[PANFLETO] Eles não nos vão silenciar. Falaremos pELOS nossos mortos.
Não. Sabemos bem disso. As centenas de
mortos e desaparecidos não são produto de uma natureza descontrolada. Não é o resultado de uma fatalidade contra a
qual nada poderia ser feito.
Não nos contentamos com a explicação
"meteorológica", com os litros caídos, com os rios a transbordar... As causas são profundas, têm a ver com os
fundamentos do capitalismo: como ele amontoa
os trabalhadores em áreas marginais e de baixo rendimento das cidades para
melhor explorá-los, ou como protege e privilegia a actividade produtiva e
comercial, sem se preocupar em deixar todas as pessoas desprotegidas, à mercê
do seu destino no meio da tempestade.
Há também os seus «gestores», diferentes
cães com a mesma coleira. Desta vez, esses
merdas, esses zé-ninguéns, chamem-se Mazón ou Sánchez, mais algum Bourbon,
somam aos seus títulos habituais de lacaios o facto de serem responsáveis pelas
mortes e pela tragédia vivida. Não nos esqueceremos dos seus nomes e, na
primeira oportunidade, faremos com que paguem por isso.
RAZÕES PARA O MASSACRE
Entre os elementos que favorecem o
massacre, que noutro tipo de sistema social poderia ter sido evitado,
encontram-se o desenvolvimentismo e a
construção absurda e desenfreada, que é a forma que o capital tem de
aproximar os trabalhadores das cidades onde se concentra o trabalho e o
consumo, sem importar onde e como foi construído, com qualidades mínimas e em
espaços naturais por onde a água e os rios sempre fluíram naturalmente. Há
também a tendência catastrófica a que o
capitalismo nos conduz com as alterações climáticas, porque, embora a
frente fria sempre tenha existido nessas regiões, as altas temperaturas do mar
Mediterrâneo devido ao aquecimento global fazem com que a intensidade e a
frequência das chuvas torrenciais sejam cada vez maiores. A falta de prevenção também fez parte do massacre, uma das partes
mais cruéis e, ao mesmo tempo, que mais evidencia
as prioridades de todos os Estados no capitalismo: que os proletários vão
trabalhar, que os seus filhos vão à escola e que o mundo das mercadorias e do
valor não seja alterado, caia quem cair.
E uma vez consumado o crime, acaba com o
caos no atendimento às vítimas, com quase nenhuma ajuda do Estado até ao 5º dia
e colocando obstáculos à auto-organização. O Estado deixa claro que a sua função não é o "cuidado" do povo, mas o cuidado do mundo do dinheiro.
da mercadoria e das classes dominantes e, em qualquer caso, o controlo e a
repressão de qualquer tentativa de organização a partir de baixo, da
solidariedade humana.
AUTO-ORGANIZAÇÃO
ESPONTÂNEA
O capital e os seus meios de comunicação não se cansam de repetir que os
seres humanos são egoístas por natureza. Eles querem colocar em nós o que eles
são, o que o seu sistema de exploração, o seu sistema de classes, representa.
O que eles não poderão
esconder é a acção solidária e a auto-organização do povo no meio da tragédia
diante da brutalidade de um sistema que odeia a vida. Ao contrário do
que pregam, vimos milhares de homens e mulheres oferecerem a sua ajuda
altruísta e apaixonada nas áreas afectadas. Eles não suportam ver como nas
vilas e cidades as pessoas se organizam para atender às suas necessidades sem
esperar que o Estado tenha dado a voz do comando. É isso que os assusta: que a caixa registadora não toque, que muitos bens
se tornaram valor de uso, para serem desfrutados sem serem comprados. Os capitalistas
e os seus meios de comunicação, essa carniça servil e bem paga, rapidamente
saíram para denunciar o roubo e o saque das suas propriedades. O Estado só parece defender a propriedade privada
com sangue e fogo.
ISSO ESTÁ A ACONTECER
CONNOSCO POR CAUSA DE UM GOVERNO FALSO?
Neste ponto, a resposta é óbvia, isso acontece connosco porque vivemos sob
a bota do sistema capitalista, sejam os seus gestores políticos de direita ou
de esquerda.
Aqueles que agora estão a convocar
manifestações contra o governo "facha" da Generalitat da esquerda do
capital são oportunistas que tentam tirar vantagem política dos nossos mortos,
da nossa miséria. Tanto os partidos políticos de esquerda quanto os sindicatos
são igualmente culpados e responsáveis por
promover e administrar o desenvolvimentismo
desenfreado, de costas para o território natural, no qual o único
importante é acumular capital e extrair mais-valia às custas do proletariado.
Ambos são os intermediários necessários tanto política quanto ideologicamente,
fomentando a ilusão de que esse sistema pode ser reformado e tornado mais
"humano". Eles não podem ser solicitados a ser outra coisa senão o
que são.
É hora de lamentar os entes queridos
desaparecidos, recuperar os seus corpos, dar um enterro digno aos falecidos.
Também é hora de cerrar os punhos e os dentes. Mas acima da enxurrada de
sentimentos, é hora de entender em profundidade as verdadeiras causas que
causaram a tragédia. O essencial é que o capitalismo não pode parar a actividade,
os trabalhadores devem produzir nos seus empregos e os "cidadãos"
devem consumir os bens produzidos. A roda da valorização
capitalista não pode ser parada, a qualquer preço, mesmo transformando as aldeias em imensas
ratoeiras.
Diante de tanta dor, de tanto
sofrimento, é reconfortante ver a solidariedade que se espalhou por toda a
parte. Fora do Estado e de todos os tipos de administrações, as pessoas reconhecem-se
como iguais, como irmãos no infortúnio. Precisamos focar bem essa energia. Dias
complicados estão a chegar, em que a impotência diante de tanta destruição se somará à acção de todos os partidários do sistema, desde a extrema
direita com as suas soluções "nacionais" e racistas, brandindo um
suposto "povo" que nos engloba a todos nós, até à extrema esquerda,
com "novas" propostas de reformas "radicais" e o seu
assédio à direita.
Mas há outra opção. Traga reflexão para
o nosso ambiente, no trabalho, na aula, entre amigos e familiares. A tragédia diz-nos
respeito ao que somos como proletariado, não importa de que sector. Discutir em profundidade as causas reais, colocando a análise das leis
capitalistas no centro do debate. Não há meias medidas, não há soluções
intermédias. Qualquer coisa que não esteja a atacar o sistema capitalista na sua
raiz está a perpetuar os seus efeitos devastadores em cada uma das suas manifestações.
A lama será limpa, os carros e móveis removidos. Esperemos que daí surja
uma nova consciência de classe que honre todos os mortos, actuais e passados,
que grite aos nossos inimigos, a toda essa coorte de políticos, polícias,
empresários e mendigos do sistema capitalista, que o que queremos é uma
comunidade sem capital, sem dinheiro ou mercadorias, sem Estado. Que queremos o
comunismo.
Porque eles não nos silenciarão,
falaremos pelos nossos mortos.
Fonte: [Octavilla] No nos callarán. Hablaremos por nuestros muertos. – Barbaria
Este panfleto foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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