Nacionalismo:
Uma Arma da Classe Dominante
Nacionalismo em ascensão
Pesquisas de opinião
recentes colocam o Reform UK bem à frente da concorrência parlamentar. Se uma
eleição fosse realizada na próxima semana, é possível que o ex-banqueiro e
ex-conservador Nigel Farage se tornasse primeiro-ministro. Mas,
independentemente do sucesso, eles já conquistaram uma grande vitória: a agenda
anti-migrante tomou conta da política dominante, com os partidos Trabalhista e
Conservador a tentar superar o Reform no seu próprio jogo. A próxima eleição,
quando quer que aconteça, será uma disputa para ver quem consegue parecer mais
linha dura em relação à migração – uma repetição do referendo do Brexit, sem
máscaras.
É claro que o partido de
Farage (ou melhor, a sua «start-up política empreendedora») não oferece muito
em termos de «reforma». Na verdade, as suas políticas são apenas mais do mesmo
que temos visto de outros partidos do establishment (independentemente da sua
suposta orientação ideológica, «direita» ou «esquerda») há décadas: a
destruição dos salários sociais e a liquidação dos activos. Como sempre, é a
classe operária que pagará o preço por isso, embora o Reform espere distrair a
atenção disso posando como «patriotas» e assumindo uma posição particularmente
conservadora nas «guerras culturais».
Mas Farage e a direita
parlamentar são apenas metade da história; os protestos da extrema-direita nos
albergues para requerentes de asilo continuam, assim como os ataques aleatórios
a «estrangeiros» em todo o país. A marcha «Unite the Kingdom» (Unir o Reino
Unido), em Setembro, atraiu mais de 100 mil participantes – possivelmente a
maior marcha de extrema-direita da história do Reino Unido. Sem dúvida, a
extrema-direita capitalista sente-se encorajada.
Desemprego e pobreza não são causados pela migração
Existem razões reais
subjacentes para a raiva das pessoas. Os salários reais estão a ficar para trás
em relação à inflação. A participação dos operários no rendimento nacional está
em declínio há décadas. O desemprego geracional, a precariedade, a
informalidade e o sub-emprego são realidades para um grande número de pessoas.
O declínio dos serviços sociais após anos de austeridade, a falta de habitação,
o aumento dos alugueres e das contas de serviços públicos, o colapso do Sistema
Nacional de Saúde (NHS) – todos esses factores e muitos outros tornam a vida
das pessoas cada vez mais miserável. Mais pessoas do que nunca estão a recorrer
a bancos alimentares e muitas delas estão, pelo menos no papel, empregadas, mas
incapazes de pagar as contas.
Nada disso é causado
pela migração – é a consequência de um sistema baseado na exploração do nosso
trabalho, que se encontra numa crise prolongada de rentabilidade. Ele
sobreviveu até agora apertando o cerco, fazendo-nos trabalhar mais por menos,
criando uma situação em que os 1% mais ricos agora têm mais riqueza do que os
95% mais pobres da população mundial juntos. A extrema direita – apoiada por
banqueiros de investimento, magnatas imobiliários e magnatas de fundos de hedge
– espera capitalizar sobre a raiva mal direccionada das pessoas. Culpar os
fracassos do capitalismo pelos «outros» é uma táctica muito antiga da classe
dominante. Enquanto os operários estiverem divididos entre si, não nos uniremos
para defender os nossos interesses como classe. Uma classe operária dividida
também pode ser mais facilmente coagida a aceitar a guerra e a austeridade que
paga pela guerra.
Na verdade, é o impulso
à guerra que sustenta o actual aumento do nacionalismo. A classe dominante não
tem respostas reais para a crise que enfrenta. Tudo o que resta é uma corrida
cada vez mais desesperada para garantir recursos e suprimentos estratégicos à
medida que ocorre o rearmamento. A competição económica transforma-se em
confronto militar. Estamos a caminhar para tempos cada vez mais perigosos, e a procura
por uma guerra generalizada está agora à tona. Campanhas nacionalistas são uma
ferramenta vital de propaganda para a classe dominante – obviamente, não apenas
no Reino Unido. Em todos os países, os operários são orientados a direccionar a
sua raiva não contra os patrões e os políticos, mas contra os vizinhos.
A nossa Resposta à Divisão Racista: Unidade de Classe!
Devemos derrotar
politicamente a extrema-direita com a unidade da classe operária e rejeitar as
divisões que o capitalismo procura explorar. Devemos dizer a verdade aos operários:
o patrão que se parece consigo não é seu amigo, o operário do outro lado do
mundo não é seu inimigo. Não é culpa dos migrantes que o capitalismo não lhe
possa proporcionar uma vida digna, isso é inerente às contradições do próprio
sistema.
Lutar por uma vida
melhor hoje significa lutar contra a realidade económica que nos coloca uns
contra os outros numa corrida interminável para o fundo do poço. Mas sejamos
claros: esta luta não pode ser delegada a políticos de esquerda ou líderes
sindicais. Nem o Partido Trabalhista comprometido, nem os Verdes oportunistas,
nem mesmo o fragmentado Your Party nos salvarão das tempestades que o
capitalismo está a preparar. Em última análise, estes falsos amigos querem
preservar o actual sistema monetário e de trabalho assalariado, apenas
vestindo-o com roupas mais bonitas. Tal como os patrões, eles têm medo da
iniciativa independente da classe operária, que poderia apontar para um sistema
de produção superior, governado pelas necessidades humanas e pela
solidariedade, e não pelo lucro. Tal solução não se encontra no parlamento, mas
nas ruas e nos locais de trabalho.
Nós, no ICT,
consideramos imperativo que os operários reconheçam os seus interesses de
classe contra as falsas comunidades que a classe dominante promove para
proteger o seu domínio – sejam elas nacionalistas, religiosas, raciais ou
qualquer outra coisa. Uma classe operária unida é a única força que pode deter
o impulso à guerra e derrubar esse sistema obsceno.
O artigo acima é retirado da edição actual (nº 73) do Aurora, boletim da Organização dos Operários Comunistas.
Quarta-feira, 12 de Novembro de 2025
Aurora é o jornal grande
da TIC para as intervenções entre a classe operária. É publicado e distribuído
em vários países e idiomas. Até agora, foi distribuído no Reino Unido, França,
Itália, Canadá, EUA e Colômbia.
Fonte: Nationalism:
A Weapon of the Ruling Class | Leftcom
Este artigo foi
traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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