terça-feira, 21 de março de 2023

Alguns factos políticos revelados pelo braço de ferro em curso contra o capital em França

 


 21 de março de 2023  Roberto Bibeau 

O editor não compartilha necessariamente todas as ideias apresentadas neste artigo


 

Por Georges GASTAUD

O grande regresso da classe operária francesa...

Em primeiro lugar, embora nenhum comentador mediático o aponte, esta luta vê o grande regresso da classe operária como a vanguarda objectiva e ponta de lança do movimento social, um regresso já anunciado pela dura greve dos refinadores em Novembro passado.

Apesar dos teóricos revisionistas que diluem a classe operária no "mundo do trabalho", no "assalariado" (do trabalhador ao director do anúncio de um fundo capitalista), ou mesmo no "povo" (esta é a concepção confusionista partilhada pela liderança pequeno-burguesa da LFI), são os refinadores, os electricistas-instaladores de gás, os operários das fábricas de vidro, os trabalhadores ferroviários e, cada vez mais, os operários e empregados do grande capital, os trabalhadores e empregados do grande comércio, os operários da construção civil, os operários da rodovia, os colectores do lixo, que "puxam" a greve recondutível, que operam cortes de energia direccionados, que bloqueiam zonas industriais e plataformas multimodais, que ocupam rotundas estratégicas e que aplicam de facto uma das lições estratégicas do movimento dos coletes amarelos: um confronto frontal com o poder do capital. Fazem-no com métodos operários experimentados e testados, desde a linha de filtrar os piquetes até às assembleias gerais de luta decisivas, procuram inter-profissionais e "todos juntos" para além das exigências sectoriais, e têm frequentemente à cabeça verdadeiros líderes proletários que chamam as coisas pelos nomes: isso difere-nos da língua mogno do Thibault, Le Paon e outros Le Duigou, para não falar do Berger, Chérèque e outros Notat.

Pensemos, por exemplo, em Sébastien Ménesplier, o líder malicioso da CGT-Minas/Energia (FNME): de facto, quando Yves Calvi o censura no seu tom habitual de Inquisidor por praticar a "intimidação" cortando o sumo aos deputados da LR, Ménesplier não perde tempo em convencer este patife fulminante. Ele responde, com um sorriso manhoso: "Chamem-lhe o que quiserem, nós vamos fazê-lo de qualquer maneira! Claro que isto significa enfrentar as inevitáveis tentativas de repressão do estado burguês, que, por acaso, já reprimiu fortemente os grevistas da EDF. Mas isto não impede estes sindicalistas vermelhos que, agrupados em torno de Olivier Mateu, o secretário da CGT-13, lideram a contestação interna na CGT na perspectiva do congresso decisivo que terá lugar muito em breve. (sic)

Em suma, a classe operária em luta inflige uma bofetada na cara dos anti-leninistas profissionais, incluindo aqueles que distorceram o PCF e que ainda há pouco tempo ficavam a rir quando ouviam as palavras "operário" e "vanguarda": como se o trabalho fosse realizado por magia, sem a mediação do corpo humano, na indústria, nas docas, na energia, na refinação, no transporte, etc.; e como se, em cada combate, aqueles que "vão à frente", que aguentam o embate, que carregam a bandeira vermelha, que incitam à carga,  que são os primeiros a enfrentar o inimigo, que impedem os amarelos de romper a frente, não constituissem de facto uma vanguarda objectiva! (SIM)

Em suma, boas notícias para todos aqueles que, durante estes últimos quarenta anos de pesadelo revisionista, que viram o PCF e a CGT à deriva cada vez mais em direcção ao euro-alinhamento, se mantiveram firmes sobre estas noções fundamentais de classe e vanguarda, mostrando que, se as formas de luta estão em constante mudança, os fundamentos do confronto capital/trabalho permanecerão enquanto não tiver surgido uma sociedade socialista na marcha para o comunismo a partir da transformação revolucionária da sociedade (sim. possivelmente! NDÉ)

... e o proletariado internacional!

Como não ver, além disso, que este grande despertar da classe operária em França anda de mãos dadas com uma recuperação sem precedentes nas lutas proletárias. Na Índia, o ano de 2022 viu as maiores greves da história da humanidade, pois centenas de milhões de operários e camponeses, muitas vezes liderados por sindicalistas comunistas com a foice e o martelo, venceram a retirada das contra-reformas neo-liberais de Narendra Modi, bloqueando Deli e outras grandes cidades. (SIM)

