-nos fornecida pela política anti-social e pelo terror policial (militar) do governo macronista e da presidência trumpista. Mais do que nunca, a democracia é a folha de figueira atrás da qual se esconde a ditadura do capital.

Se, em períodos de «paz social», a classe dominante ocidental, e portanto francesa, ostenta serenamente a máscara hipócrita da respeitabilidade «democrática», em períodos de agitação social radicalmente reivindicativa, a mesma classe dominante, assustada, revela belicosamente a sua verdadeira face hedionda.

Toda a sua habitual fraseologia liberal sobre o direito à greve, à manifestação, à circulação, em suma, o respeito pelos «direitos humanos», transforma-se no seu contrário. A repressão torna-se o seu modo de governação. A intimidação, o seu método de gestão barbouzienne. A calúnia, o seu meio de comunicação mediática. O encarceramento, a sua técnica de banimento político. A arbitrariedade, a sua conduta processual judicial. O desprezo, a sua expressão natural. A manipulação, a sua estratégia estatal maquiavélica.

Os regimes oligárquicos capitalistas de Macron e Trump estão a trabalhar para estabelecer uma ditadura fascista . Veja nosso volume "Democracia nos Estados Unidos e na França" :  https://les7duquebec.net/archives/231044

Tanto na França como nos Estados Unidos, assistimos a uma multiplicação dos ataques contra o direito à liberdade de expressão, à intensificação da repressão policial e à militarização da sociedade. Nos Estados Unidos, tropas da Guarda Nacional estão a ser destacadas para as grandes cidades americanas, nomeadamente Washington DC, Chicago, Los Angeles, Portland e Memphis.

A retórica civilizada cede lugar à linguagem marcial. De facto, a linguagem utilizada pela Casa Branca é agora a da guerra civil. O aspirante a ditador Donald Trump apelou ao uso do exército contra o «inimigo interno».

Em França, durante a manifestação de 10 de Setembro, o governo Macron destacou um «exército» de 80 mil polícias e gendarmes para reprimir qualquer excesso.

Uma coisa é certa: a actual viragem fascista não é uma aberração temporária ou um episódio passageiro. Não haverá retorno à «normalidade democrática». As burguesias ocidentais, especialmente as dos Estados Unidos e da França, estão determinadas a romper com as formas constitucionais de governo.

Khider MESLOUB

 

Fonte: La France et les États-Unis dévoilent la mystification de la démocratie bourgeoise – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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