segunda-feira, 28 de junho de 2021

Macron, Le Pen, uma convergência invisível

 28 de Junho de 2021  Olivier Cabanel 

Enquanto Emmanuel Macron e Marine le Pen aparecem como oponentes, a observação dos factos mostra que há entre os dois a espessura de uma mortalha de cigarro.


Para confirmar essa teoria, não devemos confiar nos programas desses dois partidos, mas ater-nos apenas aos fatos: os votos na Assembleia Nacional, ou no Conselho Europeu e nas decisões tomadas.

Para Adrien Quatennens,um dos líderes dos Insoumis, Marine Le Pen é "a roda sobressalente de Macron", mas podemos ir muito mais longe, destacando as suas convergências. link

Inquérito:

RN orgulha-se de ser "o partido dos trabalhadores", mas além dos discursos, devemos ater-nos à cruel realidade.

É claro que os resultados eleitorais mostram que o mundo do trabalho é tentado pelas sirenes frentistas, abandonando assim as escolhas tradicionais que muitas vezes o levavam em direção ao PC (link)... no entanto, esta mudança não se deve à lógica, mas provavelmente a uma terrível cegueira da classe operária, bem como à deterioração da imagem do comunismo, que por muito tempo fechou os olhos para os erros do sovietismo.

É uma pena que a classe operária não leve em conta a realidade do partido frentista, que, ao votar na França ou na Europa, praticamente nunca é a favor dos operários.

A MLP lembrou na antena da Europa 1, um certo 25 de Janeiro de 2017: "Nunca propus aumentar o salário mínimo"... primeira convergência com Macron. Link

Não dizia ela na RTL,em 30 de Junho de 2014: "temos que encontrar o caminho do emprego para poder eliminar as 35 horas"... outra convergência com o partido dos caminhantes que tem a vontade declarada de as suprimir? link

Tomemos o caso típico da "lei do trabalho".

O senador da FN David Rachline, afirma não ter visto as emendas relativas aos relatos de privações, a elevação dos limites sociais, o assédio sexual, evocando um "problema técnico". link

Outra área de convergência com a LREM é a degradação dos sindicatos e das greves.

Durante a reforma da previdência, o MLP declarou sobre a C/Politique: "os sindicatos são cúmplices das deslocalizações e do aumento maciço do desemprego" (e não os patrões... Nota do editor). link

Lembremos que, já em 2016, pediu a proibição de todas as manifestações. link

Fazendo eco, a sua sobrinha, Marion-Maréchal estigmatizou Philippe Poutou, o candidato presidencial operário que considera "imundo, mal barbeado, mal criado"... (link) e Louis Alliot, o companheiro da MLP, deu-lhe  uma ajuda declarando: " a greve é um sistema arcaico ". link

Quem mais além de Macron, também odeia greves, manifestações, sindicatos, GJ (Coletes Amarelos) e os operários ,(link) além da MLP, enquanto ela assegura apoiá-los? link

Outra convergência, esses dois partidos são hostis ao rendimento básico dos jovens. link

No campo do meio ambiente, as semelhanças estão a acumular-se: promoção da energia nuclear, por exemplo.

Porque, se Macron assegura a cada momento que quer reduzir a participação da energia nuclear, ele rejeita incansavelmente essa escolha, considerando novas EPRs. link

Frente Nacional não diz mais nada, mesmo que se contradiga regularmente. link

Vamos tomar o exemplo do glifosato, Macron prometeu bani-lo já em 2021... decisão adiada... após o fim do seu mandato, acrescentando "desde que outra solução seja encontrada".... link

Exactamente a posição do RN.

A MLP demonstra oficialmente a recusa em usar este pesticida perigoso, mas durante as votações no Parlamento Europeu, os seus deputados protegem o glifosato, e durante um congresso da FNSEA, havia-se pronunciado contra o seu abandono, argumentando: "tenham cuidado para não proibir um produto antes que os usuários tenham uma solução alternativa"... link

Outra área sensível, o desaparecimento de espécies... biodiversidade...

Quem esqueceu que o movimento frentista tinha planeado organizar uma "contra COP 21", em Novembro de 2015, desafiando o Acordo de Paris?

Durante a votação em Estrasburgo sobre "a criação de superfícies ecológicas", que provavelmente melhorará a biodiversidade, a MLP estranhamente não participou na votação.

