28 de Abril de 2022 Robert Bibeau
Fonte Comunia. Tradução e comentário
Macron é reeleito presidente com uma larga margem. Mas não há triunfo na
sua vitória. A espada de Dâmocles de uma "terceira volta" não só
eleitoral, mas sobretudo de lutas e greves, mancha o cerimonial republicano.
Tabela de Conteúdos
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A "terceira volta" eleitoral dos oportunistas
Vitória sem triunfo
Macron celebrou a sua reeleição na segunda volta das eleições presidenciais de 2022
O aparelho de
propaganda deu-lhe tudo. Do Le Monde, que apelou no seu editorial para votar em
Macron para "impedir o colapso do país", até ao último
escrutínio da paróquia judaica ou muçulmana que alertou oportunamente que
"Le Pen poderia banir o kosher e o halal", nem mais.
Parte do sector de opinião ficou sem dar o seu contributo para a mobilização
eleitoral.
O resultado,
aparentemente, não foi mau para eles: a taxa de abstenção de 28,01%, a mais alta numa eleição
presidencial em meio século, está longe da enorme
desmobilização eleitoral das eleições regionais do ano passado.
E, no entanto,
apenas tweets de líderes estrangeiros mostraram alegria.
Em França, nem a cobertura mediática nem as celebrações transbordaram de
entusiasmo após a eleição. O Le Monde voltou a evocar "uma noite de vitória sem triunfo, marcada pelo marco histórico
da extrema-direita e pelo medo de uma terceira volta política e social".
A imprensa de língua inglesa, que assistiu a estas
eleições com uma certa apreensão, já havia acertado o ponto: o aparato político
da burguesia francesa está definitivamente despedaçado. A revolta
pequeno-burguesa tem a maioria eleitoral e só a divisão entre os ultra-nacionalistas
de Le Pen e os “rebeldes” de Mélenchon permite manter um partido de estado
amorfo no Eliseu em torno de Macron.
Além disso, as referências de Macron ao "voto de raiva" no seu discurso de vitória apontam para algo particularmente preocupante para o governo: mesmo que os resultados da primeira volta sugerissem que o mito da "unidade da esquerda" poderia regressar. Ou seja, que Le Pen ultrapassou o limiar de 40% dos votos significa que resultou numa percentagem relevante dos eleitores de Melenchon e Pecrese. Ou seja, a "união republicana" contra a extrema-direita está a desmoronar-se... mesmo entre os eleitores de esquerda. "Raiva" é mais forte que o mito anti-fascista do mal menor.
A "terceira volta" eleitoral dos oportunistas
Mélenchon proclama "o início da terceira volta" na noite eleitoral depois de terminar em terceiro na primeira volta das eleições presidenciais de 2022
Daí o medo, permanente
ao longo da recta final da campanha, da "terceira volta". Esta terceira volta teria duas
dimensões: a primeira, as eleições gerais. A ascensão dos Mélenchonianos, que
federariam a esquerda e a consolidação de um polo de extrema-direita em torno
de Le Pen, poderia levar a um Parlamento sem a habitual "maioria
presidencial" e, portanto, incontrolável para um presidente pouco
inclinado a chegar a um consenso.
Se perdesse as eleições gerais para a ala esquerda da revolta eleitoral pequeno-burguesa,
seria muito mais difícil para Macron avançar com a sua estratégia de
"reforma" sem problemas.
Na verdade, até teria
dificuldade em escolher um primeiro-ministro que lhe conviesse. Até agora, os
nomes previstos no ambiente Eliseu vão desde a governadora do BCE Christine Lagarde à ex-ministra do
Trabalho Elisabeth Borne, o que significa que o leque de
políticas que Macron está a preparar vai desde um ataque frontal às condições
de trabalho e de vida, ao ataque coorganizado com os sindicatos disfarçados de
"intercâmbio" e "acordo social".
Neste contexto, a vitória nas eleições legislativas dos "rebeldes" equivaleria a ter Mélenchon a reclamar o cargo e a colocar paus na roda de Macron até o conseguir. Também não seria uma opção confortável, pois se fosse finalmente nomeado, significaria ter um governo muito menos disposto a sacrificar a sua própria "popularidade" pelo "bem maior" de executar a "visão" da burguesia corporativa para o capital nacional. Uma visão que, obviamente, a pequena burguesia – rebelde ou lepeniana – não partilha.
A "terceira volta" social
Manifestação em Paris contra a reforma das pensões em Fevereiro de 2020
Mas não se iludam: para
o futuro governo de Macron, com vista à
reforma das pensões e da legislação laboral, mesmo com tentações declaradas de
prolongar o dia de trabalho, as preocupações vêm da
"terceira ronda social".
O medo de um parlamento ingovernável é a expressão de que sabem que pouco
apoio político efectivo pode ser esperado diante de uma onda de greves e lutas
operárias de uma pequena burguesia enraivecida, culta e rebelde, tão
desfavoráveis quanto as suas “alternativas” de todos os pontos de vista.
Basicamente, o Grande Capital mundializado questiona-se
até que ponto a barragem sindical reaccionária com a cumplicidade da esquerda
anti-popular será capaz de apoiar eficazmente os políticos lacaios nos seus
ataques, enquanto a popular "raiva" do tipo "coletes amarelos"
parece ser capaz de quebrar mitos básicos como o da chamada
união republicana "anti-fascista" contra a extrema-direita (sic) . A classe operária – a que menos vota – está
cada vez mais "fora da influência pequeno-burguesa", de "esquerda"
e de direita, e procura o seu caminho. Com efeito, o fosso está a aumentar
entre a população empobrecida – a base – as de baixo – e a burguesia
(grande-média-pequena) que é confirmada por cada nova mascarada
eleitoral.
Também nos questionamos. Com esperança.
Ler também : 4 clés de la présidentielle 2022 , 12/04/2022
Fonte : MACRON ET LE « TROISIÈME TOUR » ÉLECTORAL BIDON – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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