domingo, 27 de junho de 2021

O “espaço vital” alemão : evolução da estratégia de domínio do imperialismo germânico sobre a Europa no contexto da mundialização.

 


E, no início, era o verbo. E o verbo germânico foi sempre o do domínio da Alemanha, para já sobre a Europa – depois sobre o mundo –, para satisfação do princípio ungido pelos deuses do “espaço vital alemão”, como Hitler  - e outros antes dele – já haviam reclamado.

 Não era surpreendente, pois, que para levar a bom porto esta estratégia a Alemanha se tivesse empenhado tanto  – política e economicamente –no projecto da União Europeia e, desde logo, na imposição da moeda única – o euro. Hoje está claro que não é a Alemanha que é indispensável à sobrevivência do euro, mas sim o euro que é indispensável à estratégia de dominação do imperialismo germânico sobre a Europa. E, para a Alemanha, há-de chegar o momento em que, depois de se ter utilizado desse instrumento para dominar os povos e nações da Europa – assim tenha sucesso com esta sua estratégia – pura e simplesmente o dispensará.

 Esta realidade tem de ser contextualizada no panorama geopolítico internacional, em que a superpotência imperialista americana pretende recuperar a sua hegemonia a nível mundial e a Alemanha se quer posicionar de forma a, por um lado, demonstrar ser um dos mais fortes aliados com que os EUA podem contar e, por outro, não vir perder influência, nem ver comprometidos os seus interesses face a um cada vez mais agressivo imperialismo chinês que já se comporta como nova superpotência – e já o é, para já no plano económico - e que já demonstrou a sua capacidade em se aliar com os inimigos de ontem, como é o caso da Rússia, nesta contenda pelo domínio mundial.

 O imperialismo germânico empenhou-se, após a crise do sub-prime, em 2008, numa estratégia agressiva que levou ao extremo de impor golpes de estado – “suaves” ou duros – para substituir governos democraticamente eleitos em países que não obedeciam aos ditames de Maastricht ou dos Acordos de Lisboa. Depois de se aperceber que tal estratégia lhe poderia acarretar mais prejuízos do que benefícios, o imperialismo germânico afastou do poder dos órgão dirigentes da UE os lacaios e colocou os seus homens e mulheres de mão.

 Merkel já não acredita em lacaios, em intermediários que se entretêm a corromper as medidas que o imperialismo germânico pretende impôr à Europa, face a uma cada vez maior agudização da luta entre os dois blocos imperialistas. E renova-se! Pela mão de Ursula von der Leyen, apresenta o seu New Green Deal, isto é, o programa de reinicialização do sistema capitalista e imperialista que mais convém à Alemanha imperial, ainda por cima pago pela classe operária e pelos escravos assalariados em geral.

A ditadura sanitária que o Covid 19 proporciona-lhe maior garantia de sucesso para este projecto, que passa a funcionar como o novo garrote, desta feita para fazer ajoelhar, não só os restantes países e governos que compõem os países que formam a UE, mas as suas populações. O medo, o terror, a manipulação, a intimidação, surtem – para já – um muito melhor e eficaz meio, relativamente aos critérios anteriormente ao seu dispor de contenção dos défices orçamentais e regulação das dívidas soberanas.

O New Green Deal é o novo graal do imperialismo germânico. Permite que o sector do capital e do imperialismo mais ligado à área financeira, digital da informação, farmacêutica,  consiga, de forma mais consistente e prolongada, um controlo total sobre a classe operária e os restantes escravos assalariados e sobre o sector mais ligado às indústrias ditas tradicionais. Os confinamentos, a ditadura vacinal, o passaporte sanitário, a par das bazucas financeiras que agravam o défice e as dívidas soberanas e a digitalização da ordem social e política, acredita o imperialismo germânico, terão melhor efeito do que todos os anteriores projectos europeus para assegurar o tão desejado “espaço vital alemão”.

E, as tentativas de chantagem exercidas pela chefe do IV Reich, já nem sequer precisam de parecer tão desesperadas como no passado. O eixo Paris-Berlim está bem e recomenda-se, com Emanuel Macron a servir de novo valet de chambre do imperialismo germânico. Merkel, para além do euro como moeda única – de facto o marco sob novas vestes – sabe, de há muito, que o projecto europeu só servirá efectivamente os seus interesses de dominação sobre os restantes países europeus, se conseguir impor a moeda única.

