5 de Junho de 2021 Robert Bibeau
Por Eva Bartlett. Fonte: rt.com. Tradução: lecridespeuples.fr
Hoje eu vi sírios a dançar e a celebrar a vida, e um retorno à paz – mas é claro, a media ocidental não vai reportá-lo
Apesar de o Ocidente (o grande capital ocidental NDÉ) ter levado a cabo 10 anos de guerra contra a Síria e haja muita destruição, o país inteiro não está em ruínas e o pulsar de vida continua, embora estrangulado por severas sanções ocidentais.
Após a libertação de Ghouta Oriental em 2018, como podíamos prever, as medias ocidentais permaneceram em silêncio sobre o retorno dos sírios deslocados internamente e a reconstrucção que havia ocorrido. Hoje, nas cidades da região adjacente à capital Damasco, atrás de persianas metálicas empoeiradas e danificadas, vi novas janelas brilhantes e ainda mais reconstrucção do que quando estive aqui em 2018.
Em Douma, vi crianças adoráveis e sorridentes, encantadas em praticar o seu
inglês comigo. Dado que eles nasceram durante a guerra e viveram sob o domínio
terrivelmente selvagem dos grupos rebeldes Jaysh al-Islam e Faylaq al-Rahman, e
seus co-terroristas, a sua exuberância foi notável. Os traumas que sofreram, ou
enterraram-nos profundamente no seu ser
ou curaram milagrosamente.
Celebrações das eleições presidenciais sírias em Douma, Leste de Ghouta, Síria, 26 de Maio de 2021
Dado que a media ocidental e os líderes
fizeram toda uma história sobre a farsa
química de Douma,foi particularmente gratificante ver a vida nas
ruas novamente.
Os sírios de Ghouta Oriental enfrentaram um inferno que a maioria de nós,
vivendo a salvo longe da guerra, nem sequer pode imaginar. Eu tinha visto os seus
rostos torturados logo após a sua libertação em 2018. Tornou-se incrivelmente
comovente vê-los a sorrir, dançar e a celebrar as eleições presidenciais de
hoje [denunciadas antecipadamente como fraudulentas pelo Ocidente, que impede
os refugiados sírios de votar para deslegitimá-las melhor]. A diferença entre
ontem e hoje foi como da noite para o dia.
Alguns ficaram surpresos quando postei vídeos nas redes sociais de um
artista e orquestra sírio a apresentar-se na Ópera de Damasco há duas noites.
Muitos acreditam que o país foi completamente destruído, outros simplesmente
não sabem que ele tem uma cultura rica que não está morta, apesar de uma guerra
de dez anos liderada pelo Ocidente.
(3) Eva Karene Bartlett no Twitter: "Damascus Opera House now. https://t.co/xMXLpposfl" / Twitter
Até à libertação, no entanto, os sírios em Damasco arriscaram ser mutilados
ou mortos sempre que iam trabalhar, à escola, ao mercado ou mesmo quando
ficavam em casa, quando morteiros e mísseis terroristas os atingiam do leste de Ghouta.
Em 2014, deixando para trás a hospitalidade do pequeno hotel em que estava
hospedado perto do Portão bab Sharqi, o portão leste da Cidade Velha de
Damasco, derivei para um grupo de mesas em frente à bela Catedral Ortodoxa
Grega de Zaitoun e ao lado de um restaurante fechado. Mas em vez de trabalhar
no meu laptop, como tinha planeado, acabei por ter uma conversa com o dono
deste restaurante, agora chamado de bar Abu Zolouf.
Enquanto Abu Shadi e eu estávamos a conversar, morteiros disparados por
terroristas caíram em bairros próximos. Eu escrevi na época:
"Eu realmente gravei o som de dois
dos quatro morteiros. O primeiro ocorreu por volta das 19h05.m., a uma
distância que Abu Shadi estimou em 200 metros. O seu amigo corrigiu dizendo que
estava a apenas 50 metros (cerca de 20 metros do meu hotel). Cerca de 10
minutos depois, o segundo morteiro caiu. Houve mais dois morteiros em meia
hora. A SANA News informou que 17 civis ficaram feridos. »
A nossa conversa concentrou-se no bombardeamento incessante, no lugar onde o último morteiro tinha caído, e uma experiência onde um óbus o fez quase morrer.
"Por duas vezes caíram morteiros em frente ao meu restaurante. Um ter-me-ia
matado, mas eu entrei pouco antes", diz ele, apontando para um lugar no
chão ao lado da porta. Ele lamentou a perda de actividade, bem como a ameaça
representada pelos morteiros.
Mapa de 2018. A media sempre relatou e exagerou os bombardeamentos de Damasco e seus aliados, sem nunca mencionar os dos terroristas.
Noutra noite, visitei o restaurante com um amigo. Quando vimos Abu Shadi,
sentámo-nos com ele e discutimos aqueles dias sombrios de 2014. Agora o seu
hotel está aberto e bem frequentado, com os hóspedes sentados sob oliveiras ligeiras
a desfrutar as noites do início do Verão.
Também em 2014, uma tarde, desejando escapar do sol escaldante, inclinei-me contra a parede ao redor da cidade antiga, olhando para Jobar, então ocupada por facções terroristas, a cerca de um quilómetro de distância. Como eu escrevi na época, enquanto eu estava a conversar com um amigo,
"As balas assobiavam na minha frente,
meio metro à minha direita, à minha esquerda. Todos na área saltaram e
correram, a maioria aparentemente entrou em pânico. Corremos cerca de 50
metros, até um ponto que aparentemente estava fora do alcance dos terroristas.
