A burguesia, quando se sente apertada e importunada por
recorrentes denúncias de corrupção, algumas deles a redundar em massivos
levantamentos populares, recorre aos chamados “bombeiros de serviço” da falsa
esquerda. Isto é assim em Portugal e em todo o mundo dito “democrático”.
É nesta perspectiva que temos de analisar o autêntico
frenesim que uma certa esquerda está a revelar àcerca da alegada fraude
eleitoral, primeiro em França – que terá levado à presidência o corrupto
Emmanuel Macron – e, depois, nos EUA, que terá beneficiado uma das facções da
burguesia – precisamente aquela que está mais ligada à BIG PHARMA e à indústria
digital e de informação, isto é, Joe Biden e o Partido Democrático (as suas
diversas facções).
Negando a dialéctica marxista e o princípio que Marx
defendeu no “Manifesto do Partido Comunista”, ou seja, de que o motor da
história é a luta de classes, os oportunistas da falsa esquerda metem as mãos
pelos pés e tentam confundir os operários e restantes escravos assalariados de
que o que está realmente em causa não é esse princípio e o seu conteúdo, mas
sim as formas de que a burguesia imperialista se apetrecha para melhor defender
os seus interesses, ou seja, a acumulação de capital e a obtenção da mais-valia
que extrai a quem nada mais tem do que a sua força de trabalho para vender.
É certo que os operários e demais explorados devem
conhecer os instrumentos a que a burguesia recorre para melhor obter os
resultados que espera da exploração que impõe aos operários e que melhor
satisfaçam a sua ganância. Mas tal não pode significar, de maneira nenhuma,
trocar a alienação da exploração por outro tipo de alienação que impeça a
consciência de si e para si da classe operária.
Neste contexto, denunciar instrumentos como os programas informáticos da
SCYTL só poderá ter utilidade para
demonstrar até que ponto a burguesia, nesta luta de classes que a opõe, de
forma antagónica e irreversível, ao proletariado revolucionário, está disposta
a chegar.
Considerando-se acima da lei, a A Scytl Secure Electronic Voting, SA, uma empresa
espanhola sediada em Barcelona e fundada em 2001, especializou-se em serviços e
produtos utilizados em eleições e referendos em todo o mundo. Inicialmente
financiada por uma das famigeradas empresas de capital de risco, incorporou financiamentos da Balderton
Capital e da Nauta Capital,
da Vulcan Capital, Sapphire Ventures, Vy Capital, Adams Street Partners e
Industry Ventures. Paul Allen (co-fundador da Microsoft com Bill
Gates ) investiu 40 milhões de dólares em 2014.
Depois de um atribulado processo de falência que teve inicío
em Maio de 2020, no final de Outubro desse mesmo ano a empresa, que chegou a
enfrentar dívidas superiores a 75 milhões de euros, viu os seus activos serem
adquiridos, em leilão, pelo Paragon Group “Service Point Solutions,
incluindo a sua subsidiária norte-americana SOE, cujo software
assegura à SCYTL a liderança mundial no mercado de softwares de soluções
de gestão de eleições, desde os EUA a
muitos outros pontos do mundo, como sejam a Austrália, o Equador, a União
Europeia – que utilizou este software para fazer projecções eleitorais em tempo
real e consolidação e divulgação de resultados nos então 28 Estados membros da
UE para o Parlamento Europeu, realizadas em 22 e 25 de Maio de 2014. A SCYTL disponibilizou – e ainda disponibiliza
– os seus serviços e produtos para Malta, Noruega, Rússia, Espanha e Suíça.
Claro que este projecto de digitalização da sociedade por
parte do grande capital e do imperialismo – que não se esgota, longe disso,
neste exemplo - tem de ser denunciado e,
mais do que isso, tem de ser combatido e destruído, em nome da luta contra a
alienação absoluta a que a burguesia e o grande capital querem sujeitar a
classe operária e os seus aliados a nível mundial. E tanto mais urgente é
fazê-lo quando são recorrentes as denúncias quanto à manipulação vergonhosa e
corrupta que tem estado na base da operacionalização deste tipo de ferramentas.
Os marxistas não se podem alhear, contudo, da questão
mais geral e mais importante, a montante desta, que é a crise sistémica que o
modo de producção capitalista e imperialista atravessam, crise que levará à sua
irreversível queda, desmantelamento e destruição, e que leva ao desespero o
grande capital que deita mão de todos os instrumentos possíveis e passíveis de
adiar o desfecho fatal do seu moribundo sistema.
É na óptica da Luta de Classes como motor da história,
como afirmava Marx, que devemos assentar a nossa análise da situação e definir
a melhor estratégia e a melhor táctica a ser prosseguida pelo proletariado
revolucionário. E os marxistas têm a responsabilidade de não confundir a nuvem
por Juno. Têm de ter um papel activo na denúncia destes instrumentos, é certo,
mas devem, sobretudo, evidenciar que não será através das mascaradas eleitorais
que o proletariado fará a sua revolução – haja ou não recurso a instrumentos
deste tipo por parte da burguesia para falsear e manipular eleições- e, muito menos, alcançará o desiderato
histórico de destruir o modo de producção capitalista para o substituir pelo
modo de producção comunista, que não só libertará o proletariado, como toda a
humanidade, da exploração do homem pelo homem.
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