segunda-feira, 6 de março de 2023

O dia em que o capitalismo parou

 


 Março 6, 2023  Olivier Cabanel 

OLIVIER CABANEL — Um grupo de turistas chineses causou desordem ao recusar pela primeira vez a visita imposta a um supermercado.

Era 4 de Dezembro de 2007. Uma página da nossa história pode ter sido virada.


Esta estranha informação, dada por Hervé Kempf no seu último livro (Para salvar o planeta, sair do capitalismo, edição do limiar de 2009) merece uma explicação mais aprofundada, para que todos possam avaliar a medida.

É habitual, durante qualquer viagem organizada, aqui ou alhures, parar o autocarro turístico em frente a uma loja de souvenirs, organizando desta forma uma espécie de consumo "forçado".

É claro que ninguém é obrigado a comprar, mas apanhado pela dinâmica do grupo, o turista colocará a mão no bolso para comprar um objecto, por mais modesto que seja.

Estas paragens providenciais para o lojista visitado são planeadas com bastante antecedência, e ninguém duvida que merece regularmente um gesto generoso do lojista em questão para com a agência de viagens.

Por isso, todos beneficiam.

Voltemos ao episódio descrito no livro de Hervé Kempf.

Esta quinzena de viagem organizada a uma província chinesa distante, para turistas que também eram chineses mas mais abastados, foi pontuada todos os dias por paragens obrigatórias em frente aos supermercados, com o operador turístico quase a intimar o viajante a esticar as pernas, e a esvaziar ao mesmo tempo a carteira nas caixas dos supermercados visitados.

A cólera aumentava, tão rápido quanto as carteiras eram esvaziadas, e no décimo quarto dia, os turistas fizeram frente, recusando-se a entrar na loja "proposta".

Rapidamente se instalou a confusão e a polícia teve de intervir para controlar a revolta.

Esta pequena fábula aconteceu a 4 de Dezembro de 2007, e o autor sugere que esta data seja escolhida para assinalar o fim do capitalismo, uma data que poderia ser celebrada todos os anos com uma manifestação de cidadãos, durante a qual nos felicitaríamos mutuamente por termos finalmente virado a página.

O discurso de Hervé Kempf é curto: "para salvar o planeta, temos de sair do capitalismo reconstruindo uma sociedade onde a economia não é rainha, mas uma ferramenta, onde a cooperação prevalece sobre a concorrência, onde o bem comum prevalece sobre o lucro".

Programa extenso.

Ele é acompanhado na sua análise por outro autor, este americano, Gus Speth.

O seu verdadeiro nome é James Gustav Speth.

É reitor da Universidade de Yale (escola de estudos florestais e ambientais) e publicou um livro em 2008 que vai na mesma direcção de Hervé Kempf:

"A ponte no fim do mundo: o capitalismo, o ambiente e a transição da crise para a sustentabilidade".

Ele tenta explicar este paradoxo:

"Na comunidade daqueles que se preocupam com o ambiente está a crescer, tornando-se mais sofisticada e influente, angariando fundos consideráveis, e no entanto as coisas estão a ficar cada vez piores.”

Estes dois escritores estão em sintonia com os tempos, e as suas palavras são bastante oportunas, numa altura em que a crise do capital está apenas a começar a mostrar os danos que irá causar.

Estes dois livros demonstram, se ainda fosse necessário, que os esforços individuais não são suficientes e que devemos sair do capitalismo sem hesitação.

Já em 2007, Hervé Kempf publicou um livro algo premonitório: "Como os ricos destroem o planeta".

No seu último livro, ele denuncia o capitalismo como "valorizando ao extremo o enriquecimento e o sucesso individual em detrimento do bem comum".

Para já, a escolha dos governos é antes ajudar os bancos e as empresas a sobreviver: os pobres terão de esperar.

Para os dois autores, devemos, portanto, redescobrir os valores da solidariedade e da partilha, valores aos quais há muito viramos as costas.

Esperemos que estas belas palavras encontrem eco entre os nossos líderes "bling bling" (que só vislumbram números), mas nada é menos certo, porque como disse um velho amigo africano:

"Quando você não sabe para onde vai, olhe de onde você vem."

 

Fonte: Le jour ou le capitalisme s’arrêta – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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