Uma mulher, que sofre de hiperventilação e incapaz de ficar em pé, levou 10
minutos para se acalmar, repetidamente fazendo o sinal da cruz e ventilando.
Mais tarde, falei com um homem que vendia patties de espinafre, mencionando que
fiquei surpreso pelo facto de as balas terem chegado ao sítio em que eu estava
sentado. "Eles estão a vir para cá", disse ele, a partir da sua
padaria com buracos na parede, a 200 metros de onde eu estava sentado antes. »
Os meus encontros com morteiros e suas vítimas foram numerosos ao longo dos anos, incluindo ver muitas crianças mutiladas e gravemente feridas por bombardeamentos terroristas, e muitas antigas casas de Damasco parcialmente destruídas por esses ataques.
Em 2018, entrevistei o extremamente talentoso violinista e compositor Raad Khalaf, que também é um dos fundadores da Orquestra Mari. Conversámos, e ele mencionou que os atentados terroristas atingiram o Instituto Superior de Artes Dramáticas onde ele ensinava, perto da Ópera.
Disse-me que no ano anterior, terroristas atacaram a área com cerca de 37
bombas num dia.
"Os alunos tiveram que ficar dentro
de casa durante oito horas; Não podíamos sair porque não sabíamos quando ou
onde a próxima bomba cairia. Um aluno saiu e foi morto. Aqui tivemos cinco anos
difíceis. »
Na segunda-feira desta semana, fui à
Ópera para ouvir a cantora síria Carmen
Tockmaji e a orquestra que a acompanhava. O auditório estava
apenas meio cheio, mas animado, todos obviamente a apreciar os talentos da
cantora.
Fiquei surpreso ao saber mais tarde que um bilhete de primeira classe
custou apenas 2000 libras sírias (80 centavos de dólar), um bilhete de segunda
classe de 1500 (60 centavos de dólar) e um bilhete de de terceira classe 1000 (40
centavos de dólar). No entanto, apesar do baixo preço, os mais pobres da Síria
não podem pagar, em grande parte devido às sanções brutais impostas ao país que
afectaram decisivamente a moeda, causando hiperinflacção, uma consequência
deliberada das sanções cruéis e imorais impostas ao povo sírio.
Veja Nasrallah: Trump quer matar de fome
Líbano e Síria
Eu escrevi no ano passado (e antes) sobre como essas sanções afectam directamente os civis:
"Em 17 de Junho, os Estados Unidos
implementaram a Lei César, a última ronda de sanções draconianas dos EUA contra
o povo sírio, supostamente destinadas a 'protegê-las'. Isso depois de anos a
bombardear civis e a apoiar activistas anti-governo, que levaram à proliferação
de terroristas que sequestraram, prenderam, torturaram, mutilaram e mataram os
mesmos civis. As sanções afectaram
a capacidade da Síria de importar medicamentos ou matérias-primas necessárias
para fabricá-los, equipamentos médicos e máquinas e materiais necessários para
o fabrico de próteses, entre outros. »
Mas as sanções têm outro efeito brutal: causam estragos na economia. Um artigo de opinião publicado em 3 de Maio de 2021 por Abbey Makoe no site da South African Broadcasting Corporation observou:
"O racionamento de electricidade na
Síria atingiu os seus níveis mais altos devido à incapacidade do governo de
obter o combustível necessário para gerar eletricidade. Isso deve-se
principalmente às sanções económicas internacionais prejudiciais realizadas
pelas potências ocidentais, incluindo os protagonistas da IIT [Organização para
a Proibição de Armas Químicas, Investigação e Equipa de Identificação], França,
Reino Unido e Estados Unidos. O valor da libra síria caiu para quase nada. A Caesar Syria Civilian Protection Act de 2019 é conhecida por causar fome, escuridão, peste,
miséria, roubo, sequestros, aumento da mortalidade e certa destruição de uma
nação que já foi um raio de esperança em todo o Médio Oriente. »
A miséria é real e os sírios estão realmente a sofrer, muitos são mesmo incapazes de alimentar as suas famílias adequadamente.
Falar sobre performances na Ópera pode parecer fora de lugar à luz do
sofrimento económico, mas o facto de que tais producções ainda estarem a
acontecer na Síria é outra indicação de que o plano ocidental para derrubar o
regime falhou, apesar da sua guerra
de 10 anos com a Síria.
Ver este concerto pouco antes das eleições presidenciais foi comovente e tocante.
Como escreveu Carlos Tebecherani Haddad, amigo sírio-brasileiro que conheci em
2014, enquanto os morteiros choviam ao nosso redor, "É uma celebração da
vida, da vitória sobre a agressão estrangeira, da reconstrucção, da força das
raízes da Síria, das eleições presidenciais e do futuro brilhante da
nação".
Veja a revolução síria que não existia
Na verdade, isto é o que eu vi na Síria, incluindo hoje em Douma, onde os sírios se reuniram para votar. No entanto, há muito a ser feito, especialmente quando se trata de reconstruir a infraestrutura, especialmente porque os benevolentes EUA e seus aliados, ao sancionar o povo sírio, estão directamente a impedir isso.
Então, se ainda está a apontar o dedo para o Presidente Bashar al-Assad e o
Exército Árabe Sírio, volte esse dedo para os seus governos, aí no Ocidente.
Eles são a causa da destruição e da morte na Síria, e são um obstáculo ao
retorno porventura alcançável à paz e à normalidade.
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Fonte: A vitória da Síria enfurece a
grande capital ocidental – a 7 do Quebec (les7duquebec.net)
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por
Luis
Júdice
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