Neste preciso momento, na Grã-Bretanha, desde Agosto e desafiando as leis anti-golpe postas em prática por Thatcher e Blair, as grandes greves que faziam fronteira com a greve geral pararam os transportes, muitas vezes por iniciativa de sindicalistas vermelhos combativos, alguns dos quais afirmam ser marxistas-leninistas. Em Itália, os estivadores fiéis à luta anti-imperialista bloquearam várias vezes o equipamento militar destinado ao regime de Kiev. Nos próprios EUA, a economia capitalista foi abalada recentemente pelos trabalhadores da logística (Amazónia), da John Deer (equipamento agrícola) ou pelos trabalhadores ferroviários contra os quais Biden ameaçou com a requisição. (SIM)

Cada vez mais, o movimento potencialmente revolucionário da classe operária é a principal alternativa à marcha do capitalismo-imperialismo-hegemonismo rumo à fascização, à consolidação do despótico "estado federal europeu" desejado por Scholz, e rumo à Terceira Guerra Mundial imperialista.

Aumento significativo das palavras de ordem de rutura

E cada vez mais vemos o reaparecimento de palavras de ordem que as lideranças euro-formatadas da esquerda da união política estabelecida tinham enterrado sob toneladas de sofismas cor-de-rosa e de auto-direitos. Por exemplo, numa entrevista com I.C., Olivier Mateu fala abertamente do "socialismo ao estilo francês" (oulala- sic). Mas este slogan foi abandonado em 1994 pela PCF (foi no 28º congresso que o PCF, quando Marchais entregou a Hue, retirou dos seus estatutos a referência ao socialismo, ao marxismo, à classe operária, à socialização dos meios de produção e ao centralismo democrático!) (sic)

Foi também a liderança da CGT que, a fim de integrar o C.E.S. de cor amarela rosada, viu por bem expurgar dos seus estatutos qualquer referência à socialização dos meios de produção. I.C. produziu recentemente um artigo assinado por J.-B. C. provando que as campanhas pró-europeias de linha dura que o país e a sua juventude estão a realizar têm pouco efeito, especialmente nos operários e empregados que já tinham rejeitado 75% da constituição europeia (SIM): a partir de agora, uma grande maioria dos franceses inquiridos quer um referendo sobre se a França deve ou não permanecer na UE. É bastante claro que se estivessem satisfeitos com isto, não quereriam um referendo que lhes desse a oportunidade de sair (desde que o resultado não fosse grosseiramente violado pela verdadeira direita e pela falsa esquerda, como foi o caso do referendo de 2005...)! (sic)

É por isso que Macron está a redobrar os esforços do SNU para que todos os jovens sejam formados, o projecto é claramente admitido, para se intitularem "europeus", de acordo com a nova campanha conduzida em inglês pela UE sobre o tema "EU é você! Mas porquê martelar por todo o lado se as pessoas abominavam cada vez mais esta perigosa "máquina" que empurra para as guerras e orquestra a ruptura social à escala continental?

Como é frequentemente o caso, tem de ser capaz de se manter firme contra a maré. É isto que o PRCF tem vindo a fazer desde 2004, durante muito tempo sozinho à esquerda, com a estratégia das "quatro saídas" do euro, da UE, da NATO e do capitalismo (a saída do capitalismo é a única decisiva. NDÉ).

Assim, realiza-se um difícil trabalho de vanguarda que acaba por dar frutos quando todos acabam por ver que a UE se fundiu com a NATO e isso não significa paz mas guerra mundial, ou que a contra-reforma das pensões não passa de um meio primitivo implementado por Macron para se manter dentro dos 3% implícitos pelo euro, ao mesmo tempo que aumenta as despesas com armamento. Um dia, toda a tagarelice dos falsificadores que declaram que "não podemos fazer nada permanecendo na UE", mas que acrescentam imediatamente "Sou contra o frexit", vai cair sob os golpes da realidade combinada com as explicações dos verdadeiros comunistas...(Sou contra o "Kapital"...está tudo dito. NDÉ).

Depois vem a crise política de legitimidade do regime de Macron! (sic)

Pois o cenário da próxima crise do regime já está escrito (sic): utilizando todas as fechaduras anti-democráticas, tipo 49/3, que a Quinta "República" lhe oferece, contornando a separação de poderes que os neo-liberais dizem ser para mostrar, recusando-se rudemente a receber a Intersindical correndo o risco de humilhar a sacrossanta CFDT que é normalmente tão subserviente, multiplicando truques reguladores para amordaçar os debates parlamentares e "manter" o seu próprio grupo parlamentar, Macron pretende forçar a sua passagem e cumprir "o que for preciso" a sua missão de classe: Manter o orçamento francês dentro dos 3% dos critérios de Maastricht a todo o custo, que são indispensáveis para a sobrevivência da malfadada "moeda única". (sic)