E, agora, o Green Deal com os seus apêndices, o passaporte vacinal, a ditadura sanitária e o controle mais apertado – em nome da saúde pública – de todo e qualquer movimento de contestação ou levantamento popular contra o capital e o imperialismo.

Paulatinamente, foi convencendo vários países a aderir a esta ideia, prometendo-lhes o paraíso do leite e do mel em abundância, conseguindo que as burguesias vendidas de 19 dos 27 países que integram a União Europeia ao euro aderissem. Paulatinamente, força-os agora, a aderirem ao New Green Deal e à ditadura sanitária.

De cimeira em cimeira – a dois ou com os seus serventuários do norte da Europa – vai acrescentando novos patamares para desferir novos golpes, encarregando a sua tróica germano-imperialista de ir impondo memorandos e programas que visam, tão só, dominar e espezinhar os restantes países capitalistas da Europa, arrogando-se tomar medidas absolutamente fascistas e antidemocráticas que podem levar, como no passado recente, à deposição de governos, para à frente deles colocar, em sua substituição, os seus homens e mulheres de confiança.

O euro foi desenhado, desde a sua génese, como o novo marco ou o marco travestido de euro! Como a única entidade com capacidade e autoridade para emitir esta moeda e controlar os seus fluxos é o BCE, um banco privado onde os principais accionistas são bancos e grandes grupos financeiros germânicos, melhor se entenderá a teia que a Alemanha teceu para vir a manietar e dominar os restantes países europeus. Como melhor se compreenderá que o ciclo de dominação sobre a Europa se fecha com um New Green Deal que possibilita um controlo político, financeiro, social, muito mais apertado por parte do imperialismo germânico.

É importante recordar que, muito antes de sugerir o euro, o imperialismo germânico foi impondo a destruição da capacidade produtiva e do tecido produtivo, sobretudo industrial, da esmagadora maioria dos países europeus, sobretudo aqueles que são considerados os elos fracos da cadeia capitalista, salvaguardando essa capacidade para a Alemanha, onde esta não só foi mantida como cresceu e se fortaleceu. Com tal manobra a Alemanha consegue ter superavits importantes, dominar em termos de capacidade industrial e financeira todos os outros países que, entretanto, aderiram ao euro, por virtude de terem passado a depender daquilo que importam para poder fazer funcionar as suas economias, levando-os a graus de endividamento nunca antes atingidos.

Os factores combinados das crises orçamentais com a crise do sub-prime americano, criaram as condições ideais para que uma entidade como o BCE, cujo capital social é inteiramente privado, e em que os grupos financeiros e bancários alemães, como já havíamos referido, predominam, mercê da taxa de participação de cada país em função do seu PIB, se transformasse no principal instrumento da dominação germano-imperialista. Desde logo porque foi imposto que os estados não poderiam recorrer directamente a crédito nessa instituição, a um juro abaixo de 1%, mas tão só os bancos que, depois, o emprestariam aos estados a taxas de juro muito mais elevadas, o triplo e mais do que aquelas que o BCE pratica com os bancos agregados ao sistema monetário e financeiro do euro!

As dívidas soberanas passaram a ser, por um lado, um excelente negócio, pois proporcionam taxas de juro faraónicas e, por outro, um factor poderosíssimo de chantagem sobre governos e governantes que ficam satisfeitos com as migalhas que a chefe do IV Reich lhes reserva a troco de submeterem a classe operária e os restantes trabalhadores assalariados dos seus países à miséria, à fome, ao desemprego e precariedade e os seus países ao esbulho dos seus activos e empresas estratégicas por parte do imperialismo germânico. Isto é, traidores que se vendem por trinta moedas a troco de submeter os operários e outros trabalhadores assalariados de países europeus à condição de colónia ou protectorado da poderosa Alemanha!

