quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A UE continua a sabotar a sua economia ao visar investimentos chineses.

 


A UE continua a sabotar a sua economia ao visar investimentos chineses.

10 de Dezembro de 2025 Robert Bibeau

Por Thomas Fazi e Fabio Massimo Parenti – 26 de Novembro de 2025 – Fonte:  Blogue do autor



Em mais uma escalada das tensões comerciais mundiais, a UE prepara-se para introduzir regras significativamente mais rigorosas sobre o investimento chinês no bloco. No âmbito do actual quadro regulamentar de 2019, os Estados-Membros gozam de considerável flexibilidade na forma como analisam o investimento directo estrangeiro. Mas uma nova lei — a ser aprovada pelo Parlamento Europeu em Maio de 2025 — tornaria a análise obrigatória numa série de sectores estratégicos, incluindo meios de comunicação, matérias-primas críticas, transportes, energia, semi-condutores, inteligência artificial e tecnologias emergentes. Estende também esta análise a projectos totalmente novos — e não apenas a aquisições — e concede à Comissão maiores poderes para intervir em litígios ou colmatar lacunas. Até Dezembro, a Comissão pretende consolidar as novas regras, com um foco explícito na China.

 

Isto representa mais um passo rumo à supra-nacionalização da política comercial e de investimento da UE. Contudo, não há evidências de que concentrar ainda mais poder nas mãos da Comissão melhoraria a competitividade do bloco. Ao longo da última década, a Comissão expandiu progressivamente o seu alcance executivo para praticamente todas as áreas políticas, mas esta centralização não produziu ganhos económicos tangíveis. Pelo contrário, o poder económico da Europa deteriorou-se. O coração industrial da UE — Alemanha, França e Itália — apresenta agora claros sintomas de estagnação estrutural: contração industrial, declínio da capacidade de inovação e uma perda constante de competitividade mundial. Mesmo o Relatório sobre a Competitividade de Mario Draghi reconheceu estes problemas, instando a investimentos maciços público-privados para revitalizar a economia real. Ironicamente, isto vem de um dos principais arquitectos do modelo neo-liberal, agora abandonado em favor do proteccionismo e da política industrial liderada pelo Estado. O Ocidente, outrora defensor dos mercados abertos, está agora a adoptar políticas que há muito condenava para a China.

É provável que essas novas medidas regulatórias reduzam ainda mais o investimento estrangeiro directo (IED). Ao enfraquecer o compromisso da UE com mercados abertos, Bruxelas também mina as suas críticas de longa data às restricções ao investimento na China. Afinal, se Pequim realmente está a bloquear o acesso estrangeiro, como alega a UE, como explicar o facto de o IED europeu na China ser consideravelmente maior do que o IED chinês na Europa? Os dados do Eurostat mostram que, em 2022, o investimento europeu na China totalizou 247 mil milhões de euros, enquanto o investimento chinês na Europa foi de apenas 54 mil milhões — uma diferença de 192 mil milhões de euros. Além disso, o IED chinês na Europa caiu drasticamente, 77% desde 2016, em grande parte devido ao Regulamento de Triagem de IED de 2020 e aos regimes nacionais cada vez mais restritivos introduzidos desde então.

Ao exigir que investidores estrangeiros demonstrem “ benefícios locais ” — em termos de empregos, transferência de tecnologia ou P&D — a Europa está, na prática, a adoptar a mesma lógica intervencionista pela qual antes condenava Pequim. E Pequim não permanecerá passiva. Já demonstrou que pode retaliar contra medidas americanas e japonesas, retardando aprovações, endurecendo regulamentações para empresas estrangeiras ou restringindo exportações de insumos essenciais, como elementos de terras raras e materiais para baterias — áreas das quais a Europa é estruturalmente dependente. Pequim também poderia redireccionar fluxos de investimento para outras regiões, marginalizando ainda mais a Europa.

Entretanto, o progresso industrial da Europa está estagnado. Em sectores como o automóvel, inteligência artificial, tecnologias verdes e manufactura avançada, a China continua a avançar, enquanto a UE permanece atolada em regulamentações burocráticas. A procura pela "  redução de riscos  " e pelo desacoplamento parcial teve o efeito contrário, transformando a dependência da UE numa restricção auto-imposta. A Europa está a consolidar o seu papel como potência normativa — emitindo regras em vez de moldar avanços tecnológicos ou industriais.

A doutrina em evolução da UE sobre “ segurança económica ” agora inclui potenciais controlos sobre investimentos estrangeiros para impedir que empresas europeias auxiliem os seus concorrentes em sectores sensíveis. Isso reflecte o debate nos EUA sobre a triagem de investimentos estrangeiros, sinalizando mais um passo em direcção a um paradigma de segurança proteccionista. Embora um mecanismo uniforme possa preencher as lacunas entre os Estados-membros — impedindo que investidores explorem jurisdições com supervisão mais fraca —, a aplicação continuará difícil. Estruturas de propriedade complexas, participações accionárias offshore e operações de ida e volta através de países terceiros obscurecem os beneficiários finais. Se as regras se tornarem muito rígidas, a Europa corre o risco de afastar não apenas o capital chinês, mas todo o investimento estrangeiro, exacerbando assim a sua estagnação económica.

Pequim não permanecerá inactiva se o ambiente de investimento europeu se tornar mais imprevisível ou discriminatório. A China dispõe de diversas ferramentas para exercer pressão – desde o adiamento de aquisições europeias e a imposição de barreiras regulatórias até a restricção das exportações de componentes críticos. Tais contramedidas intensificariam o declínio económico da UE e aumentariam a sua dependência de outros países. As novas regras poderiam, portanto, acelerar um ciclo vicioso de suspeita mútua e vulnerabilidade.

Em última análise, a UE enfrenta um dilema estratégico: como conciliar as legítimas preocupações de segurança com as suas necessidades de crescimento e competitividade. Um regime de investimento rígido e politicamente carregado não funcionará. A Europa deve, em vez disso, concentrar-se em reconstruir a confiança, procurar estruturas de cooperação e manter a abertura dentro de um modelo estratégico mutuamente benéfico. A defesa económica motivada pelo medo e por reflexos proteccionistas só irá aprofundar a estagnação. Para evitar o isolamento, a UE deve restabelecer um diálogo construtivo com a China — ou corre o risco de completar a sua transformação de potência económica mundial numa burocracia fechada.

Thomas Fazi e Fabio Massimo Parenti, Professor de Estudos Internacionais

Traduzido por Wayan, revisto por Hervé, para o Saker Francophone.

 

Fonte: L’UE continue de saboter son économie en ciblant les investissements chinois – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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