Macron e MLP também têm em comum o amor dos caçadores a quem eles regularmente pisacm o olho. link

Marion Maréchal Le Pen, Gilbert Collard, durante a legislatura 2012-2017, votaram contra o projecto de lei sobre biodiversidade, em apoio aos caçadores, (juntando-se assim a Macron no capítulo da caça) e abstiveram-se durante a votação sobre a transição energética. link

Vamos deixar de caçar para pescar, o sector eléctrico no caso presente: os deputados frentistas rejeitaram um relatório que o proibia... mas sabemos o estrago causado por essa técnica monstruosa. link

Não esqueçamos nem a recusa frentista de promover a energia eólica, decretando uma "moratória imediata"... considerando a energia eólica "terrível e cara" chegando ao ponto de inventar "consequências sobre a saúde dos habitantes que vivem ao redor". link

Finalmente, para além dos discursos, e das suas posturas, na aproximação aos europeus, a MLP tenta esverdear o seu discurso, mas nos actos, isso não se verifica... acabará ela por descobrir que a ecologia não não se resume ao amor que ela tem pelos seus gatos? link

Assim como Macron... que, vendo que o seu "Loiseau" não decola, evoca biliões para a transicção energética... mas a sua súbita conversão em matéria de ecologia coma a aproximação da eleição europeia é mais do que suspeita. link

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E depois os factos são teimosos: ele quer substituir os comboios de Perpignan que abasteciam Rungis por 20.000 camiões que vão poluir as nossas estradas. Lien

Como disse Arjuna Andrade à France Culture: "desde a perfuração do Lyon Turim até a construcção do monumental centro comercial europcity através do grande desvio ocidental de Estrasburgo, o governo não deixou de apoiar projectos de planeamento regional desproporcionais, engolindo sob os espaços concretos cada vez mais espaços naturais em nome do desenvolvimento e do crescimento". link

Sobre a questão da imigração, outras convergências ainda, mesmo que Macron finja aceitá-la, lembramos aqueles barcos de imigrantes que procuraram em vão desembarcar nas nossas costas francesas. link

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Os frentistas não teriam feito melhor, inclusive no rastreamento das fronteiras, colocando na prisão os militantes que tentam ajudar os migrantes do lado de Briançon. link

Finalmente, o chefe da lista da LREM, Loiseau, não foi tão inconsistente ao escolher ficar, há alguns anos, numa lista de extrema-direita. link

Sobre a questão da cidadania, o que dizer desses eleitos europeuse frentistas que rejeitaram o novo código de conduta proposto pelos Verdes e pelos Socialistas, que deveria restringir os lobistas e reduzir a sua influência no Parlamento Europeu? link

Se resumirmos, assim como Macron, Le Pen é contra qualquer aumento do SMIC, contra a redução do IVA sobre as necessidades básicas, contra a indexação das pensões, e a minima social sobre a inflação, contra o aumento do imposto sobre as grandes empresas do CAC 40,contra o retorno do ISF, e a abolição do CICE, contra uma Assembleia Constituinte, contra o referendo revocatório, e acaba de votar a lei "anti-manifestantes"... não é essa a linha definida pelo líder da maioria? link

Por fim, não podemos senão constatar que a LREM e o RN são, acima de tudo aliados objectivos, contra a esquerda.

Isso explica por que acontece regularmente que os eleitores de Macron vão votar em Le Pen, e vice-versa. link

Outro elemento de reflexão, segundo alguns cientistas políticos, quanto menos instruído se é, mais se vota por Le Pen, e esses mesmos especialistas afirmam que cada vez que o país passa por uma crise, favorece o voto dos jovens pela extrema direita, o voto de protesto de alguma forma, o que havia sido observado nos anos 90. link

Mas o que também aproxima muito os dois líderes é também a não partilha de poder... com um, apesar dos muitos conselheiros que estão ocupados ao seu redor, ele é o único a decidir... e com o outro, o poder é transmitido na família: aqueles que tentaram uma intrusão, como Philippot ou Mégret, têm boas lembranças disso.

Aproveitemos esta oportunidade para lembrar que o RN votou contra a igualdade de mulheres e homens no Parlamento Europeu... link

O que é menos conhecido é que, inicialmente, foi a filha mais velha, Marie-Caroline que tinha sido "programada" para assumir as rédeas da FN... e mais uma vez, ficou na família. link

Como diz o meu velho amigo africano: "Quando temos um martelo na cabeça, vêmos todos os problemas na forma de um prego".

 

Fonte: Macron, Le Pen, une convergence invisible – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice


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