O New Green Deal representa, ademais, a forma encontrada pelo imperialismo mundial em geral – e pelo germânico em particular – de tirar o melhor proveito da divisão interancional do trabalho. Com a projectada “bazuca” europeia – inteiramente desenhada pela Alemanha – que lhe deu vida através de Ursula Von der Leyen, pode ditar a cada um dos países que a ela recorra quais os quadros orçamentais a que pode aderir, de forma a melhor servir os interesses da indústria e do imperialismo germânico no teatro da divisão dos despojos que os blocos imperialistas disputam de forma cada vez mais sangrenta e mortal.

bascularização da economia mundial, que se caracteriza, por um lado, pela estranha inexistência de crises das dívidas soberanas em países do chamado 3º Mundo – como é o exemplo do que se passa em quase todo o continente africano – e, por outro, num processo de acumulação primitiva capitalista nos países emergentescomo a China, a Índia e o Brasil, entre outros, que passam neste momento por um processo histórico muito idêntico ao que se vivia na Manchester do sec.XIX, explicam o resto do quadro em que, a nível global, hoje nos encontramos e de como ele influencia e condiciona a situação política e económica da velha Europa e da burguesia europeia.

Com este processo de crescimento, fundamentalmente alimentado pela migração massiva de agricultores e artesãos arruinados para os grandes centros urbanos e encafuados em grandes unidades fabris, aceitando condições desumanas de vida, ritmos de trabalho intensos e salários miseráveis, começa-se a compreender como é que a bascularização da economia influencia a estratégia da Alemanha e de outros países do dito 1º mundo.

Países com uma indústria avançada, com alto desenvolvimento tecnológico e que apostam fortemente na investigação cientifica e que tendo sagazmente levado as outras nações do continente europeu à desindustrialização e à liquidação da sua agricultura e pescas, têm por objectivo, agora, remeter esses países para a terceirização da economia ou para fornecedores de mão-de-obra-barata, ao nível dos praticados na Malásia ou no Bangladesh, para se tornar competitivos, isto é, alinhando por baixo as políticas assistencialistas e salariais até agora praticadas e que tinham sido fruto de intensas e duras lutas de operários, camponeses e outros trabalhadores, na Europa dos séculos XIX e XX.

Se é certo que a forma como hoje se organiza o trabalho nos países mais desenvolvidos não é a mesma dos séculos XIX e XX, até porque existem cada vez menos grandes unidades industriais – sobretudo naqueles países que aceitaram liquidar o seu tecido produtivo, como foi o caso de Portugal -, não menos certo é que a classe operária aliada a uma intelligentsia cada vez mais lançada para a precarização e para a prática de baixos salários, aos assalariados rurais cada vez mais empobrecidos, são a força motriz que tem, cada vez mais, condições para derrubar todo e qualquer governo reaccionário - mesmo que ponha uma máscara socialista para melhor enganar os trabalhadores - que continue a aceitar o garrote do euro, a chantagem da dívida e, agora, a cortina de fumo do Green Deal. E para destruir o modo de producção capitalista e imperialista e impor um novo modo de producção – comunista -  que cumpra o paradigma histórico da classe operária revolucionária – o de acabar com a sociedade de classes, a sociedade de exploração do homem pelo homem e que, ao fazê-lo, liberte toda a humanidade.

E se, aparentemente, parece que as condições para a revolução, quer no nosso país, quer a nível mundial, são mais diminutas, o que se passa é exactamente o contrário. No nosso país, bem como noutros países europeus e à escala mundial – mesmo na China onde impera uma feroz ditadura social-fascista  -, as medidas terroristas e fascistas que têm sido impostas pelo capitalismo e pelo imperialismo, através dos governos serventuários dos seus interesses, encontram cada vez maior capacidade de organização, mobilização e combatividade por parte dos operários e restantes escravos assalariados desses países.

Nos chamados países emergentes, as condições em que a classe operária é alocada à producção, em grandes unidades fabris, facilita a sua organização revolucionária e a elevação da sua consciência de classe. O processo histórico é imparável, a contradição antagónica entre burguesia e proletariado, entre natureza social do trabalho e apropriação privada da riqueza gerada por ele, será resolvida a favor de quem produz toda a riqueza. E o ciclo da revolução comunista mundial do futuro será não só uma realidade, como uma inevitabilidade histórica.

 

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