OLIVIER CABANEL — Um grupo de turistas chineses causou desordem ao recusar
pela primeira vez a visita imposta a um supermercado.
Era 4 de Dezembro de 2007. Uma página da nossa história pode ter sido
virada.
Esta estranha informação, dada por Hervé Kempf no seu último livro (Para salvar o planeta, sair do capitalismo, edição do limiar de 2009) merece uma explicação mais aprofundada, para que todos possam avaliar a medida.
É habitual, durante qualquer viagem
organizada, aqui ou alhures, parar o autocarro turístico em frente a uma loja
de souvenirs, organizando desta forma uma espécie de consumo
"forçado".
É claro que ninguém é obrigado a
comprar, mas apanhado pela dinâmica do grupo, o turista colocará a mão no bolso
para comprar um objecto, por mais modesto que seja.
Estas paragens providenciais para o
lojista visitado são planeadas com bastante antecedência, e ninguém duvida que merece
regularmente um gesto generoso do lojista em questão para com a agência de
viagens.
Por isso, todos beneficiam.
Voltemos ao episódio descrito no livro
de Hervé Kempf.
Esta quinzena de viagem organizada a uma
província chinesa distante, para turistas que também eram chineses mas mais
abastados, foi pontuada todos os dias por paragens obrigatórias em frente aos
supermercados, com o operador turístico quase a intimar o viajante a esticar as
pernas, e a esvaziar ao mesmo tempo a carteira nas caixas dos supermercados
visitados.
A cólera aumentava, tão rápido quanto as
carteiras eram esvaziadas, e no décimo quarto dia, os turistas fizeram frente,
recusando-se a entrar na loja "proposta".
Rapidamente se instalou a confusão e a
polícia teve de intervir para controlar a revolta.
Esta pequena fábula aconteceu a 4 de
Dezembro de 2007, e o autor sugere que esta data seja escolhida para assinalar
o fim do capitalismo, uma data que poderia ser celebrada todos os anos com uma
manifestação de cidadãos, durante a qual nos felicitaríamos mutuamente por
termos finalmente virado a página.
O discurso de Hervé Kempf é curto: "para
salvar o planeta, temos de sair do capitalismo reconstruindo uma sociedade onde
a economia não é rainha, mas uma ferramenta, onde a cooperação prevalece
sobre a concorrência, onde o bem comum prevalece sobre o lucro".
Programa extenso.
Ele é acompanhado na sua análise por
outro autor, este americano, Gus Speth.
O seu verdadeiro nome é James Gustav
Speth.
É reitor da Universidade de Yale (escola
de estudos florestais e ambientais) e publicou um livro em 2008 que vai na
mesma direcção de Hervé Kempf:
"A ponte no fim do mundo: o
capitalismo, o ambiente e a transição da crise para a sustentabilidade".
Ele tenta explicar este paradoxo:
"Na comunidade daqueles que se
preocupam com o ambiente está a crescer, tornando-se mais sofisticada e
influente, angariando fundos consideráveis, e no entanto as coisas estão a
ficar cada vez piores.”
Estes dois escritores estão em sintonia
com os tempos, e as suas palavras são bastante oportunas, numa altura em que a
crise do capital está apenas a começar a mostrar os danos que irá causar.
Estes dois livros demonstram, se ainda
fosse necessário, que os esforços individuais não são suficientes e que devemos
sair do capitalismo sem hesitação.
Já em 2007, Hervé Kempf publicou um
livro algo premonitório: "Como os ricos destroem o
planeta".
No seu último livro, ele denuncia o
capitalismo como "valorizando ao extremo o enriquecimento e o sucesso
individual em detrimento do bem comum".
Para já, a escolha dos governos é antes
ajudar os bancos e as empresas a sobreviver: os pobres terão de esperar.
Para os dois autores, devemos, portanto,
redescobrir os valores da solidariedade e da partilha, valores aos quais há
muito viramos as costas.
Esperemos que estas belas palavras
encontrem eco entre os nossos líderes "bling bling" (que só
vislumbram números), mas nada é menos certo, porque como disse um velho amigo
africano:
"Quando você não sabe para onde
vai, olhe de onde você vem."
Fonte: Le jour ou le capitalisme s’arrêta – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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