E para tal, o pro-cônsul Elysian do BCE está a esbofetear a população activa, os reformados e os desempregados sem restrições, enquanto lança um gigantesco programa de sobrearmamento. 49/3 ou equivalente, não há como contorná-lo, tanto assim que mesmo um tímido reformista como o presidente da UNSA, falando na France-Culture a 10 de Março, anunciou tristemente que, devido à teimosia de Macron, a crise social estaria inevitavelmente associada a uma crise de legitimidade política. (sic-ridículo. NDÉ). Uma crise que I.C. tinha anunciado assim que Macron foi reeleito (pela segunda vez, não com base no seu programa, mas com base na rejeição ainda maioritária - por quanto tempo? - de Le Pen) e sobretudo, desde a abstenção maioritária da segunda volta das eleições legislativas de 2022: 60% do povo francês boicotou então esta farsa (SIM) (porque a eleição quase simultânea do presidente e dos deputados reduz estruturalmente o Parlamento a um papel de figuração), e quase 80% dos operários ficaram em casa (SIM) de tal forma que Fadi Kassem, secretário nacional da PRCF, declarou com razão que a França se tornaria rapidamente "ingovernável"...

Em suma, este Senado, que é principalmente o LR, e cheio de gordos, ricos e visceralmente hostis ao movimento operário, e estes deputados que apoiam uma contra-reforma abominada por 2/3 do povo francês e por 9/10 da população activa, apenas se representam a si próprios... e acabam por se revelar! Assim entendemos o interesse dos manifestantes quando ouvem os verdadeiros militantes republicanos, no sentido Robespierrista da palavra (sic – onde estão os revolucionários vermelhos proletários, NDE?), a entoar o slogan do PRCF "Deputados que votam, este bastardo, dão o golpe de misericórdia / À democracia" ou "Não cabe aos patrões (variante: Úrsula) fazer a lei, a verdadeira democracia está aqui". Mas é mais do que duvidoso que, uma vez que a contra-reforma seja ratificada à má fila, o protesto proletário cairá sabiamente na linha da desacreditada democracia parlamentar PSEUDO quando, por detrás da questão das pensões, haverá a questão dos salários cortados pela inflação, a questão dos serviços públicos exangues, e mais politicamente, a questão do raciocínio de uma oligarquia político-militar-militar-financeira que se comporta cada vez mais como a nobre aristocracia que ainda acreditava poder fazer na véspera da primeira Revolução Francesa. (sim)

Já em Maio de 2022, o editorial de I.C. anunciava uma "grande explicação" entre o povo trabalhador, liderado pela classe operária, e o regime oligárquico Macron, travando uma guerra social contra o seu próprio povo, enquanto preparava o "conflito de alta intensidade" travado pela UE-NATO contra a entente China-Rússia. Marcha para a guerra mundial com fascínio continental e a evaporação final do Estado-nação francês em crise explosiva, (sic) ou marcha para a greve geral e, mais globalmente, para a revolta do povo trabalhador liderada pela classe operária, com o questionamento radical da UE-NATO e do capitalismo: marchamos a grandes passos em direcção a uma mudança histórica. Ou a oligarquia euro-atlântica centrada no CAC-40 vencerá esta longa batalha e teremos de nos preocupar com os restantes ganhos, a paz mundial e a própria existência da Nação, ou os trabalhadores liderados pelos proletários irão amplificar o movimento apesar do golpe de força que está a ser preparado, e a crise do regime virá muito rapidamente; porque "os de cima não poderão governar como antes", enquanto "os de baixo não quererão ser governados como antes" (Lenine).

Cada vez mais, isto exige clareza política absoluta e a quebra de compromissos instáveis: sem esta clareza absoluta, análoga àquela que os congressistas comunistas de Tours tiveram de praticar quando romperam com a SFIO, a classe operária não poderá dotar-se mais uma vez de um partido comunista combativo libertado dos satélites mutantes da eurocracia social, nem de um sindicalismo conquistador mais uma vez, nem construir uma ampla frente anti-fascista, patriótica, pacífica, popular e ecologista (sic) capaz de federar as classes exploradas e médias para reabrir em França o caminho do socialismo-comunismo de nova geração, dando ao mesmo tempo um impulso à Europa das lutas operárias, democráticas, anti-fascistas e pacíficas. (sic)

É nisto que o PRCF e o JRCF estão a trabalhar, sem deixar de chegar aos comunistas que realmente se querem emancipar dos aparelhos euro-formatados e compatíveis com a OTAN, com um eco crescente.

 

Georges Gastaud, Director Político da Iniciativa Comunista

URL deste artigo 38565
https://www.legrandsoir.info/quelques-faits-socio-politiques-majeurs-reveles-par-le-bras-de-fer-social-en-cours.html

 

Fonte: Quelques faits politiques révélés par le bras de fer en cours contre le capital en France – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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